27.9.13

Mesmo um relacionamento perfeito



Não garante o direito
A toda liberdade

E ao trânsito pleno
Por todos os compartimentos

Dos seres que se rendem
E se entregam por inteiro

Quando embarcam cegamente
Num amor de verdade

26.9.13

Todo mundo tem



Lá no fundo
Um atributo que o torna único

Uma coisa boa
Que é só sua e o faz especial

Algo que lhe dá o direito
De que (pelo menos nisso) o seu lugar ideal

Não seja ao pé da cruz
Mas sim sobre o pedestal

25.9.13

Sugiro que resolvas logo



As demandas que te paralisam
E são fontes de tanto sofrimento

Ocupam todo o corpo
Brotam de teus poros

Escorrem por tua pele
Espalham-se pelo entorno

Liquefazem conceitos
Diluem convicções

E os sentimentos
Como antigas fotografias

Aos poucos
Vão amarelecendo

24.9.13

Ao partires



Pintas meus olhos de vermelho
Vestes meu sorriso de vazio
E um sangue negro
Logo brota do ferimento
Que tua adaga me cava no peito

23.9.13

Aviso-te



Para que desde o início me entendas
Sou nômade por natureza
E não é este o fim do meu caminho
Fui entalhado em tempestades de areia

Abasteço aqui o meu cantil
Tiro as sandálias
E recupero as forças
Descansando à sombra das palmeiras

Estou neste reino de passagem
E me sinto divido
Ao ouvir todo o tempo
O deserto ordenando que eu siga em viagem

Quando me convidas
Para conhecer o teu corpo
Me delicio com o banquete e me espanto
Pois não me vejo como visita

Demoro-me mais neste oásis
Armo nele minha tenda
Sou um pequeno cometa num céu imenso
Vendo sucederem-se luas e estrelas

20.9.13

Por favor



Em nome do nosso amor
Não me ocultes a verdade
Já procurei por toda parte

Liberta-te desta obsessão
Pare de fingir
Preciso ir

A vida tem que continuar
Desamarre minhas mãos
Aceite ao menos desta vez um não

Sejas razoável
Assim só me chateias
Aonde escondeu minhas meias?

Largue do meu pescoço
Preciso respirar
Se me matas agora como poderei voltar?

Já revirei todo o quarto
Sejamos sensatos
Aonde estão meus sapatos?

19.9.13

Quando se tem um querer



Uma voz
E um algo a dizer

É muito bom saber
Que aquilo que é dito

Para um outro alguém
Também faz algum sentido

Assim não nos sentimos tão sós
Não nos vemos como seres tão esquisitos

18.9.13

Um mínimo erro no tempero



Será percebido a tempo
Mesmo que estejas distraída

Mas não há como desprezar o momento
Será preciso engolir a comida

Não se pode recusar alimento
É o que nos mantém a vida

17.9.13

Minha ferida



Dói
Mesmo se assoprada

Sangra
Mesmo se não for tocada

Não se curva ao bom senso
Não tem como ser ignorada

16.9.13

Com a força



De quem se agarra a um galho
Na beira do abismo
Aperto a lâmina desembainhada da faca
E um espesso tapete se estende em meu leito

Me deito
E me lambuzo neste caldo viscoso

Me sento
E de vermelho cubro também o rosto

Preciso saber
O quanto de vida me resta aqui dentro
E se o que me preenche é o bastante
Para vestir por inteiro o que vejo no espelho

13.9.13

Privilegiado



É quem sente saudade

Se comparado
Àquele que traz no peito
Um coração vazio

Está em vantagem

12.9.13

Quer saber



Esta tal redenção pelo trabalho
É um saco

11.9.13

Lamento



Os poemas concebidos em sonhos
Quase mágicos de tão delicados

Acho triste perdê-los
Por não terem sido anotados assim que acordado

Lamento

Os poemas lembrados
Já à luz da razão matutina rascunhados

Deixam assim de parecer tão perfeitos
Têm até mesmo uma qualidade duvidável

10.9.13

O Não



É que nos põe nus
O Sim não

Preciso saber
Se há sim no Não

E quando o Sim
De fato é Não

9.9.13

O que foi sonho



Não foi vivido
É fato
Não duvido
Mas está registrado

Pertence a mim
É parte do que sou
Foi arquivado
Junto a outros guardados

Não pode ser apagado
Nem por mim
Nem por ninguém
Assunto encerrado

6.9.13

O beijo que me fez dormir



Não foi o que me acordou à seguir

Alta madrugada
Senti frio

Cheguei ainda mais perto
E outra vez
Desisti de desistir

5.9.13

Não era para ter



Tanta intensidade
Não era para ser
Tão intenso
Nesta idade

4.9.13

Preciso espalhar mais espelhos pela casa



Para que lembre de mim mesmo ao longo do dia
E possa permanecer assim firme
Com a mente clareada pela luz matutina
Tendo como certo o rumo escolhido para toda a vida

3.9.13

Preciso tirar todos os espelhos de casa



Colocá-los para passear um pouco
Clarear suas mentes

Não sei o que acontece
Andam chorando demais ultimamente

2.9.13

Há uma coisa



Que preciso saber

Quem tem mais chance
De primeiro desaparecer

Eu
A lua
Ou você?