19.10.16
Nunca mais tinham se visto
Mas ela não o esqueceu
Manteve um retrato seu sobre o aparador
Para sempre poder lembrar
De um tempo em que se bastavam
E que não havia mais nada no mundo
Que os pudesse preocupar.
Ela nunca entendeu o exato motivo que o fez emigrar
E sofreu, ano após ano, até a última lágrima secar.
Eis que, um dia, sem ao menos avisar
Com ar cansado e maltrapilho ele bate à porta.
Ela (atônita) finge não o reconhecer
E antes que alguma alegria pudesse demonstrar
Tenta saudá-lo como quem interrompe um afazer
Mas sem conseguir conter o entusiasmo
Logo acaba por atirar-se e abraçá-lo
Convidando-o para entrar.
Ele declina
Diz que estava por perto
De passagem
Que se lembrou dela
Que teve saudades
E quis vê-la
Para outra vez
Tentar se desculpar.
Pediu água
Bebeu devagar
Agradeceu respeitosamente
E parou de falar
Sem disfarçar a distância no olhar
Despediu-se
Deu-lhe as costas
E retomou seu caminhar
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