29.5.10

29510


50 anos mais velho
E metade da jornada

28.5.10

500 abóboras


Despejadas no mundo
Sem muito sentido ou razão

Frutos verdes e maduros
Lançados no solo
Para apodrecimento ou germinação

Tempo, tempo, tempo
Por favor
Seja cuidadoso nessa questão!

Do alto da janela


12º andar
Definitivamente
O ar não é meu habitat

Mas voar
Ah, voar!
(É preciso tentar)

Em mais um de nossos momentos




De indignação e fúria
Saiu do quarto
E me deixou a esbravejar sozinho

Aprecio muito esse seu auto-controle
Sem ele (é possível)
Um de nós não mais estaria vivo

27.5.10

Ostras realidades


Me parecem
Claustrofóbicas
E excessivamente obscuras!

Em Poços de Caldas


Corri a volta do Cristo

Quinze quilômetros
Quatro só de subida

Ao pé do crucifixo
Parei para mijar

Na descida fui castigado
Errei o caminho

26.5.10

Três da manhã


Três malas junto à porta

Cama arrumada
Chuviscos na TV
Trovoadas no sofá

E lá fora
O dilúvio

25.5.10

Custou-me esquecê-la


Só aconteceu
Quando não mais a encontrei em meus sonhos

Quando minhas vontades
Não mais pela mão a puxaram de volta

Quando por fim
Me esfriaram as lembranças

E meus olhos ficaram livres para entender
Que à frente o caminho simplesmente continua

24.5.10

Enquanto amanhece


E ainda nos veste
O silêncio

Cresce em mim
Uma vontade desesperada

De poder
Reter-te aqui

E de que o sol
Nunca mais apareça

21.5.10

Imagino que


Tenho de ti
De tudo um pouco
Assim como tens de mim

Sei que mal sabes
O quanto de mim tens

Só não sei ao certo
Se o que tenho de ti
É o mesmo que tens de mim

Ou se ainda há em ti
Algo que de mim não tens

20.5.10

Nossos tempos verbais


Precisam ser sincrônicos
Conjuguemos então nossas ações
Aliando gramática e emoções

De um para o outro
Façamos como uma chamada oral
E vejamos se tudo continua igual

As histórias
Quando lembradas
No pretérito perfeito devem estar armazenadas

Os sentimentos
Ainda que pela rotina contaminados
No futuro do presente e presente do indicativo devem ser conjugados

Só saberemos se ainda somos unidos
Caso o pretérito-mais-que perfeito
E o futuro do pretérito forem preteridos

Se preferirmos gerúndio ao particípio
E se ao optarmos pelo modo imperativo
Que o usemos com delicadeza e companheirismo

Encerraremos satisfeitos esta sabatina
Se a primeira pessoa do plural
For o pronome pessoal preferido em nossas vidas

19.5.10

Tuas coxas


Foram as partes do teu corpo
Que primeiro
Demonstram por mim apreço e carinho

Digo disso
Pois como boas anfitriãs
No frio me acolheram com seu calor

E como se não bastasse
Como guias gentis
Me conduziram direitinho rumo ao paraíso

Quero o teu sangue


Até mais do que o teu sexo

Nomes


Corações e flechas
Tatuagens comuns
Que as arvores abrigam nos bosques
Com benevolência e cumplicidade

Quantos amores não se firmaram
Pelo simples fato
De que no necessário momento
O canivete numa gaveta ficou guardado

Poeta


Usina
Que sorve o mundo na forma bruta
E do seu laboratório anímico
Devolve ao ar os perfumes mais finos

Rosas
Jasmins
Magnólias

Mas dependendo do substrato
Do controle do fogo
E tubos de ensaio
Outros odores poderão ser exalados

Vapores fétidos
Gases tóxicos
Compostos sulfurados

Exotermia química
Prevenindo estados catatônicos
Distimias
E atitudes covardes

18.5.10

O poeta mudo


Declama os versos
Que nunca escreveu
Com seu lirismo indigente

Afoga as mágoas
Nas letras garrafais
Da bendita aguardente

Esperando ter
Entorpecidos os sentidos
Para sempre

17.5.10

Noite de insônia numa barraca de rua


Que argumento é este
Dotado de poder quase infinito?

Capaz de levar seus exércitos
Do êxtase ao sofrimento

Do regozijo à dor
Mesmo sem nunca ter sido visto?

Legiões que em seu nome
Se dispõem a matar ou morrer

Essas coisas me ocorrem
Enquanto fustigado pela fome

O óleo doura os pastéis
E vejo a cana a moer

14.5.10

Hoje


(Eu também)
Não quero prosa

13.5.10

Na cadeira


Ao lado da cama canto direito
Ainda vejo o vestido vermelho
Que um dia cobriu o teu corpo perfeito

Traço de artista a delinear detalhes
Tantas vezes presenteou meus olhos
Acendendo ainda mais as vontades

Ao universo incorporado
Um monumento à beleza no museu do amor
Como escultura ficará preservado

12.5.10

Sob a ponte


Duas almas solitárias
Pelo mundo esquecidas
Espectros errantes
Mas ainda vivas
Se encontram na busca de um abrigo

Agem por instinto
O silêncio
Lhes dita o rito
E num súbito repente
Seus corpos estão unidos

Compartilham calores assim juntinhos
E por instantes
Revivem um prazer genuíno
Familiar e distante
Que nem mais na lembrança podia ser sentido

11.5.10

Lua cheia


Meia taça
Meia-noite
Meia de seda
Noite e meia

10.5.10

Dois fios de sangue


Lhe escorrem pelo rosto
(De perto)
Não se vê ferimento

Minam do olho
O machucado é por dentro

7.5.10

Mais veloz é a sombra


Que seu dono

Pensa o pássaro
Num fim de tarde

Ao ver sua imagem
Sempre à frente
No fundo do vale

6.5.10

Palavras


São seres vivos

Linhas traçadas não as prendem
Papel não as confinam

Voam e se dispersam
Se perdem quase sempre

Mas às vezes no ar se encontram
Se combinam
E formam versos simplesmente

5.5.10

A casa em que crescemos


E que por nós foi construída
Precisa ser abandonada
Já é tempo
Antes que desabe
Sobre nossas vidas

4.5.10

Epitáfio


Na companhia de ópera
Era baixo profundo
(Timbre raro)

Pouco era ouvido
Quase não tinha trabalho
(Deprimiu)

Decidiu levar sua voz ao extremo
Um limite até então nunca alcançado
(Conseguiu)

3.5.10

Em alguns lugares


Por onde passei
Pioneiro de mim mesmo
Fui

Quando retornei
Pude constatar
Que nada restou do que plantei

As trilhas se apagaram
Arbustos cresceram
E as aranhas a tudo cercaram

Os que conheci
Morreram todos
Foram dizimados

De que me serve a vida sem um passado?
Se ruíram as pontes?
E meus bolsos estão furados?

Hoje não me encantam
Nenhum dos caminhos
Que me são apontados

Como uma cigarra
Terminarei aqui
No último suspiro do meu canto afogado