27.12.17
Hoje confesso
Mas preciso admitir
Primeiro a mim
O mais difícil não foi negar-te
Ou despedir-me de ti
O mais difícil pra mim
Foi deixar-te ir
22.12.17
Tenho que confessar
Não sou esse que achas que sou
Nem esse que consegues ver
E se só esse que achas que sou
É o que te convém
Então esse teu amor
Não é para mim também
Ele é para um outro ser
Esse que vês
O ser que achas que sou
E não para o que de fato sou
Não sei o que se passou
Se não te empenhaste pra valer
Só sei que o ser que sou
Não conseguiste ver
Por não ter conseguido se mostrar
Ou desististe de aprofundar o olhar
Sentindo-se ameaçada
Pelo que poderias encontrar
21.12.17
20.12.17
Me magoei tanto contigo
E nunca percebeste
Por isso não me espantei em nada
Quando me disseste
Que a decepção te martirizava
Revelavas estar magoada comigo
Uma hora teria que acontecer
Estava previsto
Daquele amor maravilhoso mas ficcional
O que restou foi isso
Agora a tristeza é que dá o tom ao recital
Todo sentimento exagerado é falível
Bem-vinda à vida real
Nem todos os buracos do universo são paraísos
19.12.17
Temos que ter em mente
Que nada é para sempre
Que as coisas boas passam
E que as ruins passam também
Que quanto a isso
Nada podemos fazer
E que no final de tudo
Estaremos sozinhos
Tendo que enfrentar
A nós mesmos
Com o sentimento
Que estejamos vestindo
Frente a frente
Como num espelho
Felizes
Ou infelizes
Realizados
Ou frustados
Ou com qualquer outra coisa
Que nos tenha ocupado
Mesmo que para isso
Não estejamos preparados
18.12.17
Quanto te ouvi dizer:
-Esta foi a última vez!
Comecei a chorar
Desabei.
Eu simplesmente
Não soube o que fazer.
Me lembo apenas
De te ver me dar as costas
Partir sem olhar para trás
E mais nada dizer.
Precisei reunir forças
Para me levantar
E mesmo machucado
Conseguir sair do lugar.
O tempo passou
E a vida se encarregou
De nos cicatrizar as feridas
Nos acalmar o coração
E desenhar nossas histórias
Totalmente isoladas
Sem qualquer relação
Mas essa cena nunca me deixou.
E agora voltas
Com teu corpo magro
Casaco surrado
Ombros arcados
Olhos injetados
Pele marcada
Precisando de proteção
Pedindo amparo.
Entra, vou cuidar de ti
Não sou um monstro insensível
Descansa, recupera tuas forças
Ficarás segura aqui
O lugar que deixaste
Dentro de min
Ainda está aqui
Mas te advirto
Isso não significa
Que voltarás a ocupá-lo
Deixo isto claro
Desde o início.
Foi assim que decidi quando partiste
E me ajudou a persistir
Pois sabia que um dia
Novamente nos veríamos.
15.12.17
Em seu devido tempo
Tudo virará pó
No ar tudo se soltará
Aí o vento virá
E tudo espalhará
Pra bem longe
Tudo o vento levará
E de ti e pra ti
Nada ficará
E de mim e pra mim
Nada restará
Tudo se perderá
Tudo se apagará
Em seu devido tempo
Tudo se esquecerá
14.12.17
Aproveita e desfruta
Daquilo que a vida te deu
Como um presente.
O olho no olho
O cuidado sincero
O abraço apertado
O toque delicado
O calor do corpo
O cheiro do desejo
O gosto ardente do beijo.
Muitos beijos
O gozo, o gozo, o gozo supremo
Que só acontece dessa forma
Quando se está com alguém
Que nos tem um amor verdadeiro.
O momento é efêmero
Não há como fazer durar mais
E do amanhã nada sabemos.
Não podemos fazer voltar o tempo
É preciso doar-se por inteiro
Para que depois não nos deixemos corroer
Pelo arrependimento
13.12.17
Vem pra dentro
Senta e vem descansar.
Enxuga essas lágrima
De apego sem sentikdo
Não adianta mais chorar.
Já perdeste aquele amor
Ele não tem como voltar.
Agora só te resta abrir o coração
Mostrar ao mundo que ele está vazio
E pronto pra um outro alguém entrar.
Mas deixe claro desde o início
Que se esse novo sentimento for verdadeiro
Mesmo que não seja infinito
Será muito bem-vindo
Tratado a contento
E poderá ficar o tempo que precisar.
12.12.17
Há noites que insistem em durar
Noites que penetram fundo
E se recusam a acabar.
Noites que não tem coragem
De nos fazer tempestar
E desfazer de vez
O enovelado sem pontas
De sentimentos confusos
Que insistem em nos torturar.
Noites de chuva fina e contínua
Que pra quem sente
Não tem nada de sereno
E martiriza o insone
Ferindo por dentro
Num lento e doloroso garoar.
11.12.17
A chuva devassa a terra
Faz despertar
Aquilo que a terra escondeu
Seus olhos
Ao encontrarem os meus
Revelarão segredos
Que nunca mais serão só seus
8.12.17
Me esvaziei por completo
Me doei
Até que mais nada
Sobrasse de mim
E agora estou aqui
Me acercando de ti
Recolhendo restos
Pra tentar me reconstruir
Com as coisas que não te servem mais
As partes que conseguiram escapar
E as raspas que deixaste cair
7.12.17
Amanhece
E voltando do sono
Na contraluz
Percorro o teu contorno
Com as gardênias
Que até há pouco
Em teus cabelos
Serviam de adorno
Minha linha do horizonte
Paisagem que não conhecerá o abandono
Vales, planícies, colinas íngremes
Terreno sinuoso
Cenário de encantos
A concretização dos meus sonhos
6.12.17
Se encontras alguém
A quem consegues abraçar
Fora da tela
Com o joystick de lado
Sem bônus ou vida extra
Longe do bem e do mal
E se esse ser a quem abraças
Te aquece o corpo
E desperta em ti
Algo que não entendes
E não te parece racional
Não tenhas medo
Meu amigo
Venceste o espaço fictício
E acabas de voltar
Para o bom e velho mundo real
5.12.17
Quando não há mais
Como remendar os buracos
É preciso dispensar o paletó surrado
E vestir um novo casaco
Aquecer melhor o corpo que enfraqueceu
Reconquistar a paz e voltar a viver
Como a si mesmo lá no passado prometeu
4.12.17
Ce n'est pas juste la vérité
Cela fait bouger le monde
Mais aussi le mensonge
Tant le réel comme la fantaisie
Soutiennent la vie
1.12.17
Sei que estás exausta e desiludida
Vem outra vez, eu te convido
Deita comigo e dorme tranquila
Prometo não te incomodar
Mesmo que isso me custe a vida
E eu velarei o teu sono
Lembra, sou a única pessoa em quem confias
Farei só o que tenho feito
Serei apenas porto seguro e boa companhia
Insone, sonharei o teu sonho
Tentando te ajudar enquanto restauras as energias
Pois sei que assim que acordares
Te sentirás novamente ultrajada e perdida
E sairás correndo em desespero
Sem ao menos tempo prum agradecimento ou despedida
Voltarás para o mesmo labirinto
De infinitas curvas e esquinas
Onde é fácil entrar
Mas que para sair só com a ajuda de uma mão amiga
30.11.17
Antes ainda
Que o dia chegue por inteiro
Procuro por todo o quarto
Meias e sapatos
Cigarros e isqueiro
Enquanto tu, alheia ao movimento
Contornas com o indicador direito
Os desenhos borrados com lágrimas
Na fronha molhada do travesseiro
29.11.17
Tengo ojos pesado
Sosteniendo párpados
Con muchos kilos
Esperei tanto por ti
Que me cansé
Necessité apoyarlos
En la línea del infinito
28.11.17
Deve existir um lugar
Onde estão arquivados
Em ordem cronológica
De importância histórica
Da intensidade das marcas na memória
Ou pelas quantidade de dados
A depender do responsável
Tudo que se refere àqueles amores
Que um dia existiram
Mas não se completaram
Pilhas de papéis com anotações
Cadernos, pastas, revistas, livros
Fotos, filmes, documentos, discos
Material desorganizado
Difícil de ser catalogado
Acervo disponível apenas para pesquisas
Para ser lembrado
E que provavelmente nunca mais estará exposto
Ou poderá ser retirado
27.11.17
O importante é que venhas
Seja por amor
Por compaixão
Ou só para aliviares o teu calor de fêmea lasciva
O importante é que venhas
Para saldares comigo uma dívida antiga
Prefiras que eu segure a tua mão e façamos silêncio
Ou ouça tuas histórias ao deitarmos de conchinha
O importante é que venhas
Para desfazeres na superfície da água
Uma mágoa antiga que sempre te pareceu monolítica
Ou permitires que eu enxugue as tuas lágrimas e trate das tuas feridas
O importante é que venhas
Pois em mim sempre haverá saudades e serás bem-vinda
Para eu ter com quem partilhar alguma bebida
Ou apenas para me ajudares com a minha poesia
O importante é que venhas
24.11.17
Você sabe como é...
Na vida, é preciso ter cuidado
Pensar bem para fazer a coisa certa
Casamento é coisa muito séria
E se alguém estiver pensando nisso
Neste exato momento
Que pense, pense, mas pense direito
Nem que sejam 36 anos de pensamento
Obrigado, Neidoca querida
Por pensar comigo por tanto tempo
Tempo de uma vida
Salve 24 de novembro!
Salve o dia do amor-perfeito!
23.11.17
22.11.17
Gosto de elogiar aqueles que gosto
Salientar-lhes as qualidades
E se às vezes a ti não posso
Por motivos que fogem à minha vontade
Me guardo então para fazê-lo ao pé da tua orelha
Juntando no sussurro mais algumas delicadezas
Apimentando assim nossos momentos de intimidade
21.11.17
Não te culpes tanto
Por teres que ir
A chuva parou
O dia já raiou
E precisamos aceitar
Que será melhora assim
Sempre valerá a pena esperar
Mantendo acesa a esperança
De que a vida nos dará uma outra chance como presente
Para que o amor tente nos abrigar novamente
E não precisemos viver só de lembranças
17.11.17
16.11.17
Ainda que me sufoque
Num dado e preciso instante
O único ar que me interessa
É o que brota de tua boca
Nascido deste teu peito arfante
14.11.17
Eu lido com a doença
Com a tristeza
Com a dor
E com o medo
Todo o tempo
Por isso hoje não me cobre aqui
Algo muito diferente
Daquilo que ainda agora vivi
E me mantém atento
As coisas que enfrento
Procuro entender e se possível resolver
Mas se são se curvam aos meus argumentos
E não as venço
Ofereço para aquele a quem atendo
Ao menos um abraço sincero
O conforto do meu ombro
E alguns minutos de compartilhado silêncio
Tentando lhe trazer
Apesar de todo o sofrimento
Um pouco de compreensão e paz
Ou pelo menos algum alento
13.11.17
10.11.17
A voz
Que pela manhã
Me chega
Nas horas de luz
De plena consciência
É sensata
Comportada
Serena
Me alerta
Aquieta
Me faz olhar pra frente
Disciplina meus passos
E me orienta
Difere essencialmente
Dos pensamentos
Alucinados e turbulentos
Que me invadem à noite
Madrugada a dentro
Nas horas de ausência de freios
De predomínio dos instintos
Total entorpecimento
Em que estou teso
Escalando paredes
Em que o sangue me brota dos olhos
E me ferve nas veias
9.11.17
8.11.17
Quando algo te diz
Que o amor está no fim
E que dele será preciso desistir
O único lugar
Para onde não se deve fugir
É para dentro daquele
Que precisa partir
Aconteceu comigo
Me refugiei em ti
E mesmo não querendo
Em teu labirinto me perdi
E agora, espalho lágrimas
Com marcas de giz
Desenhando caminhos
Nesse meu interminável ir e vir
Na esperança de um dia
Orientar o meu destino e conseguir sair
7.11.17
Atitmética do sentimento
Não sinto falta do que você me traz
Do sofrimento
Sinto a falta que você me faz
Do amor pleno
Por isso padeço
Menos com mais é igual a menos
6.11.17
1.11.17
Sei que exagerei
Que bebi
Te bati
E até te traí
Sumi por meses
Da vida pensei até em desistir
Mas eis-me aqui
O amor que sinto por ti
Ainda está em mim
Vem conferir
Pensa nos bacuris
Que fiz em ti
Eles não podem ficar assim
Ninguém merece viver sozinho
Se tem dono o coração
Que traz dentro de si
Perdoa
E me dá o teu carinho
Acredita em mim
31.10.17
Quando amores mais difíceis terminam
E apesar disso se possa prosseguir com a vida
Será preciso:
Queimar fantasias
Implodir montanhas de fatos
Arrancar as plantas pela raíz
Apagar o banco de dados
Queimar fotografias
Por a mesa sem o outro prato
Fechar a torneira das lágrimas
Eliminar as marcas do passado
Abdicar do apego
Esvaziar o armário
Buscar novos amigos
Mudar o itinerário
Raspar a saudade incrustada
Que não derrama mesmo tombando o jarro
Declarar-se livre
Desvitalizar o sofrimento que ainda pareça intacto
30.10.17
Uma concha na estante
Pode até ficar esquecida
Por muitos anos
Mas jamais estará morta
Sobrevive impregnada de saudades
E por dentro chora
Canta todo tempo
As tristes melodias do mar
Sem nunca se cansar
De descrever a paisagem
E contar sua história
Não acredita?
Então encoste-a na orelha
Feche os olhos para ver as imagens
Deixe-se levar pelas cantigas
E tente acompanhar as narrativas
27.10.17
Quando o amor termina
Deveríamos ser como um barco
Com velas içadas
Peito aberto
Dando boas vindas ao vento
E aceitando o movimento
Ir aos poucos
Ganhando distância do porto
Até que só nos seja possível avistar
Céu
Mar
E o sol
Buscando a linha do horizonte
Para repousar
E no seu devido tempo
Permitir que a noite
Nos encha de estrelas
E dê sentido
A essa nova jornada
Que se apresenta
26.10.17
É na noite que tudo principia
O frio do corredor
O direito à fantasia
A busca do prazer
O leito que convida
A conquista do gozo
O diamante que brilha
A entrega incondicional
A carícia abusiva
A impossibilidade do choro
A explosão da ira
O açoite da dor
A tristeza ardendo na espinha
A lâmina afiada no aparador
O sangue escorrendo na pia
O medo da solidão
O certeza da má companhia
O controle de qualquer ação
A presença invasiva
O calar sem razão
A palavra que se pronuncia
A súplica por uma migalha de atenção
O desprezo que humilha
O excesso de medicação
A insônia convulsiva
O vinho derrubado no chão
A ausência da crítica
O fim do amor
O fim da vida
A renovação do amor
A coragem pra mais um dia
25.10.17
Poesia com poucos versos
Pode não ser sintética ou sugestiva
Mas servir sim para encobrir
Um imenso vazio
E é duro ter que olhar pra esse vazio
Sem poder agir
Dá vontade de botar a mão
Mexer
Enfiar assunto
Elucidar elementos
Finalizar o produto
Poesia com muitos versos
Também pode não ajudar muito
E injetar ainda mais versos
Geralmente confunde tudo
Se não forem boas a proposta
O conjunto e o conteúdo
Pode até fazer aumentar o vazio
Que já era grande
Deixando-o imenso
De um tamanho absurdo
24.10.17
Nosso amor
De solução
Virou problema
Tanta coisa ficou
Tantos temas
E isso me obrigou
A eternizar tudo na forma de poemas
Tantas saudades
Tanto sofrimento
Lembranças de nós dois
Detalhes de cada momento
Passa o tempo
Passa ainda mais tempo
Amor que se registra
Não cai no esquecimento
23.10.17
Essa tristeza
Que habita meus campos de dentro
Há tanto tempo
Fugiu ao controle
Não aceita mais viver em cativeiro
Brota dos olhos, dos poros
Escorre pelos vincos do rosto
Borra a pintura outrora menos ridícula
E na boca inverte o sentido da rima
Tristeza que quando escapa assim dessa forma
Desafoga o lugar onde era guardada
Abre espaço para que um novo amor se apresente
E uma outra história possa ser iniciada
20.10.17
A dúvida persistiu
E castigou-os até o último momento
Deveriam o não ir?
Encontrarem-se depois de tanto tempo
Como reagiriam?
Quais seriam os desdobramentos?
Mergulhariam novamente
No mar dos sofrimentos?
Mas de nada adiantaram
Tantos questionamentos
Os pés não desaceleraram
Até que finalmente
Frente a fente
Tentando segurar palavras
Mãos
Braços
Lágrimas
O toque aconteceu
E foi inevitável
Percebendo a perda do controle
Bocas secas
Suores
Tremores
Logo foram cedendo
Colocando de lado
Um a um os obstáculos
Pensamentos
A lógica dos argumentos
Queriam apenas estar ali
Juntos
E o que foi ficando
Era só sentimento
Acabaram entregues
Corpo e alma
Correndo todos os riscos
Sem saber se no dia seguinte
Continuariam inteiros
19.10.17
O amor
Quando é verdadeiro
Mesmo condenado
Padecendo de um mal incurável
Sabe que vai morrer
Mas resiste muito tempo
O pobre coitado
Agoniza em grande desespero
Sangra os dedos
Na margem do precipício
Até que esgotem-lhe as forças
E a lei da gravidade
Possa por um fim ao seu sofrimento
18.10.17
O tempo
É cruel com quem ama
E não é correspondido
Desorienta o inocente
Deixando-o perdido
Ele para de propósito
Empaca, obstrui o caminho
Mantém o pescoço do amante
Atado com corrente a um imenso monolito
E assim impõe-se autoritariamente
A noção do para sempre, do infinito
Não importando o tamanho da dor
Ou a altura do grito
17.10.17
Não te lembras de mim?
Se andei por aqui?
Pedes pra eu me identificar
Me recuso a fazê-lo
Aja como um perito
Procura em ti
As minhas digitais
16.10.17
Se tiver que atribuir a alguém
Poder para decidir
Que seja para um ser curioso
Ele terá maior chance
De decidir bem
Pois terá conhecido
E poderá levar em conta também
O ponto de vista do outro
11.10.17
L'amour n'est pas une invention
C'est une création
A besoin de temps
Attention
Mérite le respect
Considération
Il n'a pas de prix
Pas de cotation
Mais cela donne du pouvoir
C'est le plus précieux
Que quelqu'un peut avoir
10.10.17
Viento
Qué vaga lenta
Deambula suelta
Lleva lejos
Mi pensamiento
Viento
Que levanta tu vestido
Enciende mi instinto
Me da la visión del paraíso
Y trae junto el sentimiento
Viento
Que esparece semillas
Puesta a la lluvia para mojar
Y hace brotar amor
En mi corazón sediento
9.10.17
Minha poesia
Nasce do amor
Do desejo da presença
Nasce da necessidade
Na ausência
Não se desenvolve
Se é sanada a carência
Não amadurece
Sem essa dor que não é doença
6.10.17
Ninguém deveria recusar o amor
E perder a oportunidade
De tomar essa chuva
Que cai sem controle
E não depende da vontade
Que existe apenas naquele instante
E só ali é que ela vale
5.10.17
L'amore trasforma
Per il bene
O per il male
Quando è vero
Non è possibile
Lasciare eguale
A quello che era
Quando arriva
A il finale
4.10.17
O tempo me atropela
Me arranca do porto
No momento em que estou mais frágil
Menos disposto
Desamarrado
Sem um mínimo lastro
Vidraça estilhaçada
Atingida pelas pedras
Dos que vêm em disparada
E sem pedir licença
De forma truculenta
Usam punhos e cotovelos
Para ganharem espaço
Mesmo sem conferir
Se há ou não um abismo
Após o próximo passo
Não suportam esperar
Precisam logo chegar
Mas como nunca sabem ao certo
Aonde querem ir
Estão sempre prontos pra de novo partir
3.10.17
Mi caminar es lento
La edad me trajo anchura en la mirada
Y coraje para matar la prisa com el sentimiento
Aprecio el paisaje
Tiro de ella mi alimento
Intento entender el ciclo de las aguas
Y la función de los vientos
Reconocer la importancia del dia y de la noche
Ser y estar plenamente en cada momento
2.10.17
Everything she does
It's unique and perfect
Even the suffering that causes
It's incomparable in effect
29.9.17
El amor nos reservó una mesa
Llegué jadeante y sudado
Pero con holgura en el horario
Ansioso por encontarte
He utilizado mi mejor traje
Ha traído flores de dejaron el el ambiente
Un rastro perfumado
Hasta que finalmente pidieron que me sentase
.
.
La música silenció en su tiempo
Las sillas se quedaron de piernas hacia arriba
Y no había más porque esperar
Salí desorientado y girando en los cognacs que tomé
No recuerdo bien, las flores, donde las dejé
Las lágrimas, la rabia conseguió secar
Pero mi estómago aún no ha dejado de roncar
28.9.17
27.9.17
26.9.17
Quem ama
Tem vontade de matar
Quando é traído
É corda, laço apertado
Alavanca que emperra no patíbulo
Ufa, Deus seja louvado!
Nenhum pescoço rompido
25.9.17
Quem ama
Tem vontade de matar
Quando é traído
É faca, furo
Dor, sangue escorrido
Ufa, Deus seja louvado!
Nenhum órgão vital atingido
22.9.17
21.9.17
Je n'ai jamais nié ma maladie
Toujours admis ma dépendance
Mais être sans vous est un sacrifice
Cause abstinence
La douleur est intense
Et malgué la souffrance
Je suis ferme dans cette
Cela peut prendre du temps
Mais une heure je gagne
20.9.17
Dejo esa historia
Muy sentido
Las heridas
Que en la superficie parecen cicatrizadas
Por dentro todavía sangran
Y necessitarán mucho tiempo
Para estar curadas
19.9.17
Uma verdade
Que ninguém parece desconhecer
É aquela que diz
Que quem ama
Que quem ama
É capaz de se humilhar
Nem perceber
Ou não se importar
Nem perceber
Ou não se importar
18.9.17
Quelle magie est-ce
Qui fait un rêve
Envahir noux deux
Dans le même temps
Faire ton rêve
Aussi sois mon rêve?
15.9.17
Michelangelo
Pouco antes de morrer em 1564
Finalizou um pequeno trabalho
Pouco menor que a Gioconda de Leonardo
Que ficou desaparecido por 3 séculos
Até ser redescoberto por acaso
Na parede de um pequeno café no Quartier Latin
Quase invisível por causa de um armário
Trazia uma etiqueta dourada onde se lia: "La Campana"
Mas o que mais impressionava nesta obra
É que a figura no centro da tela era tão real e hipnótica
E prendia a atenção do observador de tal forma
Que ele chegava a ver o sino em movimento
E era até mesmo possível ouvirem-se dele emergindo
O som das badaladas do pêndulo
Outro detalhe curioso
É que o quadro tinha sido pendurado torto
E era irresistível o desejo de ir até ele para nivelá-lo
Mas quando se liam as advertências no canto inferior da tela
Ficava clara a intenção do artista
Na transcrição de uma nota explicativa
Anotada no verso da composição:
"Não toque/Não desentorte
É exatamente por causa desse capricho na posição
Que se consegue fazer com que um reles mortal
Possa visualizar a imagem da perfeição"
E de fato há relados de que quando se endireitava a imagem
A epifania se perdia e nada mais se via
Além de uma vulgar combinação unidimensional de tintas
As últimas notícias ouvidas sobre a preciosidade
Davam a saber que ela tinha sido confiscada
Pelo próprio Hitler em 1942
Com a alegação de ser arte degenerada
De nítido apelo fálico-erótico
Um objeto cilíndrico e comprido
Se agitando dentro de um buraco sonoro
Mas a justificativa que parecia mais verídica
É a de que o dono do café tinha ascendência judaica
Era sodomita e teórico anarquista
Por fim também falavam que o Führer morreu com ela abraçada
Em seu bunker por ocasião do suicídio em 1945
E que depois disso nunca mais foi vista
Que não está em catálogos e por isso tende a ser esquecida
14.9.17
Estar aberto
Faz mudar o pensamento
Permite que um novo entendimento
Aceite diferentes comportamentos
Impensáveis até um dado momento
Deixa aquele que muda mais sereno
E melhor adaptado ao seu tempo
13.9.17
Meia-noite
Espero juntarem-se os ponteiros
E com as duas mãos
Tento paralisar o tempo
Eternizar o momento
Não deixar escapar
Nenhuma fagulha desse sentimento
12.9.17
Não havia como
Acompanhar o teu discurso
A tua doce melodia
Sem olhar-te as mãos
Verdadeira extensão da tua língua
Eram batutas
Que se moviam marcando o ritmo
Algumas vezes caótico
Outras bastante repetitivo
Se reparares bem
Era todo o corpo que em ti se expressava
Sequencias de notas, pausas
Uma anatomia ao mesmo tempo generosa e recatada
Um delicado arranjo de palavras
Inebriantes compassos
Rimas virtuosas
Poesia sensual e bem elaborada
Mas o tempo caminha num único sentido
E eu demorei para reconhecer
A beleza deste arranjo que agora está perdido
Hoje não há mais nada que possamos fazer
Não escrevemos versos em parceria
Estão perdidas todas as nossas harmonias
Não executaremos juntos nem ao menos uma ária
Das composições mais conhecidas
11.9.17
I never know
If you come in fact
That's why I can not get out
I stand here
Waiting for a sign
Get me off the groud
And take me back to
Where I most want to be
Up there
6.9.17
5.9.17
C'etait seulement
Un bon rêve
Dont
Nous avions
Que
Se réveiller
Et accepter
Que
C'etait seulement
Un bon rêve
4.9.17
Aquel poema codificado
Pretensamente enigmático
Hasta mismo impenetrabel
Es una inutilidad cifrada
Una tonteria
Que sólo interesa a quien lo escribe
Un disfraz que viste el vacío
Con algo que no significa nada
1.9.17
The technology
Nos hace confundir
Il vero con la fantasia
Est source de grand enchantement
Able to make us believe
Que el mundo puede ser enorme
O molto picccolo
Dans le même temps
31.8.17
Cell phone
Who could wait
That a device
Developed
For those who are far away
To approach
Today serve more
For those close up
Move away?
30.8.17
Espero
Que el mismo fuego de la pasión
Que un día ablandó tu corazón
Ha generado suficiente calor
Para remodelar a tu mente
Y hacer evaporar de ella
Las ideas
Que te alejaron de mi
Y que has llegado a aceptar
Como inmutables y perenes
29.8.17
Gozo e sofrimento
Quem diria
Cada qual foi rei
Em seu momento
Mesmo que só por um dia
Vão-se os amores
Fica a poesia
28.8.17
25.8.17
No intentes alejarme
Conectar la televisión
Abrir el periódico
Darme la espalda
Cerrar los ojos
Fingiendo dormir
Quando nos acostamos
No tienes como huir
Quiera o no
Si me aceptaste en nuestra cama
Es porque estoy dentro de ti
Así como estás dentro de mí
24.8.17
Por trás desta tua alegria extrema
Mora uma tristeza
Mantida prisioneira
Num quarto com janelas altas
Porta reforçada
Trancada tal alcova de princesa
Isolá-la do mundo
Não a fez desaparecer
Acendeu-lhe a revolta e deixou-a mais atenta
Na primeira oportunidade que teve
Escapou usando de toda a sua destreza
E agora livre e fora de controle
Não deixará de usar os poderes acumulados
E pelos anos de exílio forçado
Executará seus planos de vingança
Carrega a certeza que de seu carcereiro não terá pena
23.8.17
Afirmavas com propriedade
- Minha matéria é lenhosa e nobre!
E assim justificavas a tua inflexibilidade
Pode ser até que naqueles tempos isso fosse uma verdade
Orgulhosa, constituías uma corte, cercada de outras árvores
Não tinhas mesmo motivo para te curvares
Mas veio o desmatamento avassalador
Que a deixou isolada no fundo do vale
E seguiram-se ventos de várias intensidades
Até que um mais forte fez tombar sua magestade
Teu desaparecimento foi rápido
Começou assim que ao chão chegaste
Serviste de alimento para decompositores vorazes
E para a relva, planta sem nenhuma notoriedade
Mas munida de raízes insaciáveis
22.8.17
Mais um inverno que nunca termina
A lareira é uma boca escura e oca
Minhas mãos inúteis e perdidas
Não mais te acham para receber minhas carícias
O aroma frutado e ressequido da borra de vinho
Ainda ressente no fundo da única taça agora vazia
Não há cobertas que me bastem
O frio me invade pela espinha
Anestesia os sentimentos
Embaça as memórias
E a tudo paralisa
21.8.17
Pessoas peixe
São prisioneira do meio
E mesmo que tangenciem a superfície
Visualizem o outro lado
Identifiquem que lá há uma outra realidade
Precisam permanecer submersos
Na segurança de seu mundo aquático
Porque sabem que fora dele
A morte é certa
E o destino de seus restos
Pode ser dramático
18.8.17
La legge che ci rende umani
Non permette di scegliere
Amare
Ci vuole
Per preservare la specie
Per preservare la specie
Ci vuole
Amare
17.8.17
Sentia tua estranha presença
Dentro de mim todo o tempo.
E incomodado com isso
Tratei de te procurar
Em alguns de meus endereços.
Percorri memórias
Pensamentos
Regiões do prazer
Os cantos mais sombrios e estreitos.
E sem conseguir te encontrar
Quanto já estava quase para desistir
Eis que te reconheço escondida
Vestida e disfarçada com alguns de meus melhores sentimentos.
Precisei ser firme neste momento
Para conseguir te olhar de frente
Constatar que não tinha mais saudades
E que não havia mais qualquer envolvimento.
E assim como o fim de um encantamento
Desfizeram-se de vez as fantasias
E foi possível encerrar
Este difícil capítulo de minha vida
16.8.17
15.8.17
Memória é fato
Saudade é sentimento
Presença na ausência
Encontrar dentro
O que pode estar fora
Faz tempo
Filme de época
Catalogado e arquivado
Mas exibido no presente
Estaremos sempre no enredo
Fiquemos tristes ou contentes
14.8.17
Sugiro
Desprezar limites
Eliminar resistências
E mergulhar de vez nesta história
Para valer a pena
E ter do que se lembrar
Agora é definitivo
Nosso tempo é ínfimo
Esse amor já tem hora pra acabar
11.8.17
Reservemos o coração
Todo o carinho e dedicação
Quando regalados com nossas presenças
E não nos cobremos mais amor
Nem soframos por qualquer dor
Só por não conseguirmos evitar nossas ausências
10.8.17
Quando
O mais simples seria
Dizer não e partir
Complico tudo ficando
E dizendo sim
Acho que tenho um mórbido prazer
Em confundir
9.8.17
Hace mucho tiempo
Dejé de preocuparme
Con las religiones
Vida después de la muerte
Cielo o infierno
Existencia de dios o del demo
Para mí son sólo conceptos
Que no me afectan
Creo que sólo tienen sentido
Para quien busca fuera de sí
Un motivo para seguir viviendo
Y justificar su efímera presencia
En este mundo injusto e imperfecto
Imaginando que serán recompensados
En una situación futura
Ya que aquí amargaron sufrimientos
8.8.17
Quel genre d'amitié est-ce?
Ami qui est un ami
Antecipe
Participe
Est préoccupé
Voulez savoir
Entends
Il est disponible
Accueille
Amitié pour suvivre
Il doit être cultivé
Mais ne devient un concept
Une idée vide
7.8.17
Afortunadamente dimos por finalizada
Una historia que ayer
Se interrumpió debido a una separación de caminos
Y pensamos no terminada
La llevamos por un largo período de nuestras vidas
Creyendo que las carreteras un día acabarían cruzadas
Y si eso era lo que faltaba
Su comprensión definitiva
Ahora no falta nada más
Se completó el ciclo
Es el final de una jornada
Una historia que no tiene más sentido
Fuimos ingenuos, incluso ridículos
No somos más los mismos
Por eso, independientemente de nuestros antiguos sentimientos
Desde aquel tiempo ya debería haber sido considerada acabada
3.8.17
Seulement maintenant je comprends
Comment vous me connaissez mal
Et je ne vous blâme pas pour cela
Parce que je n'étais pas transparent
Ne me suis pas exposé
Suffisamment
Mais je vous demande
Est-ce vraiment vous aviez
Intérêt sincère?
2.8.17
L'amour
Il n'y a pas seulement parce que
Quelqu'un a écrit
Paroles sont paroles
Que seul ne veulent rien dire
Pour exister, ils doivent être soutenus
Ce qui leur donne un sens
Le vrai sentiment
Mesmo uma pedra
Áspera e angulosa
Pode ter sua rispidez atenuada
Seja pelo tempo
Ou se uma camada de musgo
Macia e visgosa puder acobertá-la
Mas ainda que amansada
De sua natureza primária
Não deixará de ser pedra
Densa e pesada
Capaz de virar arma
Ferir ou até matar
Bastando que seja arremessada
E com precisão atinja
A vítima a ser derrubada
31.7.17
No intentes impedirme
Me siento si
Pero no porque quiero
Necesito ir
Quédate tranquila
Yo estaré a tu lado
Hasta que consigas dormir
28.7.17
Tem gente
Que alega ter
Tanto amor no seu interior
Considerando que pode até explodir
A qualquer momento
Se não achar logo alguém
Que possa recebê-lo.
Mas como se desfazer
De pelo menos um pouco deste sentimento
Se esse ser
Que sempre só soube ver
A própria imagem no espelho
Nunca deu nada a ninguém
E em nenhum momento
Aprendeu a ceder.
O aprendizado é sempre lento
E talvez não haja mais tempo.
27.7.17
Quem não fizer por valer
Sua existência
Enquanto ainda circula
Por este planeta
Desperdiçando a vida
O breve período que lhe foi reservado
Sem se empenhar em se realizar
Ter atendidos os seus desejos mais sagrados
O Universo há de julgá-lo
Considerá-lo culpado
E dar-lhe como sentença
Ser encarcerado
Num buraco negro
E mantido por lá
Pelo tempo que se fizer necessário
Até que espontaneamente se convença
De que para poder voltar
Deverá estar armado de coragem
E disposição para sofrer, amar
Arcar com vitórias e derrotas
Dar tudo de si e pelo menos tentar
Ter seus sonhos conquistados
26.7.17
Quem te olha não vê
O tamanho da tua dor
Tudo o que sofreste
E quão além está
Do que alguém possa crer
Cansaste de rastejares pelo chão
Não deves mais nada a ninguém
Fizeste bem ao retirares daqui
Todos os teus pedidos de perdão
25.7.17
Não faço poemas pra ti
Nunca mais os fiz
Faço-os agora só pra mim
Para melhor entender
O que restou de sentimento
E tentar compreender
Por que ainda insistes em aparecer
Em tudo que continuo escrevendo
24.7.17
Minha estrutura mental
Não consegue entender
Outra forma de amor carnal
Que não seja a romântica
E que não tenha passado pelo vendaval
De uma paixão vulcânica
21.7.17
Paixões joviais
Na vida dos velhos
São imprevistos
E representam perigos
Com resultados incertos
Por vezes até desastrosos e complexos
É como quando de repente
Torna-se escuro um ambiente
E a falta da luz ofusca-lhes a visão
Fazendo-os agir com prejuízo da crítica
Como cegos sem bengala e sem cão
E ainda que lá na frente
Recuperem o discernimento e a razão
Precisarão arcar com as consequências
De tudo que aconteceu
Durante seu período de desorientação
20.7.17
Fui
Autodidata em te ganhar
Mas não aprendi a te perder
Procuro alguém
Que possa me ajudar
A te arrancar de dentro de mim
Ou pelo menos me ensinar
19.7.17
Não consigo entender
Por que ages assim
Longos meses sem aparecer
E de repente do nada vens
Como se eu fosse seu por direito
Exiges ser recebida por mim
E o pior
É que recusar-te
Eu não consigo
Não resisto
Estou sempre aberto pra ti
E assim
Reacende o meu amor verdadeiro
Acabo me por me entregar inteiro
Corpo, alma
Tudo enfim
Mas o paraíso que vivemos
Não dura muito tempo
E num dia qualquer
Me surpreendes
Decidindo partir
Aí me descubro só novamente
Como que acordando de um sonho
Que antes de completar o enredo
Tem sua trama suspensa
E se recusa a chegar ao fim
18.7.17
Do amor
Não adianta tentar fugir
Correr se afastar
Prendê-lo numa garrafa
E lançá-lo ao mar
Pois se for recíproco
Passe o tempo que passar
No vai e vem das ondas e das correntes
Em algum ponto ele vai aportar
E aguardará pacientemente
Até alguém o encontrar
Devolvendo-lhe a liberdade
Deixando-o voar
E não importará a distância
Se ainda estiver vivo
Utilizando-se apenas do instinto
Não terá dificuldades em voltar
17.7.17
Ainda citando fragmentos de conversas alheias
Essa ouvi outro dia
No caixa eletrônico
Enquanto esperava na fila:
Não me venha com recriminações
Sou escravo da vida
E você das convenções
14.7.17
Abrir mão do que realmente importa
Fugir dos sentimentos
Viver enovelado nas convenções
E nos impedimentos
É uma crueldade consigo mesmo
Causa um dano imperceptível no ser vivente
Que gradualmente evolui para uma apatia
Uma espécie de anestesia
Um achatamento da existência
Um suicídio progressivo da alma
Que finalmente culmina
Com o abortamento da própria vida
Restando tão somente uma carcaça inerte
Socialmente limpa
Mas triste
Insípida
E incompetente
13.7.17
Fragmento de uma conversa
Que animadamente acontecia
Entre dois amigos num semáforo da avenida Paulista
"Com tanta mulher disponível
Está cada vez mais difícil ser vegano hoje em dia"
Estaria ele discorrendo realmente
Sobre as dificuldades do vegetarianismo radical
Ou apenas se lamentando dos sacrifícios que precisa fazer
Para manter a monogamia?
Cria uma nova classificação dos seres vivos
Realocando sua companheira no reino vegetal
Enquanto as demais do mesmo gênero animaliza
Igualando-as a vacas, porcas ou cabritas a serem abatidas?
12.7.17
Conselho comum
De quem sabe trabalhar bem com dinheiro:
Não se deve depositar todos os ovos no mesmo cesto.
Será que é essa a explicação do porquê
O amor não se identificar em nada com o mercado financeiro?
11.7.17
Nunca te esqueças
Que o amor
É um sentimento planta
Que nasce pequenino
Cresce e se desenvolve
Com espinhos perenes
Que podem machucar
E é assim que se defende
Mas também não deves te esquecer
Que ele floresce no seu devido tempo
Se for cuidado a contento
Que sabe retribuir com beleza e perfume
Quando recebe dedicação e esmero
E é essa a razão
De tanto encantamento
10.7.17
Adoro acordar
Numa manhã fria
E te ver assim
Altiva
Circulando pelo quarto
Vestida apenas
Com minha camisa
7.7.17
Há noites
Que não mereciam morrer
Deveriam ser respeitadas
Por manhãs
Que só poderiam aparecer
Quando fossem chamadas
6.7.17
É hora de você partir
Vá
E depois
Não olhe mais para trás
Não tem jeito
Com ou sem você
Em poucas horas
O sol vai se levantar
Só não posso garantir
Se o que agora deixar
Ainda estará aqui
Da próxima vez
Que procurar
5.7.17
Continuo a te escrever poemas de amor
Mantendo enredo e contexto
Evitando lamúrias e desfalecimento
Envelopo ao menos um por dia
E remeto para o mesmo endereço
Na expectativa
De que encerrarás teu o recolhimento
Vindo até a caixa do correio
Abarrotada
Como jamais se viu em nenhum momento
E que lendo tudo que é teu por direito
Confirmes o que estou dizendo
Amenize o teu sofrimento
E te ajude
A continuar vivendo
4.7.17
Estava abarrotado
Com teus caprichos excessivos
Teus segredos inacessíveis
Tuas referências distorcidas
Teu confuso discernimento
Tive que desalojar muito de mim
Para acomodá-los todos juntos
E arrumá-los com cuidado
No mesmo compartimento
Chegou um momento
Em que não tinha mais espaço
Nem interesse por teus fracassos
Teu fantasioso desempenhos
Tive que desalojar tudo que obstruía os caminhos
Tua atenção quase sempre falsa
Tua lágrima rala que com qualquer vento evaporava
Teus frágeis argumentos, teu espelho
Tratei de chamar de volta
O que ainda pude alcançar
Meus quereres enfraquecidos
Meu autorreconhecimento
E tomei a firme decisão de seguir sozinho
Olhando em frente
Sem esquecer o passado
Mas de não perder mais tempo
3.7.17
Daquele amor límpido do passado
Impecavelmente cuidado
Cheio de urgências e desesperos
Hoje resta apenas um cansaço
Um asco
Um balde de ressentimentos
Um arsenal de palavras mal construídas
Mutiladas
Muitas nunca ditas
Engavetas no fundo de um armário
E dada a sua decomposição
Em tão adiantado estado
Servem bem como alimento
Para baratas e ratos
Impossíveis de serem esquecidas
Pois ainda irradiam um fedor intenso
Que e a tudo contamina
30.6.17
Aqui dentro
Há tanto espaço para ti
Como para o mundo
Com toda a terra e oceanos
Ajuda-me a preenchê-lo
Pois não posso continuar vivendo assim
Carregando em mim
Um vazio deste tamanho
29.6.17
Amor
Não vejo como diversos
Dos meus versos
O sexo que fazemos
A inspiração para o verbo
A métrica
O ritmo
O andamento
Tudo isso
Resulta do momento
27.6.17
De que me adiatam os livros
Se ainda que versado no vernáculo
Não aprendi a ler
Nem mesmo um parágrafo?
De que me adianta estar ao teu lado
Se não consigo te entender
E nos é impossível um diálogo?
26.6.17
Sabe aquele momento
Em que o pensamento é ocupado
Por um só termo: ingratidão?
Em que o coração aperta
A tristeza reina
A carne grita
O entorno é de total silêncio
Na cabeça o ruido é imenso
E o sentimento que te imobiliza
É o de uma terrível solidão?
23.6.17
Não, não é que deixei de te amar
Mas é que não aguento mais sofrer assim
O que preciso agora
É limpar minhas memórias
E me convencer
De que deixar de te querer não é o fim
Não, já decidi
E não é uma questão de não te amar mais
De não sentir
Mas sim de precisar não te querer mais
Pois quem sabe assim
O sofrimento desista de me acompanhar
E eu consiga prosseguir
22.6.17
Os versos são meus
Mas os enredos não
Capturados no mundo
Eu os tomo emprestados
São obras do acaso
Sonhos ditados
Desejos frustrados
Problemas sem solução
Casos reinventados
21.6.17
Amor
Ator
Diferentes papéis
Para cada personagem
Mudam cenários
Mudam enredos
Sempre em viagem
Veste êxtase e sofrimento
Mas quando ama de verdade
Abandona o receio e veste coragem
20.6.17
Está escrito
As ideias nascem
Proliferam
E voam rumo ao escuro
Universo profundo
Onde desaparecem as respostas
E se esgotam os sentidos
E tudo mais que existe
Também é sugado
Por esse desconhecido
Espaço perdido
Caminho sem volta
E sem limites
E não há o que possa ser feito
Para mudar esse destino
Não depende das vontades
Dos nossos erros
Do desenvolvimento dos engenhos
Ou da intensidade dos sacrifícios
19.6.17
13.6.17
Nossas noites desfilam
Todas juntas
Na mente alcoolizada e confusa
E na fumaça do cigarro
Que embaça
A tinta descamada
No teto do quarto
Detalhes fluidos e misturados
Que vão tomando contornos
De lembranças que julgava perdidas
E agora tão nítidas
Mas é preciso esforço e foco
Para mantê-las em separado
12.6.17
Travamos uma guerra
Que pela contundência
E uso de estratégia
Nos pareceu que seria eterna
Desgastantes batalhas
E como armas
Só palavras
Quando caímos esgotados
E as bandeiras baixadas
O cenário era devastador
Sangue para todo lado
Montanhas de tristeza
Cinzas e dor
Não cantamos vitória
Só nos restou lamentar a derrota
Por nós dois
9.6.17
Volto, volto sim
Porque ainda é teu o meu amor
E também não acredito
Que este seja o fim
Mas só volto se souber que choraste
E que as lágrimas que derramaste
Foram lágrimas de dor
8.6.17
7.6.17
Volta
Sempre volta
De suas muitas noites
Intensas e vazias
Lábios de vermelho borrado
Um azedo no hálito
Vômito no vestido
Olhos inchados
Olhar injetado
Dores pelo corpo
Tropeçando no salto
E torcendo para que
Chegue em casa
O quanto antes
E possa se deitar
Sozinha
Enquanto ainda está acordada
6.6.17
Não preciso de homem nenhum
Pra cuidar de mim
Ela me disse isso
Aos gritos
Antes do fim
Que pena
Não entendeu
Que no amor
O cuidado de um para com o outro
É o maior dos tesouros
Que pena
Não percebeu
Que no nosso caso
Foi o que primeiro desapareceu
5.6.17
Não há como ser feliz no amor
Todo o tempo.
Mesmo que ele seja
O mais profundo e verdadeiro.
E isso é absolutamente natural
Em qualquer relacionamento.
Mas se o amor for clandestino
Além disso
Ele padecerá de um agravamento.
Pois a felicidade plena
Ainda que efêmera
Só está presente
Quando os amantes
Ficam frente a frente.
E fora desses momentos
Nem sempre tão frequentes
O que predomina
Quase sempre
É o sofrimento.
2.6.17
1.6.17
31.5.17
Se nossa história de amor
Pudesse ter um fim escolhido
Certamente não usaria para isso
Aqueles que invento
E em meus poemas registro
30.5.17
As tempestades
Que me assolam por dentro
Fora de mim
Não destelham casas
Não derrubam árvores
Não perturbam a ordem
A ninguém causam aborrecimentos
E para que tudo continue assim
Basta que eu mantenha meu silêncio
29.5.17
Por que me contas
Coisas tuas
Teus segredos
Se para dentro de ti
Não me deixas passar?
E por que me confidencias
Tuas fantasias
Se com isso só aumentam meus desejos
Me fazendo sofrer ainda mais?
26.5.17
Ela só sabe viver o amor
Se estiver encharcada de verdade
E é por isso que tomar um chuvisco não vale
Não cumpre com a finalidade
Ela só aceita viver o amor
Se puder encarar a tempestade
25.5.17
Enquanto dormes tranquila
Eu do meu lado
Me reviro inconformado
Numa carência explícita
Transbordando de dores de amor
E desejo não saciado
Tendo que aceitar
Como certeza definitiva
O fato de que de hoje em diante
Serei apenas eu comigo mesmo
Apenas mais um solitário
23.5.17
Menino
Espevitado e arteiro
Riacho pequenino
Corre sorrateiro
Driblando relevos
Até se render ao rio
Majestoso e sereno
Mas ainda assim
Imaturo e efêmero
E que em seu devido tempo
Se rende em definitivo
Ao mar infinito
22.5.17
É preciso que te digam
Isso que chamas de amor
E até hoje te choca
Imobiliza
Pela força descomunal
E por não ter explicação
Na verdade não é amor
É doença
Carência
Dependência
Obsessão
19.5.17
Gosto de ver o ator
Que ao entrar no palco
Se transforma
Despe-se do ego
E irreconhecível
Incorpora a personagem
Não gosto de ver o ator
Que sempre representa a si mesmo
E mesmo dando tudo de si
Falta-lhe talento
Ou apenas exercita a sua vaidade
18.5.17
Perdê-la
Foi perder um pedaço de mim
Algo já incorporado
Parte essencial
Para a minha própria compreensão
E por mais tempo do que alguém suportaria
Fiquei sem chão
Numa agonizante catatonia
Mas minha natureza reptílica
Até então desconhecida
Num dado momento se fez presente
E atuou repondo silenciosamente
A parte que me foi subtraída
E hoje quando olho
Para o que era antes uma enorme ferida
E vejo que não há mais nenhum sinal de avaria
Não sinto mais a tua falta
Paguei com juros pesados tudo o que devia
E agora considero justo poder desfrutar
Das coisas boas que ainda me oferece a vida
17.5.17
O vento infla a vela
Com o vento
A vela expressa
Sua natureza errante
Sem o vento
A vela murcha e para
Não vive o que para ela é importante
16.5.17
A fotografia
Já nasce corrompida
A cena se altera
Assim que alguém a registra.
Não é um retrato da realidade
Nasce contaminada pelas fantasias
Presentes naquele que clica.
Pois por trás deste olhar
Há montanhas de sentimentos
Uma cabeça repleta de paisagens
Oceanos inteiros
E vulcões furiosos
Erupcionando conceitos.
12.5.17
Não vale a pena continuar
Já que o riso acabou
E há tempos
A leveza escapou-nos no ar
E tudo que hoje fazemos
É nos exaltar
Causar sofrimento e chorar
É preciso enxugar os olhos
E aceitar
Deixar o tempo passar
Enfraquecer a mágoa
Serenar o pensamento
E deixar o coração perdoar
Assim a saudade poderá renascer
O bônus desse amor reaparecer
E as boas lembranças voltarão a nos visitar
11.5.17
O que me interessa
No jogo da paixão
É sobretudo
Esse eterno movimento das vítimas
Que como peças sem autonomia
São conduzidas de forma cíclica
Do gozo ao fundo do poço
E do fundo do poço ao gozo (de novo)
Por vezes e vezes repetidas
Como se não houvesse saída
Desprezando o aprendizado
E as sequelas que lhes deixa a vida
10.5.17
Temos problemas
Com a distância
Estilos de vida e comportamentos.
Embora nos amemos
Somos antagônicos
Amarrados em nossos extremos.
E mesmo que nossos sóis sejam os mesmos
Jamais nos encontraremos
Pois mal ele se põe aí no oriente
Aqui no ocidente já está nascendo.
O sol me alimenta
Mas para ti é veneno
Presença e ausência deste elemento
É que nos mantém vivos
E é assim que ficaremos
Cada qual no seu lugar
Até que se encerre o nosso tempo.
9.5.17
...me confessou
E eu acreditei
Meio litro de vodca
Todas as noites
Para afogar o nojo
E conseguir suportar
Tantos corpos sem rostos
Sujeitos escrotos
Com quem tem que se deitar
Para obter alguns trocos
...
É só uma fase (ela diz)
Preciso pagar a faculdade
Depois recomeço tudo de novo
8.5.17
Não dá pra aceitar
Estar diante de ti
E não poder te abraçar
Lembrar do teu gosto
E não poder te beijar
Ver os detalhes do teu corpo
E não poder te tocar
Querer o teu sexo
E simplesmente não poder te amar
O que ouço é sempre não, não e não
Sem qualquer justificativa ou satisfação
Então, lamento
Mas agora quem diz não sou eu
Cada um deve seguir o seu caminho
Está decretado o fim da paixão
5.5.17
Estavam iludidos
Pareciam dementes
Deixaram-se levar pela paixão
E como quase todos nessa situação
Enxergavam-se acima do bem e do mal
Prioritários e urgentes
Mas desde o início ficou claro
Que isso não daria bom resultado
Eram muito diferentes
E assim as diferenças logo se impuseram
Deixando-os abalados e até de fato doentes
Brigavam por qualquer motivo fútil
Juntos nunca estavam contentes
E o saldo disso tudo
Logo ficou evidente
É que acabaram tristes
Feridos em seus sentimentos
Fechados em suas mentes
E nem mesmo um possível amor latente
Teve como se desenvolver
Tal era a tensão que se fazia presente
Separaram-se rapidamente
E hoje nem mais se encontram
Quando percebem
Que isto pode acontecer
Num raro acidente
Disfarçam
Mudam de direção
Fixam o olhar no infinito
Aceleram o passo
E tocam em frente
4.5.17
Madrugada
Acordo assustado
Estendo o braço para o lado
E o vazio que encontro
Só não é maior do que a tristeza
E do infinito cansaço
Neste meu corpo frio
3.5.17
Ela
Bebe demais
Fuma demais
Se droga demais
E anônima
Autômata
Mergulha na noite
Com a única intenção
De tentar preencher
Sua infinita solidão
Percorre caminhos malditos
Absurdos para qualquer cidadão
Alega que é necessário correr riscos
Diz que não tem opção
Precisa saber
Se o que sente é verídico
E se há sentido em manter esperança
De nem tudo estar perdido
Ou se vive mesmo imersa na ilusão
Já em alta madrugada
Depois de um ou mais encontros (inúteis) fortuitos
Com o andar cambaleante
As dores dos açoites
E o hálito ressentindo aos vícios
Retoma o rumo de casa
Carregando no peito
O já tão conhecido vazio
Acrescido de todos os superlativos
Cai na cama como alguém que agoniza
Dorme um sono sem fundo (quase defunto)
E como uma criança sonha muito
Mas seus sonhos não se relacionam com seus dias (são só fantasias)
Está cada vez mais convencida
De que a existência é um equívoco
Um labirinto sem saída
E que a vida é um erro de estratégia
Um desperdício de energia
2.5.17
A labareda
Que incendeia os teus olhos
Enquanto arfas
Palpitas
Sacias tua sede de amar
É pura paixão
Cena rara de se observar
Digna de se aplaudir
E divino poder participar
27.4.17
É mais natural chorar do que rir
Todos choramos ao nascer
Ao nascermos o preocupante é não chorar
O choro nos faz sobreviver
Mas para rir é preciso aprender
Ter alguém que nos ensine a enxergar
O lado bom de viver
26.4.17
Cada vez mais obsoleto
Mais sucateado
Mais desnutrido
Craquelado pelo sol
Cada vez mais triste
Mais ardido
Mais desinteressado
Cada vez mais fraco
Mais intragável
Mais desorientado
Homem dos trópicos
Sobrevivente teimoso
Perdido no tempo e no espaço
Sem expectativas no mundo globalizado
Alheio à tecnologia
Esperando apenas o momento de ser deletado
25.4.17
Sol
Estrela única num circo de forças
Onde a regra é o obscuro
Maestro que orquestra o conjunto
Planetas em órbitas que se cruzam
Satélites em números imprecisos
Cometas, meteoros, partículas de todos os tipos
Há milênios em movimento
Sob a batuta de um regente inflexível
E só por isso guardam uma lógica em suas trajetórias
Ainda que aparentem ser livres e sozinhos
Não têm escapatória
Quando o rei se apagar
Acabarão todos engolidos
24.4.17
Amor com amor
Um outro amor
E ainda mais amor
Por um certo tempo
Na balança
Pode até pesar.
Mas aí a carga se espalha
Tudo se acomoda
E lentamente
Os pratos voltam a se equilibrar.
Num mundo de tantos conflitos
Amor não é algo
Que se deva rejeitar
Com ou sem requintes
De todos os matizes
Amor verdadeiro
É sempre bom
Quanto mais melhor
Amor só faz somar.
20.4.17
Lá fora
Cada vez mais perto
Recomeçam os bombardeios
Enquanto aqui dentro
Desaparecem as últimas esperanças de continuar vivendo
Não é fácil abdicar de tudo
Para aquele que há pouco se achava dono do mundo
E agora, só queria continuar respirando
Apesar da poeira densa que sufoca este cômodo
Só queria continuar enxergando
Apesar do blackout que se seguiu ao último flash luminoso
Só queria continuar ouvindo
Apesar do zumbido deixado pelos explosivos
Só queria continuar como um ser inteiro
Apesar do corpo soterrado pelo entulho no desabamento
Só queria continuar existindo livre deste horror
(Não me interessa mais nem mesmo o amor)
E que a morte venha breve me libertando desta dor
19.4.17
Mesmo que a cabeça viaje
E às vezes se perca no caminho
Moro aonde dormem meus chinelos
Ainda que guardados no escaninho
18.4.17
A verdade que até ontem era sólida
Está agora reduzida a uma nuvem de dúvidas
O que parecia claro e indestrutível ainda há pouco
No futuro pode não passar de uma vaga lembrança
Aconteceu justamente o que eu mais temia
Sem perceber fui tirado de sua vida
E contra isso eu nada pude fazer
E agora com o olhar encharcado
Fixo na alternância hipnótica das cores no semáforo
Para-brisa embaçado e sem clareza dos porquês
Me vejo suando frio mãos grudadas no volante
Querendo acionar a seta
Mas impedido de retornar pra você
17.4.17
Houve um tempo
Em que não cansávamos de professar juras de amor
E confidenciar um para o outro
Absolutamente convencidos
De que não conseguiríamos viver um segundo
Se não estivéssemos unidos
Mas o tempo é implacável
E no dia a dia
Castigados pelas rotinas
Fomos nos distanciando
Sem avaliar bem as consequências disto
E pela sucessão de acontecimentos
Cada vez mais imediatos
Seguimos ofuscados
Pensando apenas em apagar incêndios
E honrar aquilo que nos era exigido
Empenhamos energia demais em coisas que não mereciam
E hoje, embora juntos, nos sentimos mais do que nunca sozinhos
Perdemos muito da intimidade que tínhamos e do nosso colorido
Nem nos lembramos mais do antigo compromisso
E continuamos tocando a vida sem a certeza de ainda estarmos vivos
13.4.17
Castelos de areia
São efêmeros
Não são feitos para durar
São experimentos
Ensaios sem compromisso com o tempo
Exercícios estéticos
Que comportam riscos
Erros e acertos
Às vezes são grotescos
Outras até que bonitinhos
É bem verdade
Mas sem muitos encantamentos
Servem apenas para testar habilidades
Ou registrar algo num dado momento
O trabalho conjunto de pais e filhos
Um concurso
Um passatempo tranquilo
Numa tarde de domingo
Mas já se sabe desde o início
Que não estarão mais lá no dia seguinte
Pois não tem como resistir às marés
Às chuvas torrenciais
Aos ventos
E não há nenhum problema nisso
12.4.17
Mais triste
Que sofrer de amor
Por alguém que não te quer
É não ter experimentado na vida
Um amor sequer
11.4.17
Chega de conviver calado
Com o medo mal disfarçado
De um dia voltar pra casa
E saber por um bilhete
Deixado sobre a mesa da sala
Que não terei mais você ao meu lado
10.4.17
Esbarrar nas esquinas
Machucando-se pra valer
Colecionado feridas
Pode ser uma tentativa
Não percebida
De resistir à mudança
De algo grande em nossas vidas
7.4.17
Mais uma vez sonhei que me chamavas
E como qualquer homem
Vitimado por uma paixão desenfreada
Num instante eu aí estava.
Em frente à porta me esperavas
E com a intimidade conquistada
A tão duras penas
Dispensando palavras
Beijei-te a boca
Tomei-te nos braços
E como tantas vezes no passado
Repetimos o ritual
Já tão bem ensaiado
Com música de fundo
Seguimos para quarto.
Tomamos vinho
Comemos frutos
Nos divertimos muito
E isolados do mundo
Nos amamos sem pressa
Até sermos alertados pelo dia
Com seus primeiros raios.
Era o nosso ultimato
E como sempre acontecia
Dormindo calmamente
Eu te deixei sozinha
E saí silenciosamente
Ofuscado pela luz matutina
Para voltarmos às nossas rotinas
Reabastecidos de amor
Temporariamente saciados
E felizes com nossas vidas
6.4.17
Na natureza
É assim que as coisas funcionam
Inicialmente os lobos
Não procuram o confronto
Não encaram
Veem sem dar a entender
Que estão olhando
Circundam a presa
Testam sua guarda
Acham um espaço
Penetram e atacam
Com a certeza
De que o embate
Será breve
E logo vai se resolver
Afinal, serão eles ou você
5.4.17
4.4.17
Achas que não sofri
Só porque não me viste chorar?
Gritei entre quatro paredes
Desmoronei muitas vezes
Fiquei sem chão
Quase morri
Tive vontade de sumir
Não podia acreditar.
E isso aconteceu
No exato momento
Em que entendi
Sem querer aceitar
Que nada é para sempre
Que era chegado o nosso fim
E que o teu olhar
Para trás
Nunca mais iria se voltar.
3.4.17
Escrever me ajuda
A romper silêncios
Exercitar delicadezas
Provocar de forma explícita
(Ou com sutilezas)
Testar reverências
Proteger sentimentos
Degustar ainda mais teus beijos
Eternizar abraços
Interpretar teus cheiros
Detalhar carícias
(Sempre tão lascivas)
Hierarquizar malícias
Inventariar teu corpo
Não aceitar esquecimentos
31.3.17
Aquilo que nunca nos dissemos
Ficou sempre escondido
Subentendido
Imerso entre versos
Na canção
Estivemos atentos ao sentido da letra
À melodia, ao ritmo
E nos incomodamos muito
Com o andamento
E excesso de pausas que nunca terminam
O refrão grita, chora
Se contorce na ira
E depois sumariamente silencia
De comum acordo trocamos de partitura
E assim outra oportunidade de corrigirmos
O andamento da música foi perdida
30.3.17
Se insistires
Em voar
O tempo todo sobre o mar
Não terás como encontrar
Um lugar para pousar
E quando nesta insensata jornada
Tua força se esgotar
Entenderás que à noite
Não existem térmicas para te elevar
29.3.17
Só há amor
Quando nos sentimos importantes
Carregando no íntimo a certeza
De que a nossa presença é relevante
E faz toda a diferença
Às vezes é estranha a constatação
De que embora o discurso seja de paixão
A atitude que se observa
Não é exatamente a mesma
28.3.17
Preciso do teu amor
Mais do que de água para viver
E é por isso
Que sem resistir
Me afogo em ti
Pois assim
Não o corro risco de morrer
27.3.17
Tens que ter mais cuidado
Pois tentando fazer tudo ao mesmo tempo
Acabas por não concluir nada direito
Com apenas dois braços
Não tens como abraçar o mundo inteiro
As coisas vão caindo, se quebrando
Ficando pelo caminho
Até que impedida de continuar
Percebes que teus pés estão cravejados com cacos de vidro
24.3.17
Com o bisturi
Se corta
E se faz cirurgia
Com a palavra
Se ilumina
E se faz poesia.
O bisturi exige o conhecimento
Aprendido de fora pra dentro.
A poesia o esclarecimento
Do que é sentido de dentro pra fora.
Ambos instrumentos
Ferramentas preciosas do entendimento.
O bisturi disseca a matéria
Escancara a lógica do corpo
E seu funcionamento.
A poesia traduz a alma
Aquilo que nos faz humanos
Nada mais
Nada menos.
23.3.17
22.3.17
Minha musa
Com minhas ideias geralmente comunga.
Mas não raro irrita-se com meus pensamentos
Quer mandar em meus comportamentos
Colocar sua ordem na minha bagunça.
Menospreza o que em mim não entende
E mesmo assim se arrisca e me julga.
Comete injustiças por vezes absurdas
Mas apesar de tudo não me causa maiores ferimentos
Acho que no fundo achamos o nosso jeito
E nos entendemos sem termos que recorrer a loucuras
Do contrário não seriam dela os meus sentimentos
Penso que aceitamos bem a recíproca de nossa escravatura.
21.3.17
Vociferavas
Exigindo que eu te deixasse em paz
Que te obedecesse
E parasse de te visitar
Alegavas que do jeito que as coisas iam
A morte de um de nós
Aconteceria numa questão de dias
E agora aqui contigo nos braços
Dribladas tuas artimanhas
Que tentam a todo custo me afastar
Pedes
Suplicas
Que eu nem pense em te soltar
Que te sufoque de beijos
Que te abrace forte
Até parares de respirar
20.3.17
Depois de tanto tempo
No alto da colina
Sentado na varanda
Balançando na cadeira
Vejo passar o trem de minha vida
Pareando memórias
Com o que a paisagem mostra
Posso ter uma epifania
Um ataque de ira
Um choque de realidade
Ou tudo se revelar
Uma grande bobagem
Hoje
Não há espaço
Para fantasias do passado ou miragens
E o que de fato importa
É que o trem da minha cidade
Não costuma atrasar
Após o apito
Fecha a porta
Não atende mais a nenhum grito
E se coloca a rodar
Obedecendo ao que está escrito
17.3.17
Eu queria que soubesses
Que hoje o coração silenciou
E o que de fato ficou
Foi uma outra forma de amor
Que comporta a saudade mas não a dor
16.3.17
Engana-se quem pensa
Que se morre apenas uma vez
Identifico pelo menos três momentos
Não excludentes em que isso pode acontecer
O primeiro é quando morremos para o mundo
E o fim da carne
Simplesmente nos faz desaparecer
O segundo é quando morre a pessoa que nos ama
Nos leva junto sem que nada possamos fazer
E só dentro dela é que ainda mora esse benquerer
E o terceiro é quando precisamos morrer
No interior de quem não mais nos ama
Para liberar espaço e acomodar um outro alguém
15.3.17
Este amor
Não é o do hoje
Mas o de um outro tempo
Uma outra forma de querer.
E ainda que no passado
Não tenha sido reconhecido
É pra lá que deve ser devolvido
E precisará permanecer.
14.3.17
Não há tempo ruim acima das nuvens
Que seja este o reino
Em que finalmente conquistes
O fim das tuas dores
E a tua tão merecida paz.
Agora vai e descansa tranquila
Mãezinha querida
E leva contigo a certeza
De que o amor e a saudade
Nunca irão te abandonar.
10.3.17
Trago dentro de mim
Uns bichinhos
Que me sufocam
Me confundem o entendimento
Me imobilizam o pensamento
E não me deixam em paz.
Mas não os consigo vomitar
Chutar-lhes os traseiros
Botá-los pra fora
Expurgá-los inteiros
Xingá-los como merecem
E fechar as portas
Impedindo-os de voltar.
Às vezes surgem sorrateiros
E logo vejo que são muitos
Mostram-se sempre zombeteiros
Arruaceiros
Fazendo algazarras
Ameaças
Tripudiando de tudo
Afirmando que sou cativo
E que nunca mais vão me deixar.
É assim que tenho vivido
Como prisioneiro desses demônios
Verdadeiros parasitas viscerais
Mas agora que você está comigo
E se quer mesmo ajudar
Precisamos de um plano efetivo:
Terá que ficar ao meu lado
Colada ao meu corpo
Pelo tempo que for preciso
Pois assim que eu avisar
Ou no exato momento
Em que deixarem visíveis
Seus chifrinhos
Seus rabinhos
Ou forem ouvidos seus sarcásticos risinhos
Terá saber precisamente aonde estão
Em quais orifícios
Para arrancá-los com a mão
Um a um
Sem titubear
Ou pensar nos riscos de mutilação.
Confiná-los num baú reforçado
Atado com grossas correntes
Trancá-lo com vários cadeados
Desaparecer com as chaves
Levá-lo urgentemente
Para um lugar distante e deserto
E enterrá-lo o mais fundo que conseguir
Para que nunca mais seja encontrado
E a vida assim possa prosseguir
Sem que sejamos incomodados
Por esses encapetados mirins.
9.3.17
...como o astronauta
Que valoriza mais a nave
Seu veículo
Que o próprio infinito
Não consegue ver no céu
A beleza das estrelas
Que deveria ser de fato seu objetivo
8.3.17
Recuso-me a fazer a cama
Que até há tão pouco tempo
Nos servia
Seria fechar um ciclo
E a isso eu não me permitiria
7.3.17
Meu amor
Se impõe de forma bruta.
Por onde passa
Desajeitado
Esbarra
Derruba
Machuca.
A cada incidente
Pede desculpa.
Mas por ter a certeza
De que é real
Não recua.
6.3.17
Pressionas teu corpo
Quase rompendo a vidraça
Enquanto olhas para o vulto
Que no escuro
Sob a tempestade
A passos largos se afasta.
Teu desespero é tanto
Que com o rosto
Besuntado de maquilagem e lágrimas
Desenhas no vidro uma grotesca máscara.
Pintura pasma e abobalhada
De quem não aceita
Não acredita
Que mesmo um amor verdadeiro
Um dia fracassa.
3.3.17
Me machuquei muito
Quando insisti em te amar.
E aquilo que pensava eterno
Tão rápido como veio
Terminou sem avisar.
Todos viram
Só eu é que não vi.
Rastejei
Implorei
Me humilhei
Me diminui.
Disseram que não era eu
Nem mesmo eu me reconheci.
Cedi bem mais do que recebi.
E agora depois do fatídico desfecho
Admito que todo o tempo
Estive consciente e voluntariamente concedi.
Por isso juntei todo o prejuízo e tratei logo de assumir
Pois não me arrependo de nada do que vivi.
2.3.17
Pobre daquele
Que se faz cais
E suas lembranças são correntes
Que impedem o amor de zarpar.
Vive atado a um corpo inerte
Que desfigurado apodrece
Condenando-se apenas a ficar
Vendo o tempo passar.
1.3.17
Frequentemente me invade
Uma enorme preguiça
De tentar entender o mundo
Por isso escrevo
É mais fácil conceber
Uma visão própria sobre tudo
24.2.17
Mudaste
Melhor dizendo, mudamos.
Não há como disfarçar
É evidente.
Vejo pelo modo como nos comportamos
Pelo silêncio constrangedor que nos invade
Quando estamos frente a frente.
Só não entendo
O que foi feito daquele amor imenso
Que um dia juramos
Seria para sempre.
Ele não resistiu ao tempo
E desapareceu tristemente.
É provável que não tenha sido assim
Irreversível desde sempre.
Como foi que não percebemos
O momento em que nos perdemos?
O que fizemos com nossos sentimentos?
Fomos negligentes?
23.2.17
Você não é uma pessoa fácil de se ajudar
Se retrai
Se tranca
Bloqueia as entradas
E repele com silêncio ou palavras ásperas
As investidas de quem tenta se acercar
Também insiste em negar
Que esteja pedindo ajuda o tempo todo
Embora seja indisfarçável a tristeza no seu rosto
E o clamor que carrega no olhar
Revelando a esperança de que um dia voltará a amar
22.2.17
Não ter você
Por um intransponível impedimento
E acumular no peito tanto sentimento
É um sofrimento que não se deve desejar a ninguém
Mas este meu padecer poderia ser ainda maior
Se eu acabasse sabendo (por terceiros)
Que nunca tive o seu amor
Ou pior, que ele sempre foi de um outro alguém
21.2.17
Quem tem a ti não precisa de asas
Não precisa voar
O ninho que construímos no chão
Continua sendo
Sem nenhuma dúvida
O melhor lugar
20.2.17
Não te darei mais nenhum minuto
O tempo que te dediquei
Já foi suficiente
Qualquer quantidade a mais
Seria desperdício
Revisa teus guardados
E manda para o lixo
O que não te pertence
Ou para ti não tem mais sentido
Fica só com que é suficiente
Permitido e lícito
E viva com isso
Apenas com isso
17.2.17
Imaginei
Que para conseguir te esquecer
Bastaria deixar o tempo correr
E não mais me importar
Com o que pudesse acontecer.
Assim o fiz e continuo a fazer
Mas ainda não entendo por que
Todos as manhãs
Nas rugas do meu rosto
O espelho me obriga a ler
Sempre o mesmo texto, que diz:
O tempo passou
Continuará a passar
E as lembranças daquele amor
Não deixarão um dia de te visitar.
16.2.17
Admito
Há excessos em minha poesia
Sempre tão dramática ou efusiva
Mas não é só isso
Na vida me excedo em quase tudo
E o ódio e o amor
Não são exceções nesse conjunto
É que invadido por sentimentos extremos
Vivo sempre muito confuso
Capaz por exemplo de numa fração de segundos
Migrar dos píncaros de alegria
À tristeza encarcerada no calabouço mais profundo
E sendo assim acabo me vendo sozinho
Pois não tenho como cobrar de alguém
Algum benquerer ou aceitação
Quando nem mesmo aquele que sente o que sente
Compreende claramente a situação
E de mãos amarradas se vê impotente
Para conter a força do furação
E conseguir organizar seu interior
Minimamente
15.2.17
Você me tem nas mãos
E sabe disso
Basta estalar os dedos e assoviar
Para rapidinho
Me fazer voltar
Abanando o rabo
E latindo
14.2.17
Não precisamos de risos excessivos
Nem de lágrimas forçadas
De discursos vazios
Subterfúgios polidos
Ou desculpas esfarrapadas
Espero apenas que fiquemos calados
E que de mãos dadas lado a lado
O silêncio nos seja suficiente e confortável
Que tenhamos claros os sentimentos
Valorizando e entendendo as diferenças
Nos apoiando e aceitando sem resistências
Para que as vitórias e derrotas
Que a vida nos coloca
Sejam nossas
Mais nada
13.2.17
Meu corpo
É continente
Minha alma é ilha
O farol que guia o barco
E garante a travessia
Entre esses dois acidentes
É a poesia
10.2.17
Se te vejo assim na distância
Desfilnado no passeio
De mãos dadas com um forasteiro
Mesmo sabendo que sobre ti
Não tenho nenhum direito
Morro de ciúmes
Me corroo por dentro
E por mais que tente
Não consigo evitar o questionamento:
Afinal, por que não posso ser
O detentor exclusivo de teus beijos?
Não encerramos nossa história
Continuamos tendo bons momentos
Mas será que nossa constelação de prazeres tem menos estrelas
Do que essa em que viajas com tão intragável sujeito?
9.2.17
Tenho sede
Procuro por tua boca desesperadamente
Mas não vejo água por perto
E ainda há todo um deserto para atravessar
Sigo ciente de que não posso parar
E me esforço para manter isso em mente
Poupando forças e aprendendo a me controlar
Quem me avisa do perigo iminente
É a sombra faminta do abutre
Que me visita repetitivamente sem me tocar
E planando calmamente
Nas térmicas ascendentes
Espera o melhor momento para atacar
8.2.17
O poeta
Que habita em mim
Não me deixa feliz
Diz sempre que está sofrendo
É um suicida incorrigível
Diz sempre que está morrendo
Mas como se compadecer de um ser assim?
Para quem só existem tempos ruins
Alguém tão perverso
Que infecta e esgota as forças do companheiro
Parecendo não entender
Que precisa do hospedeiro vivo
Para também continuar vivendo
7.2.17
6.2.17
Amor é sopro
Brisa
Rajada de vento
Força que ativa o moinho de dentro
Se parado muito tempo
A ferrugem engripa o engenho
E fica difícil retomar o movimento
3.2.17
Certos amores
Nos tocam mas não penetram a carne
Apenas tangenciam os sentimentos
São hábeis em nos trazer alegrias
E arrefecer os desejos (às vezes tão intensos)
Estes mesmos amores
Ainda que não nos conheçam por dentro
Podem bem matar a sede de prazeres
Poupando os amantes de dores e tormentos
Amores assim, quando decidem que já é tempo
Sentem-se livres para partir
Entendendo como natural o distanciamento
Pois acreditam que sem compromisso não há sofrimento
E embora não deixem maiores saudades
Poderão retornar num outro tempo
Amparados no que de fato ficou de bom
A lembrança daqueles momentos
2.2.17
Cai a noite
E tua casa nunca foi tão grande
Nem esteve tão vazia
Pegas o telefone e me exiges a presença
Para que te preencha
Com tudo o que foi anunciado:
Risos, gozos, espasmos e afagos
Atendê-la será perfeitamente viável
Mas desde já fica aqui o combinado
Que depois de refastelada, concluído trabalho
E antes de ser dispensado
Preciso que me pagues e não me cobres palavra
Não faço questão de beijos ou abraços
É assim que deve ser feito
Faz parte do contrato
E deixo avisado que numa próxima será menor o teu tempo
Pois como sei que vais gostar (e é só o que ofereço)
E para conseguires um outro momento, com o mesmo empenho
Não poderás mais negociar tentando economizar teu dinheiro
1.2.17
Prepara-te para mim
Foi longa a jornada
Estou voltando
O tempo só fez aumentar minhas vontades
Sonhei muito com este reencontro
Por isso peço um sorriso largo
Um vestido vaporoso e branco
Um decote amplo que emoldure teus peitos
E seja possível admirá-los arfando
Cabelos inicialmente presos
Poucos adornos
Perfumes do campo
Mas que não mascarem os aromas do teu corpo
Boa bebida
Uma mesa farta
Uma melodia suave
Velas espalhadas pela casa
Tuas melhores carícias
Lençóis de maciez testada
Uma boa reserva de beijos
Nossas texturas juntas e delicadamente acomodadas
Se tudo sair assim já poderei morrer feliz
Pois além disso não precisarei de mais nada
31.1.17
Estrelas são buracos no céu
Pontos de luz que revelam existir
Por trás deste teto
Um outro universo
De luminosidade intensa
Abóbada ainda mais imensa
Aonde (as escrituras me disseram)
São de leite e mel rios e cachoeiras
E todas as virgens a que tenho direito
Me esperam nuas e serenas
Com muito vinho
E prazeres infinitos
Bastando para isso
Que eu cumpra com meu destino
E minha fé não esmoreça
30.1.17
O poeta
Não cansa de afirmar
Que nem tudo foi vivido
Daquilo que seus poemas
Insistem em expressar
Sentimentos inconvenientes
Que se impõe tenazmente
Não escolhendo momento
Não respeitando lugar
27.1.17
Percebo
Que tuas falas de recusa
Não passam de inocentes desculpas
Palavras ocas disparadas em rajadas
De uma metralhadora maluca
Ages assim sem saber, tentando não enxergar
Que embora essa história pareça de fato absurda
Todos sabem que amor não escolhe tempo ou lugar
Por isso é injusto que alguém deva arcar com qualquer culpa
Não se pode fugir de amar
Quando o amor te alcança, ele gruda
Se infiltra na carne daquele que ama
E na intimidade dita sentimentos, pensamentos e condutas
Só deixa a vítima após o último suspiro
Pois enquanto estiver vivo (contra seu domínio) é inútil a luta
26.1.17
24.1.17
Viver um medo constante
Por ser terra num planeta que é quase só água
Medo de que a tolerância não prevaleça
E que o avanço inexorável das águas
Faça desaparecer toda a diferença
23.1.17
Fica
Não te vás ainda
É madrugada
Chove muito lá fora
Há perigo na estrada
E preciso de ti
Vai
Chegou tua hora
Estas satisfeito, agora some daqui
Não quero que me vejas assim
Não foi de ti que pari
Precisamos prosseguir
20.1.17
Ele tem um coração imenso
E se orgulha muito disso, faz tempo.
Nele parece caber tanto amor, tanto sentimento
Que chega a se confundir
E não saber qual é o foco desse amor extremo
E até mesmo se existe ao menos um objeto definido
Que o tenha tornado assim um ser tão abnegado e perdido
É capaz, que por pura obra do acaso
Num dia qualquer, na rua, sem ser avisado
Seja com ele defrontado
E mal repare na sua presença
Quando reconhecê-lo de imediato
É o que seria esperado
Que acabe por desejar-lhe um bom dia
Até que bem educado
E que siga em seu caminho inabalável
Mantendo o olhar direcionado
Para onde sempre fez questão de manter
Esse seu incorrigível coração alado: o espaço
19.1.17
Tempo e rio
Elementos tão diferentes
Comportamentos idênticos
Nunca param
Nunca voltam
Mudam sempre
Mas se mantém os mesmos
Rigorosamente
18.1.17
O que está escrito
É só o que está escrito
Se há ou não algo de verídico
A dúvida não tem como ser sanada
Mesmo que num esforço hercúleo
Aprofundes a interpretação do conteúdo
Ou examines com lupa as entrelinhas de cada capítulo
17.1.17
De que me serve guardar todos esses escritos?
Poemas datados
Gerados em momentos específicos
Palavras carregadas de sentimento
Que vão descolorindo com o do tempo
E aos poucos se esvaziando em sentido
Ficam até parecendo fantasia sem objetivo
Aberrações paridas do próprio umbigo
16.1.17
Não entendo
Por que insistes em ler minha poesia
Se ela não te toca
Nem parece te dizer respeito?
Poesia só tem serventia
Para quem consegue extrair dela
Algum sentido ou sentimento
E isso precisa fazer alguma diferença no teu dia
13.1.17
E pensar
Que nunca me perdoei por ter ido embora
Assim, de repente.
E que arrastei por tanto tempo
A culpa por nossa história não ter chegado ao presente.
E agora, nesse reencontro patético e comovente
Ficamos em nítido desconforto ao estarmos frente a frente.
Pareando nossas trajetórias
Construídas de forma independente
Às custas de vitórias e derrotas que lemos com facilidade
Nos vincos de nossas faces, hoje tão evidentes
Concluindo que nos tornamos pessoas boas
Mas funcionando com lógicas muito divergentes.
Nenhum impasse grave demais ou intransponível
Se é que concorda, nada excludente.
Contudo, precisaríamos de um tempo que não temos
E um trabalho imenso desde o semear das sementes.
Estamos convictos de que hoje
Temos em comum pouquíssimos interesses.
E entendemos que não vale a pena grandes esforços
Para se chegar a um resultado que pode não ser suficiente.
Porém o que mais intriga é saber
Que se tivessem sido outros os caminhos seríamos diferentes
Será? E o que nos importa isso agora?
Continuamos com nossas vidas, como sempre
E se não nos virmos mais não haverá conflito
Então está resolvido, sigamos em frente!
12.1.17
3.1.17
Se não for com amor
Não quero.
Se não for por amor
Agradeço
Mas tô saindo.
E por favor
Não se ofenda
Vou por outro caminho.
2.1.17
Não entendo por que roubaste o meu sentimento
E o manténs assim isolado de seus companheiros
Trancado num baú de pensamentos
Pensamentos bons, ruins, mas só pensamentos
Muita gente num espaço tão pequeno
Fica lá tudo junto e misturado
Contido num escuro e mal ventilado
Não bastasse esse martírio
A chave jogaste no fundo do lago
É muita mágoa, não acha?
Um castigo nitidamente exagerado
Sentimento exige cuidado, não pode ser abandonado
Precisa de ar e luz para se manter vívido e renovado
Se permanece muito tempo recluso e imobilizado
Enfraquece, estiola e cedo ou tarde morre sufocado
Pense na culpa com a qual terás que conviver
Se isso acontecer de fato!
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