28.7.10

Tatuaste o meu nome

E a minha imagem
Em teu lindo lombo
Na beira do penhasco
Bem juntinho ao vale

Quantas vezes indo e voltando
Deparei comigo mesmo em traços sinuosos
Estilo arcaico
E direito a penacho

Mas não era confortável
Ver-me retratado
Como que um invasor
De lugar tão inusitado

Tinha a impressão de que era obrigado
Por educação
A manter com meu clone
Um diálogo forçado

E para não entristecer o ser amado
Decidia evitar o assunto
Pois tal dedicação merecia
Um mínimo de consideração

Imaginei que resolveria o caso
Se cultivasse uma pança avantajada
Para cobrir o desagravo
E evitar interferências no ato

Tudo deu certo e os anos se passaram
Sem que houvesse a necessidade
De ter que me auto-cumprimentar
Até num simples abraço

Hoje não mais nos vemos
E agora em meus momentos de recolhimento
Me pergunto se ainda estarei lá retratado
E mesmo se o intruso a outro incomoda no intercurso

O tempo transformou em saudade o estranhamento
E me fez desejar novamente
Poder vê-la de quatro
Mesmo que só por mais um momento

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