23.12.16
A vida é curta
E passa rápida demais
Preciso falar
Usar as palavras corretas
Afinal, sou poeta
Esclarecer tudo que ficou mal entendido
Para que possam acalmar teus instintos
Desfazer os vincos do teu rosto
Fazer cessar o tremor de tuas mãos
Resolver maus entendidos
Aí quem sabe voltarás a confiar em mim
Me permitindo te tocar
E despertará novamente em ti
A vontade de tocar em mim
Voltaremos assim a nos reconhecer
Resgatando intimidades
Quitando as dívidas que temos
Com nossos corpos e sentimentos
Pagando-as com multas, juros e dividendos
Desfazendo o hiato que nos mantém separados
E rouba tanto do nosso tempo
Precisamos eliminar um a um os segredos
Para envelhecermos juntos e serenos
Sentados na varanda
Lado a lado em nossas cadeiras de balanço
Corações e mentes felizes
Nos amando
E do nosso jeito
22.12.16
Na história de tua vida
Nunca cheguei a ser um livro
Acabei virando apenas um pequeno capítulo
Ou no máximo um fascículo
Que encalhado nas bancas de jornais
Hoje só pode ser encontrado em algum sebo ridículo
21.12.16
Ventos podem ser
Desde refrescantes lufadas de ar
Até ameaçadoras tempestades a nos apavorar
Mas se tens raízes profundas, suficientes para te sustentar
Apenas alguns ramos e folhas de ti conseguirão arrancar
Ventos não sabem parar
Sempre quererão passar
E tu, árvore portentosa e perene, seguirás firme no lugar
E ainda nos dará muitas flores e frutos para nutrir e encantar
20.12.16
Não quero ser
O solo compacto e argiloso
Que aprisiona tuas mágoas
Em poças espelhadas
De lágrimas frias
Verão eterno
De odores cadavéricos
Palavras vazias
E pluvial asfixia
19.12.16
Sonho
Que aos teus olhos
Sou devolvido
Que te toco
Sem ser impedido
E que nossas mãos não se separam
Mesmo que tudo seja um grande equívoco
Contudo, me afasto de ti
Para manter intactas minhas fantasias
Não as quero vestidas
Com a indigesta realidade do dia a dia
16.12.16
O quarto vazio
Quando não nos recebe assim juntinhos
Perde o sentido de abrigo
De fiel depositário do que temos de mais íntimo
Torna-se só um cômodo imenso e frio
15.12.16
Hoje
Em tuas palavras
É evidente a contradição
Entre o que dizes sentir
E o que professavas antes de partir.
Estas são descabidas
Destituídas de razão.
Parecem vir de uma cabeça confusa
E não do coração.
Mas o que importa isso agora?
Nada justifica a tua volta
E nem mesmo me interessa saber
Qual a tua intenção.
Pois o lugar que a ti era reservado
Já está de novo ocupado
E contigo não guarda mais qualquer relação.
12.12.16
Quem poderá dizer
Que existe amor errado
Amor condenado
Amor proibido?
Quem poderá responder
O que no amor é nocivo
Quando entre os que se amam
O consenso é conseguido?
9.12.16
Voltei
Porque não consigo viver só de lembranças
Sempre mantive a esperança
Pois sei que nem tudo se perdeu
E nosso último adeus
Se bem me lembro
Nunca aconteceu
8.12.16
Gruda em mim
Deita-te comigo
Mais uma vez
Mesmo que seja só em sonho
Dá-me teu corpo quente
E ainda que me incendeie
Por algum tempo
Deixarei de estar tristonho
Gruda em mim
Acorda comigo
Mais uma vez
Mesmo que seja só de um sonho
E morrerei satisfeito
Sabendo que nossos quereres
Não se endividaram um com o outro
E no fim selaram um acordo
7.12.16
Enfiei a lâmina de minha espada
No vão entre o batente e a porta
Para mover a tranca, invadir teu castelo
E te libertar do calabouço aonde vives acorrentada
E tu, em condição de quase morta
No trono, catatônica e coroada
Alheia e prostrada
Assistia com o olhar de quem não se importa
E expressão de drogada
Àquela minha atitude desesperada
Como se tudo fosse uma espécie de história
Com roteiro ridículo e previsível
Que para ti não significava nada
6.12.16
Meus olhos vermelhos
Esbugalhados
Insones
Exaustos
Nunca mais conseguiram dormir
Insistem em te ver
Temem que fechados
Num breve descuido
Possam te perder
Lapsos de consciência
Memórias misturando-se com miragens
Em todos os momentos e lugares
Faróis que te mantém vigiada
Prisioneira do querer
Fotograma congelado
Esforço em manter o foco exato
Olhos que se recusam a te esquecer
5.12.16
O ódio deixa rastros
Máculas
Cicatrizes
Ossadas fossilizadas
Fraturas
Perfurações
Balas disparadas
Num mundo dominado por abominações e dor
Como legar aos estudiosos do futuro
Provas de que um dia existiu algo como o amor?
2.12.16
Sim, me lembro de ti
Mas não é mais de ti que me lembro.
O que hoje carrego em mim
É uma imagem de ti.
Lembrança repaginada
Fantasia contaminada pelo desejo.
Algo que não é mais verdadeiro
Que criei mesmo não querendo.
Resultou em conformidade
Com a minha vontade.
Uma obra esculpida
Nos mínimos detalhes
Ao longo do tempo
1.12.16
Tu carente de carícias
Mesmo admitindo que precisas
Não reages
Te deixas levar pela preguiça
Amor assim não resiste
E antes de vencer a validade
Expira
29.11.16
Por mais que desdigas
A nudez de tua boca
Não esconde
A realidade crua e nítida
Pois quando me aproximo
E me beijas
O gosto da tua saliva denuncia:
Que tuas palavras
Confusas e evasivas
Não passam de estúpidas mentiras!
Que teu hálito quente
É tua alma fluida
E aflita
Que me quer
Não me repudia
E sem mim não respira
28.11.16
O Amor
Brota da areia cinza, insuspeita
Insurgescência cristalina
Flui lenta e contínua
Fonte de especial pureza
Nasce com a certeza
Dos que marcam a existência
Toma fôlego, corpo
Cria um traçado, recebe apoios
Regalos, regatos, riachos
Junção de muitos braços
Bacia, rio caudaloso
Caminho longo e inexorável
Delta impositivo
Sutil e espraiado
Capaz de adoçar oceanos
Mesmo focado
Jamais equivocado
25.11.16
Afinal, o que significou esse amor?
Brutal e efêmero
Fogo-fátuo, hiato no tempo
Por que não restou nada de bom?
Argumentos, poesia
E as poucas lembranças
Que ainda nos atrevemos a evocar?
Parecem imagens desconexas
Ilustrações de uma ridícula ladainha
24.11.16
O poeta é um solitário
Segue em seu barco
Navegando sem considerar as correntes
Desenhando um caminho
Dispensando mapas, bússula
Farol, astrolábio
Cria seu próprio itinerário
Fazendo e desfazendo laços
Atirando ao mar o que julga dispensável
Rimas indignas
Construções medíocres
Versos sem sentido
Alega que é involuntário
É compelido a seguir
Até que seu interior convulsivo
Esteja saciado
Embora isto nunca tenha acontecido
Segue fazendo o que entende como honesto
E julga necessário
23.11.16
Perdoa
Por insistir tanto por tua boca
Sem nem querer saber
Por onde andava o teu olhar
Por insistir tanto por teu corpo
Sem nem querer saber
Por onde andava a tua alma
A paixão nos reduz a um primitivismo
Egoísta e cego
Que é só instinto
Que não pensa
Age sem medir consequências
Só enxerga o próprio umbigo
22.11.16
Na pressa insana da certeza
Antes que a morte nos surpreenda
Amemo-nos com desespero e urgência
Até que esgotemos as forças
E findemos nossa existência
Desfalecidos
Encharcados de dores e desfrutes
Gozos e transcendências
Mas sem culpas ou rancores
Para que nossas insignificantes vidas
Tenham valido a pena
21.11.16
A aliança que ostentavas
Inquebrável, luzidia
Fazia parte do teu corpo
Pois não a tiravas
Nem em nossos momentos
De maior fervor e alegria
Aliança
Que não me causava tanta tristeza
Como a indiferença vazia
Que resultou do fim desse amor
E com a qual me tratas hoje em dia
18.11.16
A Paixão
Embora seja uma fantasia
Faz com que a vítima
Se sinta viva
Alucinada
Destemida
Faz perder a autonomia
Dirige seu destino
E a faz adotar caminhos
Às vezes labirínticos
E de difícil saída
Ela gosta disso
Fica insensível à dor
Seu olhar permanece altivo
Um zumbido agudo no ouvido
E no peito uma contínua taquicardia
Mas um dia
Tudo termina
Isso já foi registrado
Ao longo dos séculos
Por incontáveis escribas
E só o tempo
Senhor dos destinos
É capaz de saber
Como há de terminar
Mais essa viagem entorpecida
17.11.16
Se não houve ilícito
Não pode haver culpa
E sem culpado
Não pode haver condenação
- Então, sumam já daqui
Com este cadáver alvejado no coração!
16.11.16
Quando ficares e eu me for
Sim, porque devo ir antes
Tudo me faz supor
Não vivas o que te resta
Só das lembranças de um ex-amor
Mantenha tuas vontades ativas
As do dia, as da noite
Sem te paralisares pelo vazio interior
E passado um tempo, já atenuada a dor
Se alguém que cruzar o teu caminho
Te despertar o íntimo
E te pedir que proves um novo sabor
Não te prives do que há de mais humano em ti
E mergulha no inusitado experimento
Mesmo sem saber se será de prazer ou de dor
11.11.16
Melhor morrer só
Do que ficar louco
Mantendo consigo
O segredo convulsivo
Que quer lhe arrebentar o peito
Apela para ser expelido
Destrói razão e sentidos
Como um ciclone descontrolado
Irascível e ensandecido
Que quando compartilhado
Com qualquer outro ser vivo
Corre o risco
De não ser compreendido
Ser rejeitado de pronto
Pelo desgosto gerado
E tachado
Levianamente
De monstro assassino
10.11.16
O Amor
Não existe
Para quem não o sente
E por não existir
Não é invocado
Nem mesmo eventualmente
Mas assim que é sentido
Passa a ser chamado
Pois uma vez nomeado
Já está incorporado
E isso é para sempre
9.11.16
Dois seres
Interpenetram-se
Cópula essencial
Em busca do mesmo eixo.
Céu e terra
Espremendo-se
Até que resulte
Um só elemento.
Um fluido denso
Perfumado
E sumarento
Que se difunde
Harmoniosamente
Num universo viscoso
Mas confortavelmente
Receptivo
E liquefeito.
8.11.16
No lago imenso
Limites fora do desenho
Eu diminuto
Ponto claro
No espelho
Flutuo
Sem saber
Se algum ser
Habita o fundo
E lá de baixo
No escuro
Me vê como pequeno traço
Acinzentado
Que no alto
Se movimenta livre
Ao acaso
7.11.16
4.11.16
Há algo em mim
Que não sossega
Enquanto não se encerra
Algo que entende
Que nada é para sempre
Que é preciso um fim
Para que o efêmero se torne perene
3.11.16
Palavra
Síntese frustrada.
Extrato ralo que não expressa
A complexidade do que nomeia
Mesmo quando é escrita ou falada.
Que não alcança o significado do Amor
Apenas com quatro letras desenhadas.
E que para se ter uma ideia aproximada
Da dimensão almejada
Precisa ser sentida, discutida, compartilhada
E demonstrada como um teorema da matemática.
1.11.16
Miserável é a criatura
Que irresponsável e tola
Desperdiça a chance de enriquecer
Ao desprezar o que a vida tem de mais valor
A amizade e o amor
Bastando para isso apenas cultivar e corresponder
E o que de mais importante alguém poderia ter?
31.10.16
28.10.16
Não falar com os pequenos
Sobre as questões que lhes vão aparecendo
É uma crueldade absurda
Por que deixá-los inseguros
Ou sentindo culpa
Por não saberem se é certo ou errado
O que descobrem fazendo
Em baixo dos lençóis
Ou sozinhos no banheiro?
27.10.16
A única queixa efetiva
Em relação à juventude perdida
Que angustia este velho poeta prostático
É a diminuição nítida
Da eficiência de seu jato urinário
26.10.16
Não há como apagar uma história
Esfregando a borracha no papel
Se sangue foi a tinta com que foi escrita
E como numa foto antiga
A imagem desbota, borra
Mas não se esgota
E nem mesmo a tesoura poderá eliminar de vez
Aquele que já deveria ter desocupado a tua memória
O corte pode mantê-los afastados, isso é fato
Mas basta que seus corpos sejam reaproximados
Para observar o perfeito encaixe dos pedaços
25.10.16
Há os que sofrem demais
Sofrem bem mais do que precisariam sofrer
E enquanto sofrem aquela porção a mais
Perdem a oportunidade de ter prazer em viver
24.10.16
Ele voltou
Sentou em sua frente e afirmou
Que não havia nada para ser explicado
Pediu que tentassem de novo
E que toda a mágoa deveria ser confinada no passado
Perguntou se o seu lugar no quarto ainda estava vago
Ela respondeu que sim
Ele então subiu
Trancou a porta atrás de si
E pode ser ouvido pedindo paciência e tempo
Disse por fim que logo estaria pronto
Mas que por enquanto não deveria ser incomodado
21.10.16
O amor
Mesmo de verdade
Pode ficar cansado
Acredite, isso é uma realidade
Acontece com frequência
Quando o amor é sedentário
O amor
Mesmo de verdade
Pode se tornar esclerosado
Acredite, isso é uma realidade
Acontece com frequência
Quando o amor para de ser desafiado
O amor
Mesmo de verdade
Pode ser engavetado
Acredite, isso é uma realidade
Acontece com frequência
Quando o amor deixa de ser valorizado
O amor
Mesmo de verdade
Pode atrofiar como um braço quebrado
Acredite, isso é uma realidade
Acontece com frequência
Quando o amor fica muito tempo imobilizado
O amor
Mesmo de verdade
Pode virar um cadáver embalsamado
Acredite, isso é uma realidade
Acontece com frequência
Quando os pequenos fracassos do amor se acumulam
E não são trabalhados
20.10.16
Pandora
Da primeira vez foi mais fácil aplicar a sentença
Aquele amor infante, ainda que esbelto e galante
Já apresentando defeitos de constituição
Foi condenado e aprisionado
Cabendo certinho numa caixa de sapato
Amarrada com corda de nylon
Ficando por décadas no fundo do armário
Mantido em hibernação
Até que um dia
Tua curiosidade o fez renascer
A liberdade lhe renovou o querer
Deu-lhe força e determinação
E agora adulto recusa a prisão
Alegando que no espaço em que estava
Já não lhe cabe nem mais uma mão
E que precisa estar livre para poder retomar
O que um dia lhe foi tirado
Numa ardilosa conspiração
Mas quem determinou sua reclusão
Não quer ceder a insanos anseios
Nem acreditar em argumentos ingênuos
Pois mesmo tendo se passado tanto tempo
Não foi declarado prescrito o motivo da ação
Esse amor não tem chance de conquistar terreno
Não se pode fazer voltar o tempo
Estão diferentes os protagonistas do enredo
Mas nunca foi perdoada a traição
E mesmo que fique liberto, belicoso e sedento
Já está condenado a vagar para sempre
A esmo e em total solidão
19.10.16
Nunca mais tinham se visto
Mas ela não o esqueceu
Manteve um retrato seu sobre o aparador
Para sempre poder lembrar
De um tempo em que se bastavam
E que não havia mais nada no mundo
Que os pudesse preocupar.
Ela nunca entendeu o exato motivo que o fez emigrar
E sofreu, ano após ano, até a última lágrima secar.
Eis que, um dia, sem ao menos avisar
Com ar cansado e maltrapilho ele bate à porta.
Ela (atônita) finge não o reconhecer
E antes que alguma alegria pudesse demonstrar
Tenta saudá-lo como quem interrompe um afazer
Mas sem conseguir conter o entusiasmo
Logo acaba por atirar-se e abraçá-lo
Convidando-o para entrar.
Ele declina
Diz que estava por perto
De passagem
Que se lembrou dela
Que teve saudades
E quis vê-la
Para outra vez
Tentar se desculpar.
Pediu água
Bebeu devagar
Agradeceu respeitosamente
E parou de falar
Sem disfarçar a distância no olhar
Despediu-se
Deu-lhe as costas
E retomou seu caminhar
18.10.16
A ideia fixa na cabeça
O nó na garganta
O disparo do coração
O frio na barriga
O suor nas mãos
O amolecimento nas pernas
O comichão que vira tesão
O repertório de esquisitices só aumenta
Quando surge a paixão
E não há como viver plenamente um sentimento
Sem aceitar de corpo e alma a emoção
17.10.16
A dor do amor
É muito mais doída
Quando se costura a boca
Daquele que a vivencia
Condenando-o ao eterno silêncio
Negando-lhe o tiro que o libertaria
14.10.16
Um livro que nunca foi lido
Ainda que seja bom
É um grande desperdício
Não vale nada
Nem mesmo o peso do papel
Obtido da árvore que se deu em sacrifício
13.10.16
Cegos de medo
Meus olhos não te reconheceram
Precisei sentir teu cheiro
Para que te enxergasse
O meu desejo
Dormentes de medo
Minhas mãos não te reconheceram
Precisei acender a luz
E conferir a cicatriz
Que encontrei em teu peito
11.10.16
10.10.16
O que importa mesmo
É que o amor do momento
Tem que ser único e verdadeiro
Não importa se em pouco tempo
Possa ser outro o amor do momento
Mas se também for único e verdadeiro
Estará igualmente valendo
7.10.16
A noite
De gemidos e sussurros
Sossegou esvaída
E sem conseguir conter-se em escuro
Necessitou adormecer
Cedeu lugar ao dia
Com sua pressa e gritaria
Sonhando-se restabelecida
Confiante de que irá reaparecer
6.10.16
Alto lá meu senhor
Dispenso teu poder abusivo
E te garanto que mesmo num mundo
De vinganças e livre arbítrio
Jamais seria teu abusador
Pois não é isso que ensino aos meus filhos
5.10.16
Enquanto
Procuro por minhas meias, meus sapatos
Envergonhada escondes o rosto
Maquilagem borrada os olhos já tão inchados
Em silêncio, no escuro me levanto
Pisando em velas apagadas, taças
E restos de vinho derramado
Enquanto
Ajusto o nó da gravata
Disparas a proferir bravatas
Ofensas disparatadas
Mas não tens forças para sustentá-las
E mergulhas numa tristeza muda
Seguida de nova cascata de lágrimas
Enquanto
Confiro se tenho batom no colarinho
Se o paletó ressente a tabaco
Ou a perfume desconhecido
Juras que me matará e que também morrerá
Que a vida sem mim não tem mais sentido
E que não voltarei para aquela que se colocou em nosso caminho
Enquanto
Desço as escadas ouço mais que um grito:
“Se cruzares aquela porta
A última coisa que ouvirás será um tiro”
Me viro, me aproximo
Dou-te um beijo apaixonado e digo:
Até outro dia minha Linda, agora volte a dormir, Eu te ligo
4.10.16
Cala esta tua boca vomitadora
Deixa de repetir as bobagens inúteis
Desta era insana e oca
Despreza um pouco o teu entorno e ouve o que diz
A voz desesperada que ainda grita dentro de ti
Seiva elaborada com o que há de mais verdadeiro
Te fez arvore ao longo do tempo
Raízes profundas, suficientes para nutrir-te
Somente com o bom alimento
3.10.16
No começo
Sobram do amor que acabou
Apenas lembranças
Lamentos pelo que deixou de existir e sofrimento
Até a liberdade que se ganhou
Prende mais que qualquer calabouço escuro e estreito
E mesmo a autonomia que se conquistou
Conforta menos que um barraco destelhado pelo vento
Numa noite de chuva no inverno extremo
Mas tudo muda com o tempo
As feridas cicatrizam
A dor tende a doer cada vez menos
E a liberdade e a autonomia começam a fazer sentido
Quando o olhar desiste de focar apenas os pés
Passa pelo horizonte e chega ao firmamento
30.9.16
Presto a ti os serviços mais íntimos
Em troca de um chão de senzala e um prato de comida
Mas não espere de mim
Nada mais que alguns momentos de alegria
Meu corpo cativo é teu pelo tempo que determinares
Mas o coração rende adoração a um outro alguém
Que ainda é rainha em distantes paragens
E quando amuado de saudade se recusa a obedecer
O nego aqui é acusado de roubo, chamado de fujão
Acorrentado ao tronco, cortam-lhe a mão
É açoitado até desfalecer
E largado ao relento com suas feridas
Deixando que a sorte decida se continuará a viver
29.9.16
Para que escrever poesia?
Para expressar o que se sente
Inventar o que se sente
Organizar as maluquices que vão dentro da gente
Retratar o que se vê
Criticar o que se vê
Mudar o que se vê
Abusar da liberdade de fazer
Divertir-se na fantasia
Ou submeter-se
E simplesmente obedecer
A uma ordem interior que determina
28.9.16
Os ventos e a chuva
Nunca terão força suficiente para impedir que se encontrem
Aqueles que se amam mas guerreiam em reinos diferentes
Mesmo que um oceano esteja entre eles
Mesmo que seus barcos fiquem presos nos portos mais remotos do tempo
E mesmo que o eterno movimento dos continentes
Afaste cada vez mais seus corpos terrenos
Em algum momento suas trajetórias voltarão a se cruzar
E não será possível evitar o imediato reconhecimento
27.9.16
O gato que vigia o aquário
Não tem pressa
Sabe que a batalha foi ganha
No momento em que adotou a espera
Como estratégia
26.9.16
Se eu ameaçar falar
Não deixa escapar dessa minha boca estúpida e vulgar
Qualquer palavra que possa machucar
Por favor, não me dê tempo
Me encha de carinhos e beijos
Esfregue em minha cara os sentimentos
Para que possamos seguir vivendo assim
Juntos e nos amando em todos os momentos
23.9.16
Agora
Ficou fácil de entender
O porquê de te ver sempre sem ninguém
É que não tens como aguentar por muito tempo
Os indivíduos que com maior frequência te assediam
E te causam tantos prejuízos
Canalhas mal-intencionados
Mentirosos compulsivos
Bêbados inveterados
Sádicos enrustidos
Psicopatas dissimulados
Desajustados de todos os tipos
Não é o que mereces, longe disso
Mas às vezes te vejo boba demais
Te entregas totalmente, corpo e alma
Sem avaliar bem os perigos
E assim acabas por atrair esses pervertidos
22.9.16
Não se carregam escritas na face
Frases como:
Eu odeio o mundo
Quero te matar
Estou tão infeliz
A ponto de me suicidar
Na maior parte do tempo
Os sentimentos correm por dentro, em silêncio
A dor é espasmódica, cursa em ciclos
O tormento é convulsivo, progressivo
E a erupção pode vir a qualquer momento
Mas mesmo assim conseguimos a proeza
De transitar pelas calçadas
Com o olhar insuspeitável e distante
Como se nada estivesse acontecendo
E tudo transcorresse em perfeito equilíbrio
21.9.16
O relacionamento virtual
Por mais convincente que possa parecer
Não consegue ser real
As redes antissociais aparentam nos aproximar
Mas só nos afastam ainda mais
Funcionam como agentes mutagênicos em nosso DNA
Nos priva e nos faz acovardar diante do mais nobre dos ofícios: amar
Não matam a sede de paixão
Não acabam com a solidão
Resolvem no máximo o problema mais superficial
O da fluência do líquido seminal
20.9.16
Naquela última noite
Estavas tão assustada
Querias falar
Precisavas falar
Falar e falar
E eu te ocupava impiedosamente a boca
Com minhas insistentes investidas
Insensível e sedento
Só enxergando minhas carências
Guiado unicamente pelo desejo
Não percebi o que se passava
Não respeitei o teu momento
Esse foi só mais um de meus erros
Perdemos a chance do entendimento
E agora não há mais tempo
Choveu, choveu,
Apagado o incêndio
O fogo não passará mais por aqui
Mesmo que tentemos reacendê-lo
Mesmo que mudem os ventos
19.9.16
Não perca seu tempo tirando minhas medidas
Não tenho a intenção de ser enterrado
E a cremação não me parece sustentável
Decidi que meu corpo será doado
E se o que restar de mim
Ainda for de alguma serventia
Que tudo seja aproveitado
Até o último pedaço
Com o respeito que se faz necessário
16.9.16
Contarei nossa história
A qualquer um que me estenda a mão
E a repetirei quantas vezes precisar
Pois só desgrudarei a barriga deste balcão
No dia em que vieres me buscar
Mesmo sabendo que não costumas
Sujar teus pés neste tipo de lugar
15.9.16
É mais forte do que eu (1)
Como te olhar
E não poder te tocar?
Como te tocar
E não querer ser um contigo?
Como ser um contigo
E achar possível retornar ao mundo dos vivos?
14.9.16
A Dor maldita
Feroz Rainha expansionista
Nunca recua de seus intentos
A guerra que travou durante décadas
Só se encerrou quando percebendo que perderia a última batalha
A mais sangrenta e maior das carnificinas
Numa manobra engenhosa de estrategista
Apunhalou pelas costas a palavra Amor
Roubou-lhe os alfarrábios proibidos
E o lançou sobre os campos aonde ocorriam os extermínios
O maior de todos os feitiços
Conseguindo a proeza de estender seus domínios
Para além das fronteiras do espaço e do tempo
Transformando todo o povo de seus novos reinos
E a legião de mutilados e corpos apodrecidos
Em meras estátuas paralisadas ao relento
Calando os gritos de dor e desespero
Condenado tudo e a todos ao eterno silêncio
E não existem registros em arquivos de um antídoto
Ou de quanto tempo poderá durar tal encantamento
13.9.16
Quero que as palavras que tinha para te dizer
Fiquem cada vez mais volumosas
Tão imensas que me parem na garganta
E não possam ser pronunciadas
Tão pesadas
Que a gravidade me force a degluti-las
A processá-las nas entranhas
E ressignificá-las
Que ao me obrigar a colocá-las para fora
Pelo lado oposto das ofensas mundanas
Já estejam irreconhecivelmente desarmadas
Mesmo se submetidas a uma revista detalhada
12.9.16
Amor exagerado
É cristal dos mais delicados
Que quando imerso
Numa atmosfera de agudos extremados
Explode estilhaçado em mil pedaços
Tornando-se entulho
Inútil e transfigurado
9.9.16
Para mim
Não existe lugar mais triste no mundo
Do que um brechó, essas lojas de usados
Não sei bem por que, mas sempre penso o pior
Penso que o vestido de noiva
Garbosamente exposto na vitrine
Seria para um casamento que não aconteceu
Que as roupinhas de bebê
Cuidadosamente empilhadas sobre o balcão
Vestiriam o fruto de um amor que não nasceu
Que o paletó empoeirado
Com um lenço delicadamente dobrado e esquecido no bolso
Foi de alguém que nem por seus antigos pertences será lembrado
Que as blusas desfiadas, calças brilhando nos fundilhos
Camisas faltando botões e com os colarinhos puídos
Não deveriam ser vendidas mas sim doadas para quem mais precisa
Que os calçados, bolsas, cintos, sempre muito usados
Sinto-os carregados demais em histórias
Quando os tenho nas mãos, acho-os muito pesados
Que os relógios, brincos, colares, pulseiras
Estão à espera de novos pulsos, pescoços e orelhas
Que possam resgatá-los do ostracismo lhes devolver o brilho
Que os livros, discos e filmes misturados nas estantes
Preferências e universos culturais tão contrastantes
Viraram uns poucos trocados para garantir algum alimento no prato
Que as paisagens e retratos pintados por mãos nitidamente amadoras
E que tristemente disputam espaço nas paredes
Já serviram para alegrar os mais diversos ambientes
Que as fotos antigas, famílias imensas reunidas
Exercem um estranho fascínio sobre uma pessoa
Que se interessa em colecionar mortos que não são seus
Que as cartas escritas de diversas partes do planeta
Postais com selos raros e souvenires trazidos dos lugares mais exóticos
Não tem qualquer significado para quem os vê assim reunidos numa caixa de sapatos
Que a louça manchada, as taças lascadas, a prataria torta e oxidada
Precisariam de um bom restauro
Para terem ainda alguma serventia numa refeição em família
Que os móveis imensos, eletrodomésticos complexos
Alguns intactos outros nitidamente desgastados
Vieram de lares desfeitos e tornaram-se inúteis para seres solitários
Que quando passando por uma rua tranquila se vê uma faixa: Família vende tudo!
Não é triste pensar que tudo que foi juntado por tantas vidas em tantas décadas perdeu o sentido?
E que até a casa até vai junto podendo desaparecer desse mundo?
É assim que raciocino
Sei que é exagero, mas é inevitável
Minha mulher não se incomoda com isso e pensa mesmo tudo ao contrario
8.9.16
6.9.16
O que é feito dos sonhos
Que não mais lembramos
Ou conseguimos registrar?
Que quando vividos
Nos pareciam tão importantes e nítidos?
Estarão arquivados em algum outro mundo
Cuidadosamente escondidos?
Ou será que essa matéria-prima bruta
Que mereceria ser trabalhada com carinho
Desaparece simplesmente
Acabando sem deixar vestígio?
Se for assim, é incompreensível
Um grande desperdício!
5.9.16
Amor que acaba e não termina
É como um fim de tarde que se eterniza
Onde não se vê mais o sol no horizonte
As sombras são longas e a luz baça
A tudo envolve e (ainda) ilumina
Mas ao insistir em permanecer (por não aceitar perder)
Não permite que o firmamento se vista de negro
Que descansem os sentimentos
E que a vida possa prosseguir no outro dia
2.9.16
Amor que se vive não morre
É planta enraizada na memória
Aninhada num horto de espécies raras
Rasteiras, arbustivas
Trepadeiras, arbóreas
Perenes e decíduas
Em arranjo orquestrado
Eclodem em harmonia
Cores, aromas e sabores
Cada qual no seu tempo
Cada uma de um jeito
Para deleite do amante extasiado
1.9.16
Mantenha teus olhos abertos
E fixa-os em mim
Minha trôpega Rainha
Musa bêbada
Deusa entorpecida
Vem, sai da cama
Apoia-te neste braço
E resolve teu problema mais urgente
O vômito iminente
Antes que inundes nosso quarto
Com o pouco que comeste
E muito do que bebeste
Nesta noite de amor desenfreado
Depois um banho seria bem vindo
E enquanto te purifico
Te bajulo
Minha amada
Te abraço
Meu mundo
Te idolatro
Me fundo de novo contigo
E da próxima vez
Sejamos mais sensatos
Deixando de lado
Os exageros de Baco
31.8.16
30.8.16
Somos o que somos
E não há nada que se possa fazer quanto a isso
E conforme o tempo caminha
Dos outros cada vez mais ele nos distancia
Nos fundimos em nós mesmos
Ainda que isso nos assuste
E cause estranhamento
Mas esta condição que se consolida
Pode tornar-se amigável
E ser vivida de forma bastante tranquila
Basta nos acostumarmos
29.8.16
Das pedras que me atiram
Recolho as que me acertam
E vou enchendo os bolsos
Assim que as tenho em quantidade
Lapido-as com cuidado
Despertando-lhes uma a uma as qualidades
Aí monto um colar
E passo a exibir seu brilho
Pendurando-as no pescoço
26.8.16
Foi só quando finalmente entendi
Que era da tua boca que saia
A rajada de balas
Sempre uma mesma palavra:
Acabou, acabou, acabou!
É que me vi atingido
E sem conseguir me defender
A fala ficou-me engasgada
E agora mortalmente ferido
Diante da porta fechada
Vendo o vai e vem
Da tua chave pendurada
Com a certeza de ter te perdido
Meus impropérios todos viraram apenas
Uma poça vermelha de lágrimas
25.8.16
Altiva criatura
Ainda desfila imponente
No meio da Paulista
Sem reparar em como atrapalha
A rotina apressada dos ciclistas
Sob o sol de meio-dia
Preferindo que nunca chegue
A quarta-feira de cinzas
Olhando pro nada
Embarcada no que alucina
Rosto deformado na maquilagem escorrida
Arrastando os farrapos de sua fantasia
Grunhindo incompreensíveis versos
Do samba enredo de alguma escola querida
Eterna vencedora na avenida
24.8.16
Poesia
É um noturno de Chopin garimpado no vácuo
Onde tudo principia
É um Chaplin mudo em sessão exclusiva
Projetado no escuro atrás da retina
É uma lied de Schumann represada na garganta
Quando a boca silencia
23.8.16
O amor é o grande tema da poesia
E por mais que se explore
Esmiuce
Desdobre
Mesmo que lhe dissequem as entranhas
Será sempre misterioso
Não há como esgotar-lhe as características
Também é rebelde
Amorfo
Pegajoso
Imprevisível
Engenhoso
Não pode ser explicado por especialistas
Não aceita discriminação
Despreza conceitos
Como maioria, minoria
Cultura e religião
Independe da vontade
Goza de autonomia
Não se prende a expectativas
Nunca oferece garantias
É fruto do passado
Desconhece o futuro
Vive o momento
Único tempo que valoriza
22.8.16
Poemas são braços
Que quando abraçam
Podem tanto acalentar
Como asfixiar os desejos
De um sonhador solitário
Versos são mãos
Que quando estendidas
Podem tanto estancar a hemorragia
Como socar a face ferida
Daquele frágil que precisa ser tratado
Palavras são dedos munidos de unhas afiadas
Que quando usadas
Podem tanto acariciar
Como retalhar os sentimentos
De quem ama e deseja ser amado
19.8.16
A sensação que ficou
É que terminamos sem perceber
Que o que primeiro acabou
Era muito menos do tudo que havia
E ainda precisávamos conhecer
É que faltou-nos visitar mais os sentimentos
E não ter apenas para poder dizer: temos
Mas usar o que foi guardado
E não deixar que aprodrecesse com o tempo
18.8.16
Ambos vencemos
Quando em nossa guerra particular
Um de nós se serve dos lençóis
Como bandeira da paz
Sem desistir de lutar
Mas deixando de brigar
17.8.16
Se minha saliva fosse tinta
Teu corpo todo eu pintaria
E reavivaria teus tons
Dando demão sobre demão
A cada nova visita
16.8.16
Mon amour
S'il vous plaît
Assurez-vous de me lire
Et donnez votre opinion
Parce que tout ce que je écris
Bien qu'il ne soit pas toujours lié à vous
Il est pour vous et votre appréciation
Assurez-vous de me lire
Et donnez votre opinion
Parce que tout ce que je écris
Bien qu'il ne soit pas toujours lié à vous
Il est pour vous et votre appréciation
A taça tombada
Ao lado da cama
Que ainda ressente ao perfume do vinho
Foi esvaziada não sei quantas vezes
Até que transbordasse de sentimentos
O coração daquele que só se acalma
Quando atinge o êxtase
Mas também pode ser
Que o conteúdo tenha sido sorvido
Na tentativa de atenuar a dor
De quem chora lamentando perder
Ou precisando esquecer
Um grande amor
15.8.16
Saiu dizendo
Que precisava comprar cigarros
E nunca mais foi visto
O estranho é que não fumava
Há décadas estava longe do vício
12.8.16
Time
Water in the river of eternity
That never stops running
Always different water
Although the same element
Ever and only time
Deve existir um lugar
Onde ficam depositados todos os sentimentos (bons e ruins)
Que tivemos ao longo da vida
E que não mais nos acompanham no dia a dia
Um lugar remoto de acesso por mão única
Onde os amores pregressos
Deixem de lado disputas e brigas e convivam em harmonia
Onde tudo já tenha sido resolvido e perdoado
Onde as palavras culpa, ódio e traição tenham sido extintas
Onde o tempo não exista e haja alguma virtude na preguiça
Onde as antigas melhores amizades
Aquelas feito unha e carne
Ainda persistam compartilhando segredos e cumplicidades
Um lugar que abrigue a pureza que perdemos
Que atenue as dores que sentimos
Que guarde bem guardados os nossos prazeres supremos
Um lugar que nos receba de braços abertos
Depois que nossos olhos não mais se abrirem
Onde nos reconciliaremos com o universo e com nós mesmos
E se houver um lugar que possamos chamar de eternidade
Me alegra pensar que lá encontremos
Paz definitiva e felicidade
11.8.16
Para o poeta
O pior que pode acontecer
É não mais questionar
Deixar de se indignar
Parar de sonhar
Conformar-se
E navegar de vez
Na corrente
Do lado mais raso do ser
10.8.16
Quarto
Cúbico recinto
Onde naturezas esféricas
Se reconhecem
Se acomodam
Se acalmam
E deixam o universo
Amorfo e infinito
Do lado de fora
Na confortável penumbra
A tela retangular
E espraiada da cama
Recebe projeções
Bi-dimensionais
Em conformações circulares
E dinâmicas
Para que dancem
Deslizem
Se aproximem
Se excitem
E se interseccionem
Celebrando a vida
9.8.16
Lágrima
Erupción líquida
Caliente solución salina
Surge del dolor o alegría
Cuando la palabra se agota
Pero el alma no silencia
Já que não ligas a mínima para o meu amor
Sejas ao menos benevolente (com este sofredor)
Garantindo o acesso (ainda que sob rígida supervisão)
Ao teu corpo delicioso e quente
Espécime de inigualável constituição
Presente dos deuses
Gerador de meus maiores prazeres
Que me embaralha a mente e expulsa a razão
Peça exclusiva da mais alta joalheria
Ofuscada neste mundo supérfluo e vão
Que deveria existir apenas para minha serventia
Ou para ser vista de longe
Fora do alcance dos brutos e sem noção
Que não sabem dar o devido valor
A uma obra prima de tamanha perfeição
8.8.16
Despejaste sobre mim o teu amor
E tudo mais o que tinhas
Mas excedia em muito
O que sonhei
Ou queria
E agora tiriste e vazia
Sem repor teus estoques
Vivencias
Uma amarga paralisia
Enquanto eu parado aqui no porto
(dia após dia)
Com meus porões abarrotados
Sem conseguir navegar
Com tanta mercadoria
5.8.16
I'm sorry
But I have no time for you
I need to recover my investment
The pain is too long to fade away
Fiquei
Com um universo inteiro
Pra falar
Um bom resto de mundo
Pra te mostrar
Mas como aqui
Não mais estás
Vejo-me preso
Posto a pensar:
Que do alto desta torre
Na Avenida Paulista
Me bastaria abrir a janela
Bater as asas
E voar
Pra ta encontrar
E tudo isso te entregar
4.8.16
3.8.16
Para poder entrar neste coração
O candidato precisa passar por entrevista
Uma minuciosa revista
E vencer todas as barreiras de proteção
Pois caso não venha armado
Com amor ou paixão
Será bloqueado na porta
Tendo que dar meia volta
Sem direito a negociação
2.8.16
Me deste o teu corpo
E foi bom
Pois descobri o prazer
Me deste atenção nos preceitos
Mas menos do que julguei merecer
Só não me deste o que eu mais quis ter
O teu amor por inteiro
(E hoje percebo)
Que não tive nem mesmo um flash de paixão
Ainda que efêmero
1.8.16
Sueño y ilusión son cosas distintas
Soñar no es engañarse
Es creer y desear
Que el deseo que se convertió en sueño
Se puede de facto realizar
Pero la ilusión es una distorcion de la mirada
Un cambio en la realidad en el acto de fantasear
O gato pega o rato
E o leva até seu dono
Para mostrar serviço
Mas não o mata de imediato
Faz questão de mantê-lo vivo
Diverte-se bastante antes
Brinca com o bichinho
Joga-o pra cá
Joga-o pra lá
Deixa-o totalmente confuso
Estressa o coitadinho
Tirando-lhe até as últimas forças
Antes de encerrar seu suplício
E quando a brincadeira perde a graça
Ou a vítima já atinge o ponto pretendido
Acomoda-se confortavelmente no gramado
Para apreciar com calma o petisco
Começa sempre pela cabeçinha do desfalecido
Ainda ontem algo muito parecido aconteceu
Entre o meu cachorro e um passarinho
Esse mundo animal não é mesmo um mimo?
29.7.16
No início
Atendeu aos desígnios da paixão
E a satisfação dos desejos
Sem avaliar bem a que preço
Depois
Tentou entender melhor este amor
Certificar-se de sua devida dimensão
Chegando a convencer-se de que era mesmo verdadeiro
A seguir
Diante da decepção e de tantos ferimentos
Teve que lidar com a dor
E com o medo de que nunca terminaria o sofrimento
E agora por fim
Ainda vivo, sente-se minimamente fortalecido
Para iniciar o imenso trabalho de reconstrução
Sobre um rescaldo de ressentimentos
28.7.16
Every tear spilled
In your memory
It is an acid drop
That corrodes me the face
Ulcer and deforms
It's a razor coup
That cuts deep
Retaliate the soul
And dislodges me
Of the my onerous calm
Quase tudo é passado
Quando me percebo
Já não sou mais aquele
Só o que piso é presente
O universo é a extensão do penhasco
E meu olhar obcecado
Só enxerga o que vai à frente
27.7.16
En la boca pocos dientes
Una sonrisa casi forzada
A veces más ancha
Pero no carcajada
Al frente del espejo
Ya no se reconoce
Está viejo y arrugado
No es más aquel que se acostó con tanto entusiasmo
Se convenció finalmente (con toda humildad)
De que no va vivir para siempre
Lagartixas
Não se dão facilmente por vencidas
Refazem membros e rabos
Quando cortados
Tubarões
Repõe cada um dos dentes
Que lhe arrancados
Ursos
Simplesmente hibernam
No inverno apagam e esperam
Tartarugas
Levam suas casas consigo
Tendo sempre à mão tudo que precisam
Tatus
Se houver ameaça concreta
Fecham-se numa armadura que os isola dos inimigos
Formigas
Podem cair de qualquer altura e quando no chão
Andam apressadas sem precisar interromper suas rotinas
E nós, mais frágeis que a maioria das criaturas
Seguimos nos julgando senhores legítimos
Deste planeta que herdamos e estamos destruindo
O que temos como mais precioso e bem resolvido
Carregamos equilibrado no alto do pescoço
Protegido numa caixa tão quebrável quanto o vidro
E ainda fazemos desta ferramenta um uso muito restrito
Sempre antes atendendo a interesses próprios e depois aos do vizinho
Pena que isso nem sempre traga benefício pra si ou para o coletivo
Agora experimente bater forte com a cabeça na parede
Levar na boca um murro certeiro, amputar alguns dedos
Ou pular do terceiro andar de um prédio direto no cimento
Ainda assim nos sentiremos superiores?
Sobrará algo inteiro para continuarmos nos gabando?
Não seria o momento de adotar uma mudança de conceitos?
26.7.16
Achando
Que dentro de mim
O que julgava mais precioso
Se perdia
Descobri
Que estava tudo morto há tempos
(Eu nem percebi)
E era só a faxina
O movimento que eu sentia
Agora
É preciso retirar os cadáver
Remover os entulhos
E liberar os espaços
Para que outros inquilinos
Façam nova tentativa
25.7.16
Living the day
Always the spring tones
Because after
The night will be eternal
Living in the face every wind that is entitled
Because after
There will be no movement
Living sound even louder
Because after
The silence will be full of darkness
Living smells even the putrefied
Because after
There will be no more olfaction
Living the heat even scalding
Because after
The cold will be freeze
Live pleasure even prohibited
Because after
Nothing will be permitted
O amor é um péssimo cliente
Reserva horário na agenda
Mas pode faltar sumariamente
Sem dar satisfação a quem atende
Mesmo sabendo que não será possível
Colocar em seu lugar um outro paciente
22.7.16
Y yo
Que siempre me he considerado tan inteligente
No entiendo lo que me pasa
Cuando me presento delante de ti
No soy más que un niño
De aquellos que no saben dónde poner las manos
Lo que decir
Y piensan que es mejor callar
Para evitar el riesgo de perderte
A crítica implícita
Colocada nas entrelinhas
É mais nociva
Que o não taxativo
Ou que a clara discordância
Seguida de uma justificativa
Que possa ser digerida
Absorvida
Entendida
E até mesmo aceita
Se revelar-se construtiva
21.7.16
Pourquoi vivre seulement le jour
Et avoir le soleil comme unique guide
Si la nuit est la maison à une pléthore d' étoiles?
Et même cela ne peut pas être atteintes
Permettez-moi de les observer
No me brûler les rétines?
Até hoje não consigo definir se este amor valeu a pena
Pois quando coloco os frutos na bandeja
O chão tremula
Se inclina
Se movimenta
A balança não estabiliza
E fica difícil saber o que pesa mais
Se são as deliciosas lembranças de nossas vivências
Ou a infinita dor da tua ausência
20.7.16
Impossible dissimulate
Being in his presence
And be indifferent
Being in his presence
And disguise
Being in his presence
And do not fall
It is safer to keep you away
For not to suffer even more
Quando vem a paixão
Ela chega de qualquer jeito
Afastando as cortinas do quarto
Abrindo as janelas
Fazendo doer os olhos
De quem está na escuridão
E precisa de tempo
Para entender o que está acontecendo
Mas quando é o amor que se apresenta
Ele primeiro acende a luz do abajour
Chega junto ao ouvido
Sussurando palavras gentis
Com a máxima delicadeza
Assim aos poucos
A penumbra vai clareando a visão
Dando conforto aos sentidos
E quando o incauto percebe o ocorrido
Já está envolvido
Sem sustos ou truculência
19.7.16
La ira hace la transformación
De alguna forma
Resuelve un problema
Que molesta y angustia
La irritación sólo arrastra la insatisfacción
No tienes fuerza y audacia
Para lograr la solución
Janela aberta
Corrente de vento
Tremores
Luz intermitente
Voam as folhas com os poemas mais recentes
Voa a ordem dos pensamentos
Voa o aceite do viver mediocremente
Cortinas esvoaçantes
Tarântulas escalando paredes
Dor, esgotamento
Janela aberta
Corrente de vento
Alguém para fechá-la enquanto há tempo?
18.7.16
Très rousse!
D'un ferrugineux
Comme je l'ai jamais vu
Ils disent seulement être possible
Sur Mars ou Vénus
Ce serait une couleur naturelle?
Ils auraient le même ton vos poils pubiens?
Não invejo o teu sono
Insuportavelmente tranquilo
E não troco os raros sonhos que tenho por esse abrigo
O meu sono é superficial e entrecortado
Curto e alucinado
Não estabelece comigo um compromisso
É cheio de bizarrices e simbolismos
Que me servem de argumento para o que escrevo
Mas apesar do desconforto, da rebeldia
E da sonolência que tenho durante o dia
Gosto disso
15.7.16
A paixão é deselegante
Tem o péssimo hábito de não marcar hora
Ou reservar lugar para quando chegar
Por isso não é improvável que já encontre ocupado
O coração daquele em quem escolheu morar
14.7.16
Nuestras diferencias
El tiempo hizo aclarar
Y mostró a nosotros por qué es posible
Este mismo amor continuar increíble
Hoje consigo entender o fato
De que não existe amor sem interesse
Pois nem mesmo aquele que julguei inocente
Livre de barganhas e cacoetes
Escapou de uma lógica de mercado cruel e inclemente
E tenho que admitir (infelizmente)
Me faltou no momento mais premente
Me viu no fundo do poço
E neglicenciou ajuda
Passou ao lado virando o rosto
Ignorando meus apelos e retirando-se em silêncio
Dando a entender
Que nada do que acontecia lhe dizia respeito
Esqueceu-se simplesmente
De quem era a mão que se estendeu
Num outro momento (agora nem tão recente)
Ajudando-o a sair do buraco em que estava
E como já estava conformado
Achando que seria esta a sua definitiva morada
13.7.16
Why
Abort tears
That need to flow?
How to relieve the pain
And make space for a new love
If I do not know how to do
The suffering decrease?
...ah, Mulheres!
Sirlei
Melhor inciação não poderia ter
Devo a ela a maior parte do que sei
Berenice
Sempre querendo mudar alguma coisa
Em tudo tinha que dar palpite
Djanira
Antes de partir fez questão de deixar
Uma boa dívida na padaria
Nelcy
Me deu o que tinha de melhor e pior
Só não me deu o que lhe pedi
Augusta
Difícil ficar com alguém que nunca expressa alegria
Vivia em eterna angústia
Izildinha
Gritava tanto que com ela o difícil
Era não deixar a vizinhança perceber o que acontecia
Conceição
Deu mais importância as amigas
Que à nossa relação
Elisa
Na minha melhor lembrança
Estamos os dois olhando o por do sol sentados à beira da colina
Iris
Odiava o ruido que fazia
Enquanto sugava o café que escorria para o pires
Eliane
Nunca agradeci
Obrigado por tantas champagnes
Lucimar
Passiva demais
Sempre aceitando tudo calada e sem questionar
Jussara
Alegava ter na pele todas as constelações
Me impressionavam suas sardas
Silvilene
Queria o impossível
Morar comigo e ainda trazer junto os parentes
Teodora
Na memória vejo você ensopada de lágrimas
Se afastando de casa naquela noite em que decidiu ir embora
Maricota
De todas as que conheci era a mais culta
Mas embarcava nas citações se esquecendo do caminho de volta
Marta
Até hoje trago na pele suas marcas
Morria de medo de barata
Claudete
Deu adeus com um bilhete na porta da geladeira
Fixado com chiclete
Cleonice
Nunca vi ninguém com tantos ciúmes
Não desgrudava de mim aqueles olhos de lince
Carolina
Como esquecer nosso último beijo
Se sempre passo naquela mesma esquina
Isabel
Começo e fim muito rápidos
E mesmo assim quase chegamos à vias no papel
Bruna
Difícil de agradar esta viúva
Como pode alguém fazer sexo com tanta fúria?
Lúcia
Achou que me teria sem dar nada em troca
Usando apenas de sua astúcia
Gerusa
Pessoa mais doce que já conheci
Estaria tudo certo se não fosse tão confusa
Valéria
Criatura complexa
Transava como quem regia uma orquestra
Violeta
Nunca vi nada igual
De uma beleza que não era desse planeta
Leonor
Na lembrança não sobrou muita coisa
Nada além de dor
Encarnação
Adepta de uns rituais esquisitos
Ainda bem que passou logo, foi só paixão
Sueli
De você nunca desisti
Sempre quis que ficasse aqui
Gabriela
Foi rápido mas foi bom
Pena que só tenha durado uma primavera
Maria Rita
Por ela me endividei
A ela dei até o que não tinha
Roberta
Tinha aquele olhar que não nos vê, nos atravessa
O difícil é saber o que de fato lhe interessa
Flávia
Expôs tudo de si para mim
Até o que não precisava
Bernadete
Não adianta insistir
Você não me mereceu e ainda não me merece
Neide
Falei que seria para sempre e cumpri
Se já estiver com as malas, pegue a chave em baixo do tapete e entre
12.7.16
Je n'ai plus vous visitez
Tout le temps (en pensée)
Je pense que je suis croissant (à l'intérieur)
La recherche d'un sens
Organiser une manière de me libérer
Et continuer à vivre
O amor está aflito
Sentindo-se fraco e ameaçado
Acha que pode estar com seus dias contados
Nunca tinha se sentido em perigo
Mesmo quando cedeu um pedaço
Arriscou um salto mais ousado
Ou foi tratado como louco varrido
Mas agora sim percebe o perigo
Pois ficou claro
Que ao ser colocado de lado
Está sendo aos poucos esquecido
11.7.16
El poeta dijo:
"Vivir es dejar vivir"
Pero para mí
No funciona así
Siempre ha sido:
Vivir es hacer a suceder
Tenta extrair
Daquilo que vês
O que imaginas que sou
Ou achas que eu deveria ser
Chega mais perto da minha atual verdade
E vê se encontra algo que te interessa
Ou ainda te desperta as vontades
8.7.16
Um dia desses
Venha beber comigo uma taça de vinho
E eu te contarei a história
De um amor proíbido (nunca relatado)
Que mesmo impossível
Não conseguiu ter seu fim decretado
E se abrirmos uma outra garrafa
Ainda estiveres disposto a ouvir (e o álcool me permitir)
Rebrotarão emoções (a duras penas) hibernadas
Nossa cumplicidade me desarmará
E talvez finalmente eu consiga chorar
Assim (quem sabe) poderei descansar aliviado
Alegre pelo que foi vivido
Lamentando (sem rancor) o que restou guardado
E que apesar de tão bem constituído
Nunca pode ser tocado
7.7.16
Il est amusant
Observer les conséquences de la vieillesse
Dans mon visage
Quand j'étir la peau ne pas me couper
Au matin à raser
Les grimaces qui fais
Ils sont bizarres
Tanto as dores do parto
Quanto as do amor dilacerado
Devem obedecer à mesma lógica evolutiva
A biologia muda alguma coisa na mente dos humanos
Que vivenciam estas duas inequívocas situações de danos
Fazendo-os esquecer
Fazendo-os relevar
Pois do contrário
Quem em sã consciência
Se deixaria novamente apanhar
Numa armadilha desta natureza?
6.7.16
No tenías el derecho
De aparecer así de repente
Después de tanto tiempo
Provocando una mueca de dolor tamaño
Y sólo entonces decir
Sin complejos
Que viendo la cosa tal como es
No podría permanecer
Entonces te fuiste de nuevo
Y como de la primera vez
En ningún momento
Dejó claro por qué ha venido
O me dijo lo que tendría que cambiar
... e toda vez ela me pergunta:
- Mas por que não fazemos mais disso
Já que isso é tão bom?
E a resposta é sempre a mesma:
- É que quando o tempo se esgota
Ele nos esgota também
Nos tira isso
E isso não é bom
Quando nos falta tempo
E ainda temos muito com o que arcar
O ônus acaba batendo na porta
Daqueles que nos são mais sagrados
E deveríamos poupar
Mas nos aproveitamos deles (injustamente)
Pois estão sempre dispostos a se sacrificar
5.7.16
O que se espera de um médico
É que em seu ofício
Ele desjunte as peças
De um quebra cabeças que foi montado errado
Ou apresentou defeito
E refaça-o resgatando a harmonia do cenário
Onde o sol brilhe entre núvens
Haja vaquinhas e ovelhas
Campos forrados de alfazema
E que das montanhas sempre verdes
Brotem riachos cristalinos
E lânguidas cachoeiras
Claro que o objetivo daquele que assume a tarefa
É que com dedicação
Arte e técnica
Tudo se encaixe e funcione com perfeição
Conforme o modelo pré-determinado
Mas é preciso considerar que às vezes
O desafio é grande demais
Que as peças não tenham como ser trocadas
Funcionem bem como estão
Ou que uma montagem anterior equivocada
Tenha danificado tanto os elementos
Que se torna impossível separá-los à contento
Sem piorar o arranjo
Mnimizar os danos
Ou resolver o problema
Neste caso, caberá ao médico ser solidário
E não causar ainda mais sofrimento
Sem piorar o arranjo
Mnimizar os danos
Ou resolver o problema
Neste caso, caberá ao médico ser solidário
E não causar ainda mais sofrimento
4.7.16
Monsieur Passion
Gentilhomme éduqué
Il va l'avant
Et ouvre la porte
Pour entrer
Mademoiselle Souffrance
1.7.16
Amar
Es pertenecer a alguien
Mismo que la posesión de este bien
No sea del conocimiento
De quién lo tiene
O mundo exige que sejamos felizes a qualquer preço
Não ser feliz é sair à rua sem documentos
Ser abordado pela polícia
E não ter como provar que se é um cidadão de respeito
O pior é que estou sem minha carteira faz tempo
E nem sei se fui furtado
Ou se a perdi na confusão que trago aqui dentro
...
- Atenção viatura, elemento suspeito na área...
- Alto lá meliante, frente pra parede e mão na cabeça!
- E essa cara de insatisfeito, tá criando problema?
(Flagrante delito)
- A casa caiu, doido! Teje preso!
- Sargento, Fluoxetina e Clonazepan goela abaixo do sujeito!
30.6.16
Women are almost moon
Just see how are phases
It is unfortunate they are not exactly moon
That becomes predictable
To maintain a regularity
Vagabunda
É esta minha consciência paralizada
Que não se ocupa de outro amor
Amarrou seu burro na pessoa errada
Cadela
É esta minha dor mal desenhada
Uivo que invade madrugadas
Não respeitando o sono de quem trabalha
Piranha
É esta minha paixão assassina
Que com dentes afiados (arranca pedaços)
E me deixa agonizante a morrer em carne viva
29.6.16
Je ne veux pas un amour théorique
Virtuel
Un amour d'ostentation
Trophée décoratif
Un amour symbolique
Que seule sert à afficher
Ce ne se prête pas au toucher
Ne pas accepter d'être charnel
Refuse d'être vécu
Escrever é bom
A vantagem para quem o faz
É poder ser dois, três ou mais
E ter toda liberdade para voar
Escolher o que se é
E se não lhe atender
Simplesmente trocar
Basta olhar no entorno e apreender
Juntar com tudo que pulula dentro do ser
Soltar a imaginação e improvisar
Ter agulha na mão
Linha, tecido
Juntar as margens e costurar
Criar paixões
Inventar desilusões
E viver (como quiser) o amor que mais lhe agradar
Sem ter que magoar
Sem ter que trair
Sem ter que enganar
Apropriar-se do sentimento alheio
Misturar com o que é seu e verdadeiro
Fantasiar e incrementar os ornamentos
Entrar e sair de tudo
Sem impedimento
E a qualquer momento
Sem sofrer
Ou até mesmo (se for inevitável)
Sofrendo
Não precisando agradar a quem quer que seja
Podendo rir ironizando a própria tristeza
E eternizar o que valeu a pena impedindo-o de mudar
28.6.16
No voy más
A escribir poemas
Que me hacen temblar los sentidos
Que me debilitan
Dejándome desnudo
En el mundo de los vivos
Voy a cerrarme en una armadura
De palabras de otros
Soldados entrenados
Perros hambrientos
Y alambradas de espinos
Esse amor não teve nada de original
Obedeceu a uma lei natural
Como acontece com qualquer amor vulgar
Foi só por causa do exagero em sementes
É que conseguiu germinar
Nasceu planta pioneira em chão estéril
Cresceu resoluto e orgulhoso
Pensando-se eterno
Mas com raízes de superfície
Não resistiu muito aos ventos
E tombou triste no primeiro inverno
Serviu de adubo para outro oportunista
Que encontrando o solo já melhorado
Desenvolveu-se de forma mais descomprometida
Sem querer saber das histórias que ali se passaram
27.6.16
Just open your mouth for me
I need your tongue
I want to know each papilla
Deciding how they might feel
And how they should be grouped
Your tongue is mine
I do not want to amputate it
Close your mouth now
And open it only when I determine
Your mouth is mine
I do not want to sew it
Amor é fruta
Que surge como evolução da flor
Movida pelo entusiasmo da paixão
Precisa de tempo para completar o ciclo
E expressar todo o sabor no auge da maturação
Mas às vezes é colhida verde do pé
E infelizmente isso não é exceção
Aí acaba não saciando quem tanto a desejou
E que por não saber esperar causou a frustração
23.6.16
J'apporte un soleil au dedans de moi
Ce qui doit naître et mourir tous le jour
Je dois le faire et accepter
Ceci est mon seul travail dans la vie
… foi só quando me vi sozinho outra vez
É que pude olhar para trás
E perceber como em casa
Havia objetos demais
E tudo (completamente) fora do lugar
Me mantive obscecado em te cercar
Em te atender
Sem conseguir aceitar
Que mesmo amando com toda a intensidade do ser
A vida de um sujeito não pode parar
E agora que as coisas parecem voltar a andar
Preciso separar o que deve ser mantido
De todo o resto que perdeu o sentido
Embalar os objetos com cuidado e (simplesmente) dispensar
Cada souvenir que vejo, cada mimo
Carrega a lembrança do momento vivido
Mas é preciso que o desapego seja contínuo
Retomar os espaços que dentro de mim são necessários
E ainda há muito que arrumar
22.6.16
Ustedes que viven el día a día
Una sucesión de malentendidos
Si separados están así
Imagínen si unidos
Quando brigamos
Frequentemente perdemos o juízo
Dizendo o que não é preciso
Mágoas antigas são revisitadas
Surgem exageros, mentiras ordinárias
Bobagens sem sentido
Até que exaustos e desafogados
E depois de termos chorado litros
Terminarmos como sempre
Aninhados sob os lençóis
Juntinhos e aquecidos
21.6.16
Desmatei sem piedade
As matas ciliares
Desse amor
Que eu não imaginava
Tão frágil
E observei
Pasmo
Como tudo evoluiu rápido
Por faltar proteção
O rio assoreou
Agonizou e morreu
Sem esboçar reação
20.6.16
The city to where we moved
We never will belong
It is not our village
Neighborhoods and streets
The cause estrangement
It grows out of control
We do not recognize us
Estou perdido
Num território que não reconheço
Deixo lágrimas como pegadas
Na esperança de ser encontrado
Mas ninguém as segue
Infiltram-se rápido no solo seco
E desaparecem
17.6.16
Quand
Ce qui semblait impossible
Aujourd'hui devient possible
Mais maintenant ne suffit plus
Il est préférable d'examiner les principes
Et tracer autres chemins
Retorno pra ti
Carregado em presentes
Trazidos de minhas andanças por outros reinos
Me comportando como um menino bobo
Iludido e ingênuo
Querendo trocar regalos inúteis
Bibelots, guloseimas, amuletos
Por um amor que precisava apenas de água
Mas desidratou e não resistiu ao tempo
16.6.16
Buscar estrellas
Haciendo de mi lengua
Luneta
Es examinar
Con método científico
El cielo de tu boca
Mi universo infinito
Amar
É essencialmente superlativo
Tem que ferver por dentro
Tem que se sobrepor ao orgulho e a vaidade
Quem ama morno
E não sai de sua zona de conforto
Não ama de verdade
15.6.16
Even if
To say what must be said
There are no words or signs
Other means must be found
Because the silence can seem contempt
And generate great misunderstanding
Covarde
Não sejas injusto
Responsabilizando sempre o outro
Pela tua infelicidade
Tua escassez de sentimentos
Tua estrutura oca
Ou ausência de envolvimentos
São só desculpas que usas
Em tuas incontáveis fugas
Evitando o enfrentamento
Do que de fato te afeta:
Uma desmesurada culpa
E o incontornável medo
14.6.16
Personne ne peut dire
Qu'avait une certaine valeur votre vie
Si vous n'aviez pas d'un grand amour
Même si seulement pour un jour
Para quando eu me for
E se ainda estiveres
Com teus olhos atentos
Quero que saibas
Que os escritos que te deixo
Formarão o único legado
Que reconheço
A saudade é uma mentira
Contaminada por distorções da memória
Fruto melhorado da vontade
Por algo que não tem volta
E não reflete mais a realidade
Alguma coisa sempre se modifica
Após cada partida
Seja por um minuto
Ou uma vida
O tempo não importa
Mas tanto quem parte
Como quem fica
Terá que saber lidar
Com o que encontrará na volta
Pois quando se volta
Se é que algo volta
O que foi deixado certamente estará diferente
Daquilo que ficou gravado na memória
13.6.16
Viene
Y bebe luego la sangre
Que pierdo de esa mi muñeca rota
Legado único que dejé intacto
Y ahora lo ofrezco
Para romper de una vez
Nuestro antiguo pacto
A inocência me fez prometer
Que seguraria tua mão
Em teu leito de morte
Mas pensando bem
Quando isto acontecer
E se eu ainda estiver vivo
Não creio que será possível
Pois te cercarás
Dos que sempre estiveram contigo
E não haverá espaço para este ser
Que para todos
Nunca esteve visível
Por isso não verei gravidade
Se não honrar meu compromisso
Diante de tais circunstâncias
Alheias à minha vontade
Acharei aceitável
E até mesmo compreensível
10.6.16
Da última vez em que te vi
Estranhamente tive vontade de sumir
Saí me remoendo por dentro
Pois achava que o que mais queria
Era estar contigo ao menos por um momento
Fiquei confuso e sem entender direito
O que só agora compreendo
Agí nos defendendo tentando evitar
Que mergulhássemos em mais sofrimento
Mas qual o sentido de tudo isso?
Fugir ameniza a dor de um amor impossível?
O que fazer para liquidar com essa dor
E virar de uma vez por todas o disco?
9.6.16
Poèmes du jour
Charge le soleil comme seul guide
Poèmes de la nuit
Voyager dans l'espace
Entourés par des étoiles sans fin
Et ils peuvent choisir plus librement
Qui veut avoir comme compagnie
Encerro o dia
Afundado em rascunhos
Montanhas de versos brutos
Algumas rimas
Pensamentos confusos
Tudo ditado por uma voz que me exige
Não sossega enquanto não os expurgo
Não se cala se não registro absolutamente tudo
Mesmo que o conjunto pareça absurdo
O duro é que depois me obriga a tratar do conjunto
Numa interminável tarefa
De transformá-lo em algo aproveitável
Poemas com algum conteúdo
8.6.16
Los poemas de amor
Que escreví
Y a ti dediqué
Hoy me doy cuenta
Hablan mas cosas de mi
Que de ti
Y no fue así que los pensé
Toma como lição
De hoje em diante
Só entregue o teu amor
Para quem o mereça
E possa dele cuidar
Não tenhas mais o dissabor
De confiá-lo a quem o teme
Despreza
Ou não o saiba valorizar
7.6.16
Não te prendas ao que foi vivido
É melhor começar tudo de novo
E ver se esse amor ainda faz sentido
Se resistiu ao tempo
E como num experimento científico
Pode ser novamente reproduzido
Se for seguida exatamente a receita
Catalogada em nossos arquivos
6.6.16
Permettez-moi de continuer à réchauffer vos pieds
Au moins jusqu'à la fin d'hiver
Ou même votre tristesse passer complètement
Você desistiu de algo que para qualquer um seria imenso
Quando se recusou a amar
Enterrou em cova rasa um tesouro raro
E não soube nem ao menos avaliar
Agora não vale a pena tentar resgatar
Pois se nem um amor novinho em folha soube aproveitar
Acha que estando já com danos evidentes teria como cuidar?
3.6.16
Quien oye más a los otros
Que a sí mismo
Vive solamente para realizar deseos ajenos
Tiene más possibilidad de terminar solito
Nasci
Um tipo de mato
Que teima em sair na rachadura do asfalto
Vivo dançando tango e bolero
Alternando entre o burlesco e o trágico
Me vejo condenado a morrer afogado
Num sonho que não pode ser realizado
2.6.16
When I propose to do exercises with you
I can not concentrate
The muscle grows me
And then it gets sore is another
A friend much sense
Para que quer tanto falar?
Para que insistir?
Para que atingir o êxtase com as palavras?
Deixar-te cegar pela nevoa da insanidade
Seria só para dar de cara com a muralha
E novamente desabar
No abismo das impossibilidades?
Não te incomoda dar tanto trabalho a este amigo
Que novamente precisá te resgatar do esconderijo
E tratar das tuas enfermidades?
Sabes bem a condição lamentável em que ficas
Impossibilitada de reagir
Utilizando apenas as próprias vontades
1.6.16
Qui sait écouter
Et avoir la sagesse d'attendre
Il sait qu'à un certain moment, il se posent
Qu'est-ce en fait, il peut intéresser
O grito
Que não encontra ouvidos
Não se sustenta
Como expressão da dor
Chamamento ou pedido
Vira um eco amorfo
Ácido e corrosivo
Andarilho insano
Que vaga sem sentido
É sangue que jorra contínuo
Do olho da ferida
E só pode ser contido
Quando morre aquele
Que deveria tê-lo atendido
31.5.16
Mais um Maio que se vai
E ficamos aqui a contemplar
Velhos fotogramas mentais
Sem enterndermos exatamente
O quanto já não somos mais aqueles
Como perdeu brilho o nosso olhar
E o sorriso forçado do hoje
Menos reluzente
Tendo que se armar em tão poucos dentes
O dia
É cheio de percalços e paradigmas
Mas é ele que nos mantém os pés no chão
E nos obriga a tocar a vida
O fato de que (queiramos ou não) ele sempre vem em seguida
Evita que nos percamos de vez
Nos labirintos da noite infinita
30.5.16
Today
It is sad
But I know
I love you more in the distance
Than in the presence
Tomorrow
I will love you more in the remembrance
Than in the distance
And this is what will make this love
Still save some relevance
O tempo é um fio
Feito de uma liga inquebrável
É impossível cortá-lo
Experimenta puxar
E sentirás a resistência de que falo
Só é possível fazê-lo parar
Se não estivermos acordados
Mas é apenas ilusão
Logo ele se impõe mostrando que não foi desligado
Só é possível fazê-lo retroceder
Se apelarmos para o universo lembrável
Mas nem todas as vivências ficam disponíveis
Ou são rastreáveis neste espaço
Coloca a força que quiseres ao puxá-lo
E constata que quanto mais te empenhares
Mais pesadas serão as questões
Retiradas das profundidades
Mas cuidado ao tracioná-lo
Pois poderás ser colocado frente a problemas
Que não clamavam por soluções
E poderiam ficar silentes para sempre
Confortavelmente assentados
Nos lugares em que foram alocados
25.5.16
La lune ne change pas
Elle est toujours la même
Leurs phases
Elles sont la simple illusion
Dans les yeux du spectateur et pense
Que quelqu'un dans ce monde
En vérité peut changer
Nature prévisible et ennuyant
Il suffit la régularité qu'elle présente
Te deixo na madrugada
E sigo pelo que imagino ser o caminho da lua
Com raios impedindo que eu saia da calçada e fique pela rua
Sou alcançado pela chuva e assim vou resfriando minha alma
Sempre tão exigida e machucada
Olho para trás
E vejo que os passos que marcaram a lama
Vão sendo levados pela enchurrada
E acabam submergindo nas poças formadas
Decido caminhar descalço
E quando chego em casa já sou outro
Não mais me reconheço como aquele que há pouco
Em teus braços gemia e arfava
Preciso dormir e restaurar este meu corpo exausto
Jogar fora o livro de poemas que ainda levo no bolso
Agora enxarcado e sem a última página
Que a contragosto foi sumariamente arrancada
24.5.16
Si de repente
Sin más ni menos
Sin evaluar el terreno
Sin preparar el ambiente
Yo interrumpir tu habla
Y decir que te amo
Desesperadamente
No tengas miedo
Soy solamente mas un humano
Que llevará esta enfermedad para siempre
A última vez
Em que coloquei minhas mãos em ti
Tive uma triste recaída
Novamente me arrisquei e perdi
Sabia que aconteceria
Resistir ao primeiro gole é a única opção possível
Para que o viciado se mantenha longe da bebida
23.5.16
The fact
Of us have each another
Even if only for a while
It's so much bigger
Worth any suffering
That comes over time
Meu amor endureceu
Me surpreendi quando vi
Foi algo que nunca me aconteceu
Só depois entendi
Que foi ao tentar conservá-lo melhor
Guardando-o na geladeira
Dentro de uma gaveta
Sob verduras e legumes
Num frasco bem fechado
Ó sentimento nobre e abnegado
Perdoe este ingrato
Te aquecerei em fogo baixo
E se sobreviveres a tamanho maltrato
Voltando a ser tenro como no passado
Prometo comê-lo como a mistura de hoje
Tendo arroz e feijão
Como companheiros de prato
20.5.16
Votre amour est tempête
Vent que me bat
Avec une telle intensité
Augmentant de plus en plus
Mes vieilles blessures
Aonde enfio
A montanha de poemas
Que te escrevi
Se não estás mais aqui?
Desescrevê-los é impossível
Respiram a plenos pulmões (estão vivos)
Não é certo sacrificar recém nascidos
Não podem ser responsabilizados
Pelo ocaso dos motivos
Que os tornaram paridos
19.5.16
Tira
Este periscópio de cima de mim
E olha um pouco mais para ti
Tenta o seguinte:
Faz de conta que não estou aqui
Agora confia no resultado do teu esforço
Lança-te do alto deste morro
Tuas asas já estão fortes
Aciona-as e comece o vôo
18.5.16
I am the sign of Gemini
And my name is written in the plural
For me have more than one of each thing in life
Even if antagonic
Wanting them and not wanting the same time
It's confusing but very natural
Teu corpo
Território que não me nega intimidade
Batizo cada parte
Em função do momento
Do interesse
E de meus lampejos de criatividade
Terra do fogo
Cratera do vulcão
Brisa que arrepia
Bosque dos mistérios
Lago dos encantos
Miragem que paraliza
Montanha dos sonhos
Cortinas ao vento
Canyon das águas frias
Porta sem tramela
Radar para o infinito
Serra das fantasias
Janelas do entendimento
Planície do sossego
Vale das maravilhas
Relva do aconchego
Silenciador de juízo
Cascata das delícias
17.5.16
La ville de notre enfance ne pousse pas
Quartier
Rue
Quand revisité
Contrairement à
Se recroqueviller
La maison où il est né
Il est très simple
Et négligeable
Maturité dissipe la magie
Raccourcit les distances
Réduit les grandeurs
Te perdi
Aqui jaz
Minha eterna amada
Te guardarei para sempre
Confortavelmente instalada
No oco de mim
Como memória idealizada
Alimenta em paz teus vermes e larvas
Pois não será na atual condição
De carne pútrida e degenerada
Que serás lembrada
16.5.16
Mientras que lamentas
Fija en lo que te daña y irrespeta
No vives la recompensa
De tu corta existencia
Histórias que o vento leva
Saudades que o vento trás
Lembrança do teu amor
É ponto distante
No horizonte deste ousado navegar
É nuvem que deságua em dor
Difícil de aguentar
Em mar aberto
Meu barco segue pesado demais
Veste-se de tempestade
Sob risco de adernar
E até submergir
Se a opção for persistir
Mais seguro é retornar
E só voltar ao mar
Quando a tormenta terminar
O vento voltar a ser brisa
O céu azular
E a fúria das águas passar
13.5.16
Protected by distance and silence
We try to organize ourselves
How we can
Only remains for us rely on common sense
To be brief the suffering
Framing the screens
And hanging them correctly
In the walls of time
Respecting the nobility of feelings
Desenovele rápido
Minhas mentiras de amor
Enquanto o rolo é pequeno
E ainda há tempo
Coloque-as separadas
Respeitando uma certa lógica
Para que tragam esclarecimento
E verás que não são bem mentiras
Mas sim fantasias
Inocentes experimentos
Tenho certeza de que vais me perdoar
Por testar em nossas vidas
As bobagens que fico bolando aqui dentro
12.5.16
Mes yeux pluie sentiments
Mais plus qu'ils déchargent
Défaut de soulager les nuages lourdes
De mon âme en tourment
Je suis condamné à souffrir
Pas encore savoir combien de temps
La douleur d'un amour qui succombe liquéfié
Dormes como uma rocha
E eu me torcendo de inveja
Viro de um lado para o outro
Tentando encurralar meu sono
Pernilongos incômodos
Arrepios de frio
Suores súbitos
Um estranho e abafado outono
Na penumbra
Quando me volto pra ti
Tua silhueta me convida
E eu aceito me aninhar no teu contorno
Mas o calor é tanto
Que logo começamos a ficar molhados
E mesmo sem acordar e ainda por cima ressonando
Te descobres e desvencilhas de meu abraço
Volto à minha miserável condição
De insone solitário
Pois de fato não é possível por muito tempo
Permanecermos assim colados
11.5.16
De arriba de la ventana
No veo gente
Pero una hilera de hormigas solamente
Caminando en una dirección
Rodeadas por puntos de colores surtidos
Paraguas en zigzag continuo
Creando un bordado vivo
Na galeria
Com tanta arte em exposição
Cercado por toda essa gente
Tudo parece interessante
Mas nada me desperta interesse
O ar refrigerado congela minha testa
Cada dia mais extensa
Mas por dentro
Numa crescente impaciência
Fervo
A única vontade que tenho
É me sentar em silêncio
E deitar sobre o branco do papel
Os versos que me escapam pelos dedos
E se não fizer isso neste exato momento
Sei que irremediavelmente irei perdê-los
10.5.16
I do not want help
Much less advice
I just want anyone to respect
My right to suffer
For after climbing alone
The walls of the precipice
Again
I can feel entire
Seu rosto escuro e fechado
Paginado qual brochura
De tão vincado
Nunca sorri
Alega que sempre foi assim
Considera que para si
Rir não é natural
Quando tenta
Lhe doi a pineal
9.5.16
Avec la mer
Les tours des marées
Mais Il est possible de prédire
Contrairement à
Qu'est-ce qui vous arrive
Mulher é bicho doido
Tem parte com deus
Mas segue mesmo é com o demônio
Basta que lhe dê atenção
E prometa satisfazer os sonhos
Tentei entender
Não tento mais
Tô desistindo
Agora é melhor não mexer com isso
Mas ainda que seja impossível compreender
Não dá para ficar sozinho
E viver sem mulher
Eu não consigo
6.5.16
Nececitamos desarrollar el hábito
De tratar bien a todas las personas
Y no si olvidar de practicarlo especialmente
Con aquellos a quien si ama
Sei bem
Que jurei muitas vezes
Não te abandonar outra vez
E foram tantas
Que nem sei mais quantas vezes
Meu juramento quebrei
Agora, certo do teu perdão
Juro
Pela última vez
Que não mais jurarei
5.5.16
Is necessary to be attentive
Not to fall into the trap
Of the impossible love
That can only light up our senses
Affecting judgment
Leading to despair
Cada poema de amor que faço
É um punhado de seixos rolados
Que escolho no fundo de um riacho
Coleto o máximo que me cabem nos bolsos
E saio me arrastando com os pés molhados
Te persigo
Te encurralo
Te apedrejo
Te acerto
Que engraçado
Vejo que sangras em cada um dos machucados
Acreditas agora que esses versos são verdadeiros
E que não é possível ignorá-los?
Então por que não lavas as tuas feridas
Nas águas límpidas deste mesmo regato?
4.5.16
Esperamos que num outro tempo
Em que aqui já não estaremos
Os excessos da paixão
Sejam considerados lícitos
E não precisem mais suplicar por perdão
Que possam ser vistos como motivações virtuosas
Ações obrigatórias na incondicional entrega amorosa
3.5.16
Mismo
Quien no espera
Por agradecimiento ni conpensación
Merece respeto
No tiene necesidad de tolerar
Menosprecio y mala educación
Há um estranho paradoxo
Um risco embutido
Neste fenômeno do amar demais
Atordoado por tua presença
Palpito e suo sem parar
Te quero ao ponto
De quase sufocar
Mas é impossível alguém viver assim
Com tamanha falta de ar
2.5.16
Até mesmo para se amar é preciso bom senso
Envolvimento em excesso
Fixação
Causa muito sofrimento
Pode até ser argumento
Para se fazer boa poesia
Mas no dia à dia
Uma situação assim superlativa
Imobiliza o sujeito
29.4.16
Ma poésie
Il est précisément pour vous
Que cette nuit est absent
Et je l'avoue désireux
Effrayé et claquant des dents
Le froid que je me sens maintenant
Pas dure éternellement
O tempo me ensinou
Que as vivências da noite
São diferentes das do dia
E necessitam ser deixadas por lá, protegidas
Para que essas experiências
Não se sintam peixes fora d'água
Exilados em terras desconchecidas
Não devem ficar soltas
Sujeitas ao sol, chuva
E ao dispersar pelo vento
Precisam ficar cuidadosamente acomodadas
Numa caixinha
Para que continuem intactas
Límpidas e reluzentes
Para caso um dia
Outras noites venham a existir em nossas vidas
28.4.16
Odio
Cuando me roban el habla
Antes de terminar la elaboración
Y se atreven a intentar adivinar
La conclusión
No momento de te deixar
Achando que já dormias
Sem alarde tentei me levantar
Mas me alcançaste o ombro
Dizendo que só voltarias ao sono
Se te desse um último beijo
E um pouquinho mais de tempo
Como recusar ao ser amado
Algo assim tão singelo e necessário?
Ah, vontade de ficar
E me afundar para sempre neste abraço
27.4.16
Não consigo escapar deste roteiro
Num caminho que tão bem conheço
Estou sempre no meio
Entre quem amo
E quem odeio
26.4.16
Teu recato é sempre um desafio
Contigo meus argumentos
Mesmo que estrategicamente construídos
Em geral caem no vazio
Se saco uma rolha
Evocando borbulhas de um amor antigo
Ganho acesso aos teus assuntos de mulher em conflito
Um pouco mais de vinho
E consigo despertar alguma liberdade
Em teu comportamento feminino
Outra garrafa e um brinde em nome de algo que nunca será esquecido
E agora é tua alma de fêmea lasciva que me agarra
Percebo que mexi com uma fera em pleno cio
Por que será que nunca me arrependo de fazer isso?
25.4.16
23.4.16
Me sorprende
Que a pesar del tiempo
Siempre me quedo caliente
¿Sería por amor
O porque tan repetitivamente
Tu me dices no, no, no
Que llego a pensar que puede ser para siempre?
20.4.16
There is no put subtitle a movie
Which dares to portray
The end of love
A linguage has not yet been created
Whose words able to
Explain so much pain
Manhã seguinte
Sozinho no quarto
Triste e paralisado
Luz ofuscante
Mormaço
A cabeça explodindo
E um péssimo hálito
Sobre o criado
Vestígios do que agora é passado
Restos de parafina grudados no verniz
O cinzeiro ressentindo os muitos tocos de cigarros
Aquele poema da Ana C. ainda marcado
O abajour coberto com teu (sempre esquecido) lenço dourado
A mancha seca do vinho no fundo das taças
Conservando (não sei até quando) um aroma deliciosamente frutado
Adoro construir labirintos
Criar confusões
Dúvidas
Mudar convicções
Frases de duplo sentido
Invento de tudo
A todo o tempo
Invento até sentimento
E assim me divirto
Mas não sei
Se sou vítima inconsciente
Ou se minto mesmo
Assim descaradamente
Penso ter este direito
Afinal sou poeta
Não resisto
E nem tento
19.4.16
Eloigne-toi de moi
Ne pas corromps mes souvenirs
Je veux qu'elles persistent intactes afin
La façon dont les construit
Lamento
Por não termos vivido para sempre
Tudo o que nos prometemos
Que eu não tenha podido te dar
O que mais querias e em tempo
Torço para que surja alguém em tua vida
Que te mereça como achei que te merecia
E honre meu empréstimos com mais fundamentos
Pagando os juros e cada centavo do que fiquei te devendo
18.4.16
Siempre el mismo movimiento repetidor inútil
La misma escalera
Que por la noche subo para llegar al paraíso
Por la mañana
Me trae de vuelta para el piso bajo
Y la realidad me hace comprender
La imposibilidad de lo sucedido
O sofrimento só aumenta
Quando o sentimento
Deixa de ser amor
Vira obsessão
Se trasnformando numa doença
15.4.16
Te deixo em frangalhos
E saio me sentindo um carrasco
Pego o primeiro taxi que passa
Ordeno ao motorista que siga para qualquer lugar
Que só me dirija a palavra quando eu mandar
E me ponho a chorar como quem se despede do mundo
Sem pedir consentimento
Ou querer saber se era de seu interesse
Começo a relatar ao estranho
Os detalhes mais íntimos
Deste amor absurdo
Falo por horas sem ser interrompido
Destilo toda espécie de impropérios e superlativos
Te culpando por tudo
Mesmo sabendo lá no fundo
Que estou sendo bastante injusto
Chego em casa com os olhos inchados
Mas no coração já um certo alívio
Apenas me preocupa agora
O fato do motorista ter nas mãos uma chave de roda
E no rosto um ar enfurecido
Além de ter que ouvir tanta baboseira
Já deve desconfiar o quanto estou falido
Ainda pouco
Pensava nesse nosso amor
Perdido e mal desenhado
Gritei incorfomado:
“Sou mesmo amaldiçoado”
Invadiu-me uma dor insuportável
Estapeei-me em frente ao espelho do armário
Chorei
Gritei desesperado
E eis agora o resultado
Acabei rouco, hematomas no rosto e desidratado
Tristesse
Transatlantique
Impossibilité
Océanique
Plongée
Titanesque
Abyssal
Absurdité
Laissez la coque
En paix
Il est en fond
Ce qu'il veut rester
Triste comigo
Por ser um completo idiota
Um apaixonado incorrigível
Que nunca espera ouvir um não
E considera sempre tudo possível
14.4.16
A temível lagarta
Se arrasta voraz
E devora por completo
Irrefreável e contumaz
A planta de que mais gostar
Vista agora como uma inocente borboleta
Nem sequer levanta a suspeita
De tudo que causou
Antes de se transformar
Passa a ser admirada apenas
Pela riqueza de suas cores
A graça de seu vôo
E o seu papel entre os polinizadores
13.4.16
É preciso diversificar o olhar
Não deixar de observar
Mesmo os lados de onde não esperamos
Que algo de bom possa nos chegar
Afinal a vida é imprevisível
E se estivermnos muito distraídos
A solução pode não nos encontrar
Não sejamos reféns de sentimentos envelhecidos
Mesmo que ainda estejam vivos
Se foram condenados a fracassar
Senão corremos o risco
De ter que nos acostumar a viver eternamente
No buraco que nós mesmos decidimos cavar
12.4.16
Você há de convir
Que assim
Me segurando pelo queixo
Chamando minha atenção
E me enchendo de desejo
Não é a melhor situação
Para que surja a poesia
Isso difere um pouco
De meus momentos de criação
11.4.16
… foi quando ela me disse:
- Velho ridículo,
Sua decrepitude já é nítida!
Só você não a admite
Faça uma verificação bem simples:
Coloque-se em pé
Alinhe o corpo e olhe para baixo
Agora tente se lembrar há quanto tempo
A barriga o impede de enxergar
A ponta do seu caralho
… aí eu não me contive e tive que lhe responder:
- Infeliz criatura
Te perdôo pela ignorâcia
Mas não pela grosseria e desrespeito à minha cultura
De onde venho, quando um homem chega na minha idade
Ter uma barriguinha é motivo até de certo orgulho
Simboliza prosperidade
8.4.16
Abandonei a cautela
E mergulhei incondicionalmente nesse amor
Foi tanto o entusiasmo
Que desci convicto todo o tempo
De que sabia exatamente aonde iria chegar
Mas mesmo tendo inspirado ao máximo
A profundidade foi tanta
Que acabou-me o ar
Ficando impossível regressar
Só me restava um caminho
E ao te ver tão linda
Me acenando, sorrindo
E convidando a continuar
Obedeci sem pestanejar
Pois continuo acreditando neste amor
Sei que não alucino
E que ainda sou capaz de te alcançar
7.4.16
A caixa craniana que cada um de nós
Carrega sobre o pescoço
É um pequeno vaso
Que um dia alguém deixou alí montado
Cuidar dele é muito fácil
E vale a pena dedicar-lhe
Um pequeno tempo diário
Não exige teoria, maiores esforços
Ambiente sofisticado
E muito menos gastos
Se esquecido ou abandonado
Torna-se triste
Árido e desvitalizado
Com um pouco de água
Luz, carinho
E a retirada dos matos
As plantas vingam vigorosas
As flores perfumadas
E bastante atrativas para abelhas e pássaros
E é claro, que a partir daí
Para nascerem bons frutos
É só mais um passo
6.4.16
Il a appris avec elle
Conduire à la vie
Moins compliqué
Ce fut un processus très difficile
Il a impliqué renonciation et sacrifice
Mais maintenant
Avec ses routines modifiées
Il est plus libre et heureux
Déjà à récolter les bénéfices
Entre espelhos
Tenho acesso
Ao que normalmente não vejo
Um pequeno ajuste
De ângulo e posicionamento
E o verso do ser se descortina
Ficando exposta a face oposta de mim mesmo
Complementação monótona e vazia
Infinita repetição de movimento
Caleidoscópica fantasia
Nascísico encantamento
5.4.16
Why
Did you bring me back to life
When rather have died?
You forced me to live
With wounds that never heal
And that is why I must be
Eternally grateful to you?
Pássaros não mastigam
Bicam
Cortam em pedaços pequenos
O que querem comer
Ou engolem inteiros
Frutos e sementes
Desde que passem bem
Por seus pescocinhos estreitos
4.4.16
El corazón de cada uno de nosotros
Es un pequeño lago
Y debe mantener a los peces en buen estado
Para que ellos, en el espacio confinado
Aunque siendo de diferentes especies
Sean capaces de vivir armonizados
Sin comerse unos a otros
Si por casualidad un día
No pueden tener el alimento adecuado
Penso que agora será possível esquecer você
E isto deve acontecer
Não pela sua inabalável recusa em me entregar o seu amor
Mas sim porque usei as últimas gotas do perfume
Com o qual, em um de meus aniversários, você me presenteou
Foi o único exemplar dos tantos que tenho sobre a cômoda
Que antes de vencer, se esgotou
Todos os demais perderam os aromas, o frescor
Estão saturados de ranço e álcool
E frasco, lá em casa, sem conteúdo de nada serve
Vai sendo empurrado de um lado para o outro
Por um tempo vira cinzeiro, peso para papel, porta-velas, vaso
Fica enconstado em algum canto, para não ocupar espaço
Até que um dia, com sua inutilidade finalmente reconhecida
Acaba na lata do lixo fazendo companhia às tantas garrafas de vinho vazias
Até ser levado pelo carroceiro a um centro de triagem
E por fim uma usina de reciclagem
Onde a fusão de seu corpo aos muitos outros corpos de mesma sina
Promoverá o nascimento de um ser renovado
Uma nova identidade para uma nova vida
1.4.16
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