22.5.18
Não consigo mais reconstituir o nosso amor
Pode parecer muito
Mas foi o pouco que restou
Fotos desbotadas numa caixa de bombons
Teu cinzeiro de prata ressentindo a tabaco
Rascunhos de poemas em papeis garranchados
Livros com trechos sublinhados
Algumas roupas amassadas no armário
Fragmentos de nossas árias preferidas
Que o vento traz não sei de onde
E logo carrega pra longe
Lenha na lareira queimada pela metade
Rolhas acumuladas no grande frasco agora empoeirado
A visita da coruja sempre no mesmo horário
Um lenço manchado esquecido no bolso do casaco
São lembranças mutiladas
Já muito distorcidas
De uma história viva que fez todo o sentido
Naqueles momentos difíceis e delicados
Agora vestígios descontinuados
De algo que precisou morrer
Mas não foi enterrado
Sem a tua presença
As pontas não mai se ligam
E tentar entender o que ficou pelo caminho
É perder tempo realimentando o sofrimento
Sem conseguir resgatar nada daquilo que foi válido
Pois uma cerca viva com espinhos protege o que foi bom
Ajudando a manter suas raízes firmemente fixadas no passado
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