20.10.16
Pandora
Da primeira vez foi mais fácil aplicar a sentença
Aquele amor infante, ainda que esbelto e galante
Já apresentando defeitos de constituição
Foi condenado e aprisionado
Cabendo certinho numa caixa de sapato
Amarrada com corda de nylon
Ficando por décadas no fundo do armário
Mantido em hibernação
Até que um dia
Tua curiosidade o fez renascer
A liberdade lhe renovou o querer
Deu-lhe força e determinação
E agora adulto recusa a prisão
Alegando que no espaço em que estava
Já não lhe cabe nem mais uma mão
E que precisa estar livre para poder retomar
O que um dia lhe foi tirado
Numa ardilosa conspiração
Mas quem determinou sua reclusão
Não quer ceder a insanos anseios
Nem acreditar em argumentos ingênuos
Pois mesmo tendo se passado tanto tempo
Não foi declarado prescrito o motivo da ação
Esse amor não tem chance de conquistar terreno
Não se pode fazer voltar o tempo
Estão diferentes os protagonistas do enredo
Mas nunca foi perdoada a traição
E mesmo que fique liberto, belicoso e sedento
Já está condenado a vagar para sempre
A esmo e em total solidão
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