14.10.11

“Até um dia


Até talvez
Até quem sabe”
Sem mais feras
Querendo liberdade

Até quem sabe

Até talvez
Até um dia
Seguindo algum caminho
E a luz servindo de guia

7.10.11

Hoje pela manhã observei


Que me havia caído
um botão da camisa

Devolvida ao armário
juntou-se a outras
em igual condição de vida

3.10.11

Te preparaste


Por todo este tempo
Desde que partiste
Para receber a ti mesmo
Na casa que é tua
Com conforto
E em definitivo

Onde és servo e senhor
Mestre e discípulo
No alto da colina
Fumaça na chaminé
Luz na janela
E um jardim sempre florido

30.9.11

Por toda a vida


Olhos voltados para a frente
naveguei
O infinito dos oceanos
foi só o que encontrei

É hora de voltar
a casa rever
Pois é entre os seus
que um homem deve morrer

28.9.11

E enfim


Ordenei ao indigno
Que habita dentro de mim

Fecha a porta do teu aposento
Silencia e dorme

E a menos que te chamem
Nunca mais retornes

23.9.11

Sombra = prisioneira voluntária


Cópia tosca do ser
Escorrimento pegajoso
Sem querer

Jamais seria um espírito libertário

6.9.11

Só notei como estava descorada a nossa parede


Quando retirei teu retrato
Para guardar-te no armário

31.8.11

MMA – e o triunfo da bestialidade


Como regredir mais?
Talvez voltando a ser canibais

Instintos sádicos santificados
Os heróis são os mais cruéis
Os que massacram sem piedade

Furiosos arrancando sangue
A martelar e desfigurar os rostos
De seus semelhantes

Pobre civilização que nos faz cada vez mais insanos
Nutrindo com a barbárie a alma dos ingênuos
Como caminhará daqui em diante?

30.8.11

Luz extrema


Ofusca a vista

Causa tanta cegueira
quanto a daquele que nunca conheceu
a luz do dia

29.8.11

Sou seu alvo


Atire quando quiser

Um mergulho preciso


Finca no coelho
suas garras o gavião

Na toca
uma ausência sentida

No ninho
biquinhos viverão

Sou pedra


És vidro

Sobre ti
me atiro

Desajeitado
exagero na força

Lamentando
recolho os pedacinhos

26.8.11

Se morrer é nascer em outro plano


Depois de mortos
precisaremos celebrar
dois nascimentos todo ano?

E se reencarnar for mesmo uma realidade?
Quantos aniversários (de fato)
teremos que comemorar na totalidade?

Na poça da folha


Preparando-se para o amor
Desprezando o frio
Banha-se o beija-flor

24.8.11

Quando a noite se inicia


O instinto age sobre a cama fria

O corpo busca o outro corpo
As metades se encontram
Pareando todos os pontos

A mão só se aquieta
Com a pele quente e macia
Do teu peito acomodado em conchinha

E é assim juntinhos que o sono
Nos aceita e engole todo dia

23.8.11

O que tenho a dizer


E que tanto nos angustia
Quando escorre de minha boca
Em grande parte
Na minha pele fica aderida

O que escapa
São frases sem nexo
Mutiladas
Que faladas nada aliviam
Tornam-se vazias

Recolho as palavras
Pelo chão espalhadas
Junto-as num monte
Sobre ele me sento
E fico a mirar o infinito
Buscando alento lá no horizonte

18.8.11

Não se engane com o aspecto que agora tenho


É só um merecido repouso
Para as minhas raízes cansadas

Mas quando o inverno passar
Folhas virão
Flores explodirão
E carregados de frutos
Meus galhos se vergarão

Passam-se os anos
E meu tronco
(Repare)
Ele não parou de engrossar

A água tem seu peso


E respeita a gravidade

A árvore tem raízes
E aceita sua imobilidade

O vento só tem o vento
E sua aparente invisibilidade

Mas provoca ondas
Balança folhas

10.8.11

9.8.11

No campo de batalha


Quando tudo parecia perdido
Os mortos ressuscitaram
Recobraram forças
Arrastaram-se em passo decidido
Gritando em uníssono
E (mais uma vez) lançaram-se contra o inimigo

Foi quando me disseste:


Acreditas que nada mais tens para me dar
Mas ainda não me devolveste a liberdade

4.8.11

A Europa é azul


Amarela é a América do Sul

3.8.11

Trânsito infinito de corpos


Tecidos que revestem ossos
Carcaças autômatas que deambulam
Algumas almas ainda penduradas por um fio
Outras há muito caídas
Perdidas ao longo do caminho
Montes delas empilhadas
Nos bueiros e sarjetas
Os corpos seguem em ato contínuo
Aproximam-se do precipício
E sem nem mesmo titubear
Se atiram

Celebro a sacralidade do teu corpo


Te explorando toda
Desde o olho
Voando no teu entorno
Num tapete mágico
Nosso leito encantado

Cavalgando por montanhas
Vento frio no rosto
Contornando caminhos
Evitando abismos
Segurando um no outro

Mergulhando na bruma mais densa
Sem oferecer resistência
Acreditando no delírio
Uma doce melodia ao fundo
E os desejos mais secretos atendidos

2.8.11

Olhe para mim quando for chorar


Quero contar suas lágrimas
E guardá-las neste pequeno vidro

Vou tê-lo no bolso sempre comigo
Para que quando do seu amor duvidar
Meus impropérios não lhe causem nova dor

E se estiver prestes a fraquejar
Umedecerei as pontas dos dedos
E em meus lábios raivosos e secos
O líquido deverei passar

Para que o sal derramado
Por tanto sofrimento
Não tenha sido em vão

Preciso estar atento
E sempre me lembrar

Quero esquecer


Aquele dia maldito
E o que ali ficou perdido
Quando o não dito
Sufocou tudo aquilo
Que até então fazia sentido

É mais fácil entender o contrário
E pagar caro pelo que dizemos
Quando a forma é errada
Não se tem freios na língua
Ou contrariamos o juízo

A saudade


Me transforma em assassino
Um serial killer - para ser mais específico

Assim que mato a que me maltrata o peito
Outra logo se apresenta e cutuca o ferimento

Infelizmente


O Tempo

...nun-ca...
...nun-ca...

...pa-ra...

...nun-ca...
...nun-ca...

...vol-ta...

Abra de uma vez esta porta!


O frio
é insuportável
aqui fora

O mundo
me virou as costas
e me mandou de volta

1.8.11

De novo me vou


Sem saber se poderei voltar

Tenho os pés amarrados
À âncora do barco

Já fui lançado ao mar

28.7.11

Por que voltaria a te aceitar em minha cama?


Quando não mais se ajustam nossos encaixes
Precisaremos fazer disto um drama?

Recursos básicos no ensejo


Corpo
Desejo

Definitivo coroamento
Amor
Desprendimento

É meu o coração


Que vejo
Imerso naquele frasco vedado

Puro formol
No ambiente impregnado

Prateleira por demais elevada
Não acho o raio da escada!

22.7.11

Sou do tipo


Sou capaz

De ser violento
Te matar com meus carinhos
Te sufocar com meus beijos

Tento não exagerar

Mas se no fim de tudo
Assustada fugires
E algum amor ainda sobrar
Embalo
Despacho
E até no fim do mundo vou te achar

Sugiro que recebas a encomenda
Não adianta recusar

21.7.11

A chuva despenca sobre a moça


Que em disparada
salta enxurradas
e com um jornal se cobre

Enquanto a água farta
o corpo revela
e a rua engole

15.7.11

Sei bem do seu desejo


Um desejo lá do fundo
De que eu seja mais presente
Que não seja tão confuso
Mais atento às nossas coisas
Como um todo mais maduro

Mas o que fazer com este ser
Abilolado e inseguro
Que tenta tenta e não consegue
Resolver as encrencas
Responder tão bem a tudo?

14.7.11

O orgulho


Tem que ser discreto

O caráter
Reto

O olho
Precisa percorrer o entorno

E o já chega
É o abrigo da ambição

13.7.11

Quanto maior a distância


Mais teima em não passar o tempo
Quanto mais frio o outro lado da cama
Mais cresce o sentimento

12.7.11

Estes seres


Que tem uma inexplicável pressa
em tudo viver
Quase sempre
chegam mais cedo ao morrer

11.7.11

O amor acabou


Como tinha que ser
Só nos restou o escuro
Fique mais um pouco
Espere ao menos o sol aparecer

Fechou o jornal


Terminou o café
Silenciosamente levantou-se da mesa

Saiu pela porta da frente
Ficaram-lhe as chaves

Naquela manhã fria (sem olhar para trás)
Abandonou o conforto de sua vida vazia

7.7.11

Livros


Têm vontade própria
São vivos

Quando para nós se calam
Não merecem o castigo
De ficar em estantes esquecidos

Poderão dizer o que antes nos diziam
Nas mãos de algum vizinho

Noite de frio


Relevos na estante
Aleatoriamente tateados
Sons no piano

A escolha de um livro
Um poeta esquecido

O verso continua vivo
Um arrepio
Retorno ao passado

Poesia


Ponte
Entre o mundo
De quem escreve
Com o de quem aprecia

6.7.11

Poesia


Esponja porosa
Absorve todo o líquido
Que nela encosta

Quando saturada
Se espremida
Jorra

Se elevada
Logo em seguida
Pinga pinga pinga

4.7.11

No inverno


Voltado para o umbigo
Teço um casulo
E me mantenho aquecido

Preciso lembrar
Que a metamorfose
É só uma etapa no ciclo

Tive que


Encher a boca de farinha
Para que não acabasse
Cheia de formigas

1.7.11

Não quero mais


Ter que te procurar
E só conseguir te encontar
Nas entrelinhas