29.8.14

“Quem já passou por esta vida e não viveu”



Escultor que apesar do talento
Não consegue a contento
Sua obra realizar

Ainda que tenha nas mãos
A madeira da mais alta nobreza
E as ferramentas para poder trabalhar

Se não conseguir chegar
No que o bloco esconde
Sozinha a escultura não nascerá

Só o artista é capaz
E o único a saber
Como tirá-la de lá

28.8.14

É preciso estabelecer as bases



Do que se quer ser
Para saber que tipo de encontro
É possível ter

Se ambos forem Meridianos
Apesar de terem para si todo o globo
Percorrerão terras e oceanos
Mas só se verão em pontos extremos
Em condições de muito frio e gelo

Se optarem por serem Paralelos
Vão se manter para sempre lado a lado
Sem jamais se tocarem
Pois para este tipo de traçado
Na superfície da esfera
O círculo se fecha sem desvios
Cruzamentos ou atalhos

Talvez o melhor é que sejam
Paralelo um e Meridiano o outro
Pois embora o contato fique restrito
A apenas um ponto
Ele poderá ocorrer em condições mais amenas
Sob o sol dos trópicos
Ou no frescor das regiões temperadas
E assim aproveitarão com maior conforto
A companhia um do outro

27.8.14

Amor



Canto
E melodia

Sexo

Dança
E harmonia

Sincronizados
No ritmo

Afinados
No compasso

Arranjo
Delicado

Tudo poesia

26.8.14

É necessário rever



De quando em vez
A visão da perfeição

Que em minha memória
Nunca se desfez

Momentos raros
Instantes à meia luz

Em que o rosto
De beleza única

É puro encantamento
A atmosfera só silêncio

E o amor revela no olhar
Tranquilidade

Por estar vivo
Felicidade

E apenas por estar junto
Agradecimento

25.8.14

Se um dia quiseres voltar a trafegar por estes lados do globo



Não precisarás te indispor
Com o teu entorno

Nem te colocares em risco
Ou a qualquer outro

Não pises no freio
Sem antes olhares no espelho

Mantenhas a velocidade
E evites o acostamento

Sigas pelo mesmo sentido
Até o próximo retorno

Aciones a seta
Faças com calma o contorno

Relaxes na direção
E só aí aceleres com determinação

Manterei aberto o portão
Para que estaciones sem ser anunciada

Estarei à tua espera
Pois neste meu mundo ainda garanto a tua vaga

22.8.14

O amor



É aquele último tubo de pasta de dente
Que pela manhã
Ainda com uma névoa na mente
A gente espreme, espreme

E se recusa a acreditar
Que justamente no instante
De maior necessidade
É que ela decide acabar

21.8.14

Vou-me embora pra Mangueira



Não é a Pasárgada de Bandeira

Mas outro poeta cantou
E eu acreditei

Ao menos lá:
“...sei que alguém há de chorar
Quando eu morrer...”

20.8.14

Te quero



Tanto no território das verdades
Quanto no da poesia
Corpo e espírito
Numa só sintonia

No das verdades
Moldo tua anatomia na minha
Enchendo as mãos
Com tuas carnes fartas e magníficas

Repletando minhas papilas na tua pele macia
Ou quando me sopras na boca
Um hálito despudorado e quente
E eu voluntariamente possa cair nas tuas armadilhas

E assim seguimos a cartilha
Em que macho e fêmea em sincronia
Respeitam os mandamentos do corpo
Atendendo necessidades recíprocas

Conjunção para o amor e o prazer
Descoberta de nossas naturezas
Combustível para um pleno viver
Fonte de encantamento e beleza

No território da poesia
Te visto e desvisto a fantasia
Galopamos velozes pela enevoada campina
Em busca do pote de ouro no fim da trilha

Astronautas conduzindo a nave
Orbitando as verdades numa distância segura
Com poderes para enxergar nas sombras
Sem choques com a realidade

Dimensões especulares e harmônicas
Próximas e indissociáveis
Essenciais em nossas vidas
Ligadas porém autônomas

19.8.14

No rio do teu corpo



Só existem curvas
Nada é torto
Da nascente à foz
Acham-se trechos de difícil navegação
Que exigem maestria do comandante
E até mudanças na embarcação

Trechos largos e estreitos
Que em alguns momentos
Impõem uma distância excessiva
Entre nossos mundos
Para logo em seguida
Nos aproximar os sentimentos

Trechos rasos e profundos
Que mudam de águas cristalinas
Para muito escuras sem que esperemos
Requerendo atenção e calma
E tripulação treinada dando garantias
De uma travessia segura em teu curso

Rio de infinita riqueza
E insondáveis surpresas
Que me completa e realiza
Estando no timão
Ou apenas como passageiro
Apreciando a vista

18.8.14

Quatro metros quadrados de puro encantamento



Espaço que conhece mais do que ninguém
A poesia de um amor antigo

Leito transformado em tapete mágico
Que voa livre sobre outros domínios

Passageiros que carregam mãos cheias segredos
Que quando lançados no ar alteram os sentidos

Transformando-se em estrelas coloridas
Iluminando o horizonte e aumentando os desejos

Veículo que insiste em seguir o rastro da lua
Driblando toda sorte de tormentos

Voo ditado pelo instinto
Travessia segura e sem instrumentos

Garantia um pouso tranquilo
Depois de cumprido o roteiro

15.8.14

Aonde é que isso vai parar?



Quantos poemas de amor
Sobre nós dois
Minha gaveta ainda vai despejar?

Cascata incontrolável
Que não para de jorrar

Eles escorrem
Inundam os sentidos

Eles encharcam
Afogam a dor

Ocupam todo o quarto
E saturam a atmosfera estéril
Com os perfumes mais finos e complexos

14.8.14

Esta é a minha hora de calar



Diante da impossibilidade
De me fazer ouvir
Nem mesmo adiantaria gritar

13.8.14

Pra você me preparei



Me perfumei
Me vesti

Fiz sozinho o jantar
E à meia luz te esperei

A sombra do castiçal
Marcava na mesa

Dois territórios
Seguros e distintos

As borbulhas da taça
Eram minhas palavras

Trafegando nervosas
No branco da toalha

Mas nem mesmo assim
Consegui ter sua atenção

Você passou
E não me viu

Fechou a porta
Atrás de si

E sem dizer nada
Partiu

Jamais saberei
Se pra você eu morri

Se para sempre
A mágoa há de persistir

Ou se algum dia
No seu coração

Um espaço pra mim
De fato existiu

12.8.14

Não se mata um amor



Apenas por enterrá-lo vivo
Ainda que esteja carregado de defeitos
Claudicante ou ferido

Não poderá ser morto
Nem mesmo se for esganado
Ou abatido por um tiro

Só se esgotará quando desistir de tudo
E o veneno da decepção
For voluntariamente ingerido

11.8.14

Na plataforma



Dias inteiros
Sem saber

Noites adentro
Sem acontecer

É preciso aceitar
É preciso entender

O trem
Não veio

O trem
Não vem

8.8.14

Manhã de frio e garoa



No silêncio do inverno
O escuro se alonga
Os pássaros esticam o sono
A primavera ainda é sonho

Deixar a cama
Resistindo a tentação de voltar
Água fresca no rosto
O jornal explode na varanda

O cheiro bom do café
Se espalha por toda casa
A torradeira expulsa o pão
O leite ferve no fogão

Tudo fresco e quentinho
Olhares saudosos
Sentimento selado
Comentários de duplo sentido

A brisa na janela do carro
Estimula os instintos
O rádio a esta hora
Ainda respeita os ouvidos

Bendita rotina
Que me mantém no caminho
Para mais um dia
Sigo tranquilo

7.8.14

Acenda as luzes



Desfaça a miragem
E aponte o caminho
Para que consiga chegar
O esgotado andarilho

Pássaro fugido de muitos ninhos
Que mesmo sem estar arrependido
Hoje com a asa quebrada
Se vê carente de abrigo

Dispense a guarda
Desça a ponte
Abra os portões
E receba-o sem mágoas

É preciso baixar-lhe a febre
E tratar de suas feridas
Ele já não tem mais forças
Para continuar peregrino

6.8.14

Olhos lanceolados



Sabes que podes me atingir
A qualquer distância
Tua precisão sempre foi invejável

Olhos dissimulados

Basta um simples gesto
E já estou ao teu lado

Olhos enigmáticos

Nunca fico seguro com o que trazes
Quando chegas de súbito
Sem que eu esteja preparado

Olhos invasivos

Qualquer blindagem é inútil
Sempre estarei nu em teu abrigo

Olhos inquisitivos

Meus segredos estão num diário
Basta seguir o algorítimo
É menos complicado que preparar um prato

Olhos evasivos

Teus enigmas estão codificados
Num idioma que ainda não domino

Olhos profundos

Continuarei a te buscar
Não importa em que lugar
Em que mundo

5.8.14

Deusa dos meus dias



O vento que te procura
Te encontra desprevenida
E se despeja sobre ti ao dobrar a rua

Surpreende quem presencia a cena
Pois te acaricia com mãos invisíveis
E o cuidado só dedicado às rainhas

Tem a sutileza de um anjo
E a abrangência do oceano
Quando abraça uma ilha

Expõe sugestivos detalhes
Com discrição quase pudica
De alguns elementos que adoro em tua anatomia

Com o bom gosto de um artista
Afasta as mechas do teu pescoço
Cortinas que se abrem para um cenário glorioso

Palco iluminado
Nuca enxuta e altiva
De pele muito delicada e macia

E movendo as folhas de uma palmeira
Numa brisa morna de maresia
Agita e levanta tua saia rodada

Descobrindo os tesouros
Que escondes acima das panturrilhas
Colunas gregas esculpidas com maestria

Coxas que sustentam uma anca magnífica
Composição de harmonia perfeita
Do mais inspirador exemplar da natureza feminina

Oh, vento, inestimável parceiro
O que me fazes ver dispara o coração
E o fluxo dos pensamentos

Revolves minhas memórias
Agregando volume aos sentimentos
E abastecendo os meus desejos

Acrescentas novas e divinais imagens
Que tiram meu sossego
Despertam calores e carecem de arrefecimento

E quando por fim o tempo e a distância
Não me permitirem mais o privilégio do toque
E além disso me negarem a visão do espetáculo

Terei que ser forte
Revisitar o roteiro nos momentos de dor
Para manter acesa a chama

E tentar convencer a mim mesmo
Que mesmo sem ti
A vida ainda valerá a pena

4.8.14

É difícil acomodar



Num só coração
Tudo o que quero abrigar

Portas e janelas
Já não fecham mais

E ainda há muito sentimento
Precisando entrar

Dói saber
Que a chuva, o vento e o frio

Maltratarão as partes expostas
Deste amor

E que não encontrarão
Em mim, um lar

1.8.14

Olhos tristes



Não desistas do amor
Só pelo que ele te disse
Estava perdido e errou
Quis livrar-te da dor

Olhos molhados

Não desistas da vida
Só pelo que ele te fez no passado
Quis te resguardar
Não sabia do risco em magoar

Olhos ausentes

Não desistas daquele inconsequente
Que erra por agir sem pensar
Sempre te quis
Nunca deixou de te amar