Com hercúleo esforço
Caminham cegas
Por trilhas abandonadas
Antigo acesso
Aos rincões mais secretos
O esforço tem sido inútil
Já são fracas as palavras
Não penetram mais em orifícios
Tudo lacrado por camadas superpostas
De silêncio e conformismo
Paralisada está a face
Pelo tempo vincada
Janela com grades
A separar o eremita
Da ordinária realidade
30.7.10
28.7.10
Tatuaste o meu nome
E a minha imagem
Em teu lindo lombo
Na beira do penhasco
Bem juntinho ao vale
Quantas vezes indo e voltando
Deparei comigo mesmo em traços sinuosos
Estilo arcaico
E direito a penacho
Mas não era confortável
Ver-me retratado
Como que um invasor
De lugar tão inusitado
Tinha a impressão de que era obrigado
Por educação
A manter com meu clone
Um diálogo forçado
E para não entristecer o ser amado
Decidia evitar o assunto
Pois tal dedicação merecia
Um mínimo de consideração
Imaginei que resolveria o caso
Se cultivasse uma pança avantajada
Para cobrir o desagravo
E evitar interferências no ato
Tudo deu certo e os anos se passaram
Sem que houvesse a necessidade
De ter que me auto-cumprimentar
Até num simples abraço
Hoje não mais nos vemos
E agora em meus momentos de recolhimento
Me pergunto se ainda estarei lá retratado
E mesmo se o intruso a outro incomoda no intercurso
O tempo transformou em saudade o estranhamento
E me fez desejar novamente
Poder vê-la de quatro
Mesmo que só por mais um momento
Em teu lindo lombo
Na beira do penhasco
Bem juntinho ao vale
Quantas vezes indo e voltando
Deparei comigo mesmo em traços sinuosos
Estilo arcaico
E direito a penacho
Mas não era confortável
Ver-me retratado
Como que um invasor
De lugar tão inusitado
Tinha a impressão de que era obrigado
Por educação
A manter com meu clone
Um diálogo forçado
E para não entristecer o ser amado
Decidia evitar o assunto
Pois tal dedicação merecia
Um mínimo de consideração
Imaginei que resolveria o caso
Se cultivasse uma pança avantajada
Para cobrir o desagravo
E evitar interferências no ato
Tudo deu certo e os anos se passaram
Sem que houvesse a necessidade
De ter que me auto-cumprimentar
Até num simples abraço
Hoje não mais nos vemos
E agora em meus momentos de recolhimento
Me pergunto se ainda estarei lá retratado
E mesmo se o intruso a outro incomoda no intercurso
O tempo transformou em saudade o estranhamento
E me fez desejar novamente
Poder vê-la de quatro
Mesmo que só por mais um momento
27.7.10
Quando a absoluta imersão
Ofusca do amor a visão
E o evidente desnudo
Deixa claro
Que só trará mágoas
E ferimentos profundos
E se só à tua mão estiver o alcance
Arca com o risco da incompeensão
Encara o medo
E faz o que tem que ser feito
Livra o teu amor do sofrimento
Ou condena-te para sempre
Por ter permitido
Que os lobos estripassem
Quem mais tem sentido em teu peito
E o evidente desnudo
Deixa claro
Que só trará mágoas
E ferimentos profundos
E se só à tua mão estiver o alcance
Arca com o risco da incompeensão
Encara o medo
E faz o que tem que ser feito
Livra o teu amor do sofrimento
Ou condena-te para sempre
Por ter permitido
Que os lobos estripassem
Quem mais tem sentido em teu peito
23.7.10
Não soa mais meu clarinete
Preferiu calar-se
E deixar que os pássaros
Da música cuidassem
Liberou-me para a poesia
Fruto da vontade humana
E que dos demais seres o diferencia
E deixar que os pássaros
Da música cuidassem
Liberou-me para a poesia
Fruto da vontade humana
E que dos demais seres o diferencia
Registro o visto e o pensado
Em meu limitado escaninho
E na tábua da memória
Vão sendo rotulados como
Existidos
Mas ao olhar para trás
Vejo que as mãos são poucas
Para conseguir agarrar o não visualizado
O não imaginado e todo o esquecido
Meus bolsos
Não comportam tantos seixos
E se rompem
Deixando rastros
Não há como reunir
Todos os frutos em meu cesto
Um buraco no fundo
Permite escoarem alguns elementos
Bolsos furados
Cesto de vento
Matéria frágil
Pensamento efêmero
Muitos são os mundos
(Desconhecidos a este ser apenas único)
Os nunca vistos
Os não lembrados
Os jamais imaginados
E na tábua da memória
Vão sendo rotulados como
Existidos
Mas ao olhar para trás
Vejo que as mãos são poucas
Para conseguir agarrar o não visualizado
O não imaginado e todo o esquecido
Meus bolsos
Não comportam tantos seixos
E se rompem
Deixando rastros
Não há como reunir
Todos os frutos em meu cesto
Um buraco no fundo
Permite escoarem alguns elementos
Bolsos furados
Cesto de vento
Matéria frágil
Pensamento efêmero
Muitos são os mundos
(Desconhecidos a este ser apenas único)
Os nunca vistos
Os não lembrados
Os jamais imaginados
22.7.10
Até aqui
Caminharam assim
Mãos dadas
Bem juntinhos
No caminho
Pensamento comum
Sentimento só o sentido
Sempre o silêncio
Sempre o já dito
Mãos dadas
Bem juntinhos
No caminho
Pensamento comum
Sentimento só o sentido
Sempre o silêncio
Sempre o já dito
Hoje
De nada me servem
Os predicados lunares
Como metáfora
Para o que vejo
Acordaste heliocêntrica
E delirante
Dia intenso
Luz ofuscante
Latitude e longitude juntas
Sol da meia-noite
Sombra e paralelismo
Tangente infinita
Os predicados lunares
Como metáfora
Para o que vejo
Acordaste heliocêntrica
E delirante
Dia intenso
Luz ofuscante
Latitude e longitude juntas
Sol da meia-noite
Sombra e paralelismo
Tangente infinita
20.7.10
Enquanto dirijo...
Comida de moinho
É vento
Vestimenta de muro
É hera
Refresco de paulista
É oxigênio
Alegria de jovem
É festa
Segredo da vida a dois
É tempo
Quem nem sempre alcança
É espera (uma atitudezinha sempre ajuda)
Emoção paralítica
É monumento
Choro no nascimento
É estreia
Amor eterno
É pensamento
Cólica de homem
É diarreia
Trânsito no fim de tarde
É tormento
Bar lotado
É panaceia
Chegar em casa
É escalar um rochedo
Manter o bom humor
É esta a ideia
É vento
Vestimenta de muro
É hera
Refresco de paulista
É oxigênio
Alegria de jovem
É festa
Segredo da vida a dois
É tempo
Quem nem sempre alcança
É espera (uma atitudezinha sempre ajuda)
Emoção paralítica
É monumento
Choro no nascimento
É estreia
Amor eterno
É pensamento
Cólica de homem
É diarreia
Trânsito no fim de tarde
É tormento
Bar lotado
É panaceia
Chegar em casa
É escalar um rochedo
Manter o bom humor
É esta a ideia
E fez-se o poema
Para ser livre
E poder voar a palavra
Flanar sobre terras
Já por demais pisadas
Isento de sentimento próprio
E com sentido adquirido
Alheio à história
Sem envolvimento fingido
Tudo
Deve lhe ser atribuído
Apontando-lhe um dedo
E dizendo:
Lá vai ele
Vejam como é bonito!
E poder voar a palavra
Flanar sobre terras
Já por demais pisadas
Isento de sentimento próprio
E com sentido adquirido
Alheio à história
Sem envolvimento fingido
Tudo
Deve lhe ser atribuído
Apontando-lhe um dedo
E dizendo:
Lá vai ele
Vejam como é bonito!
Baton
Com que destreza
Crias contornos
Nesta tua face recém despertada
Ato que deixa rastro
Cor e vida
Fêmea iluminada
Gesto libidinoso
Doçura no traçado
Falsa vulva imantada
Ingênuo objeto
No ápice a forma que não se repete
Glande estilizada
Crias contornos
Nesta tua face recém despertada
Ato que deixa rastro
Cor e vida
Fêmea iluminada
Gesto libidinoso
Doçura no traçado
Falsa vulva imantada
Ingênuo objeto
No ápice a forma que não se repete
Glande estilizada
14.7.10
Quando por fim
Frente à frente
Nos encontramos
E pensamos que as palavras
A duras penas conseguiriam brotar
O ambiente foi completamente
Tomado por estranhos
E nada nos restou
Além de recuar
Momento como este
Talvez nunca mais tenhamos
É difícil baixar a guarda
Mas mais difícil é ter coragem
De os demônios libertar
Nos encontramos
E pensamos que as palavras
A duras penas conseguiriam brotar
O ambiente foi completamente
Tomado por estranhos
E nada nos restou
Além de recuar
Momento como este
Talvez nunca mais tenhamos
É difícil baixar a guarda
Mas mais difícil é ter coragem
De os demônios libertar
13.7.10
Surpreendeu-me a tempestade
Um Vinícius em baixo do braço
Corpo encolhido
Cruzando ruas e esquinas
Pressa e despreparo
Cabelos molhados
Pulando poças e enxurradas
Frio na espinha
Pés encharcados
Folhas grudadas
Poemas se desfazendo
Versos a quase escorrer pelos dedos
Liquefeitos
Nem todos ainda lidos
Nem todos os lidos já absorvidos
Corro para casa
Como quem tenta salvar um filho
O Poetinha por certo comigo concordaria
Em como é frágil a poesia
Assim desfalecido e antes de ser conhecido
O verso é capaz de morrer que nem passarinho
Corpo encolhido
Cruzando ruas e esquinas
Pressa e despreparo
Cabelos molhados
Pulando poças e enxurradas
Frio na espinha
Pés encharcados
Folhas grudadas
Poemas se desfazendo
Versos a quase escorrer pelos dedos
Liquefeitos
Nem todos ainda lidos
Nem todos os lidos já absorvidos
Corro para casa
Como quem tenta salvar um filho
O Poetinha por certo comigo concordaria
Em como é frágil a poesia
Assim desfalecido e antes de ser conhecido
O verso é capaz de morrer que nem passarinho
7.7.10
Você não tem mais idade pra isto
Não deveria mais se preocupar
Com este tipo de coisas
Podem ter parecido importantes na juventude
Mas a esta altura da vida
Não valem mais o sacrifício
Restará paralisado num círculo de indagações
E sair sem sequelas
Quase impossível
É feito de fogo
Parece até que já não viveu tudo isto
Com este tipo de coisas
Podem ter parecido importantes na juventude
Mas a esta altura da vida
Não valem mais o sacrifício
Restará paralisado num círculo de indagações
E sair sem sequelas
Quase impossível
É feito de fogo
Parece até que já não viveu tudo isto
Perdoem o homem
Por ter escapado
Sobrevivido ao trágico destino
Que como regra maldita
Aos seus (por eras) tem atingido
Por ter conseguido
Num lapso de tempo
Se mantido distante
E evitado o suicídio
Por ter retornado
Permitido ser de novo sugado
Envolvido no que já julgava resolvido
Puxam-no as correntes do tornozelo
Por não ter lugar definido
Gerar e estar sempre em desconforto
A tudo estranhar
E não aceitar sentimento impingido
Sobrevivido ao trágico destino
Que como regra maldita
Aos seus (por eras) tem atingido
Por ter conseguido
Num lapso de tempo
Se mantido distante
E evitado o suicídio
Por ter retornado
Permitido ser de novo sugado
Envolvido no que já julgava resolvido
Puxam-no as correntes do tornozelo
Por não ter lugar definido
Gerar e estar sempre em desconforto
A tudo estranhar
E não aceitar sentimento impingido
6.7.10
Desde o início
Fui enfeitiçado
Pelo veludo dos teus olhos
Tanto fiz
Que consegui
Adentrei em tua vida
Com meu olhar de cetim
Pelo veludo dos teus olhos
Tanto fiz
Que consegui
Adentrei em tua vida
Com meu olhar de cetim
5.7.10
Nesta noite
Estavam inquietas as constelações
Profusão cadente
Chuva de luzes (ou quase)
Pontilhado incontável
Espaço ínfimo
Nenhum esbarrão
Todas com muita pressa
E todo o cuidado do universo
Levando à galope minha imaginação
Profusão cadente
Chuva de luzes (ou quase)
Pontilhado incontável
Espaço ínfimo
Nenhum esbarrão
Todas com muita pressa
E todo o cuidado do universo
Levando à galope minha imaginação
Um sopro de saudade me varre
Saudade de um tempo
A cada dia mais amarelecido
Revivido em fotogramas esparsos
Turbilhão de imagens e sentimentos
Personagens familiares
E tantos já desconhecidos
Entes que se foram
Alguns para o seu merecido repouso
Lugares antes tão bem vestidos
(Que de tanto mudar)
Hoje já são outros
Não mais me servem com(o) conforto
A cada dia mais amarelecido
Revivido em fotogramas esparsos
Turbilhão de imagens e sentimentos
Personagens familiares
E tantos já desconhecidos
Entes que se foram
Alguns para o seu merecido repouso
Lugares antes tão bem vestidos
(Que de tanto mudar)
Hoje já são outros
Não mais me servem com(o) conforto
2.7.10
Uma tristeza me invade
Quando me afasto de nossa casa
Se tenho que ir à lida sozinho
Me sinto vazio
Aí corro em disparada
Para chegar logo aonde preciso
Resolvo com brevidade
Tudo o que é de ofício
E retorno para os teus braços
Para o teu aroma gentil
Se tenho que ir à lida sozinho
Me sinto vazio
Aí corro em disparada
Para chegar logo aonde preciso
Resolvo com brevidade
Tudo o que é de ofício
E retorno para os teus braços
Para o teu aroma gentil
Nuvens que passam
Emolduradas de azul
Oceano sem fundo
Musas
Sacras figuras
Exércitos
Em eterno esfacelamento e fuga
Abóboda de luz
Onde só o infinito
Não é efêmero
Oceano sem fundo
Musas
Sacras figuras
Exércitos
Em eterno esfacelamento e fuga
Abóboda de luz
Onde só o infinito
Não é efêmero
Vejo que tens
Saudades nos olhos
Raiva nos ouvidos
E angústia tatuada na língua
Também reparei
Que já não sou acordado pelo aroma do café
E que nem consegues mais (por muito tempo)
Suportar o frio do meu pé
Raiva nos ouvidos
E angústia tatuada na língua
Também reparei
Que já não sou acordado pelo aroma do café
E que nem consegues mais (por muito tempo)
Suportar o frio do meu pé
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