9.9.14

O homem está velho



Ranzinza
E decepcionado com o mundo

Se vê no fim da linha
Queixa-se das dores
De estar só
Das incompreensíveis mudanças
Reclama de tudo

Mas bastou cutucar um pouco os arquivos
Remover a poeira lá do fundo
Para encontrar algumas lembranças
Álbuns antigos
Fotografias mofadas
Há muito perdidas
E por traças bastante comprometidas

Um calhamaço imenso
Folhas e folhas de imagens borradas
Ou que simplesmente desapareceram

Quantas experiências perdidas?
Quantos sentimentos sucumbiram
Por força da sobrevivência
Tiveram que amadurecer
Mudar na essência
Ou serem dali transferidos?

Mas por uma incrível resistência
Algumas imagens persistiram vivas
Cheias da lógica pueril
Tão peculiar aos pequeninos
Enferrujadas pelo tempo
Guardadas desde que era menino
E ainda carregadas de inocência
Curiosidade e encantamento

Vestígios de ingenuidade e fantasia
Que poderiam no hoje
Aliviar para este homem
O peso de seus dias

Presentear-lhe os olhos com alegria
Provocar a cumplicidade dos netos
Devolvendo para as coisas
Um pouco da antiga óptica que foi só sua
Trazendo mais cor e sabedoria
E tornando menos chata a vida

Mas ele não está disposto
Não quer saber do que soa como poesia
Ou considera morto
Sela seu destino sentado na poltrona
Em frente ao vídeo
Deixando-se levar pelas bobagens dos outros
Esperando que a natureza
Trabalhe com suas ferramentas
E que não lhe seja exigido nenhum esforço

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