20.12.13

Fico tranquilo



Em ser você
Que de mim se incumbe

Sei que é do tipo
Que nunca promete
Mas sempre cumpre

19.12.13

O que queria como presente para hoje?



Só queria mais tempo
Tempo que fosse suficiente
Um prolongamento do hoje no presente

Ao menos até que as possibilidades
Enquanto ainda vestidas de vontades
Não se esgotassem novamente

Ou até que o tempo do presente
Independente de quanto dure no hoje
Seja para sempre

18.12.13

Encontro o meu amor



Na esquina de um dia
Sentado na guia
Chorando

Pensando na vida
No que ela lhe deu
E o que lhe devia

Sem respostas conseguir
Sai andando
Mesmo sem saber para onde ir

Chamo em alta voz
Faz que não escuta
Continua

Corro e estendo a mão
Recusa
Prefere a rua

Ofereço o ombro
Declina
Não quer meu conforto

Aborda na estrada
Qualquer estranho que passa
Sempre com a mesma pergunta

Mas ninguém ouve a ladainha
E acaba tendo como companhia
Apenas sua sombra

17.12.13

Amor



Iceberg potente e ameaçador
Frágil fortaleza
Viajante perdido em águas tropicais

Inocente visão
Sem que o que está por baixo
Se possa imaginar a dimensão

Volume imenso
Compacto como o mais duro rochedo
Mas não é indiferente ao tempo

Inexorável e lento derretimento
Terminando como um mero líquido
Desfigurado num oceano morno e inespecífico

16.12.13

Talvez



Eu pudesse ser mais feliz
Se na vida
Tivesse menos certezas
Nas coisas que fiz

13.12.13

Se sentimento é algo maior que a razão



Por que alguém deveria se conformar
Já desde o primeiro não?

O poetaliado



Este estranho segmento do operariado
Em sua árdua artesania
Que usa a palavra como matéria prima
Tem uma parcela de mérito
E responsabilidade
Na construção de um povo
E de sua identidade

12.12.13

No dia em que você nasceu



Eu não conseguia parar de chorar
Era muita felicidade e medo
Tudo na vida me acontecia ao mesmo tempo

Temia pelo que viria
E se de um serzinho tão indefeso
Eu conseguiria cuidar

Sabia
Que nem a mim mesmo
Era suficientemente atendo

Mas hoje
Depois de tantas alegrias que me deu
E ainda me dá

E apesar das mudanças que sua presença
Em mim promoveu
Continuo sendo o mesmo bobo

Mas diferente dos antigos sentimentos
O medo passou
Só a felicidade ficou para me fazer chorar

Apesar do tempo



E de tantos territórios explorados
Quando se tem apenas o céu para observar
Volta a vontade de viajar
E a certeza de que nem todos os caminhos
Foram trilhados

11.12.13

Minhas mãos



Que até há pouco navegavam altivas
As ondas mornas do teu corpo

Agora perdidas
Só encontram a calma fria dos lençóis

E buscam neste oceano
Quase todo branco

As ilhas que por toda a noite
O amor mapeou

10.12.13

De um lado da cama



A natureza dorme
Do outro
Sofre
E clama

9.12.13

O caminho do paraiso é cercado de aromas e cores


 
Hortênsias improváveis
Tulipas empertigadas
Gardênias imaculadas

Céu em que os anjos são convidados
A celebrar a felicidade eterna
À meia luz e numa atmosfera enevoada

Corações amolecidos
Pouso solicitado e consentido
Mentes serenas e já previamente inebriadas

6.12.13

Dia que vem



Sem a noite acabar
Hora de partir
Desejo de voltar

5.12.13

Tocar-te é uma arte



Adorável aprendizado
Lento e diário

Talento que só frutificou
Pois com muito amor foi regado

Sem este elemento teria sede
Não vingaria

Mesmo que por ventura
Em mim fosse inato

4.12.13

Um silêncio



Que às vezes vem
Invade sem revelar nem mesmo o nome
Me faz escoar sentimentos
Sangue que não coagula
Pouco a pouco me consome

Silêncio que não aceita não como resposta
Fugido de casa sem ter razão
Parasita infame e sem noção
Criança que cai na vida
Como quem banca uma aposta

Temo por este louco silêncio
Pelo que carrega nas mãos
Quando chega galopando o tempo
Soltando faíscas pelos olhos
E um vazio enorme no coração

3.12.13

Minhas orelhas de asno



Conforme crescem
Esvaziam-me o espírito
Que aos poucos perece
Quase sem ser percebido

Por favor, dê-me uma tesoura
É preciso intervir
Não se pode permitir
Que assim se perca uma pessoa

2.12.13

Contra certas enfermidades



Vale a pena recusar tratamento

Para alguns males de amor
Melhor é não evitar o adoecimento