28.2.13

Não te impressiones tanto



Com meus rituais de éter
Enxofre e cinzas

Ainda não te contei
É que sou meio alquimista

Jamais chegarei ao ouro
Bem sei

Mas é neste fogo
Alimentado e louco

Que faço crescer o amor
Razão desta minha volátil vida

27.2.13

2h50



Acordo de um sonho
Desejoso com tua lembrança
Irritado com tua ausência
Odiosa
Adorada
Inadiável urgência
Que altera meu corpo
Rouba meu sono
E reclama tua presença

3h50

Permaneço acordado
Levanto inconformado
Bebo água ainda no quarto
E decido por um banho frio
É preciso acalmar este animal febril
Em mim instalado
Afinal
Daqui a pouco será dia
E estarei no trabalho

26.2.13

Foi quando me disseste:



Sei dos meus erros
E das bobagens que fiz

Quero que me aceites de volta
Nesta casa que é nossa

Em outras paisagens
Não há como ser feliz

Nunca existiram dúvidas
Meu lugar é aqui

25.2.13

A poesia falha


Quando ilustra
Detalha
Mas não concretiza

Por mais que tente
Não alcança
A verdade úmida
De uma lágrima fria
Que escorre
Na face do amante
No momento da despedida

22.2.13

Bateste em minha porta



E mais uma vez
Meu mundo
Só pra te receber
Parou de girar

Mas mesmo abraçados
Pude perceber
Que teu olhar
Para trás
Continuou a se voltar

21.2.13

O mundo é redondo



E não por acaso

A pressa com o presente
Faz repetir o drama da serpente

Que com fome
Se defronta com o passado

Quando vê como alimento
O próprio rabo

20.2.13

Não me queiras mal



Por eu ser assim tão confuso
De difícil compreensão
De estar sempre tão seguro
Na mais absurda contradição

É que em mim tudo muda
Todo o tempo

Sou verdadeiro
Sou decidido

E nas minhas idas e vindas
Entradas e saídas
Abandonos e recaídas
É que encontro coerência
 
Tudo parte do meu vício

Sou frágil
Sou lícito

Dependente desse amor

Meu ar
Meu combustível

19.2.13

Temias



Pelo dia
Em que do meu beijo
Não mais gostarias

Imperdoável temor

Como não gostar de algo
Que orientado pelas estrelas
Navega num oceano de amor?

18.2.13

Destroçado



Pelo fim de mais um amor errado
Saí pelas ruas
A procura de um bar

Logo encontrei abrigo
Paraíso estranho
Cheio de tipos esquisitos
Caras amarradas
Olhares perdidos

Em silêncio bebiam
Sem ligar
Para para o que lhes era vizinho

No escuro tateei uma mesa
Num canto escondida
Pedi uma garrafa
No que fui prontamente atendido
Paguei antecipado
Sabendo que dali não sairia acordado

Pus-me a entornar o líquido
Num só gole
E outro litro logo mandei trazer
Foi quando já no segundo copo
Desandei a chorar

Não foi possível resistir
...Tudo acabado
Um amor tão intenso
Num buraco de esgoto
Simplesmente jogado...

Bradei contra deus e os homens
Que teria feito para merecer tamanho tormento
Transformei aquele ambiente
Num inferno sem demo
Mas apesar da fúria nenhuma resposta me veio

Continuei bebendo
E a loucura do início
Em prostração se trasnformou

Parei de gritar
Só conseguia soluçar
Passei o resto da noite
Olhando o vazio
Tal qual meus companheiros de bar

Desejei que a morte
Ao meu lado se sentasse
Espusesse seus argumentos
E em sua carruagem me levasse

Depois
De nada mais me lembro

Acordei em meu quarto
Papéis à beira da cama espalhados
Cheiro de sabonete e pijama listrado
Me sentindo disposto
Como se todo o acontecido
Nada tivesse significado

Para minha surpresa
Estava lá a bandida
Com cara amarrada
Lavando panelas
Roupa na máquina
Reclamando que falei alto a noite toda
E que não a deixei sossegada

Avisou-me que já tinha se adiantado
Confiscado meus discos
Do Lupicínio Elis Ro Ro e Cartola
E me advertiu
Que dada a minha natureza frágil
Me largaria
Caso não parasse de escrever
Estas estórias rasas de amor
Grande porcaria

15.2.13

Da tua urbana topografia



Conheço bem cada planície
Vale ou colina

Os redutos sedentos por companhia
Pontos de tráfego proibido

Os viadutos
Caminhos mais curtos

Recantos com acessos restritos
Praças em que brincar é permitido

E os lugares onde se pode andar
Sem correr perigo

14.2.13

Quero sentir (mais uma vez)



Na língua
O gosto bom do teu pescoço
Percorrendo-o todo
Desviando e encontrando orelhas
Contornando olhos e sobrancelhas
Desenhando testa queixo e bochechas
Encontrando lábios entreabertos
E mergulhando vertiginosamente
Nesta tua boca brejeira

13.2.13

Não te agridas



Aceitando tudo
O que te é proposto

Isso não me deixa mais tranquilo

Só serei feliz contigo
Se o aceite acontecer
Sem nenhum esforço

8.2.13

Cesta básica do amor


Abraços tão apertados
A deixar ossos quase quebrados

Beijos flamejantes
Como as pimentas mais picantes

Carícias ousadas
Delicadamente adornadas

Algumas marcas
Lembranças tatuadas

Salinos humores
Confluentes sabores

Viagens intergalácticas
E muitas estrelas visitadas

7.2.13

O passado


Nos confinou neste quarto
Trancou por fora a porta
E se retirou

Mas não sem antes dizer
Em alto e bom som

Fiquem aí
E só voltem a me chamar
Depois que se esgotar este amor

6.2.13

Eu te acharia


Em qualquer circunstância
Ou lugar

No deserto mais remoto
Ou no alto de um glaciar

Me bastaria
De teus detalhes lembrar

Em seguida
Como bom predador

Abrir narinas
E pupilas

Sons separar
Ventos observar

Perceber temperaturas
Gostos texturas

Não terias como escapar
Disso não tenho dúvidas

5.2.13

Sou propenso a vícios


Amar é bom
Mas vicia

E a abstinência dói demais
Desde que se inicia

4.2.13

Não vou me torturar


Tentando obter aquilo
Que não tens como me dar

Agora chega

Apenas com tuas sobras
Não vou mais me conformar

1.2.13

Não quero viver


Das lembranças
Do que deixamos de fazer

Que bom seria
Se a vontade se unisse ao passado

E a trouxesse pra mim
Outra vez