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(para Henrique de Carvalho, jovem e inocente, em coma, agredido aleatoriamente na mais insólita das situações)
Você que não me conhece
Saiba que sou assim mesmo
Um sujeito meio esquisito
De difícil entendimento
Mas não é só seu o privilégio
Também a mim causo estranhamento
Então é melhor esclarecer logo alguns fatos
Para não engordar ilusões no seu pensamento
Não tenho fé
Não creio em sobrenatural
Força suprema acima do meu pé
Destino ou o escambau
Me tranquiliza pensar que a biologia
Resulta do sexo bom entre a física e a química
E a matemática como ideal analista
A tudo de alguma forma responde e explica
Acredito na ética
Quero respeito e também ao meu igual
Mesmo se isso for para pedir
Um golpe de misericórdia no final
Estou consciente da minha monumental ignorância
E neste mundo não me encaixo
Sinto como se tudo que vejo fosse fantasia
Inclusive eu (nascido em tempo errado)
Sou tão culpado pelas tragédias humanas
Como o mais nefasto dirigente
Fraco e incapaz de alterar as demandas
Pela lama me arrasto triste e continente
Mas não me excluo também de ter alegrias
Principalmente quando junto dos que amo
Sei bem que é por sentimento nossa parceria
E a cumplicidade nos faz bem embora insanos
É por isso meu bom amigo
Que quero lhe presentear com a certeza
De que não foi por vontade própria que vim pelas costas
E com um taco de baseball lhe golpeei a cabeça