21.12.18
Na maior parte das vezes
Ninguém gosta de abandonar o seu lugar
O sujeito sai contra a vontade
Por exemplo do campo para a cidade
Não para enxergar outra realidade
Mas porque lá onde nasceu
E se reconhece
Esgotaram-se as possibilidades
Vencido pela fome
Pela guerra
Pela ganância
É convencido a migrar
Este drama
Disseminado pelo mundo
Fere fundo
Destrói vidas
Arruína culturas
Fratura comunidades
Compromete identidades
Não é recente
É vivido desde sempre
Desde que que existe a humanidade
20.12.18
19.12.18
Onde um dia
Existiu o amor
E nada mais pode ser encontrado
Alguns seres de sensibilidade rara
E instintos apurados
Conseguem perceber notas sutis
Sinais esparsos
Vestígios voláteis
Do que ficou no passado
Verificam que em algum lugar resiste
Ainda que esteja soterrado
Pois quando o sentimento é de verdade
Não tem como morrer sufocado
Sempre deixará saudade
Uma forma de existir é ser lembrado
18.12.18
17.12.18
Hoje
A exceção está se tornando a regra
O anormal virando o normal
O mundo é quase todo virtual
Mas ainda há tempo
De evitar o aprofundamento deste mal
Resgatando um maior contato com o mundo real
Reconectando o homem com a natureza
Para que ele não se aliene de vez
Para que ele não adoeça
Para que ele não enlouqueça
Para salvaguardar a sua essência
Criando limites para a inteligência artificial
Sob o risco de que um dia
A humanidade seja definitivamente escravizada
Ou desapareça
14.12.18
In relation to our love
It is difficult to define
If we are
At the end
From the beginning
Or at the beginning
Of the end
13.12.18
Não tem jeito
Passa o tempo
Passo por tantas outras, mais jovens
Com promessas de novos horizontes
Outros encantamentos
Mas retorno sempre pra ti, mala querida
Minha boa e velha amiga
Companheira fiel de longas jornadas
Resistente impávidas às chuvas e trovoadas
A última encerrou ontem
Sua curta empreitada
Quebrou-lhe a alça
Deixou-me na mão
Perdeu a função
Quedou-se em casa
Reduzida a uma caixa vazia
Triste e desamparada
Não deixará saudades
Não tivemos tempo de criar intimidades
Mas maleta frágil, esteja tranquila
Não ficarás oca assim por toda a vida
Já pensei para ti uma outra serventia
Abrigarás nossas fotos antigas
Servirás como o fiel guardiã
De nossas memórias mais queridas
12.12.18
Se foi pra valer
Tudo o que aconteceu
Independente do tempo ou lugar
E se alguma coisa ficou
Que ainda valha a pena cultivar
Então desce e abra a porta
Para que eu possa entrar
11.12.18
O que sinto por ti
É diferente do que sentes
É maior
É mais intenso
E temo que seja assim para sempre
E como não o sentes
Em igual medida
Sei que não me entendes
Pois só ama quem sente
Aceito até que não me entendas
E não há como ser diferente
Mas se ao menos me acreditas
Isto me deixaria bem menos descontente
10.12.18
Hoje no castelo
Quem da as cartas
É o obscurantismo e o retrocesso
O berço esplêndido está repleto
De parasitas, oportunistas e mascarados
O templo foi devassado e recebe
Toda a sorte de mercadores e vendilhões
E sem que ninguém os expulse à chotadas
Saqueiam livremente o que não lhes pertence
Nos domínios do reino
A porção do povo que não foi enfeitiçada
Sente-se perdida
E está paralisada pelo medo
O demiurgo tosco e descontrolado
Sem estatura para portar cetro e coroa
Não consegue perceber
A dimensão do embaraço que um rei precisa resolver
7.12.18
Me desprezas
Como se eu não mais existisse em tua vida
Não quero chamar tua atenção
Mas se quisesse
Facilmente conseguiria
Me bastaria
Publicar tuas fotos
Te denunciar pros amigos
Te ofender de forma cruel e fria
Abrir nossos e-mails
Espalhar nossos segredos
Gritar embaixo da tua janela
Rasgar a roupa e ficar nu na portaria
Atravessar fora da faixa
No exato instante
Em que aceleras e passas
Quando pela manhã vais à padaria
Mas loucura nenhuma me adiantaria
Mesmo que entendesses o meu desespero
Me perdoasses e me aceitasses de volta
Prometendo devolver a minha alegria
Eu não conseguiria retornar
Pois não teria como viver e sofrer
Um novo aborto amoroso
Isto definitivamente eu não aguentaria
6.12.18
Nous étion ce que nous étions
Nous sommes ce que nous sommes
Ou ce que nous pourrions être
Après tout, vivre
Est d'avoir à choisir
Mais ce que nous sommes
Nous sommes pour de vrai
Et ce que nous étions
Nous ne reviendrons jamais
5.12.18
4.12.18
Mesmo na manhã mais cinzenta e fria
É possível encontrar uma corzinha
Deixar-se iluminar pelos olhos
E esforçar-se para aquecer um pouco o dia
3.12.18
Cicatrizes são inúteis
Quando a mão
Que empunha a lâmina
De um dado sentimento
Ainda não foi amputada
Porque súbito
A qualquer momento
Pode vir
Uma outra navalhada
30.11.18
O Amor
Exige coragem
E capacidade de improvisar
Chega sempre sem avisar
Para que não consigamos nos preparar
Aí precisamos reagir
De forma rápida e precisa, sem titubear
Sob o risco de que o trem passe
E deixemos de embarcar
29.11.18
No amor
Quase nada é possível
Planejar
Mas nem por isso
Necessariamente
Ele se torna frágil
Ou está condenado
A fracassar
28.11.18
Enquanto vejo que falas
Estando à tua frente
Não ouço as palavras
Passa um filme em minha mente
Já muito conhecido
Que ficou em cartaz
Por um tempo longo, mal definido
E que não deixou saudades
Mas sim cicatrizes evidentes
Eu deveria saber
Que numa situação assim
Eu jamais conseguiria ficar indiferente
Que tudo voltaria a acontecer
Inevitavelmente
Então por que correr o risco
De reviver o previsível
E sofrer tudo novamente?
27.11.18
Tempos de ódio?
Tempos de dor?
Sim, mas o ódio é um equívoco
Falível e vazio
Não se sustenta
E toda dor é efêmera
Uma hora passa
Mesmo que alguns duvidem
Ou queiram que isto nunca aconteça
Só o amor merece ser perene
Mas isso requer atitude e resiliência
Não julgue nada apenas pelo que vê
Assim você se arrisca a deixar-se iludir pela aparência
Alguém pode estar num duelo feroz
Contra um facínora sanguinário
Ou pode estar apenas amanado
Precisando de respeito e privacidade
Pode também estar ajudando a um amigo
Numa travessia difícil
Em que ninguém mais tenha conseguido
Enxergar a sua deficiência
Muitas são as leituras possíveis para qualquer cena
Quando não se tem clareza
Por isso, antes de tudo, tente ser justo
Agindo com serenidade e prudência
26.11.18
L'amour
Quand il est réel
Il accepte pas attendre
Tout est pour 1'instant
Il doit arriver
Peu importe
Ce qu'il doit faire
23.11.18
Vous puvez
Diviser votre boisson
Avec quelqu'un qui vous intéresse
Passer le vin de bouche en bouche
Partage le même lit, la même tasse
Mais c'est seulement avec moi
Que l'ivresse vous met en état de gâce
22.11.18
Só há perdão
Em apropriar-se de uma boa história de vida
Se for para recontá-la de forma criativa
E de preferência (como no meu caso)
Enriquecida como poesia
21.11.18
Não me é possível
Completar alguém
Por mais que tente
Quando minha própria incompletude
É permanente
19.11.18
She loved him
How she never loved anyone
She told you
What she never told anyone
She trusted
How she never trusted anyone
She was disappointed
How she wasnever disappointed with anyone
She suffered
How she never suffered for anyone
But she's still alive
Stronger than ever
And with all her wounds healed
Great loves are like this
They come
Cause a storm in our lives
And we almost stopped believing
What a day will como back to calm
14.11.18
O que precisas fazer
Para apagar os vestígios daquela paixão
Tatuagens impregnadas
Nos teus vincos de expressão
É pensar no tempo que passou
Permitir que novos ventos te acariciem o rosto
E aquietem o teu coração
Pois ao relaxares a face
Serenarás tua alma
E tuas últimas lágrimas secarão
Guardarás apenas as lembranças do que foi bom
Resgatando a tua tão preciosa paz
Tirando de vez o peso das palavra perdão
13.11.18
12.11.18
9.11.18
Não quero ser o seu amor
Não quero encher a sua barriga
Aceito tudo
Só não aceito
Não ser nada em sua vida
8.11.18
Tout être que aime
Mérite d'être aimé
Et en plus d'être aimé
Il a besoin de savoir qu'il est aimé
Car ce n'est qu'en étant aimé
Et il sachant qu'il est aimé
Il est possible de se sentir bien en amour
7.11.18
A sensibilidade do artista
É o que o faz artista
E o conduz à arte
O artista é um ser solitário
A criação e o sentir são solitários
Ele é o que sente
E só é porque sente
O artista só existe na sua arte
Que só existe pra quem sente
O artista é efêmero
É o seu legado que fica
Legado que só persiste se for verdadeiro
E fizer sentido
E só faz sentido
Quando é a expressão sentida do artista
6.11.18
5.11.18
Se mais uma vez
Nos proibirem algumas palavras
Não devemos nos desesperar
Não será por isso
Que deixaremos de nos expressar
Por que dar tanta importância a certas palavras
Se elas em si não são nada?
Devemos enriquecê-las, isso sim
Recheá-las com metáforas
Aí será possível
Transmitir o que queremos
Passando uma mensagem
Mais rica e encorpada
Despertando a imaginação do leitor
Saindo da comunicação objetiva e rasa
Para navegar em planos mais complexos
De uma realidade mais criativa e alada
Assim continuaremos a nos comunicar
Não morreremos engasgados por não conseguir falar
E sobreviveremos enquanto a ignorância
Insistir em nossas casas tentar entrar
1.11.18
31.10.18
Quando tudo é solidão
E o vento
Do que sinto ou penso
Ouço ou vejo
Sopra em mim
Alguma inspiração
Aproveito
Organizo o terreno
É meu momento de criação
29.10.18
O que se passa aqui dentro
É obra e instrumento
De min
Ninguém tem o poder
De determinar ou dizer
O que eu possa
Ou tenha que sentir
26.10.18
Teu rio de lágrimas é contínuo
E deve continuar assim
Chore o que for preciso
Mas nem pense em desistir
Precisamos de você inteiro nisso
Pra podermos resistir
O amor é mais forte que o ódio
Tem mais fôlego
E é menos inflamável
O amor flutua
E pode até voar
O ódio é um barco
Que entra no mar
Com o casco cheio de buracos
Pode demorar um pouco
Mas uma hora ele há de afundar
24.10.18
23.10.18
Se mais uma vez me procuras
Com teu velho argumento
De que precisas de alguém para amar
À frente de minha porta
Não precisas mais parar
Me considere ausente
Por tempo indeterminado e lugar desconhecido
Estou farto deste teu amor
Instável e mal definido
Amores como o teu consomem, esgotam
E colocam a vida em perigo
Deles é preciso manter distância
Pois assim oferecem menos risco
22.10.18
19.10.18
Je ne veux pas savoir
À quelle heure vous vezez coucher
Je veux juste dire combien est bon
Avec vous se réveiller
18.10.18
Não adianta fugir
Não adianta se esconder
Atenuar seu discurso
De ódio absurdo
Evitar comentar
O que vai fazer
A flor vai murchar
Sua máscara há de cair
Seu riso cruel
E suas garras de aço
Logo vão aparecer
Faremos o que for preciso
Para que o sol, a terra e a chuva
Continuem no poder
E que as flores que ainda estão por nascer
Estejam livres de você
17.10.18
Entra, Amor
Não precisa ficar aí parada
Tanto tempo longe de casa
Não estranhe se notar
As coisas um pouco mudadas
16.10.18
Avez-vou peur
Avez-vous peur
De moi
Avez-vous peur
De moi
Ce que je acuse en vous
Avez-vous peur
De moi
Ce que je cause en vous
Ce que vous pouvez sentir
Avez-vous peur
De moi
Ce que je cause en vous
Ce que vous pouvez sentir
Et pour finir malheureux
15.10.18
Poema de amor
É uma representação pálida do amor
Incapaz de deixar sequelas
É a diferença entre morder com a boca cheia de dentes
Ou com a boca banguela
11.10.18
Quando o amor que foi semeado cresce
O olhar se expande
Se enternece
E dá até pra ver
Amadurecerem as abóboras
Os tomates
As amoras
Os morangos
As cenouras
Os rabanetes
As carambolas
Entender a terra, os polinizadores
Esperar pelo sol, pela chuva
Colher o que foi plantado
Sentir-se privilegiado
Por ter um bom alimento
Ter prazer de fato
Em prepará-lo com cuidado
E comer, comer, comer
10.10.18
Por favor me diga
Onde foi parar o verso
Que estava na pauta
Rima de amor
Que me fez tanta falta
Pra preencher a melodia
9.10.18
Pode parecer gula
Mas é necessidade
Tem gente que precisa de mais amor
E mesmo que bem abastecida
Nunca chega à saciedade
Pode parecer pressa
Mas é urgência
Essas pessoas não sabem esperar
Suas necessidades no amor
Não admitem a paciência
Pode parecer doença
Mas é assim que funciona
Para estes seres
O fluxo fresco do amor infinito
E uma questão de sobrevivência
8.10.18
Dans l'art de vivre
Alors que certains s'isolent
Autres ajoutent
Alors que certains expulsent
Autres reçoivent
Alors que certains effraient
Autres se calment
Alors que certains se plaignent
Autres agisssent
Alors que certains craignent
Autres osenti
Alors que certains molester
Autres réparent
4.10.18
Je t'appele en silence
Et je sais que tu m'entends
Pas besoin de me voir
En ce moment
Les mots sont des sources d'inconfort
Accentuer nos douleurs
Ne pas aider à éclairer nos yeux
3.10.18
Je n'ai pas changé
Et que quand passé
Le feu de la passion
Tu as commencé à voir
Que je ne suis pas toi
2.10.18
Não desistirei de encontrar
O que tentas ocultar
Pois sei que mereço mais
Do que a fêmea
Que em ti hoje
Consigo acessar
1.10.18
Eis-me aqui
Ainda ferido
Mas humilde e desarmado
Do jeito que te prometi
Enxuga as minhas lágrimas
No perfume dos teus cabelos
E entorpecido me manterei em silêncio
Me acolhe no teu peito
Cede pra mim este teu corpo quente
E me dá todo o prazer que ainda mereço
Usa de teus gracejos
Alivia a minha tristeza
E faz-me rir
E eu ficarei aqui
Pelo tempo que quiseres
Te admirando como sempre fiz
28.9.18
Ao fim da escalada
Só restam
Dois caminhos
A imensidão da queda
O desconhecido
Negando que aqui
Ainda haja algo a ser aprendido
Ou voltar ao ponto de partida
E esperar por um novo desafio
Carregando na bagagem
Tudo o que foi vivido
27.9.18
Le dos
Et l'anvers
Le secret
Et l'explicite
Le sacré
Et le profane
L'espirit
Et la chair
Le pouvoir de l'amour
Et le don de la création
La présence du féminin
Partout
26.9.18
25.9.18
É preciso
Que partilhes com alguém
Teus assuntos mais íntimos
Questões de mulher e do ser
Pontos trancados e escondidos
Para que te entendas
E ganhes confiança
Nas coisas que te assustam
Representando perigo
Mas para isso precisas que te amem
Como amante e amigo
E que permitas ser ajudada
A ter teus receios resolvidos
24.9.18
21.9.18
J'essaie de ne pas dormir
Sans se souvenir de toi
J'ai peur
De te saisser échapper
Et te perdre
Même de pensée
Lorsque la plongée
Dans le sommeil profond
Et pas de retour
D'oublier
20.9.18
Agora que a primavera vai chegar
Esperamos encontrar
Mais sempre-vivas
E menos violência
Mais gardênias
E menos prepotência
Mais verbenas
E menos incongruências
Mais hortênsias
E menos decadência
Mais açucenas
E menos insolência
Mais rosas
Brancas, amarelas, vermelhas
19.9.18
Preciso te ver
Pelo menos mais uma vez
Não me negue esse pedido
Só nós dois
Sem nenhum intrometido
Preciso te abraçar forte
Pelo tempo que for preciso
Possivelmente vamos chorar
Temos direito a esse alívio
Não será preciso falar
O mais importante será ficarmos juntinhos
Para depois seguirmos em paz
Com a certeza de que nada ficou mal resolvido
18.9.18
In questo amore
Quanto più schiavo
Più tesori trovo
Al punto de non voler sapere
Cosa c'è dall'altra parte
17.9.18
14.9.18
Niente per caso
Niente pensato
Chi domina il sentimento?
Cosa doveva succedere
Successe
Tutto fatto
Sebbene non soddisfatto
13.9.18
Un edificio en ruinas
Un castillo vacío
Y con un viento frío
Calcinando mi cara
Al soplar las cenizas
Fue así que me sentí
Cuando finalmente entendí lo que sucedia
Al buscarte en vano del oto lado de la cama
Sabiendo que aquí nunca más estarías
12.9.18
Alguém que passa a vida inteira
Sem viver um grande amor
É como se tivesse vivido uma eterna doença.
Mas o problema maior não é encontrar o amor
É mais comum que as pessoas não se permitam
Viver o amor quando o encontram.
Enxergam problemas onde eles não existem.
Sacrificam a oportunidade de serem felizes
Em nome de responsabilidades inúteis
E obstáculos que não lhes pertencem.
Não se permitem mergulhar
De forma inconsequente
Nessa coisa doida que é amar cegamente.
O amor é necessário para justificar a vida
E nos dar a certeza
De que valeu a pena respirar.
Porque lá na frente
Quando sozinho olhar para trás
E constatar o que deixou de fazer
Não tendo nem ao menos uma mísera história pra contar
Verá que viveu somente para respeitar normativas
E atender a conveniências
De quem nem ao menos com ela se importou.
Pois na vida a coisa mais importante que se pode ter
E que ninguém nos tira
É o que se ganha ao viver um grande amor
Amor que nos transformou
E que estará sempre lá dentro
Cuidadosamente guardado
Para quando precisarmos dele
O tenhamos para ser lembrado.
11.9.18
10.9.18
6.9.18
É impossível
Repassar tudo o que foi vivido
Durante esta meia vida em que não nos vimos
E mesmo que fosse
Que importância haveria nisso?
O que mudaria em nós
Saber de fatos, locais, entes falecidos?
O importante é o que somos hoje
Não o que fomos ao longo do caminho
É bem verdade que há um certo zinabre a ser retirado
Para que o fluxo de corrente possa ser restaurado
Mas ainda que se passem mais cem anos
Sempre será um mistério aquilo que nos mantém unidos
Calma, sossegue sua lógica, sua fúria, seus instintos
O sentimento é para ser degustado
E e não espremido entre os dedos da mão
Escorrer e acabar perdido
O coração é que manda na gente
E o tempo
Ora, o tempo
É só seu humilde serviçal submisso
5.9.18
Ce n'est pas possible aimer qulqu'un
Sans se faire prendre
Sans se rendre
Sans se faire trouver
Pour ensuite se perdre
4.9.18
La poésie
C'est l'art du naif
Qui protégé par le manteau de la prétension
Ils se voient comme des génies
3.9.18
31.8.18
Me reviras
Me arranhas por dentro
Me machucas
Me sangras um tanto
Enquanto tentas sair
É com rabiscos assim
Incompreensíveis
Irrequietos
E ariscos
Que tu poesia
Minha amiga
E maior inimiga
Escapas de mim
30.8.18
Amar é
Saltar de um penhasco
E entrar de cabeça no mar
Ainda que resvalando nas rochas
Mas sem ter como recuar
Avistar ao longe uma ilha
E nadar para ela sem se importar
Se na praia do outro lado
Haverá alguém a te esperar
29.8.18
Até um poeta medíocre
Consegue
Com o amor que não deu certo
Fazer um poema
Minimamente correto
E que impressione
Por guardar alguma qualidade
Mas para fazer poesia
Com o amor devidamente azeitado
Sem ser piegas
Ou excessivamente açucarado
É preciso dominar o riscado
E ter segurança na sua genialidde
28.8.18
27.8.18
Vem e me abraça
Como faz a onda do mar
Sou poste cravado na areia da praia
Imóvel e desejoso de se entregar
Sou ponto para que amarrem as cordas
De quem precisa de apoio
E pela correnteza não quer se deixar levar
24.8.18
Quand
L'amour d'un
Ce n'est pas équivalent
À l'amour de l'autre
Cet amour incomplet
Ne ppeut pas durer
Il n'y a pas de fraction d'amour
C'est indivisible
Et seulement résiste
Si les fidéles de la balance
Ne pas détourner
23.8.18
Na sua relação
Por certo
Faltou encantamento
Do contrário
Não há como explicar
Que um amor assim
Imenso
Que tinha tudo pra durar
Tenha se afogado
De forma tão desastrosa
Não deu tempo
E vocês nem sabiam
Que ele ainda precisava
Aprender a nadar
22.8.18
O que fazer
Com o amor falido
Que não se consegue esquecer?
Fingir que não importa mais
Tentando acreditar que um dia vai desaparecer?
Não se conformar
Estabelecendo uma data para parar de sofrer?
Por que as dores do amor
São tão difíceis de suportar?
Por que o amor é tão cruel com quem ama
Te fazendo cativo pra depois te sangrar?
Não são o sangue ou a dor
Suficientes para o amante abdicar
Só a decepção como o ser amado
É capaz de faze o amor acabar
20.8.18
Quando para sempre o seu amor se for
Mesmo que demore um tanto para passar a dor
Faça logo uma limpeza nas coisas que ele deixar
Não poupe nada, tire tudo do lugar
Guarde para si um ou outro regalo
Doe o que possa ser aproveitado
E o que sobrar, jogue fora sem pestanejar
Mas se tiver curiosidade em olhar
Dentre aqueles guardados mais bem guardados
Detenha-se nos escritos que encontrar
Ficará surpresa em se deparar
Com alguém que de fato não conheceu
E seu que será difícil de acreditar
Mas há de perdoar pois verá que nem mesmo ele se entendeu
Ainda que tenha encarado a vida de frente
E nunca desistido de tentar
17.8.18
Tem gente que ama tanto
Tem facilidade em amar
Sabe fazer o outro feliz
Faz seu amor multiplicar
Quantas vezes precisar
Não coloca limites no amor
Parece ter nascido pra amar
Mas às vezes
Este mesmo tipo de gente
Tão eficiente na arte de se dar
É incompetente em receber
E quando o amor lhe chega
Não sabe como lidar
Se atrapalha toda
Faz repetidas bobagens
Magoa sem querer
Até que foge desesperada
Pois amor assim despejado em cascata
Fere pra valer é impossível suportar
16.8.18
A chuva que cai por aqui é rara
Enquanto que a daí nunca para.
Por isso, tens que estar protegida o tempo todo.
Pode até parecer desvantajoso pra ti, mas pelo menos assim
É possível prever o clima e saber como se deve agir
Contudo, somos um o inverso do outro
Quando o sentimento se enche de nuvens
O vento surge arrastando tudo
E chovem lágrimas aos borbotões
Chorar por qualquer motivo é incômodo
Faz o sujeito ´parecer tolo
Mas não há proteção que possa conter
A força que a tempestade tem quando decide aparecer
Assim, ser um grafite desbotado no meio da avenida
Ou um motorista curioso no trânsito paulista
Na mesma medida que nos aproxima, nos afasta
Deixando claro quem somos e que isso basta
15.8.18
Para amar de verdade
É preciso atenção
Controlar a ansiedade
E seguir um certo ordenamento
Usar o coração
Entregar-se com vontade
Sem deixar de lado o pensamento
Pois assim que acaba a paixão
A massa como o fermento do amor
Pode ainda estar se dsesenvolvendo
E o pão que precisava de mais tempo e forno
Para ficar pronto
Acabar desandando sem virar alimento
14.8.18
Amor é como brasa
Passado o fogo da paixão
Se cobre de cinzas
E se aquieta
Por um longo período
Poupa suas energias
Mas está lá
Ainda vivo
Para fazê-lo despertar
Basta remexer um pouco
Assoprar um tanto
Uns gravetos e pronto
O fogo retorna vívido
Disposto a queimar
O que for preciso
13.8.18
Lábios colados
Línguas dançarinas
Gravidade zero
Pressão negativa
Olhos fechados
Abraço apertado
Fluidos fluindo
Para todos os lados
10.8.18
9.8.18
8.8.18
Non è mai facile
Portare sul petto
Un grande amore
Ci sono momenti
In quale è insopportable il dolore
Nell'altro
Senza prima davvero avvertire
Accelera
Perdi il ritmo e può smettere di lavorare
7.8.18
Cada vez que um pobre morre
É um pobre a menos
Mas também é um pobre a mais
É mais um pobre que morre
Da África para a Europa
Morrem tentando atravessar
E morrem aos milhares
Humanos incógnitos
Abandonam tudo
Fugindo da guerra e da fome
Aqui não é diferente
A guerra no campo e nas cidades
Mata legiões de seres frágeis
Assim as diferenças se intensificam
E as fronteiras que deveriam ser só culturais
Tornam-se mais econômicas e políticas
Cada vez que um pobre morre
Quem morre um pouco mais
É a humanidade
E quanto mais morre a humanidade
O humano fica mais pobre em sua diversidade
Fica mais pobre em sua dignidade
6.8.18
Tentarei dormir agora
Buscando te encontrar em meu sonho
Como se nada tivesse mudado
Procurando por teu corpo quente
Teu hálito morno e adocicado
Pois nessa porção do universo
Tudo em que toco está gelado
Um ambiente glacial e desértico
É como hoje entendo a nossa cama
E nem um milhão de cobertores
Mantas e pijamas
São suficientes para me aquecer
Se não tenho mais o teu abraço
3.8.18
Quand je t'ai prévenu
Que je partirais
Ne jamais revenir
Tu ne m'as pas demandé
Pour moi de rester
Sià ce moment même
Tu me demande
Bonne vie
Je restarais
Ambrassé a une raison concrète
Pour continuer à t'aimer
2.8.18
1.8.18
I knew it
That everything was going to end like this
I realized that
Since the last time I saw them
]Today she's here and he's there
And both carry an immense void
Within themselves
That so far
It proved impossible to heal
31.7.18
Je demande le respect
Car si dans ce monde
Il y a un sujet
Qui t'a vraiment aimé
C'est moi
Et donc je crois être
Digne de reconnaissance
30.7.18
27.7.18
26.7.18
Nous sommes humains
Pour ce que nous ressentons
Pas nécessairement pour qui nous pensons
Ei ni par comment nous agissons
25.7.18
Espera, espera, espera
E como dói
A lentidão
Com que gira a esfera
Espera, espera, espera
Trissílabo de sentido primitivo
Que sequestra a calma
Cumprindo funções de megera
Espera, espera, espera
Atributo restrito a tempos idos
Que hoje presenteia quem ama
Com o carinho das feras
24.7.18
Advertência
Impossível de não ser ouvida
Por todos que estavam no elevador
Numa manhã muito fria
Dado que foi dita
Com pronúncia alta e nítida:
"Querida
Você é uma péssima amiga
Mas tua sorte
É que gosto muito de ti
Por isso
Quando marcamos de nos encontrar
Perdoar-te é um desafio
Que preciso vencer
Até a partida"
Agora me diga:
Que cara necessita fazer
Quem presenciou a cena descrita
Quase sem conseguir disfarçar a vontade de rir
No fundo agradecendo a quebra do gelo
E tentando não olhar na direção da que estava sendo repreendida
23.7.18
Comment il n'y a plus de nous?
Bien que notre amour
Est limitée ao passé
Il existe encore
Et in ne peut jamis être méprisé
19.7.18
Aos poucos pude perceber
Que por mais criativas que possam ser
As histórias inventadas
As histórias contadas
Elas jamais alcanção a riqueza
Das histórias vividas
Ainda que destituídas de sentido ou mutiladas
18.7.18
S'il te plâit
Ne me critique pas
Ne me condamne pas
Ne me pardonne pas
Accepte moi juste
Et laisse moi rester ici
Sans rien parler
Niché avec toi
17.7.18
Não vejo mais
No teu olhar
A delicadeza que tando me fascinou
Nos dias que não têm como voltar
A chama acesa do amor
A vontade de se doar
O sorriso fácil e sem dor
O abraço pra aquecer e abrigar
O solo se desgastou
A terra de tão seca rachou
E agora temo
Que tenhas sido
Brutalizada pelo tempo
Pois não encontro em ti
As sementes que reservamos para plantar
E se não as temos
E não nos ajuda o terreno
Tudo o que podemos cultivar
É o frio
O silêncio
A sede da indiferença
E a fome de amar
O sol já está se pondo
Não há porque esperar
Por isso com bolhas nas mãos
As pálpebras pesando
E as ferramentas nos ombros
Carregado de tristezas
Prefiro me afastar
16.7.18
Quem
Nunca partiu
Sem pensar
Não tem como avaliar
A dor
Que sente
Aquele que se arrepende
Depõe as armas
E decide voltar
Desistindo de tenar esquecer
O seu grande amor
13.7.18
12.7.18
11.7.18
Não permita que a infelicidade
Se deite em tua cama
Pois se ela ficar bem acomodada
Fará de tua casa sua morada
E se autoproclamará tua dama
10.7.18
A porcelana
Que um dia foi quebrada
Ainda que perfeitamente colada
Jamais conseguirá esconder
Todas as suas marcas
Um olhar atendo achará as cicatrizes
E nelas lerá as histórias que estão gravadas
5.7.18
Preciso desesperadamente falar de nós
E tem que ser sem demora
Antes que nasça mais um dia
Antes que me termine a vida
Preciso desesperadamente falar de nós
E tem que ser com você
Pois no que sinto
Ninguém mais vê sentido
Preciso desesperadamente falar de nós
E ter que ser agora
Antes que termine o dia
Antes que me nasça outra vida
4.7.18
Vi em ti muito mais
Do que qualquer outro viu
Dei pra ti muito mais
Do que qualquer outro deu
Ficou evidente
Que nada entendeste
Não conseguiste carregar tudo que recebeste
Com a carga de sentimentos
Que era só para ti
Não soubeste lidar
Despejaste tudo ao mar
E o resultado foi este:
Foste embora
Afirmando taxativamente
Que era para sempre
Hoje, continentes nos separam
E sem barco ou porto
Não há como iniciar uma jornada
Fico aqui
Na beira da praia
Olhando sóis que se põe exaustos
Esperando por estrelas
Criando raízes na areia
Engrossando o tronco
Formando uma frondosa copa
Refúgio de pássaros
Que migram cansados
E sombra para outros amores
Talvez mais promissores
3.7.18
O amor
Que ao longo dos anos
Construímos
É nossa fortaleza
Ele nos abriga
Nos mantém vivos
Nos sustenta
Nos qualifica
Nos deixa tranquilos
Nos referenda
Nos faz quitar as dívidas
E superar quaisquer empecilhos
Com quem quer que seja
2.7.18
Ne sois pas triste, Chérie
N'existe pas pour toujours
Ni plus jamais
La vie est un cicle
Et certainement
Un jour nous nous reverrons
Dans ce même chemin
29.6.18
28.6.18
Vai
Segue o teu caminho
Quem te recebe agora é o mar
Vai e não olha pra trás
Pois este coração para voltar a bater
Precisa se esvaziar
26.6.18
Guarda noturno
Que zela pelos sentimentos
Percorrendo sempre o mesmo circuito
Considerando-se vivo
Por ter na boca um apito
Avisando a todo mundo:
- Meia noite e tudo está tranquilo!
Assim desaparecem os teus medos
E tens atenuados os conflitos
25.6.18
O que importa agora
Quem teve ou não razão?
E o que faltou ou sobrou
Em cada coração?
Será que não existe amor
Que consiga acabar
Sem necessariamente machucar?
E será que essa dor
Que em nós se alojou
Um dia haverá de passar?
22.6.18
Não vejo motivo
Para que você precise ser perdoado
O coração não ouve sermão
E desobedece ainda que seja torturado
Não se sinta culpado
Pelo simples fato
De estar apaixonado
Mesmo que o amor que o mantém fisgado
Seja proibido pra você
E nasça já sabendo estar desenganado
21.6.18
20.6.18
Tout ce chaos évidente
Cette irratrionalité
C'est l'argument
Le plus convaincant
Que le monde
Ne peut pas avoir été créé
Par quelqu'un
Cela peut être considéré
Omnipotent
19.6.18
Não conseguimos
Querida
Ficar juntos nesta vida
E agora
Com tanto amor acumulado
Temos créditos de sobra
Para podermos gastá-los
Em muitas outras vindas
Caso no futuro
Novamente
Voltemos a caminhar
Pela mesma trilha
18.6.18
12.6.18
Para reconhecer um amor falido
Há um teste fácil de se executar
Faça-lhe um corte
Com qualquer profundidade ou sentido
E certamente ele não vai sangrar
11.6.18
7.6.18
Lágrimas
São porções de mar
Que trazemos dentro de nós
Pequenos oceanos
Com níveis controlados
Por sentimentos humanos
Que de quanto em quando
Para não nos afogar
Precisam escoar
6.6.18
No jardim das belezas
A Hortência
Pôs fim à própria existência
Não quis mais saber de nada
A Margarida
Também desistiu da vida
Alegou não aguentar nem um dia depois de abandonada
A Rosa
Mergulhou numa depressão profunda, quase catastrófica
Mas felizmente em tempo foi ajudada
A Iris
Adicta numa numa abstinência ingrata
Convulsionou, delirou e acabou internada
A Tulipa
Em ponto de bala, não ouvia nada
Para se acalmar precisou ser imobilizada
A Dália
Quase pulando da ponte
Teve que ser contida e medicada
As flores já não são mais as mesmas
Querem ser vistas além das aparências
Amar e ser amadas
Mas quando colocam isso como exigência
Descobrem a crueldade da existência do pouco
Ou até mesmo do nada
Aí desabam vencidas
E inconformadas veem murchar uma a uma
Antigas certezas acumuladas
5.6.18
Détache tes dents de mon cou
Et tes griffes de mes épaules
Je dois partir
Et laisse toi
Exactement comment je t'ai trouvé
Sans une goutte de mon sang
Sans l'influence de mon regard
4.6.18
No soy de juzgar a nadie
Pero ese desprecio
A que me condenaste
Sólo es perdonable
Si estás en profunda catatonia
O ya te has suicidado
30.5.18
Não tinha mesmo como durar mais
As coisas estavam todas em seu lugar
Mas ao mesmo tempo não estavam
Foram se apagando pouco a pouco
Deixando oca a nossa casa
Tudo se transformou em lembranças
Foste embora tão rápido
Que o vento se encarregou
De apagar o teu rastro
Tanto que hoje só me lembro
Do rádio ligado
Da luz acesa do quarto
E da porta aberta do armário
29.5.18
Pra que saber
Teu endereço terreno
Se há tanto tempo
É acima das nuvens que estás
E nem ao menos
Planejas voltar
28.5.18
Há uma indiscutível relação
Entre a terra
E os seres da terra
Sempre que preciso de um pouco dela
Eu a retiro lá do sítio
E não é por acaso
Que com frequência
Me deparo com surpresas
Junto aos sacos
Guardiões atentos
E em posição de defesa
Um dia é uma aranha
Em outro uma serpente
Depois um sapo
Desta vez um lagarto
Guardando com unhas e dentes
O que entende ser seu por direito
Recusando-se a ser saqueado
- Com licença
Valente soldado
Esta terra está sendo levada
Por um motivo válido
Prometo que ficará fora
Apenas pelo tempo necessário
Retornando logo ao seu reino
Com algo digno para ser plantado
25.5.18
Somos artistas decadentes
Na arte de amar
Criminosos reincidentes
Que não aprendem a lição
E não desistem de tentar
24.5.18
Sou como sou
Não consigo disfarçar
Me ame se conseguir
Mas não tente me mudar
Preciso que seja assim
Senão o amor que acaba de começar
Pode já ter que encarar o seu fim
23.5.18
Poetas são loucos
Visionários, nefelibatas
Quase nunca pautados na razão
Flashs de luzes que caminham
Num túnel escuro
Crentes de que serão capazes
De com sua arte
Por fim à escuridão
Têm métodos próprios e inusitados
Não necessariamente lógicos e testados
Ninguém os convence
De nada em contrário do que pensam
Pode obter alguma epifania com a realidade
Mas a transcendência vem mesmo é da ilusão
Da distorção, da provocação e da criatividade
22.5.18
Não consigo mais reconstituir o nosso amor
Pode parecer muito
Mas foi o pouco que restou
Fotos desbotadas numa caixa de bombons
Teu cinzeiro de prata ressentindo a tabaco
Rascunhos de poemas em papeis garranchados
Livros com trechos sublinhados
Algumas roupas amassadas no armário
Fragmentos de nossas árias preferidas
Que o vento traz não sei de onde
E logo carrega pra longe
Lenha na lareira queimada pela metade
Rolhas acumuladas no grande frasco agora empoeirado
A visita da coruja sempre no mesmo horário
Um lenço manchado esquecido no bolso do casaco
São lembranças mutiladas
Já muito distorcidas
De uma história viva que fez todo o sentido
Naqueles momentos difíceis e delicados
Agora vestígios descontinuados
De algo que precisou morrer
Mas não foi enterrado
Sem a tua presença
As pontas não mai se ligam
E tentar entender o que ficou pelo caminho
É perder tempo realimentando o sofrimento
Sem conseguir resgatar nada daquilo que foi válido
Pois uma cerca viva com espinhos protege o que foi bom
Ajudando a manter suas raízes firmemente fixadas no passado
21.5.18
17.5.18
No semáforo
Ele não permite mais ninguém
Não divide seu espaço
Artistas, desocupados
Pedintes, pastores mal encarados
Ambulantes e suas quinquilharias
Todos dali são enxotados
Quando param os carros
Se os faróis estão apagados
Ele ordena que se acendam
Abrindo os braços
Todos lhe obedecem
Como que hipnotizados
É seu direito inquestionável
Como dono do espaço
Autodenomina-se Profeta, o Ungido
E só assim aceita ser chamado
Está incumbido de uma dura missão
Um trabalho que não pode ser delegado
O de salvar o planeta de todo o mal
Usando os poderes que lhe foram dados
Afirma pra todo mundo que nunca mais comerá
Mas está visivelmente esquálido
Porém muito ativo
Impressiona seu olhar injetado
Serpenteia alucinadamente entre os veículos
Com seu corpo sujo e magro
Diz absorver toda a energia de que precisa
Tocando na luz acesa do farol baixo
São suficientes 3 segundo por lâmpada
E não mais que uma por carro
O procedimento exige que fique com a mão espalmada
Sorvendo a energia em contato com o plástico
Nunca mais adoecerá
Só precisa de 20 contatos por intervalo
Viverá para sempre
Se não falhar em seu labor sagrado
Está disposto a servir como mártir
Pelo tempo que se fizer necessário
16.5.18
Chovem palavras
Nas goteiras do meu pensamento
Recolha-as em panelas, canecas, baldes
E quando a tempestade passa
Espero que se acalmem, sedimentem
E só aí corro pra ver o que caiu lá dentro
Com a mão mesmo
Vou separando uma a uma
E as empilho
Fazendo arranjos
Que elas mesmas vão me ditando
Ideias confusas vão ficando claras
Alguns conjuntos começam
A ter novos coloridos
E é assim que acontece pra mim
A magia da multiplicação dos sentidos
É incrível pensar
Que mesmo antes da chuva
Tudo já estava lá
E que me coube apenas a deliciosa tarefa
De encontrar para cada uma um lugar
15.5.18
Para que o amor que não deu certo
Não se arraste por tempo indeterminado
Deve-se evitar o contato
E deixar de alimentá-lo
14.5.18
Mas afinal
O que as palavras precisam ter
Para ser poesia?
Para mim
Só é poesia aquilo que te diz algo
Que te contamina
Não é poesia
Uma pilha ou apanhado
De palavras vazias
Mesmo que estejam arrumadas
De forma bem bonitinha
11.5.18
Amar
Aquilo que definitivamente está perdido
É sofrer sem sentido
Amar
O que nunca mais estará ao alcance da mão
É recusar-se de forma absurda a aceitar o não
Amar
Alguém que te vê como questão encerrada
É condenar a via a uma direção errada
10.5.18
Só não posso me conformar
É que tenhas alguém
Pra te consolar
Naqueles momentos de dor
Quando contigo
Não consigo estar
9.5.18
Parfois
Il n'y a pas de mots
Qui expriment mieux
Un sentiment
Que un regard
Directament lancé
Pour la personne
Qui porte une douleur
8.5.18
A luta interior é constante
Ataque e defesa
Ocorrem a todo instante
Somos bússula de nós mesmos
E a espada é nossa agulha
Tutor que nos faz ver
O melhor e o pior do nosso ser
A concretização da metáfora
Que nos orienta e inspira
Nos ajuda a ter serenidade
No campo de batalha da vida
O Dojo nos dá guarida
Molda o nosso corpo e pensamento
Vivenciamos a harmonia
Melhorando técnica e comportamento
Aprendemos assim a usar para o bem
A nossa energia
Nossas ferramentas são o respeito
A disciplina e o tempo
Temos como base o Budo
E é assim que nasce em nós o Aikido
4.5.18
Querida
Dormes o sono pesado
Dos que deram o sofrimento por encerrado
Te deixo tranquila
Restaurando as forças
E cuidando para que nada te perturbe
Pois quando acordares
Um trabalho hercúleo te espera
Será longa e complexa
Tua volta à própria vida
A mesma vida que deixaste
Enquanto te dominava a paralisia
Sei bem como no teu íntimo lutavas
E sistematicamente eras derrotada
Mas agora considere vencida a catatonia
E eu me sinto feliz de ter te ajudade
A superar a ti mesma
Tua maior inimiga
3.5.18
A humanidade está doente
As pessoas estão doentes
Há uma epidemia de solidão
De egoísmo e narcisismo
Que pode nos levar à extinção
Tudo sob o risco de ser destruído
A tecnologia não tem nos ajudado muito nisso
E talvez até justifique
A ocorrência de tanto suicídio
Respeitando a autonomia
Direito sagrado do indivíduo
Mas ao mesmo tempo
Não podendo ficar indiferente a este limbo
Deixo aqui registrada a minha indignação
Cedendo meus ouvidos e ombro amigo
Para chorarmos juntos se for preciso
Mesmo que nada mais seja possível:
"Meu querido
Acabar pendente
Numa corda
Pode não ser a melhor
Ou a única forma
De por fim
Às Questões pendentes"
2.5.18
Hoje
O Sol resolveu se atrasar
A lua agradeceu e lhe disse:
- Não precisa se apressar
Meu amor ainda está aqui
E quero que demore muito pra partir
27.4.18
Nosso amor
Foi para mim
Uma verdade profunda
Um resgate
Um processo de cura
De inquestionável valia
Que fez renascer meus sentidos
Me devolvendo para a vida
Só lamento que pra você
Pelo que hoje posso entender
Esse amor não foi mais que uma aventura
Uma fantasia
Que com o tempo
Foi se tornando oca
E agora está completamente vazia
26.4.18
25.4.18
Não me atrevo a dormir
Por muito tempo
Para não correr o risco
De te esquecer
Deixando de sentir
Nas pontas dos dedos
Tudo o que tivemos
Hoje
O que mais preciso
É lembrar
E reconstruir
Os detalhes de nós dois
Em cada momento
Só assim
Não ficarei ainda mais só
Do que já estou
Poderei descansar
E conseguirei
Seguir vivendo
24.4.18
Uma cena
Que não me abandonará jamais
Como esquecer
Aquele último olhar?
Que na despedida
Já me dizia:
- Até nunca mais!
23.4.18
Tuas portas
Há tanto tempo fechadas
Já estão com os ferrolhos emperrados
Mas há um movimento lá dentro
E isso é inegável
Ele é crescente
Uma ebulição latente
E a estrutura não será capaz
De segurar tantos sentimentos aprisionados
São incontroláveis e sua força descomunal
A qualquer momento pode explodir os telhados
20.4.18
Para curarse de un amor fracasado
Sólo con un nuevo amor recién conquistado
Si no, en la soledad, el amante siempre se volverá
Para ese amor que quedó mal resuelto en el pasado
19.4.18
Só lamento o que não vivemos
A conclusão a que chego
É que você não me amou
Pois quem ama se entrega
E você não se entregou
Nunca declarou o seu amor
E só agora compreendo
Mas por outro lado
Se não se entregou
Apesar dos apelos
Mesmo havendo amor
Morreremos
Sem ter sido plenos
Não teremos feito jus ao humano que fomos
E regredidos voltaremos
Você no máximo como um anelídeo
E eu como um psitacídeo cantando no poleiro
18.4.18
Em algumas relações
A solidão é tanta
Que há o suficiente
Para encher muitas vezes
A taça de ambos
E ainda sobra pra depois
17.4.18
Não consigo entender
Por que bates
À porta do meu ser
Com tanta insistência
Sem falhar nenhum só dia
Se sempre que abro
Te recusas a entrar
Ainda que eu reforce
O quanto és bem-vinda
16.4.18
Toute histoire
Il devient en fait plus convaincant
Quand qui compte
Le mettre
Quelque chose de lui-même
Bien que subtilement
13.4.18
Sugiro que estejas preparada
E não adianta trancar todas as tuas portas
Pois quando decido amar
Dou um jeito de entrar
Mesmo sem ser convidado
Escalo os muros dos vizinhos
Ando pelos telhados
Desço por chaminés
Encontro janelas semicerradas
Sótãos com claraboias emperradas
Porões com respiros mal fechados
Meu amor não tem como ser barrado
Ele se insinua
Escorre pelos pisos
Se infiltra nas fissuras
E em pouco tempo
Teu território de dentro
Estará totalmente dominado
12.4.18
O lugar da poesia
Não é nos cadernos quase cheios
Nos livros amarelados
No verso das fotografias de outros tempos
Nos cartões postais de tantas idas e vindas
Nas folhas esquecidas nas gavetas
O lugar da poesia
É no sangue que ferve
Nas bocas que não se fecham
No suor que escorre na pele
Nos peitos arfantes
Nas orelhas atentas
O lugar da poesia
É na vida inteira
No que há de importante e na besteira
No interior das cabeças
No que o ser tem de nobreza
No que nos faz humanos e dá sentido à existência
11.4.18
Sentir saudade pra quê?
Só pra reacender o risco
De novamente eu me perder
Já sabendo que vou sofrer?
Saudade é uma forma de ter
Mas também pode ser
A confirmação do perder
Lamento lhe dizer
Mas depois de muito pensar
Concluí que fico melhor se não vejo você
10.4.18
O tempo é ao mesmo tempo
Criador e assassino.
Na medida em que passa, mata a paixão
Para que nasça um amor mais denso e até maciço.
É preciso saber que são esses os sentimentos
Que dão sentido à vida e por isso devem ser vividos.
Mas também lembrar que ambos carregam em si ganhos e prejuízos.
Quem se apega demais à fantasia e ao fogo da paixão
Talvez sinta falta de emoção e não se acostume
Com a singeleza e a serenidade de um amor mais definido.
9.4.18
Sabe por que foi tão difícil
Terminarmos o relacionamento?
É porque não tivemos tempo
De encerrar a fase do encantamento
6.4.18
Quando a questão é sentimento
Faz tempo
Que o tempo perdeu o sentido pra mim
E não me diz mais respeito
5.4.18
Nem todas as cobranças devem ser pagas
Nem todas são justas
São dívidas
Lícitas
Há cobranças que são extorsivas
Essas devem ser ignoradas
E até mesmo esquecidas
4.4.18
Me perdoe o silêncio
Mas é quase inacreditável estar aqui
Depois de tanto tempo
Por isso gasto o puco que temos
Pra ficar apenas olhando pra ti
Isso me acalma aqui dentro
E é suficiente pra mim
3.4.18
Saberes rasos
Que me chegam em cápsulas
Filtros em pilulas
Aceites em comprimidos
Cenários borrados em drágeas
Emplastros hipoestésicos
Sprays de veneno
Gotas de contentamento
Catatonia injetada
Ajustam o parafusos de minha cabeça
Balizando o meu pensar
Interferindo no meu olhar
Com tudo isso, ainda serei eu a enxergar?
2.4.18
O rangido noturno do assoalho
Firme e compassado
Tão conhecido pelos ouvidos
Ecoa pela casa
E traz paz ao coração do filho
São os passos do pai
Na direção do quarto
Ele chega tarde do serviço
Mas não é o andar de um homem cansado
Mas de alguém determinado
Que sabe do seu dever
E sempre o cumpriu com prazer
Sem nunca ter reclamado
Ele chega junto ao leito do rebento
Arruma-lhe as cobertas
Dá-lhe um beijo na testa
E contempla na penumbra aquele rosto delicado
Um serzinho tão inocente
Que não conseguiu esperá-lo acordado
Tem ainda uma vida inteira pela frente
É um diamante bruto a ser lapídado
Sai do aposento silenciosamente
E se recolhe para o merecido repouso
Amanhã acordará antes que o seu pimpolho
Pois não poderá chegar atrasado
Mais uma vez não o acompanhará à escola
Não lhe contará histórias
Não torcerá por ele no jogo de bola
Ou jantarão juntos já de banho tomado
Retornará novamente do trabalho
Tão tarde quanto necessário
E encontrará em casa
O mesmo cenário
Não verá seu moleque crescer
Teme não conseguir estreitar a distância
Que entre eles poderá se estabelecer
Logo logo seu menino será homem formado
E ele já pensa baseado na sua vivência
Em como não repetir a história de afastamento forçado
Que poderá ocorrer quando um neto vier
Engatinhando naquele mesmo assoalho
29.3.18
Hoje estou bem
A febre já baixou
Mas tenho que te confessar
Todo este calor
Só serviu
Pra inflar o meu amor
Fazendo-me querer-te
Ainda mais
28.3.18
Hoje
Me importam menos os mistérios dos planetas
O colapso do universo
Me importam mais o teu calor de fêmea
E o amor que te dedico em meus versos
27.3.18
A vida se esforçou
Em repetir a lição
Não foi por falta de ensinar
Mas parece não ter solução
Nunca consegui amar
Sem me machucar
26.3.18
Cargo en la espalda
Mis antepasados muertos
Y los parientes vivos
Que todavia están a mi lado
No hay manera de escapar de eso
Pues sólo existo
Por ser su resultado
23.3.18
Você não me conhece mais
Hoje nem imagina quem sou
Não tem ideia do que sinto
E em mim nunca confiou
Não vai agora querer
Ressuscitar no presente
Ameaçando o meu futuro
Te enterrei no passado
E o que escrevi na lápide
É definitivo e claro:
"Aqui jaz um amor dilacerado
Não há como fazer julgamentos
O tempo foi implacável
O que hoje temos
É só o resultado
De nossos erros e acertos
Foi válido tentar
Mas a partir deste momento
Nada mais poderá ser mudado"
22.3.18
Bien que je t'aime
Au point de presque mourir
Je ne supporte plus souffrir
La triste conclusion
Dans lequel je n'ai jamais voulais croire
C'est que je suis plus en sécurité sans te voir
21.3.18
O espelho é o mais sincero dos objetos
Sempre de braços abertos
Não esconde defeitos
Não exagera nas críticas
Não dá falsos conselhos
Devolve consciência
Ao ser espelhado
Chamando-lhe à responsabilidade
Sobre o que é observado
20.3.18
Querida
Agora estamos atualizados com a tecnologia
Nossa encomenda acaba de chegar
Um amorômetro novo em folha, uma maravilha
Serve para quantificar o sentimento entre parceiros
E prevenir colapso nos relacionamentos
Estou louco para colocá-lo em funcionamento
É um dispositivo simples
Sem muita dificuldade em ser operado
Vejamos se seguindo o manual conseguimos montá-lo
Aqui diz que ele necessita de acessórios
Que alimentem seu banco de dados
E só assim poderá gerar resultados
Biruta
Bússula
Cismógrafo
Anemômetro
Higrômetro
Barômetro
Balçança
Régua
Plicômetro
Amperímetro
Decibelímetro
Audiômetro
Metrônomo
Cronômetro
E termômetro
Precisa de medições precisas
E tudo deve estar rigorosamente calibrado
Por técnicos qualificados
Todos os parâmetros obtidos serão compilados
E convertidos para uma unidade comum
O sentimentômetro
Depois um software executa um cálculo ponderado
Faz as necessárias correções metodológicas
E gera um índice que será colocado no gráfico
Uma curva de Gauss onde se pode verificar
A posição de qualquer casal em tempo real
Isso tudo não te parece genial?
19.3.18
Confessaste com lágrimas nos olhos
Que sentes saudades
Dos teus amores vividos ou imaginados
São saudades boas
De amores muito bem desenhados
E que em maior ou menor intensidade
Os mantém cuidadosamente guardados
Mas também confessaste
Sentires uma saudade ruim
Que dói sem que tenhas como fugir
Que só é capaz de entender
Quem um dia mergulhou pra valer nesta seara
É a saudade de amar e de saber que se é amada
16.3.18
Tive poucos amores
A alguns deixei ver minhas cicatrizes
Permiti que me enxugassem as lágrimas
E relatei minhas dores
Um ou outro pode conhecer
Os cômodos do meu ser
E desses raros, já não me importa mais
Quem convidei para aqui permanecer
Foram erros e acertos que no passado
Me ajudaram a crescer
E a descobrir quem sou de fato
Hoje fazem parte da minha história
Me orgulho em tê-los vivenciado
Ficarão guardados para sempre na memória
Meu patrimônio amoroso acumulado
15.3.18
Un jour
Je sais que ce sentiment va finir
Et je serai capable de t'oublier
Mais pour l'instant
Je ne peux pas me caher
Car malgré la distance e le temps
Je n'ai pas encore cassé de t'aimer
14.3.18
É dolorosa a ausência
O silêncio que reina
Torna ainda mais cruel a incerteza
Temo morrer
Antes de conseguir revê-la
Volta enquanto é tempo
Há pontos demais que merecem entendimento
Antes que imploda o amor
Que carrego aqui dentro
Enquanto não me torno só essa doença
Que cresce e me põe em desespero
Que toma conta deste coração
E desta mente confusa que não encontra outra opção
Senão a de se desconectar do tempo
Para abreviar o sofrimento
13.3.18
Tuas escolhas
Te levaram par tão longe
Que meus olhos
Já não conseguem te alcançar.
Segues por um horizonte
Em que nunca me arrisquei
E não desbravarei jamais.
Temo que com o tempo
A única coisa
Que de nós dois
Parcialmente nos lebremos
Sejam nossos nomes
E nada mais.
12.3.18
Por favor
Não me abandones assim
Nesse momento tão crítico
Foi por tua causa que não me perdi
Não me matei ou acabei assassino
Agora me olhas
E dizes que não entende o que se passa comigo
Se tu que me conhece mais do que ninguém
Desconfia de mim, como posso ficar tranquilo?
É confuso para mim também
Nem mais sei o que penso ou o que sinto
Por favor
Fica mais um pouquinho
A abstinência de ti é um castigo
Sei que estou pra te perder
Mas essa noite eu não suportaria ficar sozinho
Fantasmas se movem no teto
E me mandam fazer coisas que não quero
Tampo os ouvidos, desconverso
Digo que não desejo nenhum céu e nem temo o inferno
Que quero apenas um pouco de paz
E que ninha vida tenha algum nexo
9.3.18
8.3.18
Tentar é sempre melhor
Do que depois ter que se lamentar
Mesmo correndo o risco de perder
Ou de não saber quem no final vai ganhar
Não entendo por que te abrigas
Na segurança catatônica das lembranças
E não te arriscas a concretizar tuas esperanças
No revezamento da vida
A mão que hoje pra ti foi estendida
Não poderá esperar eternamente por teu bastão
Trocará de pista
E adotará outra equipe
Pra poder retomar a competição
7.3.18
Esse meu amor
Que não encontra lugar em ti
Sobra e transborda em mim
Fluido precioso
Enxurrada de lágrimas
Que se perde no esgoto
Para retomar seu caminho
No ciclo das águas
6.3.18
Teus argumentos
Que até há não muito tempo
Imaginavas serem bombásticas verdades
Capazes de abalar governos
Hoje são vistas como bobagens
Delírios ridículos, tolices sem funamentos
Acreditaste em fantasiosas utopias
Uma a uma demonstradas vazias
E que agora te revelam apenas como mais um ingênuo
Dentre tantos outros pensadores e seus frágeis conceitos
Que a história atropelou e tratou de colocar no esquecimento
5.3.18
2.3.18
No dia em que você se for
Torço para que a vida me preste o favor
De fazê-la esquecer
Óculos, livro, brinco, seja lá o que for
Não para que me sirva de lembrança
Pois isso nunca será necessário
Mas para manter viva a esperança
Assim, quando a saudade no meu peito apertar
Eu tenha um bom argumento para poder lhe encontrar
Alegando precisar devolver
Algo que talvez ainda seja importante pra você
1.3.18
Comme nous vieillissons
Tout ce que nous recueillons
Dans nous-mêmes
Cela devient seulement
Un regard à travers le temps
Rien d'autre n'existe
Nos histoires et tout ce que nous vivons
Ils deviennent des abstractions
Chaque jour plus pâle et déformée
Et cela peut encore rester
Avec une certaine substance
Va se perdre à la fois
Avec notre disparition
28.2.18
La infancia
Es un país
Que yo no conocí
El mar de la vejez
Es el lugar donte nascí
Mas viejo cada dia
Sin un puerto a la vista
Mi viaje es un vacio
Aparentemnte sin fin
27.2.18
Quisera te abraçar
Com tanta força
Até que arrebentassem os ossos do meu peito
E de uma vez por todas
Colocar-te pra dentro
Em seguida ser acorrentado
E trancado com um cadeado
Cuja chave possua um encantamento
Que a faça girar uma única vez
E tu é que terás que determinar o lado
Para a esquerda ele se abrirá
Aí deverás sumariamente sair
Sem olhar para trás ou emitir comentário
Para a direita ele se manterá trancado
E assim estarás condenada a ser hóspede eterna
Desde amante desesperado
26.2.18
Quero que saibas
Que te respeito por princípio
E que jamais avançarei
Além do que me for permitido
Mesmo que tudo que tenhas a oferecer
Seja esse imenso silêncio
Que entre nós foi erguido
23.2.18
Por ter sido recrutado em tempo hábil
Acho que fiz bem o meu trabalho
Te ajudando a sair do buraco.
Te fazendo enxergar
De novo
As coisas boas
Que carregas dentro de ti.
Agora estou feliz
Por ver que estás feliz.
Te vejo mais fortalecida.
Não acredito que voltes a cair
Ficando novamente
No estado deplorável
Em que te vi
Naqueles dias tão ruins.
22.2.18
Quando chegas da rua
Tarde e cansada
Com tuas tarefas cumpridas
E o humor em frangalhos.
Já estou deitado
De banho tomado
Luz discreta no quaro
Mas sem conseguir baixar a guarda
E atravessar a linha
Para o outro lado.
Pensamentos embaralhados
Me sentindo pequeno
Sensível, frágil.
Teu toque é delicado
Mas tua mão está fria.
Teus cabelos ressentem
À fuligem úmida
De uma madrugada que não termina.
Me beijas a testa
Há um adocicado etílico no teu hálito
E eu gosto disso.
Teus lábios estão secos, ásperos
E assim, como que desencantado
Alguma coisa se acalma em mim.
Finalmente estás aqui
Este é o teu lugar.
Agora vem cá
Deixa de lado o celular
E deita-te comigo
Enquanto ainda estamos vivos.
Para que juntinhos
Guardando o silêncio
Guardando o silêncio
Possamos nos aquecer, descansar
E dormir em paz.
21.2.18
O sentimento
Já existe desde sempre
E indefinidamente vaga
Viaja simplesmente
Procurando vaga
No coração de quem a tem
E tem coragem
De se abrir para quem
Pede hospedagem
20.2.18
Attento a cosa stai per dire
Le parole hanno potere
Non tutto quello che ti passa per la mente
Nell'altro può andare bene
19.2.18
L'amour
C'est une drogue
Addictif
Pendant un moment
Tout est euphorie
Mais quand la dépendance est créé
Fait souffrir et asservit
16.2.18
Agora
O que me resta fazer
É tentar tornar-me um ser
Mais pragmático e objetivo
Desconstruindo os resíduos de romantismo
Que ainda cultivo com relação a ti
Tentando assim recuperar a paz
Que não tinha até então percebido
Deixou-me quando te conheci
E seguiu contigo
No dia em que te perdi
15.2.18
No dia em que te perdi
Algo se calou dentro de mim
E agora o que eu mais temo
É que esse silêncio
Não me permita o esquecimento
E nunca mais tenha fim
14.2.18
Num súbito descuido
Entre lágrimas
Um fungar profundo
Os olhos embaçados
E um lapso no pensamento
O branco da cebola
É tingido de vermelho
Um corte profundo
Quase me encurta o dedo
Por um momento
Senti um alívio no peito
Ao ter minha dor de amor
Substituída pela do ferimento
Mas assim que as entendi diferentes
Coloquei sobre o machucado o pedaço pendurado
Enrolei a mão num guardanapo
E saí rápido buscando atendimento
Alguns pontos no indicador e um curativo apertado
Foi esse o resultado
Mas no coração não sessou o sofrimento
E o sangue ainda jorra sem poder ser estancado
9.2.18
Pode acreditar
A dor ainda está lá
Mas o tempo consegue a proeza
De anestesiar os sentimentos daquele que sofre
Fazendo-o se acostumar
E quanto ao esquecimento
Ah, isso é um outro departamento
No qual o tempo
Nem sempre tem autorização para entrar
8.2.18
O grito que ouço aqui dentro
Só quem já viu
Um porco morrer
Entenderá o que eu digo
Sabendo bem o que é sofrimento
Grito de desespero
De alguém que sabe o que está acontecendo
E que mesmo contra a sua vontade
É chegado o seu momento
7.2.18
O amor era o mesmo
Mas com o passar do tempo
Os ciumes e as cobranças foram aparecendo
E aos poucos outras aberrações se somaram
Soterrando todo o sentimento
Faltava carinho no toque
Leveza nas palavras
E não se via mais brilho no olhar
Ainda que tudo continuasse verdadeiro
A cruz que levavam ficou pesada demais
Consumindo-lhes as forças
Até não conseguirem mais carregar
E esgotarem-se os argumentos
Tiveram que desistir de algo raro
Mas que não havia mais como salvar
E hoje ainda juntos vivem imersos
Num insuportável silêncio
6.2.18
A saudade do poema
Só era pra ser verdadeira
Enquanto saudade no poema
A dor do poema só era pra doer
Enquanto doesse no poema
O amor do poema era pra ter outra cor, aroma e sabor
Ter um outro calor que só ardesse no poema
Fechar o livro e apagar o abajour
Às vezes não não nos livram do poema
5.2.18
Preciso de alguém
Que se importe comigo
Para que quando a razão me faltar
Vá me buscar onde eu estiver
Me faça lembrar de quem sou
E me convença a voltar
E que quando eu chegar
Não me pergunte nada
Mas trate das feridas
Que ao longo do caminho não pude evitar
E que sozinho não conseguiria cuidar
2.2.18
Agora
Estamos num outro momento
Diferente de tudo que até aqui vivemos
E não é um momento de esquecer
Ou deixar de sentir
Como podes ver
É um momento de encarar espelhos
Somos dois solitários
Desviando dos próprios reflexos
Vagando perdidos
Cada um no seu quarto
Carentes de abraço
Cheios de desejos
Tendo que suportar tudo
Ouvindo apenas os próprios pensamentos
Quantas vezes nos advertimos
De que estávamos sob risco
De que se nada fosse feito
Caminharíamos exatamente para o que hoje temos
Não sonhamos com isso
Erramos em ser tão passivos
Permitimos que aos poucos
Entre nós fosse erguida a muralha do silêncio
Apagamos as luzes antes do tempo
E fomos sugados pelo fosso do isolamento
Não era para ser assim
Perdemos a última chance de nos entendermos
1.2.18
Não são só escolhas que temos
Também há contingências
Determinadas por nossos envolvimentos
Neste caso precisamos aceitá-las
Ou do contrário não há como seguir vivendo
Algumas são escolhas, sim
E quando se concretizam nos sentimos plenos
Mas abortam planos
Quando são importantes e não as obtemos
Frustram pensamentos
Comprometem o encantamento
Nos fazem parar à janela acompanhando nas calçadas
O que mais parece um rebanho sem discernimento
Enquanto isso as gotas de chuva
Se desfazem no vidro lavando sentimentos
31.1.18
Esquecer não é uma forma de negar a existência
É ter que perder aquilo
Que não coube onde estava hospedado
É aceitar o equívoco de se manter algo
Que sabidamente estava em lugar errado
É precisar ceder acomodações dignas
Para o que chega todo dia exigindo espaço
É fazer voltar à biblioteca do mundo
Um livro com prazo de devolução expirado
Há o esquecer adoentado
Que precisou de tratamento e quarentena para ser reabilitado
O esquecer que não mudou de lado
Mas lá dentro mesmo foi sepultado
O esquecer que hiberna por longo tempo
Para um dia quem sabe acordar sedento e esfomeado
O esquecer que perdeu-se no mundo
E que depois volta batendo à porta arrependido e necessitado
O esquecer querreiro
Que lutou muito antes de ser exonerado
Debateu-se e ferido gravemente
Espalhou por todos os lados o sangue de seu pulso cortado
Esquecer é uma necessidade na sobrevivência
De quem ama ou é amado e também na de quem não ama ou não é amado
Deixando dentro apenas o que importa
Mantido engatilhado e em algum momento apto para ser usado
Como decidir o que sai ou o que fica?
A alma com seus mistérios fazem com que isso não nos seja claro
30.1.18
É preciso que saibas
Que respeito para mim
É um princípio
Que jamais avançarei
Além do que me for permitido
Mesmo que tudo que tenhas a oferecer
Seja esse imenso silêncio
Que entre nós foi construído
29.1.18
Não há como recuperar
O tempo perdido
Enquanto se viveu
Sob o jugo
Do servilismo
Mas enfrentando a verdade
Nunca será tarde
Para conquistar a liberdade
E assumir seu próprio destino
24.1.18
Cherchez moi
Seulement
Si tu as vraiment besoin
Mais s'il te plaît
Ne prends pas trop de temps
Il n'y a aucun moyen de savoir
Quand sera ma fin
23.1.18
22.1.18
Não devias vir
Este não é mais o teu lugar
Quando dei por mim
Já estavas aqui
Não foi possível evitar
Quando a vontade supera a razão
Os pés se descolam do chão
E com uma venda nos olhos
O juízo se desfaz
O amante
Voa
Confiando no instinto
Acreditando não precisar enxergar
Não admite que palpável
Só o amor construído
Que paixão é ilusão finita
E não tem como durar
Que só existe enquanto arrepia
Que não resiste às tempestades cíclicas
Não garantindo cadeira cativa
No coração em que pensa morar
19.1.18
18.1.18
Não deixe que em ti
A tristeza dure tanto tempo
E arrisque ser vista
Como algo normal
Que mascare o sofrimento
E passe a ser entendida
Como constitucional
17.1.18
Tropeçar em verdades
Nos força a enxergar
Coisas que às vezes
Não queremos enfrentar
E as preferimos silentes
Por isso é mais fácil
Desviar o olhar
Mudar de calçada
E seguir em frente
Arcando com o possível desgosto
De vivermos a vida
Só como um esboço
Ainda que para sempre
16.1.18
Lembra daquela menina
Aquela bem jovem
E bonitinha
Do andar de cima
Que no elevador
Chegou até a te dar bom dia?
Pois é, na última quinta
Pela manhã
Ela foi achada sobre a marquise da portaria
Nua e morta
Quase que não pode ser reconhecida
A vizinha aqui de baixo
Com sua simplória sabedoria
Resumiu o fato
De forma muito precisa:
Mais uma vítima
Que pela angústia
Foi caída
15.1.18
Algumas falhas
Do caráter humano
São evidentes
Outras nem tanto.
Podem até estar escondidas ou dormentes
Mas em algum momento
Estarão ativas e mostrarão seus dentes.
Aí seremos tomados de imenso espanto
Pois nunca nos antecipamos em achar que estarão presentes.
Ficaremos decepcionados e tristes por um tempo
Por ter que lidar com fraquezas que às vezes são até inconscientes.
Mas ao entender o imperfeito do outro amadurecemos
Corrigimos a nós mesmos e nos tornamos melhores, mais resilientes.
Nos tornamos mais seguros em não permitir que isso nos impeça
De confiar nas pessoas novamente.
12.1.18
No silêncio do quarto
Pensando sobre descaminhos
Depois de algum exagero no vinho
Percebo que hoje
Já não é tão fácil
Lembrar detalhes do teu rosto
Ou de como era o teu sorriso
O exato cheiro do teu corpo
E o gosto do teu beijo
Estão tornando-se vagas
As lembranças dos nossos carinhos
Das últimas lágrimas que derramamos
Quando nos despedimos
Nem sei mais há quanto tempo
11.1.18
Elaboras
Todos os dias
Uma lista
Com as coisas
Que não podes deixar de fazer
E os últimos itens
Logo depois de:
- 23h00 deitar para dormir
Tem sido (desde o nosso último encontro fatídico):
- 24h00 esgotar a segunda garrafa de vinho
- 01h00 chorar tudo que for preciso
- 02h00 conseguir dormir decidida a aceitar o acontecido
10.1.18
Ela não entendia o fim da relação
Tudo parecia perfeito
Tentou mergulhar de corpo e alva naquela paixão
Apostando mais do que em qualquer outro amor antigo
Mas depois de muito pensar
Admitiu que talvez tenha lhe faltado delicadeza no trato
Atenção e não economizar nos carinhos
Hoje aceita que falhou no reconhecimento
Talvez o tenha desmotivado por causa disso
E aí o encantamento acabou pois deixou de ser recíproco
Mas por que ele nunca se queixou
Se sofria percebendo que algo assim acontecia?
Ela sempre esteve aberta para conversar sobre tudo, inclusive isso
Homens não falam e ele achou mais fácil fugir do que resolver
Deixou no ar a dúvida dos reais motivos e se ainda havia algo a fazer
Sem pensar jogou no lixo a história que tinham construído
9.1.18
Agora que foste embora
Atendendo ao chamado do destino
Sei que não voltas
Pois seguiste o teu caminho
Caminho que hoje vejo
Nunca foi ao meu caminho
Nem o caminho do meio
Não correram paralelos
Nem mesmo nos anseios
Cruzaram-se por acaso
Ou artimanha do destino
Só me resta agora
Levantar âncora
Içar velas
E retomar minha jornada
Cruzando o oceano
Rumo a outro esquecimento
E como tantas vezes já fiz
Sozinho
Em silêncio
E em paz comigo mesmo
8.1.18
Flor
É recurso de meio
Produto intermediário
Fruto
É resultado
E uma nova planta
É o legado de fato esperado
5.1.18
Quem não ama
Amarga o seu viver
E tende a formar
Raízes profundas demais
Que condenam o ser
A permanecer
Sempre num mesmo lugar
E este mesmo ser
Que aos poucos vai ficando
Sem novos horizontes para contemplar
Começa a se esquecer
De como voar
É fonte de prazer
4.1.18
Roubaste de mim alguns anos de felicidade
Mas não posso acusá-la
De nenhum crime ou arbitrariedade
Assumimos os riscos dessa relação
Sempre soubemos de sua fragilidade
Durante todo o tempo em que estivemos juntos
Tentamos atender a cada uma de nossas vontades
Fomos felizes enquanto nosso amor
Estava assentado na verdade
E o que se passou depois foi inevitável
Uma previsível fatalidade
Que será superada
Mais cedo ou mais tarde
Permitindo sim momentos de desespero e dor
Mas buscando lá na frente paz e serenidade
3.1.18
Nos separamos um dia
E ficou decidido
De comum acordo
Que para sempre
A culpa seria minha
Sei que nunca me perdoaste
Não entendi bem
Mas voltaste pra mim
Sem que eu esperasse
Eu me abri novamente pra ti
Pois cheguei a acreditar que era verdade
Mas agora é tu que me abandona
Vingando-te com frieza
E sem caridade
Dando o troco covardemente
Com requintes de crueldade
Cutucaste a ferida
Pra que ela nunca sare
E continue a sangrar
Até que tudo em mim se esvaia
Nem que seja preciso a eternidade
2.1.18
Num mundo
Em que não há certezas
Aquele que as procura a todo custo
Por não admitir a dúvida
Sofre muito
Seria mais fácil reconhecer
Que a verdade não é algo absoluto
E que o que hoje nos ajuda a viver
Por nos trazer algum sentido
Amanhã poderá ser visto
Como o maior dos absurdos
E não há nada de errado nisso
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