14.12.15

Amor



Cê (tem certeza que) ainda me ama?
A barriga cresce
A perna afina
E a pele tem mais rugas que um prato de dobradinha

Benzinho

Cê ainda aguenta este ranzinza?
Praguejando de ombros curvados
O humor trancado no passado
E com mais e mais espaço pra teimosia

Querida

Cê acha que ainda vale a pena?
O cabelo ralo e grisalho
A tosse, o pigarro (lembranças do meu tempo de tabaco)
E o ronco só aumentando a cada dia

Fofinha

Cê ainda se orgulha deste poli queixoso?
Na boca uns poucos dentes que já não mastigam
Dor no lombo a cada passo
Fôlego curto à menor estripulia

Deusa minha

Cê comigo ainda não se irrita?
A memória falha
A vista que não lê mais seus recados
O futebol no rádio que (em pleno domingo) invade a cozinha

Razão que me inspira

Cê acha normal ainda não conseguirmos desgrudar
Mesmo estando juntos há tantas décadas
Estar sem decidir até hoje se devemos ou não casar
E não aceitar empreitas sem a sua parceria?

Luz dos meus dias

Cê acredita se eu disser que meus olhos ainda te enxergam
Como a minha menina?
E sei que é você quem por último verei
Quando de vez for deixado pela vida

Nenhum comentário: