2.3.15

Não toco violão



Ou qualquer outro instrumento
Meus cabelos estão curtos e raros
O colorido deu lugar ao prateado
E não balançam mais ao vento

O furo de minha orelha esquerda
Por falta de uso
Quando se fechou?
Já nem me lembro

A visão ofuscada e embaçada
Exige uma acomodação forçada
E o braço já curto para me clarear um texto
Precisa de um sem número de lentes como complemento

Mas não é assim que me vejo
Me sinto ainda um garoto por dentro
Capaz de ganhar o mundo voando sem asas
Apenas com a força do pensamento

Só acredito nos efeitos do tempo
Ao sentir as dores que pela manhã
Na cama me invadem o corpo inteiro
E logo em seguida ao encarar a realidade do espelho

Mas quem mais sofre é o discernimento
Em saber que a vida transcorre
E inexorável não dará meia volta
Para refazer o que ficou mal feito

Que não terá outra chance
De ler tudo o que guardou na estante
Esperando por décadas
Para atacar o livro certo no melhor momento

E ao abrir a gaveta
Ser invadido por uma infinita tristeza
Por não mais reconhecer o que julgava intacto
Fotos comidas por traças e em franco amarelecimento

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