2.4.18

O rangido noturno do assoalho


Firme e compassado
Tão conhecido pelos ouvidos
Ecoa pela casa
E traz paz ao coração do filho

São os passos do pai
Na direção do quarto
Ele chega tarde do serviço
Mas não é o andar de um homem cansado

Mas de alguém determinado
Que sabe do seu dever
E sempre o cumpriu com prazer
Sem nunca ter reclamado

Ele chega junto ao leito do rebento
Arruma-lhe as cobertas
Dá-lhe um beijo na testa
E contempla na penumbra aquele rosto delicado

Um serzinho tão inocente
Que não conseguiu esperá-lo acordado
Tem ainda uma vida inteira pela frente
É um diamante bruto a ser lapídado

Sai do aposento silenciosamente
E se recolhe para o merecido repouso
Amanhã acordará antes que o seu pimpolho
Pois não poderá chegar atrasado

Mais uma vez não o acompanhará à escola
Não lhe contará histórias
Não torcerá por ele no jogo de bola
Ou jantarão juntos já de banho tomado

Retornará novamente do trabalho
Tão tarde quanto necessário
E encontrará em casa
O mesmo cenário

Não verá seu moleque crescer
Teme não conseguir estreitar a distância
Que entre eles poderá se estabelecer
Logo logo seu menino será homem formado

E ele já pensa baseado na sua vivência
Em como não repetir a história de afastamento forçado
Que poderá ocorrer quando um neto vier
Engatinhando naquele mesmo assoalho

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