31.5.17

Se nossa história de amor


Pudesse ter um fim escolhido
Certamente não usaria para isso
Aqueles que invento
E em meus poemas registro

30.5.17

As tempestades


Que me assolam por dentro
Fora de mim
Não destelham casas
Não derrubam árvores
Não perturbam a ordem
A ninguém causam aborrecimentos
E para que tudo continue assim
Basta que eu mantenha meu silêncio

29.5.17

Por que me contas


Coisas tuas
Teus segredos
Se para dentro de ti
Não me deixas passar?

E por que me confidencias
Tuas fantasias
Se com isso só aumentam meus desejos
Me fazendo sofrer ainda mais?

26.5.17

Ela só sabe viver o amor


Se estiver encharcada de verdade
E é por isso que tomar um chuvisco não vale
Não cumpre com a finalidade
Ela só aceita viver o amor
Se puder encarar a tempestade

25.5.17

Enquanto dormes tranquila


Eu do meu lado
Me reviro inconformado
Numa carência explícita
Transbordando de dores de amor
E desejo não saciado
Tendo que aceitar
Como certeza definitiva
O fato de que de hoje em diante
Serei apenas eu comigo mesmo
Apenas mais um solitário

23.5.17

Menino


Espevitado e arteiro
Riacho pequenino
Corre sorrateiro
Driblando relevos
Até se render ao rio
Majestoso e sereno
Mas ainda assim
Imaturo e efêmero
E que em seu devido tempo
Se rende em definitivo
Ao mar infinito

22.5.17

É preciso que te digam


Isso que chamas de amor
E até hoje te choca
Imobiliza
Pela força descomunal
E por não ter explicação

Na verdade não é amor
É doença
Carência
Dependência
Obsessão

19.5.17

Gosto de ver o ator


Que ao entrar no palco
Se transforma
Despe-se do ego
E irreconhecível
Incorpora a personagem

Não gosto de ver o ator
Que sempre representa a si mesmo
E mesmo dando tudo de si
Falta-lhe talento
Ou apenas exercita a sua vaidade

18.5.17

Perdê-la


Foi perder um pedaço de mim
Algo já incorporado
Parte essencial
Para a minha própria compreensão
E por mais tempo do que alguém suportaria
Fiquei sem chão
Numa agonizante catatonia

Mas minha natureza reptílica
Até então desconhecida
Num dado momento se fez presente
E atuou repondo silenciosamente
A parte que me foi subtraída
E hoje quando olho
Para o que era antes uma enorme ferida
E vejo que não há mais nenhum sinal de avaria
Não sinto mais a tua falta
Paguei com juros pesados tudo o que devia
E agora considero justo poder desfrutar
Das coisas boas que ainda me oferece a vida

17.5.17

O vento infla a vela


Com o vento

A vela expressa
Sua natureza errante

Sem o vento

A vela murcha e para
Não vive o que para ela é importante

16.5.17

A fotografia


Já nasce corrompida
A cena se altera
Assim que alguém a registra.
Não é um retrato da realidade
Nasce contaminada pelas fantasias
Presentes naquele que clica.
Pois por trás deste olhar
Há montanhas de sentimentos
Uma cabeça repleta de paisagens
Oceanos inteiros
E vulcões furiosos
Erupcionando conceitos.

12.5.17

Não vale a pena continuar


Já que o riso acabou
E há tempos
A leveza escapou-nos no ar

E tudo que hoje fazemos
É nos exaltar
Causar sofrimento e chorar

É preciso enxugar os olhos
E aceitar
Deixar o tempo passar

Enfraquecer a mágoa
Serenar o pensamento
E deixar o coração perdoar

Assim a saudade poderá renascer
O bônus desse amor reaparecer
E as boas lembranças voltarão a nos visitar

11.5.17

O que me interessa


No jogo da paixão
É sobretudo
Esse eterno movimento das vítimas
Que como peças sem autonomia
São conduzidas de forma cíclica
Do gozo ao fundo do poço
E do fundo do poço ao gozo (de novo)
Por vezes e vezes repetidas
Como se não houvesse saída
Desprezando o aprendizado
E as sequelas que lhes deixa a vida

10.5.17

Temos problemas


Com a distância
Estilos de vida e comportamentos.
Embora nos amemos
Somos antagônicos
Amarrados em nossos extremos.
E mesmo que nossos sóis sejam os mesmos
Jamais nos encontraremos
Pois mal ele se põe aí no oriente
Aqui no ocidente já está nascendo.
O sol me alimenta
Mas para ti é veneno
Presença e ausência deste elemento
É que nos mantém vivos
E é assim que ficaremos
Cada qual no seu lugar
Até que se encerre o nosso tempo.

9.5.17

...me confessou


E eu acreditei
Meio litro de vodca
Todas as noites
Para afogar o nojo
E conseguir suportar
Tantos corpos sem rostos
Sujeitos escrotos
Com quem tem que se deitar
Para obter alguns trocos
...
É só uma fase (ela diz)
Preciso pagar a faculdade
Depois recomeço tudo de novo

8.5.17

Não dá pra aceitar


Estar diante de ti
E não poder te abraçar

Lembrar do teu gosto
E não poder te beijar

Ver os detalhes do teu corpo
E não poder te tocar

Querer o teu sexo
E simplesmente não poder te amar

O que ouço é sempre não, não e não
Sem qualquer justificativa ou satisfação

Então, lamento
Mas agora quem diz não sou eu

Cada um deve seguir o seu caminho
Está decretado o fim da paixão

5.5.17

Estavam iludidos


Pareciam dementes
Deixaram-se levar pela paixão
E como quase todos nessa situação
Enxergavam-se acima do bem e do mal
Prioritários e urgentes
Mas desde o início ficou claro
Que isso não daria bom resultado
Eram muito diferentes
E assim as diferenças logo se impuseram
Deixando-os abalados e até de fato doentes
Brigavam por qualquer motivo fútil
Juntos nunca estavam contentes
E o saldo disso tudo
Logo ficou evidente
É que acabaram tristes
Feridos em seus sentimentos
Fechados em suas mentes
E nem mesmo um possível amor latente
Teve como se desenvolver
Tal era a tensão que se fazia presente
Separaram-se rapidamente
E hoje nem mais se encontram
Quando percebem
Que isto pode acontecer
Num raro acidente
Disfarçam
Mudam de direção
Fixam o olhar no infinito
Aceleram o passo
E tocam em frente

4.5.17

Madrugada


Acordo assustado
Estendo o braço para o lado
E o vazio que encontro
Só não é maior do que a tristeza
E do infinito cansaço
Neste meu corpo frio

3.5.17

Ela


Bebe demais
Fuma demais
Se droga demais
E anônima
Autômata
Mergulha na noite
Com a única intenção
De tentar preencher
Sua infinita solidão

Percorre caminhos malditos
Absurdos para qualquer cidadão
Alega que é necessário correr riscos
Diz que não tem opção
Precisa saber
Se o que sente é verídico
E se há sentido em manter esperança
De nem tudo estar perdido
Ou se vive mesmo imersa na ilusão

Já em alta madrugada
Depois de um ou mais encontros (inúteis) fortuitos
Com o andar cambaleante
As dores dos açoites
E o hálito ressentindo aos vícios
Retoma o rumo de casa
Carregando no peito
O já tão conhecido vazio
Acrescido de todos os superlativos

Cai na cama como alguém que agoniza
Dorme um sono sem fundo (quase defunto)
E como uma criança sonha muito
Mas seus sonhos não se relacionam com seus dias (são só fantasias)
Está cada vez mais convencida
De que a existência é um equívoco
Um labirinto sem saída
E que a vida é um erro de estratégia
Um desperdício de energia

2.5.17

A labareda


Que incendeia os teus olhos
Enquanto arfas
Palpitas
Sacias tua sede de amar
É pura paixão
Cena rara de se observar
Digna de se aplaudir
E divino poder participar