Ainda se riam com gosto
E comentavam com frequência
Daquele saboroso dia em que se
conheceram
Lembravam que nunca se apresentaram
direito
E nem mesmo se repararam muito
Naquele festivo momento
Almas gêmeas e ingênuas
Não imaginaram que se pertenceriam
Tão completamente e por tanto tempo
Que suas vidas se entrelaçariam
Ao ponto de confundirem as histórias
E completarem-se nas falas e
pensamentos
Que se vestiriam tão bem com seus
corpos
Que prefeririam os mesmos países
Vinhos e sonetos
Que celebrariam juntos as vitórias
As conquistas, a penca de filhos
E o recíproco crescimento
Mas como tudo na vida
Nada está seguro
E isento de arrefecimento
O tempo passou e fez sentir seu efeito
E o que era mágico ele não matou
Mas o vermelho vivo opacificou
Foram aumentando os momentos
Em que se perdiam um do outro
E surgiu um inédito distanciamento
Passaram a sentir um leve estranhamento
O tom dos diálogos ficava mais confuso
A necessidade de detalhar explicações
ia crescendo
Fechavam-se em divagações silenciosas
Não ouviam mais as mesmas músicas
E passaram a se tocar apenas com as costas no
leito
Começaram a brigar por motivos tolos
Firmavam posições duras demais
Sem a possibilidade de mudanças no
entendimento
Suas rotinas não mais coincidiam tanto
Os momentos juntos à mesa rareavam
E uma inédita tristeza passou a
ser respirada
Antes que a vítima fosse o respeito
Tentaram resgatar a plenitude do
envolvimento
Mas de comum acordo viram o fim do
relacionamento
Um fim compreendido e maduro
E como quase tudo nesta história
Perfeito
Não foram necessárias palavras
pesadas
Ambos perceberam
E julgaram que era o melhor a ser feito
Pois este fim lhes devolveria a si
mesmos
E como sempre acontece com tudo que
acaba
Obriga a pessoa a um inevitável
recomeço
E hoje, depois de muitos acontecimentos
Em que trilharam caminhos distintos
Se veem em paz neste novo momento
Construíram uma relação mais leve
Ainda permeada de amor
Mas em outras bases, de outro jeito
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