23.12.16
A vida é curta
E passa rápida demais
Preciso falar
Usar as palavras corretas
Afinal, sou poeta
Esclarecer tudo que ficou mal entendido
Para que possam acalmar teus instintos
Desfazer os vincos do teu rosto
Fazer cessar o tremor de tuas mãos
Resolver maus entendidos
Aí quem sabe voltarás a confiar em mim
Me permitindo te tocar
E despertará novamente em ti
A vontade de tocar em mim
Voltaremos assim a nos reconhecer
Resgatando intimidades
Quitando as dívidas que temos
Com nossos corpos e sentimentos
Pagando-as com multas, juros e dividendos
Desfazendo o hiato que nos mantém separados
E rouba tanto do nosso tempo
Precisamos eliminar um a um os segredos
Para envelhecermos juntos e serenos
Sentados na varanda
Lado a lado em nossas cadeiras de balanço
Corações e mentes felizes
Nos amando
E do nosso jeito
22.12.16
Na história de tua vida
Nunca cheguei a ser um livro
Acabei virando apenas um pequeno capítulo
Ou no máximo um fascículo
Que encalhado nas bancas de jornais
Hoje só pode ser encontrado em algum sebo ridículo
21.12.16
Ventos podem ser
Desde refrescantes lufadas de ar
Até ameaçadoras tempestades a nos apavorar
Mas se tens raízes profundas, suficientes para te sustentar
Apenas alguns ramos e folhas de ti conseguirão arrancar
Ventos não sabem parar
Sempre quererão passar
E tu, árvore portentosa e perene, seguirás firme no lugar
E ainda nos dará muitas flores e frutos para nutrir e encantar
20.12.16
Não quero ser
O solo compacto e argiloso
Que aprisiona tuas mágoas
Em poças espelhadas
De lágrimas frias
Verão eterno
De odores cadavéricos
Palavras vazias
E pluvial asfixia
19.12.16
Sonho
Que aos teus olhos
Sou devolvido
Que te toco
Sem ser impedido
E que nossas mãos não se separam
Mesmo que tudo seja um grande equívoco
Contudo, me afasto de ti
Para manter intactas minhas fantasias
Não as quero vestidas
Com a indigesta realidade do dia a dia
16.12.16
O quarto vazio
Quando não nos recebe assim juntinhos
Perde o sentido de abrigo
De fiel depositário do que temos de mais íntimo
Torna-se só um cômodo imenso e frio
15.12.16
Hoje
Em tuas palavras
É evidente a contradição
Entre o que dizes sentir
E o que professavas antes de partir.
Estas são descabidas
Destituídas de razão.
Parecem vir de uma cabeça confusa
E não do coração.
Mas o que importa isso agora?
Nada justifica a tua volta
E nem mesmo me interessa saber
Qual a tua intenção.
Pois o lugar que a ti era reservado
Já está de novo ocupado
E contigo não guarda mais qualquer relação.
12.12.16
Quem poderá dizer
Que existe amor errado
Amor condenado
Amor proibido?
Quem poderá responder
O que no amor é nocivo
Quando entre os que se amam
O consenso é conseguido?
9.12.16
Voltei
Porque não consigo viver só de lembranças
Sempre mantive a esperança
Pois sei que nem tudo se perdeu
E nosso último adeus
Se bem me lembro
Nunca aconteceu
8.12.16
Gruda em mim
Deita-te comigo
Mais uma vez
Mesmo que seja só em sonho
Dá-me teu corpo quente
E ainda que me incendeie
Por algum tempo
Deixarei de estar tristonho
Gruda em mim
Acorda comigo
Mais uma vez
Mesmo que seja só de um sonho
E morrerei satisfeito
Sabendo que nossos quereres
Não se endividaram um com o outro
E no fim selaram um acordo
7.12.16
Enfiei a lâmina de minha espada
No vão entre o batente e a porta
Para mover a tranca, invadir teu castelo
E te libertar do calabouço aonde vives acorrentada
E tu, em condição de quase morta
No trono, catatônica e coroada
Alheia e prostrada
Assistia com o olhar de quem não se importa
E expressão de drogada
Àquela minha atitude desesperada
Como se tudo fosse uma espécie de história
Com roteiro ridículo e previsível
Que para ti não significava nada
6.12.16
Meus olhos vermelhos
Esbugalhados
Insones
Exaustos
Nunca mais conseguiram dormir
Insistem em te ver
Temem que fechados
Num breve descuido
Possam te perder
Lapsos de consciência
Memórias misturando-se com miragens
Em todos os momentos e lugares
Faróis que te mantém vigiada
Prisioneira do querer
Fotograma congelado
Esforço em manter o foco exato
Olhos que se recusam a te esquecer
5.12.16
O ódio deixa rastros
Máculas
Cicatrizes
Ossadas fossilizadas
Fraturas
Perfurações
Balas disparadas
Num mundo dominado por abominações e dor
Como legar aos estudiosos do futuro
Provas de que um dia existiu algo como o amor?
2.12.16
Sim, me lembro de ti
Mas não é mais de ti que me lembro.
O que hoje carrego em mim
É uma imagem de ti.
Lembrança repaginada
Fantasia contaminada pelo desejo.
Algo que não é mais verdadeiro
Que criei mesmo não querendo.
Resultou em conformidade
Com a minha vontade.
Uma obra esculpida
Nos mínimos detalhes
Ao longo do tempo
1.12.16
Tu carente de carícias
Mesmo admitindo que precisas
Não reages
Te deixas levar pela preguiça
Amor assim não resiste
E antes de vencer a validade
Expira
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