11.8.09

Na cozinha de minha infância


(para Carlos Drummond de Andrade)

Onze e meia da manhã
Eu sentado
Cotovelos sobre a mesa
Caminhando nas nuvens

Minha mãe preparando o almoço
Preenchia todos os cantos
Com domínio pleno das ações
E o tempo sob seu comando

A panela de arroz recém saída do fogo
Transbordava em aromas no denso vapor

Com um pano de prato
Eu a destampava com cuidado
E observava o desvio forçado pelas bordas
Que a água quente tinha que aceitar
No seu caminho até o teto

Rapidamente virava-a para cima
E na superfície côncava do alumínio
Iniciava o meu jogo

A condensação aglutinava algumas gotas
E eu as conduzia
Iniciava perseguições e crueis capturas
Duelos sangrentos e mutilações
Batalhas heróicas e rios de sangue
Vencidos e vencedores

-Menino, tá com a cabeça aonde? Deixe de esquisitices e vá logo arrumando a mesa!

Às vezes
Não era fácil retornar

2 comentários:

Inês Correa disse...

Genial Marcos. Beijo e boa semana, Ines

Ana Canuto disse...

É por isso que sempre achei que minha vida é mais interessante que a de Robinson Crusoè.