4.4.16

Penso que agora será possível esquecer você


E isto deve acontecer
Não pela sua inabalável recusa em me entregar o seu amor
Mas sim porque usei as últimas gotas do perfume
Com o qual, em um de meus aniversários, você me presenteou
Foi o único exemplar dos tantos que tenho sobre a cômoda
Que antes de vencer, se esgotou
Todos os demais perderam os aromas, o frescor
Estão saturados de ranço e álcool

E frasco, lá em casa, sem conteúdo de nada serve
Vai sendo empurrado de um lado para o outro
Por um tempo vira cinzeiro, peso para papel, porta-velas, vaso
Fica enconstado em algum canto, para não ocupar espaço
Até que um dia, com sua inutilidade finalmente reconhecida
Acaba na lata do lixo fazendo companhia às tantas garrafas de vinho vazias
Até ser levado pelo carroceiro a um centro de triagem
E por fim uma usina de reciclagem
Onde a fusão de seu corpo aos muitos outros corpos de mesma sina
Promoverá o nascimento de um ser renovado
Uma nova identidade para uma nova vida

Nenhum comentário: