28.4.10
Antigamente
Andava pelas ruas
Olhando sempre para o chão
Não que fosse um sujeito deprimido ou ensimesmado
Só não entendia a razão
Recentemente
Ao saber o motivo
Confesso
Fiquei mais tranquilo
Um defeito na coluna
Que me é por demais dura e curvada
Fazia enxergar o mundo como mais curto
Sem poder ver até aonde vai a estrada
Via pernas
Nunca rostos
Via pés
E eles quase nada me diziam
Via poça
Onde alegavam oceano
E roda-pés
Cordilheiras imaginando
Tudo isso aos poucos
Foi me entristecendo
Comecei a não aceitar
Viver num mundo tão pequeno
Mas nessa condição
Tinha ao menos um consolo
Mesmo com a limitação
Sempre mantive zelo com o corpo
Pois encontrando latas e papelão
Objetos perdidos ou abandonados
Tudo recolhia
E em alimento era transformado
Não me deixei abater
E assim que entendi a situação
Tratei de meu problema resolver
Aprendendo a caminhar com as mãos
Hoje só consigo ver o que é elevado e distante
Dizem que virei poeta sujeito avoado
Acho que ao sair de um problema outro criei
Agora é a fome que me atormenta um bocado
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