24.2.17
Mudaste
Melhor dizendo, mudamos.
Não há como disfarçar
É evidente.
Vejo pelo modo como nos comportamos
Pelo silêncio constrangedor que nos invade
Quando estamos frente a frente.
Só não entendo
O que foi feito daquele amor imenso
Que um dia juramos
Seria para sempre.
Ele não resistiu ao tempo
E desapareceu tristemente.
É provável que não tenha sido assim
Irreversível desde sempre.
Como foi que não percebemos
O momento em que nos perdemos?
O que fizemos com nossos sentimentos?
Fomos negligentes?
23.2.17
Você não é uma pessoa fácil de se ajudar
Se retrai
Se tranca
Bloqueia as entradas
E repele com silêncio ou palavras ásperas
As investidas de quem tenta se acercar
Também insiste em negar
Que esteja pedindo ajuda o tempo todo
Embora seja indisfarçável a tristeza no seu rosto
E o clamor que carrega no olhar
Revelando a esperança de que um dia voltará a amar
22.2.17
Não ter você
Por um intransponível impedimento
E acumular no peito tanto sentimento
É um sofrimento que não se deve desejar a ninguém
Mas este meu padecer poderia ser ainda maior
Se eu acabasse sabendo (por terceiros)
Que nunca tive o seu amor
Ou pior, que ele sempre foi de um outro alguém
21.2.17
Quem tem a ti não precisa de asas
Não precisa voar
O ninho que construímos no chão
Continua sendo
Sem nenhuma dúvida
O melhor lugar
20.2.17
Não te darei mais nenhum minuto
O tempo que te dediquei
Já foi suficiente
Qualquer quantidade a mais
Seria desperdício
Revisa teus guardados
E manda para o lixo
O que não te pertence
Ou para ti não tem mais sentido
Fica só com que é suficiente
Permitido e lícito
E viva com isso
Apenas com isso
17.2.17
Imaginei
Que para conseguir te esquecer
Bastaria deixar o tempo correr
E não mais me importar
Com o que pudesse acontecer.
Assim o fiz e continuo a fazer
Mas ainda não entendo por que
Todos as manhãs
Nas rugas do meu rosto
O espelho me obriga a ler
Sempre o mesmo texto, que diz:
O tempo passou
Continuará a passar
E as lembranças daquele amor
Não deixarão um dia de te visitar.
16.2.17
Admito
Há excessos em minha poesia
Sempre tão dramática ou efusiva
Mas não é só isso
Na vida me excedo em quase tudo
E o ódio e o amor
Não são exceções nesse conjunto
É que invadido por sentimentos extremos
Vivo sempre muito confuso
Capaz por exemplo de numa fração de segundos
Migrar dos píncaros de alegria
À tristeza encarcerada no calabouço mais profundo
E sendo assim acabo me vendo sozinho
Pois não tenho como cobrar de alguém
Algum benquerer ou aceitação
Quando nem mesmo aquele que sente o que sente
Compreende claramente a situação
E de mãos amarradas se vê impotente
Para conter a força do furação
E conseguir organizar seu interior
Minimamente
15.2.17
Você me tem nas mãos
E sabe disso
Basta estalar os dedos e assoviar
Para rapidinho
Me fazer voltar
Abanando o rabo
E latindo
14.2.17
Não precisamos de risos excessivos
Nem de lágrimas forçadas
De discursos vazios
Subterfúgios polidos
Ou desculpas esfarrapadas
Espero apenas que fiquemos calados
E que de mãos dadas lado a lado
O silêncio nos seja suficiente e confortável
Que tenhamos claros os sentimentos
Valorizando e entendendo as diferenças
Nos apoiando e aceitando sem resistências
Para que as vitórias e derrotas
Que a vida nos coloca
Sejam nossas
Mais nada
13.2.17
Meu corpo
É continente
Minha alma é ilha
O farol que guia o barco
E garante a travessia
Entre esses dois acidentes
É a poesia
10.2.17
Se te vejo assim na distância
Desfilnado no passeio
De mãos dadas com um forasteiro
Mesmo sabendo que sobre ti
Não tenho nenhum direito
Morro de ciúmes
Me corroo por dentro
E por mais que tente
Não consigo evitar o questionamento:
Afinal, por que não posso ser
O detentor exclusivo de teus beijos?
Não encerramos nossa história
Continuamos tendo bons momentos
Mas será que nossa constelação de prazeres tem menos estrelas
Do que essa em que viajas com tão intragável sujeito?
9.2.17
Tenho sede
Procuro por tua boca desesperadamente
Mas não vejo água por perto
E ainda há todo um deserto para atravessar
Sigo ciente de que não posso parar
E me esforço para manter isso em mente
Poupando forças e aprendendo a me controlar
Quem me avisa do perigo iminente
É a sombra faminta do abutre
Que me visita repetitivamente sem me tocar
E planando calmamente
Nas térmicas ascendentes
Espera o melhor momento para atacar
8.2.17
O poeta
Que habita em mim
Não me deixa feliz
Diz sempre que está sofrendo
É um suicida incorrigível
Diz sempre que está morrendo
Mas como se compadecer de um ser assim?
Para quem só existem tempos ruins
Alguém tão perverso
Que infecta e esgota as forças do companheiro
Parecendo não entender
Que precisa do hospedeiro vivo
Para também continuar vivendo
7.2.17
6.2.17
Amor é sopro
Brisa
Rajada de vento
Força que ativa o moinho de dentro
Se parado muito tempo
A ferrugem engripa o engenho
E fica difícil retomar o movimento
3.2.17
Certos amores
Nos tocam mas não penetram a carne
Apenas tangenciam os sentimentos
São hábeis em nos trazer alegrias
E arrefecer os desejos (às vezes tão intensos)
Estes mesmos amores
Ainda que não nos conheçam por dentro
Podem bem matar a sede de prazeres
Poupando os amantes de dores e tormentos
Amores assim, quando decidem que já é tempo
Sentem-se livres para partir
Entendendo como natural o distanciamento
Pois acreditam que sem compromisso não há sofrimento
E embora não deixem maiores saudades
Poderão retornar num outro tempo
Amparados no que de fato ficou de bom
A lembrança daqueles momentos
2.2.17
Cai a noite
E tua casa nunca foi tão grande
Nem esteve tão vazia
Pegas o telefone e me exiges a presença
Para que te preencha
Com tudo o que foi anunciado:
Risos, gozos, espasmos e afagos
Atendê-la será perfeitamente viável
Mas desde já fica aqui o combinado
Que depois de refastelada, concluído trabalho
E antes de ser dispensado
Preciso que me pagues e não me cobres palavra
Não faço questão de beijos ou abraços
É assim que deve ser feito
Faz parte do contrato
E deixo avisado que numa próxima será menor o teu tempo
Pois como sei que vais gostar (e é só o que ofereço)
E para conseguires um outro momento, com o mesmo empenho
Não poderás mais negociar tentando economizar teu dinheiro
1.2.17
Prepara-te para mim
Foi longa a jornada
Estou voltando
O tempo só fez aumentar minhas vontades
Sonhei muito com este reencontro
Por isso peço um sorriso largo
Um vestido vaporoso e branco
Um decote amplo que emoldure teus peitos
E seja possível admirá-los arfando
Cabelos inicialmente presos
Poucos adornos
Perfumes do campo
Mas que não mascarem os aromas do teu corpo
Boa bebida
Uma mesa farta
Uma melodia suave
Velas espalhadas pela casa
Tuas melhores carícias
Lençóis de maciez testada
Uma boa reserva de beijos
Nossas texturas juntas e delicadamente acomodadas
Se tudo sair assim já poderei morrer feliz
Pois além disso não precisarei de mais nada
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