29.1.16
O amor
Precisa ser tratado sempre
Cuidado artesanalmente
E replicado para se tornar um sobrevivente
Não tem como dar errado
Façamos um experimento rápido:
Pegue um amor maduro e em bom estado
E mesmo que não esteja fraturado
Não tema em retirar dele um pedaço
Separe a parte maior
Cubra com um pano limpo
Proteja-o das intempéries e dos bichos
Mas certifique-se de que o local seja bem ventilado
A outra parte deve deve ser amassada com as mãos
E receber quantidades generosas de carinho e atenção
Adicione leite e mel em porções pequenas ditadas pelo coração
E deixe-a em repouso para que ocorra a fermentação
Depois de completado o crescimento
Numa forma untada despeje cuidadosamente a massa
Leve ao forno pré-aquecido e fogo lento
E acompanhe atentamente a transformação
Completado o processo
Espere esfriar e seja delicado ao desenformar
Traga a parte anteriormente guardada
E correlacione os resultados
Quanto ao aspecto: serão igualmente lindos
E absolutamente distinto
Mas os aromas, os sabores... (por outros caminhos)
Também serão capazes de nos aproximar do divino!
28.1.16
The love does not liberate
Pensando melhor
O aparentemente
Deplorável hábito
De colocar de volta na caixa
O fósforo usado
Pode até ter alguns motivos
Para ser justificado
Pode ter sua vida útil estendida
Se servir para trasnferir
De uma boca do fogão para outra
A chama que ele mesmo criou
Podendo assim economizar
Um irmão seu ainda imaculado
Serve ainda para palitar os dentes
E remover aquele resto de comida ordinário
Que depois de escondido
Fica por horas sendo lembrado
Mesmo com o piano brilhando
Já devidamente escovado
E por último charmosamente no canto da boca acomodado
De um lado para o outro displicentemente deslocado
Desde que nas orelhas não tenha sido previamente usado
Incutindo no cidadão um certo ar de graça e informalidade
Provocando suspiros nas moças que passam
Em frente ao boteco do bairro
Sem dúvidas
Diante desta argumentação inquestionável
Vejo que lugar de fósforo usado
É mesmo dentro da caixa (seu leito sagrado)
Esperando uma segunda chance
E quem sabe até um uso inusitado
27.1.16
Caramujos
São seres solitários
Não confiam em ninguém
Basta reparar
Que para todo lugar que vão
Sempre carregam consigo
Tudo que têm
E o medo de serem roubados
Quando não estão?
Encaram as relações
Com profundo desdém
Constroem suas casas
Do seu tamanho exato (sem sobrar nenhum vão)
Para que não precisem
Ceder espaço a nenhum outro alguém
E o medo de ficarem pelados (serem desalojados)
Numa eventual desilusão?
26.1.16
Quando desde o início
A amizade é a base
E permeia o amor
É ela quem deverá ficar
Quando ele se for
E se isso de fato acontecer
Depois de superada a dor
Será possível acreditar
Que apesar das estações de frio e calor
Tudo o que foi vivido
Terá sido verdade
Pois amigos
Não temem caminhar sozinhos
Sabendo que quando for preciso
Terão alguém para lhes segurar a mão
E garantir abrigo
Até o fim de mais uma tempestade
Ne pas avoir peur
Melô de um obstetra desencantado
O parto normal é algo lindo de ser observado
Ainda mais no meio da madrugada
Com os olhos desabando de tanto cansaço
Gritos de dor
Urros
Sobressaltos
Um pai fresco e assustado
Querendo desmaiar ao meu lado
Num esforço supremo
Para conseguir atrapalhar o meu trabalho
Não entendo como alguém em seu pleno juízo
Opta por se submeter a algo
Tão animalesco e primitivo
Tamanho descalabro
Sendo tão fácil resolver as coisas
De forma mais simples e civilizada
Com uma cesárea de horário marcado
O períneo quase estourando de tão esticado
Uma bola de pelos brotando por aquele enorme buraco
Que vai se transformando em algo cada vez maior
E de modo quase inacreditável
Cabeças-tronco-membros vão se configurando
Ao serem expulsos daquele ventre deformado
Sangue
Fezes
Flatos
Fluidos urêmicos em jatos
Insistem em ser coadjuvantes no ato
Me buscando como alvo
Abrilhantando a pirotecnia do espetáculo
Confetes e serpentinas para o neonato
Um banho de humildade
Bênção para o rebento
Este tão amado ser
Agora recém-chegado
Já com o concepto
Chorando a plenos pulmões
E do cordão umbilical desligado
Chega a vez do segundo parto
É necessário que a placenta seja expulsa
Em cumprimento ao último passo
Não demora muito e já a tenho em mãos
Disco macio e esponjoso
Que nem ao menos me parece apetitoso
Mas que tanto oxigênio e alimento levou para o feto
Enquanto ainda era apenas um mero projeto
Serve como comida no pós-parto imediato
Para as fêmeas de algumas espécies mamíferas
Ato que vem sendo copiado por certas mães naturalistas
E ainda assim querem que as consideremos humanas
Mas a esta hora da noite
Isso não é assunto a ser discutido
É melhor parar de pensar nisso
E voltar a dormir
Dando o caso por encerrado
22.1.16
Let's move on
For de spetacle of life
Can not stop
Despite the wind storms
That in de opposite direction
Increase the fatigue
And the weith of our feelings
The chains attached to the ankles
Linking our bodies at our graves
And the ghosts relatives
Paralyzing our minds
The narrow corridors this castle of the fears
We have to drag us
Without even knowing
Why and where will we arive
Mulher demais na vida de um homem
Pode até iludir
Fazer o ego inflar
Mas é efêmera demais a calmaria neste mar
No início tudo é divertido
Aceita comer e comer
Nem pensa em recusar
Emoções aos borbotões
Sabores até então desconhecidos
Espumantes finos e muito o que comemorar
Iguarias das mais raras
Vinhos de todas as terras e castas
Começa então a engordar
E seguem-se os almoços a não mais caber
(- Parece até que não gostou do que eu preparei!)
Jantar sobre jantar
Dias de trabalho, madrugadas em claro
Corre pra cá, equipamentos a pleno vapor
Corre pra lá, algorítimos funcionando sem parar
Tem que comparecer
Gerar encantamento
Dar um jeito de sempre inovar
Mas como em tudo que é exagero
Com o tempo a graça vai se perdendo
E o entusiasmo começa a faltar
Vai ficando disperso e enigmático
Com o discurso fragmentado e errático
E pelas evidentes trapalhadas agora precisa se desculpar
Dorme em qualquer canto
Olhos fixados no infinito sem nada enxergar
E no fundo das órbitas querendo se alojar
A pele amarela e descora
O humor sofre reveses a qualquer hora
E incidentes mínimos o fazem reclamar
Em desespero vê que o castelo de cartas
Que antes só lhe dava orgulho
Não consegue mais se sustentar
É quando resolve abrir o jogo
Pedir socorro por não saber o que fazer
E não mais aguentar
Aí corre o risco de ter seus argumentos rejeitados
Seu arrependimento desacreditado
Acabar sozinho sem ter em quem se aninhar
E até de morrer de fome
Olhando para uma mesa farta
Mas proibido de tocar
21.1.16
Elle exigé de voir ma bite
Ela exigiu ver o meu pinto
Eu lhe disse não
E que naquele momento
Ele não se achava em condições dignas
Para garantir a sua diversão
Ela sempre sabe quando minto
Não aceitou a negativa
E tratou de conferir
Com a própria mão
Com a própria mão
A mão direita do artista
Na hora do clímax
Não achou a barra do trapézio
Falhou a sincronia
O problema é que como no ensaio
Na esquerda ele já trazia alguém
E era a maior estrela da companhia
A manobra era nova
Envolvia um enorme perigo
E em todos uma crescente expectativa
.
.
.
Ainda bem que o dono do circo
Proibiu que a trupe
Se arriscasse em demasia
E a execução sem rede de proteção
Só poderia acontecer
Se fosse perfeita a primeira tentativa
19.1.16
Thank you for your concern
Jamais existirão dois amores iguais
Ainda que um elenco deles
Já tenha desfilado no coração
De um mesmo elemento
Isolados
Enfileirados
Ou muitos ao mesmo tempo
Cada um com seu gosto
Seu tônus
Seu cheiro
Todas as temperaturas do espectro
Tons aberrantes ou discretos
Notas puras ou acordes perfeitos
Cada um com seus rompantes de paixão
Intensidade de luz
Velocidade e encantamento
Os atrasados
Os apressados
Os que abusaram de seus direitos
Os que no inverno nos agasalharam
Os que nos levaram para o espaço
Os que à primeira vista reconhecemos
Os que no inverno nos agasalharam
Os que nos levaram para o espaço
Os que à primeira vista reconhecemos
Os que se arrependeram e recuaram
Os que se julgavam eternos
Os que quebraram primeiro por dentro
Amores mais breves
Aqueles que nunca se esquece
E os que causaram tanto sofrimento
Os que foram solidários
Nos resgataram do fundo do buraco
E ensinaram tudo o que sabemos
Os que nos deram muitas alegrias
Os que são só nostalgia
E os que tudo misturam e continuam valendo
Não foram frações de amor
Se foram verdadeiros
Podem ser considerados inteiros
E quem viveu ao menos um grande amor
Não tem do que se lamentar
Pode se considerar um ser humano pleno
Só deveria realmente se preocupar
Quem se aproxima do fim e ainda não conseguiu amar
E continua a afirmar que está vivendo
18.1.16
15.1.16
O amor-perfeito
14.1.16
Na mesa de um bar
Há olhos que voltados para os próprios intestinos
Só sabem se embebedar
E mantendo-se assim torporosos
Estão incapazes de enxergar
A pele morena e cheirosa
Os cabelos soltos
E o rebolado libidinoso
Que acabaram de passar
Ainda que tenham se esforçado
Em se fazerem notar
Já se distanciam
Sem que alguém os queira reverenciar
E é por isso que para este grau de miopia
Em relação às coisas boas da vida
Só lhes reste mesmo uma coisa a fazer:
Reclamar
13.1.16
Minha Primeira namorada
Nunca pude te agradecer ou saldar
Pelos preciosos ensinamentos que recebi
Neste porto seguro de onde um dia parti
Desfiando promessas de voltar
Descobertas inusitadas
Mãos que me conduziram com calma
Sabedoria e graça
Por rotas tão bem desenhadas
A ingratidão me fez esquecer o teu nome
E até mesmo o teu rosto
Pois não tenho mais como saber
Aonde está aquele retrato
Que tanto trabalho me deu para roubar
Mas aquele corpo...
Aquelas explosões de gozo...
Hoje são lembranças guardadas num pequeno porta-joias
Pedras preciosas que na estante das memórias
Vez ou outra faço questão de visitar
12.1.16
No barco do amor
Se a carga de intimidade
For pesada demais
Há o risco
De o casco rachar
E tudo acabar perdido
No fundo do mar
11.1.16
Je ne sais pas bien ce que vous vouliez
Ah, se eu pudesse...
Somente te ver
Mas não resistisse
E me atrevesse a te beijar
Pela ousadia
O teu perdão eu pediria
E te deixaria minha língua cortar
Afinal, para que serviriam palavras
Se eu pudesse ainda te contemplar
Ah, se eu pudesse...
Além de te ver
Também te beijar
Mas não resistisse
E me atrevesse a te tocar
Pela ousadia
O teu perdão eu pediria
E te deixaria minhas mãos cortar
Afinal, para que serviria o tato
Se eu pudesse sentir o teu gosto
E ainda te contemplar
Ah, se eu pudesse...
Além de te ver
De te beijar
Também te tocar
Mas não resistisse
E me atrevesse a te bolinar
Pela ousadia
O teu perdão eu pediria
E suplicaria para que meu brinquedo
Não necessitasses cortar
Não necessitasses cortar
Em troca eu te daria meus olhos
Minha língua
Minhas mãos
Afinal, seriam para mim suficientes
Sentir-te e ainda poder te imaginar
Mas não gostaria que de pronto
Da forma como te proponho
Tudo tivesses que aceitar
Pediria que resistisses um pouco
Usando de tua delicadeza
Para sutilmente me afastar
E eu insistiria em me acomodar
E tu continuarias a me tirar
E eu novamente a me recolocar
E tu ameaçando me escapar
E se de fato este jogo do amor
Atendesse ao teu prazer
Apenas um favor eu iria querer
Que começássemos do começo
Fôssemos num crescendo lento
E seguíssemos acelerando
Até que não mais conseguíssemos aguentar
Para que quem sabe assim juntinhos
A natureza nos pudesse iluminar
8.1.16
Despejo aqui no branco imaculado
Insigths juntados
Vestígios de casos contados
Fios multicoloridos e muito enovelados
Profundamente depositados
Com muito custo desembaraçados
E para a luz do dia resgatados
Os elementos aproveitaveis são desempoeirados
O verniz é retocado
E os fragmentos todos alinhavados
Transformo o conjunto em memórias e fatos
Meus ou de qualquer outro vivente desgarrado
Mesmo que (quase sempre) sejam inventados
Para que com os olhos possam ser engolidos
Absorvidos ou vomitados
Mas que não deixem (no íntimo) de causar algum
impacto
7.1.16
Na complexa geometria das relações
O centro do triângulo
E é a referência para o coração
Quando fixa a ponta seca do compasso
Permitindo que o grafite
Viaje com segurança e precisão
Desenhando um círculo no espaço
Tangenciando arestas
Encurtando caminhos
Criando novas possibilidades de contato
Entre elementos que mal se conhecem
Mesmo tendo tanto para ser compartilhado
E não o fazem por se tocarem só em distantes
pontos isolados
A vida pode se tornar bem mais fácil
Se pudedermos contar com a segurança de um ombro
Uma palavra amiga ou um caloroso abraço
6.1.16
5.1.16
Assinar:
Postagens (Atom)