31.1.17

Estrelas são buracos no céu


Pontos de luz que revelam existir
Por trás deste teto
Um outro universo
De luminosidade intensa
Abóbada ainda mais imensa
Aonde (as escrituras me disseram)
São de leite e mel rios e cachoeiras
E todas as virgens a que tenho direito
Me esperam nuas e serenas
Com muito vinho
E prazeres infinitos
Bastando para isso
Que eu cumpra com meu destino
E minha fé não esmoreça

30.1.17

O poeta


Não cansa de afirmar
Que nem tudo foi vivido
Daquilo que seus poemas
Insistem em expressar

Sentimentos inconvenientes
Que se impõe tenazmente
Não escolhendo momento
Não respeitando lugar

27.1.17

Percebo


Que tuas falas de recusa
Não passam de inocentes desculpas

Palavras ocas disparadas em rajadas
De uma metralhadora maluca

Ages assim sem saber, tentando não enxergar
Que embora essa história pareça de fato absurda

Todos sabem que amor não escolhe tempo ou lugar
Por isso é injusto que alguém deva arcar com qualquer culpa

Não se pode fugir de amar
Quando o amor te alcança, ele gruda

Se infiltra na carne daquele que ama
E na intimidade dita sentimentos, pensamentos e condutas

Só deixa a vítima após o último suspiro
Pois enquanto estiver vivo (contra seu domínio) é inútil a luta

26.1.17

Me rebaixaste à plebe


Sem acesso à monarquia
Assim que pela primeira vez
Te chamei de rainha

24.1.17

Viver um medo constante


Por ser terra num planeta que é quase só água
Medo de que a tolerância não prevaleça

E que o avanço inexorável das águas
Faça desaparecer toda a diferença

23.1.17

Fica


Não te vás ainda
É madrugada
Chove muito lá fora
Há perigo na estrada
E preciso de ti

Vai

Chegou tua hora
Estas satisfeito, agora some daqui
Não quero que me vejas assim
Não foi de ti que pari
Precisamos prosseguir

20.1.17

Ele tem um coração imenso


E se orgulha muito disso, faz tempo.
Nele parece caber tanto amor, tanto sentimento
Que chega a se confundir
E não saber qual é o foco desse amor extremo
E até mesmo se existe ao menos um objeto definido
Que o tenha tornado assim um ser tão abnegado e perdido

É capaz, que por pura obra do acaso
Num dia qualquer, na rua, sem ser avisado
Seja com ele defrontado
E mal repare na sua presença
Quando reconhecê-lo de imediato
É o que seria esperado

Que acabe por desejar-lhe um bom dia
Até que bem educado
E que siga em seu caminho inabalável
Mantendo o olhar direcionado
Para onde sempre fez questão de manter
Esse seu incorrigível coração alado: o espaço

19.1.17

Tempo e rio


Elementos tão diferentes
Comportamentos idênticos
Nunca param
Nunca voltam
Mudam sempre
Mas se mantém os mesmos
Rigorosamente

18.1.17

O que está escrito


É só o que está escrito

Se há ou não algo de verídico
A dúvida não tem como ser sanada

Mesmo que num esforço hercúleo
Aprofundes a interpretação do conteúdo
Ou examines com lupa as entrelinhas de cada capítulo

17.1.17

De que me serve guardar todos esses escritos?


Poemas datados
Gerados em momentos específicos
Palavras carregadas de sentimento
Que vão descolorindo com o do tempo
E aos poucos se esvaziando em sentido
Ficam até parecendo fantasia sem objetivo
Aberrações paridas do próprio umbigo

16.1.17

Não entendo


Por que insistes em ler minha poesia
Se ela não te toca
Nem parece te dizer respeito?
Poesia só tem serventia
Para quem consegue extrair dela
Algum sentido ou sentimento
E isso precisa fazer alguma diferença no teu dia

13.1.17

E pensar


Que nunca me perdoei por ter ido embora
Assim, de repente.

E que arrastei por tanto tempo
A culpa por nossa história não ter chegado ao presente.

E agora, nesse reencontro patético e comovente
Ficamos em nítido desconforto ao estarmos frente a frente.

Pareando nossas trajetórias
Construídas de forma independente

Às custas de vitórias e derrotas que lemos com facilidade
Nos vincos de nossas faces, hoje tão evidentes

Concluindo que nos tornamos pessoas boas
Mas funcionando com lógicas muito divergentes.

Nenhum impasse grave demais ou intransponível
Se é que concorda, nada excludente.

Contudo, precisaríamos de um tempo que não temos
E um trabalho imenso desde o semear das sementes.

Estamos convictos de que hoje
Temos em comum pouquíssimos interesses.

E entendemos que não vale a pena grandes esforços
Para se chegar a um resultado que pode não ser suficiente.

Porém o que mais intriga é saber
Que se tivessem sido outros os caminhos seríamos diferentes

Será? E o que nos importa isso agora?
Continuamos com nossas vidas, como sempre

E se não nos virmos mais não haverá conflito
Então está resolvido, sigamos em frente!

12.1.17

A recusa


É a morte antes do nascimento
O aceite
É a consagração do oferecimento

3.1.17

Se não for com amor


Não quero.
Se não for por amor
Agradeço
Mas tô saindo.
E por favor
Não se ofenda
Vou por outro caminho.

2.1.17

Não entendo por que roubaste o meu sentimento


E o manténs assim isolado de seus companheiros
Trancado num baú de pensamentos

Pensamentos bons, ruins, mas só pensamentos
Muita gente num espaço tão pequeno

Fica lá tudo junto e misturado
Contido num escuro e mal ventilado

Não bastasse esse martírio
A chave jogaste no fundo do lago

É muita mágoa, não acha?
Um castigo nitidamente exagerado

Sentimento exige cuidado, não pode ser abandonado
Precisa de ar e luz para se manter vívido e renovado

Se permanece muito tempo recluso e imobilizado
Enfraquece, estiola e cedo ou tarde morre sufocado

Pense na culpa com a qual terás que conviver
Se isso acontecer de fato!