10.3.17

Trago dentro de mim


Uns bichinhos
Que me sufocam
Me confundem o entendimento
Me imobilizam o pensamento
E não me deixam em paz.
Mas não os consigo vomitar
Chutar-lhes os traseiros
Botá-los pra fora
Expurgá-los inteiros
Xingá-los como merecem
E fechar as portas
Impedindo-os de voltar.
Às vezes surgem sorrateiros
E logo vejo que são muitos
Mostram-se sempre zombeteiros
Arruaceiros
Fazendo algazarras
Ameaças
Tripudiando de tudo
Afirmando que sou cativo
E que nunca mais vão me deixar.
É assim que tenho vivido
Como prisioneiro desses demônios
Verdadeiros parasitas viscerais
Mas agora que você está comigo
E se quer mesmo ajudar
Precisamos de um plano efetivo:
Terá que ficar ao meu lado
Colada ao meu corpo
Pelo tempo que for preciso
Pois assim que eu avisar
Ou no exato momento
Em que deixarem visíveis
Seus chifrinhos
Seus rabinhos
Ou forem ouvidos seus sarcásticos risinhos
Terá saber precisamente aonde estão
Em quais orifícios
Para arrancá-los com a mão
Um a um
Sem titubear
Ou pensar nos riscos de mutilação.
Confiná-los num baú reforçado
Atado com grossas correntes
Trancá-lo com vários cadeados
Desaparecer com as chaves
Levá-lo urgentemente
Para um lugar distante e deserto
E enterrá-lo o mais fundo que conseguir
Para que nunca mais seja encontrado
E a vida assim possa prosseguir
Sem que sejamos incomodados
Por esses encapetados mirins.

Nenhum comentário: