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(para Carlos Drummond de Andrade)
Onze e meia da manhã
Eu sentado
Cotovelos sobre a mesa
Caminhando nas nuvens
Minha mãe preparando o almoço
Preenchia todos os cantos
Com domínio pleno das ações
E o tempo sob seu comando
A panela de arroz recém saída do fogo
Transbordava em aromas no denso vapor
Com um pano de prato
Eu a destampava com cuidado
E observava o desvio forçado pelas bordas
Que a água quente tinha que aceitar
No seu caminho até o teto
Rapidamente virava-a para cima
E na superfície côncava do alumínio
Iniciava o meu jogo
A condensação aglutinava algumas gotas
E eu as conduzia
Iniciava perseguições e crueis capturas
Duelos sangrentos e mutilações
Batalhas heróicas e rios de sangue
Vencidos e vencedores
-Menino, tá com a cabeça aonde? Deixe de esquisitices e vá logo arrumando a mesa!
Às vezes
Não era fácil retornar
2 comentários:
Genial Marcos. Beijo e boa semana, Ines
É por isso que sempre achei que minha vida é mais interessante que a de Robinson Crusoè.
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