30.4.15

"Lágrimas são água"



Elemento palavra
Molécula básica
Ganham ainda mais sentido
Quando agrupadas

Turbilhão de lágrimas
São rios de palavras
Frases caudalosas
Várzeas enxarcadas

Nuvens carregadas
Se desmancham em lágrimas
Gêiseres avalanches degelos
Lagos e oceanos preenchidos inteiros

Compêndios imensos
Desertos viram jardins edênicos
Destruições
Imprevisíveis alagamentos

Toda a água do mundo
Biblioteca de sentimentos
Lágrimas em tudo que somos
Reserva maior do conhecimento

29.4.15

Lágrimas em meus olhos



Não são fáceis de se ver
Agora peço sua licença

Ainda tenho
Alguns mares para encher

28.4.15

O mundo não parou de girar só porque decidiste ficar



O sol não deixaria de sair
Se resolvesses partir

Lágrimas seriam verdades
Melhorariam a terra

E choveria e choveria
E choveria e choveria

Sementes esquecidas
Plantadas durante toda uma vida

Finalmente sentiriam confiança
E brotariam e brotariam

Renovariam toda a paisagem
Mudariam luzes e cores

E o encantamento das horas
E o andamento dos dias

27.4.15

Quebrei o decoro quando voltei a te procurar



A despertar tuas vontades
Atrevendo-me a novamente te tocar

Reavivar memórias
Inevitavelmente fazer-te chorar

Fui egoísta
Sabia que estavas frágil e desprotegida

Aprofundei tua respiração
Acelerei teu coração

E com a razão comprometida
Fiz contigo tudo o que precisei e queria

Esperei que desfalecida adormecesses
E na madrugada me retirei sem deixar pistas

Que força é essa que determina nossas ações
E não nos permite aprender com os erros desta vida?

24.4.15

Como não consegues falar



Tenta ao menos teus demônios expulsar
Colocando-te a beira de um abismo
Esgoelando-te em gritar
Até que voltes a te acalmar

Assim conseguirás ao menos escrever
E com mais clareza tentar ver
Se aquele que te maltratou
Ainda tem para ti tanta importância assim

Ou se hoje não passa de uma fantasia pegajosa e vazia
Um maço de cartas com letras miúdas e borradas
Por lágrimas inutilmente derramadas
Ilegíveis e sem qualquer serventia

23.4.15

O sorriso que tinhas enquanto dormias



Me causou inveja
Foi ficando mais lindo
Com a chegada do dia

Queria estar dentro
Participar do mistério
Do sonho bom
Que naquele momento vivias

Pena que ao despertar
Nada lembraste para me contar
Não pudeste evitar que te deixassem
As imagens fluidas
E as ideias fugidias

Quero pensar que o fato
De estarmos assim abraçados
Tenha sido responsável
Por fazê-la sonhar algo agradável
Numa noite sem lua
E madrugada tão fria

22.4.15

Um pouco mais de amor



Era só isso que ela queria
Mas como aquele
A quem tanto desejou
Simplesmente se esqueceu
Do compromisso que tinha
Ela não esperou
Nem mesmo se lamentou
Comprou um sorvete
Dobrou a primeira esquina
E sem olhar para trás
Pra evitar arrependimento
Retornou correndo
Para a sua antiga vida

20.4.15

Por mais vezes que tenham rompido



Que tenham sofrido
Buscado novos caminhos

Por mais que se tenham dito:
Está tudo acabado!

Não conseguiram exorcizar o passado
Ele insiste em se manter intacto

Agora mesmo o vejo aí sentado
Está entre vocês com os braços cruzados

Remontou os caquinhos
Requerendo seus direitos

Conferiu documentos
Recusa-se a ser deixado de lado

Não quer ser apenas uma mansa lembrança
Não negocia nesses termos

Exige ser reconhecido como amor verdadeiro
Elemento raro

Não aceita nada menos que o reconhecimento
De que na vida de ambos foi o acontecimento mais estupendo

16.4.15

Quando se está louco de paixão



Não importa o que te digam
Demonstrações matemáticas são inúteis
Silogismos não se aplicam

Nada te fará mudar de opinião
A razão do mundo é só a tua razão

Aquilo que sentes lá no íntimo
É tudo e basta para que tua vida faça sentido

Olhos míopes enxergando apenas o próprio umbigo
Ouvidos moucos blindados por um colossal zumbido

15.4.15

Um jardineiro dedicado



Profissional abnegado
Que só cultiva jasmins
Precisa romper com esta obsessão
Arar mais canteiros em seu coração
E a outros amores se permitir

Pois se não tiver novas espécies para cuidar
Quando um dia o objeto de sua veneração
Deixar de dar flores e aromas não mais exalar
Num imenso vazio poderá cair
E se o fôlego lhe faltar
Vir a sucumbir

14.4.15

O amor não é um livro



Que se editado
Mesmo esgotado e raro
Com alguma insistência
Ainda pode ser encontrado
Por isso cuidado com o que vais me emprestar
Pois corres o risco de eu gostar
Me apossar, esconder
Não querer devolver
E que nunca mais consigas o teu bem recuperar

13.4.15

Tínhamos um bom solo



Não nos faltou água
Não nos faltou alimento
Braços dispostos e clima ameno

Nos gostávamos tanto
E mesmo assim
Nossos esforços se perderam

As rosas que plantamos
Chegaram a botões
Mas secaram antes do tempo

E como é triste observar
Detalhes de um amor que mal floresceu
E sem desabrochar morreu

Aonde foi que erramos?
Ao certo não sabemos
E acho que jamais saberemos

10.4.15

Espectral criatura


Até há poucos séculos
Para voltares à minha cama
Um mero convite te bastaria

Mas mudaram os mandamentos
Os sem reflexo agora devem pedir
E mesmo assim
Ainda não sei se te permitiria

Porém, desalmado ser, se de joelhos suplicares
E for sincero o teu sofrer
Reconsideraria tudo que em frente da cruz prometi
E para junto de mim neste exato momento te puxaria

9.4.15

Quando eu me for de vez



Quero meus braços estendidos
E o corpo nu
Envolto num lençol branco de linho

Não quero caixão, velório
Velas ou incensórios
Que o ambiente de transição seja digno e tranquilo

Que em minha cremação
Circundado por meus queridos
Choros nem lamentos sejam ouvidos

Que todos bebam vinho
Que haja música e que dancem
Celebrem a vida e riam

Que discutam e tenham a certeza
De que tive meus bons e maus momentos
De que fiz o que pude e pode ser feito

E que parto deixando este planeta
Acreditando nos que virão
Obedecendo as leis da natureza

Que minhas cinzas sejam enterradas
E sobre elas plantadas uma parreira
E um canteiro de perfumadas gardênias

Uma lápide discreta
Com um pequeno epitáfio
Sem descrição ou relato

Em que conste apenas
Meu nome e as datas
De minha chegada e partida

E para caracterizar um pouco
Como gostaria de ser lembrado
Somente uma palavra: Poeta

Termo que quando pronuncio
Me ruboriza e causa arrepio
Pela ousadia do autoelogio

Ao mesmo tempo
Que me invadem
Um orgulho e prazer desmesurado

É assim que quero me sentir
Se ainda houver o que se sentir
Quando deixarem de existir
Tempo e espaço

8.4.15

Ainda que hoje a perda



Possa parecer irreparável
Nem tudo precisa terminar
De forma tão implacável
Neste caso um tantinho complicado

Pois mesmo uma paixão
Que chega ao fim
Pode deixar um saldo viável
Depois que passa o tornado

Menos peso sobre os ombros
Menos desespero encarnado
Menos asfixia no silêncio
Menos comportamento alucinado

Menos preocupação permanente
Menos o olhar encarcerado
Menos anestesia na crítica
Menos o pensamento obcecado

Pode até mesmo abrir espaço
Para que algo mais leve
Com o tempo se revele
Uma verdadeira amizade

Nunca conseguida
Trilhando caminhos menos suaves
E que não seja limitada
Por um prazo de validade

7.4.15

Agnus dei



Clitóris
Pecata mundi

6.4.15

Não tem jeito



Queimo meus dedos
Ao apagar a vela
Quando termina a oração

E fico para trancar
As portas do templo
Depois que todos se vão

2.4.15

A menos que te conte



O sonho que sonhou
O teu amor
Não tens como saber

Sonho
É de quem sonha
Ninguém mais pode ver

Mesmo quem sonhou o sonho sonhado
Pode ter o acesso prejudicado
E às vezes ficar sem entender

Aí ele acaba em algum lugar guardado
E de tê-lo sonhado
O sonhador começa a não mais crer

1.4.15

Ouço que me chamas



Tento te localizar na distância
E fico triste

Meu olhar não mais te alcança
E o grito me fica preso na garganta

Por que querer chegar a um lugar
Que há tanto tempo não existe?

Cicatrizarão um dia as feridas?
Para sempre ecoarão lembranças?