27.9.19

No passar dos dias


Com o cansaço que se acumula
Não é bom tentar resolver
Às escuras
Certas questões
Mesmo as mais ordinárias

O risco de sentir um desconforto
De iniciar-se um tormento
E de ter a vida paralisada
Por ter cometido um erro
Não é desprezível

Mas aí, um momento de calma
"Fiax lux", surge a razão
Percebe-se o equívoco
E uma mudança simples
Algo às vezes até ridículo
Resolve o que parecia impossível

26.9.19

Cidade grande é assim


Muita correria
Informação chegando de todo lado
Queiramos ou não

Passamos por tudo
E tudo passa por nós
Nada fica

Estamos muito tempo em trânsito
De um ponto ao outro
Absortos

Abobados
Insensíveis
Hipnotizados

Quase sempre atrasados
Desviando dos empecilhos
Procurando atalhos

Para cairmos em outros buracos
Ou ganharmos alguns minutos
No máximo

Mas às vezes
No meio desta bagunça
Uma surpresa, um clarão

Uma linda mulher
A passar devagar
Um chamamento à razão

Nos fazendo lembrar
Que ainda somos humanos
Que a vida é uma só

Que o plano terreno
É o nosso plano
E nos faz questionar

Do jeito em que está
Sem ter nem ao menos tempo
Para contemplar a beleza

O que é que estamos fazendo
Com nós mesmos?
Onde é que queremos chegar?

25.9.19

Teu sorriso lindo


Amoroso e imenso
Verdadeiro e profundo

Dispara aqui o teu sorriso
Neste exato momento

Mais do que nunca
É preciso

Ele se infiltrará em tudo
E será capaz de salvar o mundo

23.9.19

O inverno caminha para o seu término


Semanas inteiras sem uma gota 'água
Tudo recente a uma resistência áspera

Mas em seguida
O alvoroço da passarada anuncia:

"Aí vem chuva
Aí vem chuva"...

O vento sopra forte
E confirma a profecia

Na madrugada
Chove

Chove muito
Chove forte

Mas há neste rio
Que desce do céu

Um cuidado
Uma doçura

E uma naturalidade
Muito bem-vindas

Como se uma mão sábia
Controlasse a torneira

Que deixou esta água toda vazar
Sabendo dosar exatamente

O quanto despejar
Para encharcar a terra

E trazer esperança de vida
Para plantas e animais

Nas poucas pausas que o aguaceiro fez
Para descansar

Foi muito bom andar pelos campos
E ver a reação dos bichos e vegetais

Eles são sinceros demais
Não se escondem

Se expõem exultantes
Dispostos a compartilhar sua alegria
Para em cores e ruídos
Comemorar

Um espetáculo imperdível
Digno de se ver e participar

12.9.19

Não fala mais nada


Me aperta
Me abraça

Faça com que eu me sinta
Abrigado

Com que eu me sinta
Amado

Que o momento
Seja único

E mantido eternamente
Como um estado de graça

11.9.19

Eles saem de nós


Nós os protegemos e os ensinamos
Eles crescem e amadurecem

Estabelecem trajetórias próprias
Até que um dia nos deixam

Mas a verdade é que quando eles apareceram
Nós e que renascemos

Quando pensamos que os ensinamos
Muito mais é que com eles aprendemos

Éramos de um jeito
E nos tornamos melhores

E quando sofremos por eles terem nos deixado
Nem desconfiamos que eles jamais sairão da gente

Tranquilizem-se angustiados
Eles sabem onde buscar abrigo ao se sentirem desamparados

Voltarão sempre
Nem que seja só para ficar um tempinho juntos

Em silêncio
E receber por fim um gostoso abraço

Nunca deixaremos de ser seus pais
Serão para sempre nossos filhos amados

6.9.19

Há caminhos


Fáceis
E difíceis
Tanto certos
Como errados

O importante mesmo
É trilhar o bom caminho
E o caminho do meio
Costuma ser o mais apropriado

5.9.19

Nuvens escuras


Sempre vêm
E para clareá-las
É preciso chover

As nuvens do ser
Também devem clarear
Mas para isso é preciso chorar

4.9.19

Você se deu por inteira


Mas agora que tudo acabou
Se vê desorientada
Se diz destruída
Precisando juntar os caquinhos
E retomar sua vida

Eu de minha parte
Confesso
Por insegurança
Me preservei no que pude
Não submergi no processo

Por isso é que não me desestruturei
E mesmo sentindo dor
Sem receber clemência
Consegui seguir em frente
Superando aos poucos a sua ausência

2.9.19

Não consigo me livrar


Daquele nosso último beijo
Molha-me os lábios
A simples lembrança
Da tua boca vermelha

Minha boca continua sedenta
Quer o fruto proibido
Que um dia lhe roubaram
E hoje está perdido

Beijo escravizante
Boca que não aceita tê-lo só na memória
E fará o que for preciso
Para atender ao seu vicio