É ter que perder aquilo
Que não coube onde estava hospedado
É aceitar o equívoco de se manter algo
Que sabidamente estava em lugar errado
É precisar ceder acomodações dignas
Para o que chega todo dia exigindo espaço
É fazer voltar à biblioteca do mundo
Um livro com prazo de devolução expirado
Há o esquecer adoentado
Que precisou de tratamento e quarentena para ser reabilitado
O esquecer que não mudou de lado
Mas lá dentro mesmo foi sepultado
O esquecer que hiberna por longo tempo
Para um dia quem sabe acordar sedento e esfomeado
O esquecer que perdeu-se no mundo
E que depois volta batendo à porta arrependido e necessitado
O esquecer querreiro
Que lutou muito antes de ser exonerado
Debateu-se e ferido gravemente
Espalhou por todos os lados o sangue de seu pulso cortado
Esquecer é uma necessidade na sobrevivência
De quem ama ou é amado e também na de quem não ama ou não é amado
Deixando dentro apenas o que importa
Mantido engatilhado e em algum momento apto para ser usado
Como decidir o que sai ou o que fica?
A alma com seus mistérios fazem com que isso não nos seja claro