15.10.15

Existe um lugar



Em que as misérias humanas
Se encontram
E reciprocamente
Conseguem se alimentar

Um lugar de passagem e de ficar
Onde quem está
Quase nunca consegue sair
E quem ouviu falar
Sem entender bem por que
Diz querer conhecer

Mas poucos sabem realmente
O que lá podem encontrar
Dizem que quando se entra
A porta é fechada
E o incauto
Num imenso labirinto se vê metido
Onde só é possível seguir em frente
Sem a opção de recuar

E na media que se embrenha
Por corredores estreitos
Atalhos sobrios
Bifurcações
Desvios
Inusitadas situações
Se impõe pelo caminho

Espinhos
Cacos de vidro
Sustos
Chingamentos
Provocações
Ferimentos

Relâmpagos
Raios
Terremotos
Serpentes
Escorpiões
Vermes gosmentos

Impensáveis abominações
Lagos ferventes
Vapores pútridos
Gritos de pavor
Corpos derretendo
Gemidos
Lamentos
Choros de desespero
Horripilâncias muitas
Inferno de indescritíveis sofrimentos

E quando se está esgotado
Irreversivelmente derrotado
Por aquele meio infecto
Sem forças para gritar ou reagir
Uma saída se apresenta
Como que por encantamento

E mesmo com a luz convidando à liberdade
O sujeito já tão acostumado com a dor
E a previsibilidade da perversidade
Passa a termer o retorno ao mundo imperfeito
Acha mais fácil aceitar
O que julga ser seu destino
Enterrando-se de vez
Na coerência do texto de uma tragédia
Que tem enredo e final conhecidos

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