30.4.14

Minha raiva é efêmera



E minha paixão também

Se a tua situação é edênica
Aproveita o momento que tens

Mas se estás na fogueira
Fica ao lado e espera a tua vez

Visito outras ilhas



Mas não me arrisco
Em mares rasos demais
Ou longas distâncias
Prezo por minha vida

Só sigo a luz do teu farol
Que me guarda do alto da colina
Cais de todas as chegadas
Não importando as partidas

29.4.14

“É doce morrer no mar”



Destino
Salgado demais

Para quem
Em terra

Ainda tinha
A quem amar

28.4.14

Não tinha esta experiência



Telefone que toca no meio da madrugada
Filho desesperado em situação de urgência
Braços, pernas, cabeças, tudo intacto

Que susto!
Coração de pai tem que ser firme, resoluto
Mas por pouco não arrebenta

O peso da noite torna urgente o alvorecer



Para que o sonho não envelope a vida
É preciso despertar

Céu e inferno tatuam retinas
É inútil desviar o olhar

Tudo muda o tempo todo
Até o sol há de se transformar

Gigante vermelha
Anã branca

Calor intenso
Gélida escuridão

Sem ter para onde correr
Modelos não se sustentarão

Então, como não estaremos aqui para ver acontecer
Por que isto tem que ser hoje motivo de preocupação?

25.4.14

O predador tem fome



Flutua nas bolhas de calor
Que acolchoam o vale
Sem bater asas - não quer se desgastar

Atento inspeciona o terreno
Para decidir qual será seu alimento
Não importa se serpente, rato ou coelho

Conhece os elementos da terra do ar
Está seguro dos procedimentos
E de que nada poderá lhe atrapalhar

O mergulho é certeiro
Retorna para o ninho com bom suprimento
Que nem adeus à vida teve tempo de dar

24.4.14

Tuas críticas são inúteis



Não clareiam meus erros
Nem me aumentam os acertos

Não reforçam meus arsenais
Para que triunfe nas batalhas que enfrento

Disputas interiores solitárias
Em territórios ainda não cartografados

Mortos e feridos por todo lado
Tudo por bons motivos justificados

Mas ao final de cada luta
Mesmo com vivas e salvas de tiros

Não se pode evitar que os ventos nos campos
Corram saturados de lamentos e gritos

Pois não há vencedores
Sem que também existam vencidos

23.4.14

Procuras na intriga



A cura das feridas
Que te roubam o sono

Te sangram na língua
Rejeitam qualquer acordo

Sufocam tua sabedoria
Te infectam o pensamento

E fazem te arrastares pela vida
Deixando visíveis apenas os defeitos

Quem em sã consciência imaginaria
Tanta angústia e perda de tempo

Quando apenas a lembrança do amor bastaria
Para por fim a todo este sofrimento?

22.4.14

Lembrei hoje



Enquanto dormia
Que ainda muito jovem
Já dizia:

O gozo
Que não acho na rua
Me sobra na poesia

17.4.14

Ainda que o amor



Tenha ferido ao partir
Abalado as pilastras
Quase tudo feito ruir

E que o aceite do fim
Tenha sido a maior das dores
Que alguém possa sentir

Para evitar mais desabamentos
E mesmo que se passe muito tempo
Restarão as lembranças dos bons momentos

16.4.14

Furioso



O demônio me chutou para fora
Bateu a porta e virou as costas
Vociferando sem parar

“O inferno não se procura
É o inferno que te recruta
Não está no inferno a cura

Quando se conquista
No inferno um lugar
É para não mais voltar”

15.4.14

E seguimos assim



Apesar da impossibilidade
Rosa e baobá crescendo juntos
Desde a mais tenra idade

Até que se esgote o espaço
A casa seja destruída
O passeio todo ocupado

Desapareça o mais frágil
Não reste outro recurso
A não ser o machado

E precisemos retornar ao início
Só com roseiras viçosas
Num belo jardim florido

14.4.14

Te necessito



Te busco
Te reconstruo

O tumulto
O tráfego

Transpiro
Transtornado

O tempo
O momento

Te quero
Te trago

A taça
A topografia

O toque
O transcurso

Tranquilo
Transformado

11.4.14

Na madrugada



O amor é tanto
Que chego a sufocar

Mas se não aterrissar
E no meu diário
A jornada
Deixar de relatar

Na alvorada

Quando abrir a janela
E o frio o meu rosto desenhar
Pensamentos vão acender
A vida pela mão vai me puxar

E outra viagem contigo
De vez vai se evaporar

10.4.14

9.4.14

Aprenderei contigo



A fazer bom uso
Das matérias que a vida ensinou

Dar à dor a correta tratativa
Que tanto te ajudou

A reparar o casco
Reforçar a quilha

Fixar o mastro
Emendar cordas rompidas

Acrescentar lastro
Costurar velas rasgadas

Alinhar o leme
Assumir o timão

E novamente ousar
Navegar contra a corrente

Enfrentando tempestades
Até chegar sem grandes danos

Ao tão sonhado porto
Reduto de paz e felicidade

Não importando mais a distância
Tendo o tempo como aliado

Mestre dos bons pensamentos
Senhor da maturidade

8.4.14

Demorarei um pouco para saber



O quanto perdi
De tudo que plantei

Tanto suor empenhado
Faltaram chuvas eu sei

Mas não atentei para a importância
De estar com o solo preparado

7.4.14

Mulheres



E suas almas felinas
Conseguem nos manter por perto
Mas incapazes de conter as garras
Arranham nossos sentimentos
E se afastam logo em seguida

4.4.14

As cortinas se abrem



E a progressiva intimidade
Faz caírem as máscaras das personagens
E aprofundarem-se os acessos às verdades

Os relatos ficam cada vez mais ricos
E é fácil ver que não existem seres rasos
Histórias e vida lineares

Cada ente visitado é único
Um tragicômico universo de perdas e ganhos
Vivências e vontades trilhando caminhos singulares

Tão distintos apesar das similaridades
Que não há como estabelecer um parâmetro justo
Que possamos chamar de normalidade

3.4.14

Só hoje compreendo



Por que interpretas minhas palavras
A partir da tua mágoa
Procurando motivos para me hostilizar

Por agires assim não posso te culpar
Pois a tristeza que a insegurança te causa
Pode parecer que nunca vai terminar

É justificável tanta rebeldia
Não há quem possa aguentar no dia a dia
Alguém tão lábil e nem ao menos reclamar

Admito como sina minhas idas e vindas
E nos caminhos que ainda precisarei trilhar
De inúmeros espinhos não conseguirei escapar

Talvez o tempo que eu precise seja excessivo
Mas um dia, sangramentos e lágrimas hão de parar
E o unguento do juízo a tudo fará cicatrizar

Mas por agora só não posso aceitar
A ideia de ter sido truculento e insensível
E teus sentimentos não tenha conseguido enxergar

Pois não se pode culpar alguém
Que à luz do pouco conhecido só quis ajudar
Para que o outro ficasse bem e pudesse se cuidar

E por fim, gostaria de outra vez ressaltar
Que se um dia precisares deste teu velho amigo
Não te atenhas a fatos tão pequeninos e voltes a me procurar

2.4.14

Não comeces errado o teu aquário



Não coloques no mesmo espaço
Peixes de hábitos tão diferentes

Enxergarão um ao outro como inimigos
Mesmo que ainda haja comida no ambiente

E o fato é que não terá como saber
Se restará o mais forte ou o mais inteligente

Pois após feridas e mutilações
Poderá até mesmo não haver sobreviventes

1.4.14

O sol



Que visto das janelas do castelo
Se põe por trás das palmeiras do reino

Não é o mesmo que neste exato momento
Nasce no outro hemisfério

Onde se eleva entre montanhas
Cortadas por trilhas e rios

Percorridos por um solitário forasteiro
Que vence as irregularidades do terreno

Arrastando-se em desfiladeiros
Com as botas carregadas de lama