28.2.11

Soberba é algo que não entendo


Pois quando em alguém observo este pequenino defeito
Não consigo fugir do pensamento

De que para estarmos aqui hoje
A mesma rota tivemos que traçar

O caminho do meio
O ponto equidistante entre o mijo e o excremento

Em nossa condição de humanos


Frente a frente
Olho no olho
Corpos se procurando

(É assim que optamos)

De súbito
Uma gota te escapa do olho
E inunda
A única ruga de teu rosto

Enquanto


Exploro minuciosamente
Tuas terras

Viajas inconsequente
Pela estratosfera

8.2.11

Tão importante quanto o livro


É o que lhe marca as páginas

O livro é livre
Tem caminho incerto
E vida própria
Só seu nascimento é conhecido
Nem mesmo quando dedicado
Se obriga a vínculos
É superior ao indivíduo

Já o marcador
Trás consigo um pouco do íntimo
A certeza de algo vivido
Um registro
Deve ao livro ser incorporado
E do dono aproximá-lo

Um ingresso de cinema
Um postal
Uma passagem de metrô
Um dólar ou real
Uma flor dessecada
Um palito de sorvete
Um cartão de visitas
Um bilhete de loteria
Uma conta vencida
Um papel de bombom
Uma foto rasgada
Um prospecto de exposição
Uma carta de amor
Um anúncio de emprego
Uma intimação
Um número num guardanapo anotado

Perpetua um fato
Uma escolha
Um período
Uma idade
Um comportamento
Uma necessidade
Uma perda
Uma excentricidade

Não utilizo em meus livros
Marcadores insossos
Ou uma parte de minha memória
Submergiria no lodo

7.2.11

O escuro ainda predomina


Movimentos delicados
Já apontam vida no andar de baixo

O cheiro do café
Acaricia minhas narinas

Não há como evitar
Mais um dia principia

O começo foi torto


Achávamos até engraçado
Ser assim
Imperfeito

Não conseguimos corrigir muita coisa
Até o momento
E isto não pode ser mudado

Mas se tivermos que acabar
Ainda há tempo
Para que o façamos direito

Pecados muitos


Segredos antigos
Teu cúmplice
Tua sombra

Hoje arrependido
Lutas
Para curar as feridas

E buscas
O paraíso
Mesmo que em outra vida

4.2.11

Minhas pequenas mentiras




Encheriam um navio cargueiro

Contos relatos
Poemas inteiros

Juro de pés juntos
E mantenho

Torces o nariz
Não condeno

2.2.11

Quando passas por mim


Desvias o rosto
E finges que não existo

Não consigo entender
Teus olhos flecham-me pelas costas
Sei que sou percebido

Mas também não entendo
Porque não me viro de uma vez
E acabo logo com isto