23.12.09

Um reggae de natal



(para Henrique de Carvalho, jovem e inocente, em coma, agredido aleatoriamente na mais insólita das situações)

Você que não me conhece
Saiba que sou assim mesmo
Um sujeito meio esquisito
De difícil entendimento

Mas não é só seu o privilégio
Também a mim causo estranhamento
Então é melhor esclarecer logo alguns fatos
Para não engordar ilusões no seu pensamento

Não tenho fé
Não creio em sobrenatural
Força suprema acima do meu pé
Destino ou o escambau

Me tranquiliza pensar que a biologia
Resulta do sexo bom entre a física e a química
E a matemática como ideal analista
A tudo de alguma forma responde e explica

Acredito na ética
Quero respeito e também ao meu igual
Mesmo se isso for para pedir
Um golpe de misericórdia no final

Estou consciente da minha monumental ignorância
E neste mundo não me encaixo
Sinto como se tudo que vejo fosse fantasia
Inclusive eu (nascido em tempo errado)

Sou tão culpado pelas tragédias humanas
Como o mais nefasto dirigente
Fraco e incapaz de alterar as demandas
Pela lama me arrasto triste e continente

Mas não me excluo também de ter alegrias
Principalmente quando junto dos que amo
Sei bem que é por sentimento nossa parceria
E a cumplicidade nos faz bem embora insanos

É por isso meu bom amigo
Que quero lhe presentear com a certeza
De que não foi por vontade própria que vim pelas costas
E com um taco de baseball lhe golpeei a cabeça

Um comentário:

Rui Gassen - Properes fires disse...

Os esquisitos,todos temos os mesmos direitos de existir dos não exquisitos, talvez até mais. pela coragem de mostrar ao mundo suas faces inconvencionais. Todos as tem, mas fazem de tudo para mante-las ocultas.
Me faz chafurdar na lama saber que sou da mesma espécie e que também em mim existem os mesmos instintos selvagem que irromperam nesta criatura,ironicamente, em um templo de Cultura e civilidade.
O ser humano me assombra!
Que o Jesus menino console a todos os que sofrem e aos que lutam e anseiam por uma nova era.
Abração.