31.10.17

Quando amores mais difíceis terminam


E apesar disso se possa prosseguir com a vida
Será preciso:

Queimar fantasias
Implodir montanhas de fatos

Arrancar as plantas pela raíz
Apagar o banco de dados

Queimar fotografias
Por a mesa sem o outro prato

Fechar a torneira das lágrimas
Eliminar as marcas do passado

Abdicar do apego
Esvaziar o armário

Buscar novos amigos
Mudar o itinerário

Raspar a saudade incrustada
Que não derrama mesmo tombando o jarro

Declarar-se livre
Desvitalizar o sofrimento que ainda pareça intacto

30.10.17

Uma concha na estante


Pode até ficar esquecida
Por muitos anos
Mas jamais estará morta
Sobrevive impregnada de saudades
E por dentro chora

Canta todo tempo
As tristes melodias do mar
Sem nunca se cansar
De descrever a paisagem
E contar sua história

Não acredita?
Então encoste-a na orelha
Feche os olhos para ver as imagens
Deixe-se levar pelas cantigas
E tente acompanhar as narrativas

27.10.17

Quando o amor termina


Deveríamos ser como um barco
Com velas içadas
Peito aberto
Dando boas vindas ao vento
E aceitando o movimento

Ir aos poucos
Ganhando distância do porto
Até que só nos seja possível avistar
Céu
Mar
E o sol
Buscando a linha do horizonte
Para repousar

E no seu devido tempo
Permitir que a noite
Nos encha de estrelas
E dê sentido
A essa nova jornada
Que se apresenta

26.10.17

É na noite que tudo principia


O frio do corredor
O direito à fantasia

A busca do prazer
O leito que convida

A conquista do gozo
O diamante que brilha

A entrega incondicional
A carícia abusiva

A impossibilidade do choro
A explosão da ira

O açoite da dor
A tristeza ardendo na espinha

A lâmina afiada no aparador
O sangue escorrendo na pia

O medo da solidão
O certeza da má companhia

O controle de qualquer ação
A presença invasiva

O calar sem razão
A palavra que se pronuncia

A súplica por uma migalha de atenção
O desprezo que humilha

O excesso de medicação
A insônia convulsiva

O vinho derrubado no chão
A ausência da crítica

O fim do amor
O fim da vida

A renovação do amor
A coragem pra mais um dia

25.10.17

Poesia com poucos versos


Pode não ser sintética ou sugestiva
Mas servir sim para encobrir
Um imenso vazio
E é duro ter que olhar pra esse vazio
Sem poder agir
Dá vontade de botar a mão
Mexer
Enfiar assunto
Elucidar elementos
Finalizar o produto

Poesia com muitos versos
Também pode não ajudar muito
E injetar ainda mais versos
Geralmente confunde tudo
Se não forem boas a proposta
O conjunto e o conteúdo
Pode até fazer aumentar o vazio
Que já era grande
Deixando-o imenso
De um tamanho absurdo

24.10.17

Nosso amor


De solução
Virou problema

Tanta coisa ficou
Tantos temas

E isso me obrigou
A eternizar tudo na forma de poemas

Tantas saudades
Tanto sofrimento

Lembranças de nós dois
Detalhes de cada momento

Passa o tempo
Passa ainda mais tempo

Amor que se registra
Não cai no esquecimento

23.10.17

Essa tristeza


Que habita meus campos de dentro
Há tanto tempo
Fugiu ao controle
Não aceita mais viver em cativeiro

Brota dos olhos, dos poros
Escorre pelos vincos do rosto
Borra a pintura outrora menos ridícula
E na boca inverte o sentido da rima

Tristeza que quando escapa assim dessa forma
Desafoga o lugar onde era guardada
Abre espaço para que um novo amor se apresente
E uma outra história possa ser iniciada

20.10.17

A dúvida persistiu


E castigou-os até o último momento
Deveriam o não ir?
Encontrarem-se depois de tanto tempo
Como reagiriam?
Quais seriam os desdobramentos?
Mergulhariam novamente
No mar dos sofrimentos?
Mas de nada adiantaram
Tantos questionamentos
Os pés não desaceleraram
Até que finalmente
Frente a fente
Tentando segurar palavras
Mãos
Braços
Lágrimas
O toque aconteceu
E foi inevitável
Percebendo a perda do controle
Bocas secas
Suores
Tremores
Logo foram cedendo
Colocando de lado
Um a um os obstáculos
Pensamentos
A lógica dos argumentos
Queriam apenas estar ali
Juntos
E o que foi ficando
Era só sentimento
Acabaram entregues
Corpo e alma
Correndo todos os riscos
Sem saber se no dia seguinte
Continuariam inteiros

19.10.17

O amor


Quando é verdadeiro
Mesmo condenado
Padecendo de um mal incurável
Sabe que vai morrer
Mas resiste muito tempo
O pobre coitado

Agoniza em grande desespero
Sangra os dedos
Na margem do precipício
Até que esgotem-lhe as forças
E a lei da gravidade
Possa por um fim ao seu sofrimento

18.10.17

O tempo


É cruel com quem ama
E não é correspondido
Desorienta o inocente
Deixando-o perdido

Ele para de propósito
Empaca, obstrui o caminho
Mantém o pescoço do amante
Atado com corrente a um imenso monolito

E assim impõe-se autoritariamente
A noção do para sempre, do infinito
Não importando o tamanho da dor
Ou a altura do grito

17.10.17

Não te lembras de mim?


Se andei por aqui?
Pedes pra eu me identificar

Me recuso a fazê-lo
Aja como um perito

Procura em ti
As minhas digitais

16.10.17

Se tiver que atribuir a alguém


Poder para decidir
Que seja para um ser curioso
Ele terá maior chance
De decidir bem
Pois terá conhecido
E poderá levar em conta também
O ponto de vista do outro

11.10.17

L'amour n'est pas une invention


C'est une création
A besoin de temps
Attention

Mérite le respect
Considération

Il n'a pas de prix
Pas de cotation

Mais cela donne du pouvoir
C'est le plus précieux
Que quelqu'un peut avoir

10.10.17

Viento


Qué vaga lenta
Deambula suelta
Lleva lejos
Mi pensamiento

Viento

Que levanta tu vestido
Enciende mi instinto
Me da la visión del paraíso
Y trae junto el sentimiento

Viento

Que esparece semillas
Puesta a la lluvia para mojar
Y hace brotar amor
En mi corazón sediento

9.10.17

Minha poesia


Nasce do amor
Do desejo da presença

Nasce da necessidade
Na ausência

Não se desenvolve
Se é sanada a carência

Não amadurece
Sem essa dor que não é doença

6.10.17

Ninguém deveria recusar o amor


E perder a oportunidade
De tomar essa chuva
Que cai sem controle
E não depende da vontade
Que existe apenas naquele instante
E só ali é que ela vale

5.10.17

L'amore trasforma


Per il bene
O per il male
Quando è vero
Non è possibile
Lasciare eguale
A quello che era
Quando arriva 
A il finale

4.10.17

O tempo me atropela


Me arranca do porto
No momento em que estou mais frágil
Menos disposto
Desamarrado
Sem um mínimo lastro

Vidraça estilhaçada
Atingida pelas pedras
Dos que vêm em disparada
E sem pedir licença
De forma truculenta

Usam punhos e cotovelos
Para ganharem espaço
Mesmo sem conferir
Se há ou não um abismo
Após o próximo passo

Não suportam esperar
Precisam logo chegar
Mas como nunca sabem ao certo
Aonde querem ir
Estão sempre prontos pra de novo partir

3.10.17

Mi caminar es lento


La edad me trajo anchura en la mirada
Y coraje para matar la prisa com el sentimiento

Aprecio el paisaje
Tiro de ella mi alimento

Intento entender el ciclo de las aguas
Y la función de los vientos

Reconocer la importancia del dia y de la noche
Ser y estar plenamente en cada momento

2.10.17

Everything she does


It's unique and perfect
Even the suffering that causes
It's incomparable in effect