30.9.09
Junto ao penhasco
(para Augusto Massi)
Minha voz vomitada
Ecoa inútil
No vale vazio
Reverbera de pedra em pedra
E como que puxada por um fio
Por meus ouvidos regressa
(Não há como exorcizá-la)
Encaixa-se em minha carcaça
Como num quebra-cabeça
A última peça
29.9.09
Bebemos sempre
28.9.09
25.9.09
24.9.09
Tudo o que vejo
23.9.09
Seguindo a cartilha
22.9.09
21.9.09
Condição servil
(para Eduardo Alves da Costa)
O tempo não espera
Nunca interrompe sua marcha
Prossegue ligeiro
Dispensa acompanhamento
Corremos o quanto podemos
Mesmo sabendo que não há como detê-lo
Até que fatigados o deixamos escapar
E a justificativa que recebemos:
-Sou escravo de mim mesmo!
Uma fria despedida
E ele assoberbado
Segue sem nada poder mudar
Na sua monótona rotina
18.9.09
17.9.09
Exérese necessária
16.9.09
Os últmos versos que escrevi
(para J. Antônio d'Ávila)
A mim não pertenciam
Fiz do papel um barquinho
Como os de quando menino
E soltei-os no riacho
No princípio vagaram perdidos
Até a correnteza
E só aí acharam um sentido
Acompanhei-os até a última curva visível
Depois dela apenas podia ouvi-los
Ecoando em uníssono
Um saudoso canto
Na distância seguindo
15.9.09
Quis desenhar-te o retrato
14.9.09
Espalho as folhas
(para Fernando Ferreira de Loanda)
Com meus escritos
Ao vento
E observo
Como podem ser
Livres
Meus pensamentos
Algumas folhas
Esbarram nos vincados rostos
Dos passantes apressados
Caem ao solo
Se colam no asfalto
E gravam lá seus mais íntimos conteúdos
Outras são repetitivamente marcadas
Destituídas de sentidos
Pelas digitais emborrachadas
De pneus presbiopes
As últimas
Serão levadas pela enxurrada
Até que o mar as receba
E e as dissolva
Letras soltas
Em solo arenoso
A instruir
Seres abissais
11.9.09
Faltou mulher nesta história
(para David Lean)
Calma
Querida
Amor contigo
Só depois que chegarmos
Ao próximo oásis
Nossos camelos estão sedentos
Eu sei
Temos que nos apressar
Deve estar logo ali
Atrás daquela duna
A mais alta
Espero que não seja outra miragem
Ou informação falsa
Dada pelo último beduíno
Aquele albino esquisito
A quem chamaram de Lawrence
10.9.09
Sentimental reptile
9.9.09
A árvore que plantei em minha calçada
(para Saúl Dias)
Foi do lixo resgatada
Muito cresceu
Ultrapassou a casa
E fez com que as vizinhas
Parecessem mirradas
Quando se carrega de flores
Seus pesados cachos vermelhos
Fazem cair grandes galhos
Danificando fios e carros
Vinga-se do seu passado
Continua crescendo
Não conhece o seu limite
Impõe-se vigorosa
Mas tem o lenho fraco
8.9.09
Piloto e navegador
Na madrugada
Quando acordo
As vezes confuso
Outras com medo
Ao meu lado
Ela dorme
Ressona
Na certeza de quem confia
Oferece as costas
Em desarmada cumplicidade
É sábio o seu instinto
Atendo ao apelo e me achego
Fecho os olhos
Busco um ponto de luz lá no infinito
Procuro afastar
Qualquer pensamento
Não demora muito
E com ela me perco
4.9.09
Curiosa essa forma de viver
Sem considerar o que a natureza
Tanto tempo levou para conceber
Sedativos para dormir
Estimulantes para acordar
Antidepressivos para conseguir sorrir
Ansiolíticos para o entusiasmo abafar
Alimentos demais para engolir
Anfetaminas para a fome cortar
Montanhas de informações para digerir
Brutal ignorância e palpite sobre tudo ter que dar
Internet para tentar interagir
Falsos perfis para seres reais não ter que encontrar
Sexo fácil para as exigências da carne abolir
E vazio que só faz aumentar
A civilização transformou o mundo
Impôs a tirania da luz
Do barulho e movimento
A cidades nunca param
As mentes não se desligam
Tudo que os olhos veem já foi distorcido
Noite
Que mesmo escura
É dia
Estão proibidos
A dor e a tristeza
A frustração e o não
Aceite e entorpecimento
Tendem a ser regra
Não exceção
A harmonia
Se perde
E a vida adoece
3.9.09
Não faz sentido
2.9.09
A evolução privilegia os híbridos
1.9.09
Cuidados paliativos
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