15.9.17

Michelangelo


Pouco antes de morrer em 1564
Finalizou um pequeno trabalho
Pouco menor que a Gioconda de Leonardo
Que ficou desaparecido por 3 séculos
Até ser redescoberto por acaso
Na parede de um pequeno café no Quartier Latin
Quase invisível por causa de um armário

Trazia uma etiqueta dourada onde se lia: "La Campana"
Mas o que mais impressionava nesta obra
É que a figura no centro da tela era tão real e hipnótica
E prendia a atenção do observador de tal forma
Que ele chegava a ver o sino em movimento
E era até mesmo possível ouvirem-se dele emergindo
O som das badaladas do pêndulo

Outro detalhe curioso
É que o quadro tinha sido pendurado torto
E era irresistível o desejo de ir até ele para nivelá-lo
Mas quando se liam as advertências no canto inferior da tela
Ficava clara a intenção do artista
Na transcrição de uma nota explicativa
Anotada no verso da composição:

"Não toque/Não desentorte
É exatamente por causa desse capricho na posição
Que se consegue fazer com que um reles mortal
Possa visualizar a imagem da perfeição"
E de fato há relados de que quando se endireitava a imagem
A epifania se perdia e nada mais se via
Além de uma vulgar combinação unidimensional de tintas

As últimas notícias ouvidas sobre a preciosidade
Davam a saber que ela tinha sido confiscada
Pelo próprio Hitler em 1942
Com a alegação de ser arte degenerada
De nítido apelo fálico-erótico
Um objeto cilíndrico e comprido
Se agitando dentro de um buraco sonoro

Mas a justificativa que parecia mais verídica
É a de que o dono do café tinha ascendência judaica
Era sodomita e teórico anarquista
Por fim também falavam que o Führer morreu com ela abraçada
Em seu bunker por ocasião do suicídio em 1945
E que depois disso nunca mais foi vista
Que não está em catálogos e por isso tende a ser esquecida

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