30.9.15

Le difficile



Ne vous accommoder dans la poitrine
Mais vous expulser de ma rétine

Na duração de uma vida



Água mole não fura
A pedra dura

Facilita o banho
Vira bica

Consegue no máximo
Molhar quem se aproxima

Pode chegar até
A alagar o entorno

Mas se insistir por muito tempo
Neste projeto doido

Alisa o piso
E propicia o tombo

29.9.15

O que dizer sobre o amanhã



Se nem ao menos há um hoje
Que possa se vestir de ontem?  

28.9.15

O tempo



Rebelou-se de vez
Faz o que quer
Atropela tudo
Não pede mais para passar

Teve tanto poder
Que conseguiu
A tua mão
Da minha afastar

Te carregou daqui
Trancou portas e janelas
Jogou a chave fora
Me impediu de te acompanhar

E no olho do ciclone
Sumiu ensandecido gritando ao longe:
“O tempo passou na janela
Só Carolina não viu”

Agora não adianta chorar
O rodamoinho se desfez
O tempo ficou velho e rabujento
E nem fez questão de aprender a voltar

25.9.15

Em você



Não deixo de desejar
Nem mesmo aquilo
Que nas outras
Chego a detestar

24.9.15

Poesia



Sapo
Que deixa de contornar fatos

Interrompendo o passeio
Na beira do lago

Para num átimo
Impávido mergulhar

23.9.15

O lúmen



Arfante
E súbito
Do teu cigarro

Brasa pulsátil
Que te descortina o rosto
Depois que me tragas

22.9.15

Só por suportarmos a vida



O céu deveria ser um direito
E não uma conquista

21.9.15

Amar



É sanar
E ser sanado

No sexo
Na fome
No nexo exato

17.9.15

No bolso do velho casaco



Num pequeno envelope
Um bilhete ainda intacto

Nele tua letra lamenta pelo presente
Enaltece o passado

Não nega a possibilidade
De um dia quem sabe

E simplesmente termina
Sem um beijo ou abraço

Depois de anos seguidos
Sem um inverno propriamente dito
Não havia mesmo como notá-lo

Your memory



Show me the cold
Not yet passed

Directs my hand
Opening the closet

And see if it still serves me
The coat

16.9.15

O que vês



É casa avarandada
Praça iluminada
Alameda arborizada
Monumento

Plácido elemento
Que sofre apenas
Os efeitos do tempo
E assim me apresento

Não é um disfarce
Ou uma forma de ser aceito
É espontâneo
Não sei parecer de outro jeito

Mas por dentro
Sou convulso
Imaturo
Irascível
Turbulento

A inconstância é meu tormento
Temo perder o controle a todo momento
E quando minhas ações
Causam dor aos que mais amo
Sofro
Pois nestas horas
Nem mesmo eu me reconheço

Le vrai pardon



Il abrite plus de poésie
Que la simple acceptation

15.9.15

A long time ago



For us
The yesterday ended

The today it is absent
And the tomorrow
Still does not have to exist

Of us
No longer depends

No amor



Escreves com letras de forma
Uso cursivas

Enquanto assino por extenso
Rubricas

14.9.15

O que em verdade vale tudo que vejo



Se somos simples passageiros
E só o que temos é um acento na nave?

Por que apegar-se tanto ao entorno
Se para onde vamos todos

É possível levar apenas a nós mesmos
Sem direito a bagagem?

11.9.15

Cansei de tentar sozinho me achar



De mergulhar fundo
Procurando sentidos
E por não encontrar
Ter que voltar à superfície
Para poder respirar

Foi de propósito
Que hoje os lastros reforcei
Decidido na última incursão que farei
Para ver se encontro motivos
Que façam a vida
Continuar a me aceitar

E se isto não acontecer
Quero que minha última morada
Seja mesmo o mar

Mas se de alguma forma
Nesta imensidão aquática
Alguém resolver mergulhar

E me achando perdido
Possuir o que procuro
E uma pequena parte deste tesouro
Esteja disposto a me dar

Ainda que a consciência me faltar
E quase morto eu estiver
Mas se houver alguma chance
De minhas forças restaurar
Por favor, não economize manobras
Para tentar me ressussitar

Vous pensez



Seulement pour rappeler
De mon existence
Cela fait déjà une différence

Il ne fait pas
Ce qui importe vraiment
Il est de votre présence

10.9.15

Quando não estás



Arrumar a cama pra quê?
Fim de semana é torcer pra chover
E não precisar levantar

Comer é assistindo TV
Barba apenas se o espelho não reconhecer
Banho só quando o lençol começa a grudar

As plantas amarelam não sei por que
Banheiro é melhor esquecer
Não restam mais roupas pra usar

Olhar para a louça na pia é ver algo se mecher
O disque pizza faz a fome ceder
Abrir geladeira apenas se o cadáver cheirar

O animal está fora de controle
Viva a vida livre de um homem
Nem percas tempo tentando me ligar

Engaveto o despertador
Ligo o ventilador e me viro pro outro lado
Melhorando a posição pra descansar

9.9.15

Moramos na mesma casa



Mas não entendo o absurdo
De meu comportamento

Não permito que saia da cozinha
Minha mãe África

Não deixo que meu pai Oriente
E que minha irmã Andina

Se sentem comigo à mesa
E contentes comamos da mesma comida

Que assistamos juntos a um filme na sala
Compartilhando cobertor e almofadas

Como direito adquirido por sermos todos
Apenas humanos e ridículos

8.9.15

Missão cumprida



Ao fim de cada pescaria
Porões cheios, velas ao vento

Os bons deuses
Me devolvem ao teu porto

Dominando o timão
Ancoro para um merecido repouso

Me abrigo no teu corpo
Teu sorriso no rosto

O bálsamo deste amor precioso
É o leito onde reencontro o sonho

Nenhum peixe do mundo teria gosto
Sem este conforto

E amanhã quando eu estiver velejando
Buscando no horizonte um ponto finito

Só olharei para frente
Carregando no peito o coração tranquilo

Terei a certeza
De ter sido um homem vivido

Fazendo por merecer
Não precisar repetir o mesmo caminho

4.9.15

Alta madrugada



Acordo ao volante
Desorientado
Sem noção de distância
Sem reconhecer o caminho
Um muro enorme à frente
Me enche os olhos rapidamente
Piso no freio por instinto
Ufa, que perigo!
Paro por alguns segundos
Respiro
Abro o vidro
E uma brisa gelada
Me acende os instintos
Procuro alguma referência
Talvez um amigo
Prossigo me embrenhando na noite
Buscando uma saída
Refletindo
O que estou fazendo comigo?
É a morte meu objetivo?

3.9.15

A seca se aprofunda



Usei toda a água de que dispunha
Mas não era tanta assim
Toda ajuda é bem vinda
A sede das plantas continua

Malheureusement



Il est plus facile
Apprendre par la douleur
Qui pour le plaisir

2.9.15

Frio e chuva



O mundo é uma imensa rua
Já nem sei se me lembro
Ou se sou lembrado

Tempo para mim
É um conceito sem sentido
Há muito ultrapassado

Vejo alguém
Parece me conhecer
Não ladro

Vou em sua direção
Cheiro
Não sou hostilizado

Deixo de morder
E não sei por que
Abano o rabo

Estranho meu comportamento
O que é primitivo?
O que é secundário?

O que resta aqui hoje não é humano
Nem mesmo o vestígio de um cão
Mas apenas um estranho resultado

1.9.15

Vou me permitir o benefício da dúvida



Tentando acreditar que a carta
Que tantos argumentos precisou listar
Até me convencer a ser enviada
Ficou esquecida num fundo de gaveta
Errou de endereço
Ou acabou perdida
Em algum atalho mal avaliado

Tentarei achar um culpado
Talvez o carteiro
O mau tempo
Um vizinho mal intencionado
Só não acredito que sem uma resposta
Mesmo que sumária
Teria me deixado

Pois o Não
Desenhado pelo silêncio
Ou até mesmo pelo desprezo
É cruel
Falta com o respeito
E é capaz de manter o ser como escravo
Permanentemente acorrentado

Põe toda uma história na lata do lixo
É míope não conseguindo compreender
Que vivências são tatuagens
Recebidas independentes da vontade
E mesmo que deformem ou fiquem desbotadas
Jamais se apagam completamente
Ainda que o sentimento já nos tenha abandonado