9.4.15

Quando eu me for de vez



Quero meus braços estendidos
E o corpo nu
Envolto num lençol branco de linho

Não quero caixão, velório
Velas ou incensórios
Que o ambiente de transição seja digno e tranquilo

Que em minha cremação
Circundado por meus queridos
Choros nem lamentos sejam ouvidos

Que todos bebam vinho
Que haja música e que dancem
Celebrem a vida e riam

Que discutam e tenham a certeza
De que tive meus bons e maus momentos
De que fiz o que pude e pode ser feito

E que parto deixando este planeta
Acreditando nos que virão
Obedecendo as leis da natureza

Que minhas cinzas sejam enterradas
E sobre elas plantadas uma parreira
E um canteiro de perfumadas gardênias

Uma lápide discreta
Com um pequeno epitáfio
Sem descrição ou relato

Em que conste apenas
Meu nome e as datas
De minha chegada e partida

E para caracterizar um pouco
Como gostaria de ser lembrado
Somente uma palavra: Poeta

Termo que quando pronuncio
Me ruboriza e causa arrepio
Pela ousadia do autoelogio

Ao mesmo tempo
Que me invadem
Um orgulho e prazer desmesurado

É assim que quero me sentir
Se ainda houver o que se sentir
Quando deixarem de existir
Tempo e espaço

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