E incontáveis
tormentas enfrentar
Escrevi um longo
lamento
Coloquei-o numa garrafa
e atire-a ao mar
Pois terras novas não
descobri
Fui obrigado a desistir
E de onde parti
Cabisbaixo tive que
retornar
As correntes fizeram-na
viajar
Por caminhos que minha
imaginação
Jamais conseguirá
alcançar
E foi o próprio oceano
Por maldade ou engano
Que a trouxe em minhas
mãos
Anos depois já em meu
antigo lar
A rolha não tinha sido
violada
Nem lida a carta
E mesmo após tanta
água
O interior do frasco
ainda seco
Mantinha o papel
dobrado e intacto
Como no exato momento
Em que ali foi colocado
Lembrei-me do desespero
Que explodia em meu
peito
Antes do arrolhamento
Não tive coragem de
reviver os fatos
E sentir novamente as
dores
Daquela história de
amor
Que acabou em fracasso
Foi então que subi
numa pedra
No alto de um penhasco
E na arrebentação
furiosa
Lancei longe aquela
lembrança pesarosa
Pedindo ao elemento que
por tanto tempo
Abrigou-a em seu seio
Que a recebesse de
volta
Que a levasse outra vez
planeta afora
Para mais uma viagem
E se um dia por ventura
voltasse
A encalhar em minha
baia
Eu nesta praia não
mais moraria
E após ser lida e
contada por outro a história
Poderia finalmente
dissipar contidas mágoas de outrora