Por pecados que não cometi
Deuses que não são meus
E leis que desconheço e não escrevi
Não serei profanador de ídolos
Ou herege em pele de cordeiro
Pronto para ser imolado
Na pedra de qualquer altar sagrado
Não me curvarei frente a cruzes carcomidas
pelo tempo
Carregadas ao longo dos séculos por inquisidores
boçais
Juízes armados com diagnósticos toscos
Proferidos por bocas podres
Sob o efeito alucinógeno de seus credos loucos
Sacerdotes ensandecidos que viram noites
Amolecendo o couro dos chicotes no próprio corpo
Ao encontro do inferno
Auto-flagelo, êxtase
doloroso
Repetindo suas ladainhas cíclicas, infinitas
Assentados em genuflexórios forrados de pregos
Até que a exaustão e a inconsciência os receba
Cultivam as delícias de suas chagas purulentas
Alimentando-as com a sujeira das unhas
Para depois exibirem-nas com orgulho
Monstruosas esculturas de cicatrizes
Vestes de virtudes feitas de carne
Chancelas da barbárie que pensam lhes garantir direitos
Em identificar e eliminar os males da humanidade
Bebem o sangue dos inocentes
Pervertidos que sufocam seus medos e instintos
Incinerando a libido das bruxas em praça pública
Mutilando com a lâmina afiada dos dogmas e ritos
Seus caralhos tesos insurgentes, subversivos
Antes que o gozo lambuze seus espíritos
Liquefaça suas mentes
Impreça-os de condenar
Os destitua do púlpito e os condene
Necessitam resgatar o mito da virgem que pariu
Em bocetas já devidamente comidas
Como se pelo cu também não se pudesse gerar vidas
Usam um discurso obtuso e cego
Da obediência incondicional
A um divino misterioso, desconhecido
Que confunde amor com ódio
Que a todos trata como putas vadias
Revelando-se cruel e vingativo
Onipotente construído a partir de leituras
tendenciosas
De textos caducos, emendados, mal traduzidos
Distorcidos e de intenções mais que duvidosas