Quero meus braços estendidos
E o corpo nu
Envolto num lençol branco de linho
Não quero caixão, velório
Velas ou incensórios
Que o ambiente de transição seja digno e
tranquilo
Que em minha cremação
Circundado por
meus queridos
Choros nem lamentos sejam ouvidos
Que todos bebam vinho
Que haja música e que dancem
Celebrem a vida e riam
Que discutam e tenham a certeza
De que tive meus bons e maus momentos
De que fiz o que pude e pode ser feito
E que parto deixando este planeta
Acreditando nos que virão
Obedecendo as leis da natureza
Que minhas cinzas sejam enterradas
E sobre elas plantadas uma
parreira
E um canteiro de perfumadas gardênias
Uma lápide discreta
Com um pequeno epitáfio
Sem descrição ou relato
Em que conste apenas
Meu nome e as datas
De minha chegada e partida
E para caracterizar um pouco
Como gostaria de ser lembrado
Somente uma palavra: Poeta
Termo que quando pronuncio
Me ruboriza e causa arrepio
Pela ousadia do autoelogio
Ao mesmo tempo
Que me invadem
Um orgulho e prazer desmesurado
É assim que quero me sentir
Se ainda houver o que se sentir
Quando deixarem de existir
Tempo e espaço