11.9.14

A infelicidade



Entope o ralo da vida
Aprisiona os sentimentos
Fazendo subir o nível da angústia
Na sua forma mais dolorosa
A líquida

Veem-se torneiras abertas por todos os lados
Inalcançáveis bicas
Despejando uma enxurrada de abominações
E desesperadoras tristezas
Capazes de abalar até a mais robusta das naturezas

Quando alcança os joelhos
Já é possível sentir os pés pesados
E como se torna difícil sair desse espaço
Seja escalando as paredes
Ou tentando os primeiros passos

Com o lago na altura da cintura
Começam a ficar comprometidas as estruturas
Mas não se deve agir com desespero
Pois ainda há tempo para uma solução
Se houver astúcia e determinação

Contudo, se o pescoço foi atingido
Por certo o indivíduo se arrependerá lá no íntimo
De não ter aprendido a nadar
De recusar-se a seguir seu instinto
Ou de não ter subido no barco quando lhe foi oferecido

E se o corpo finalmente acabar todo imerso
Ainda assim nem tudo estará perdido
Lhe restarão duas saídas possíveis
Para resolver este embaraço tão complexo
Desde que seja abandonado o imobilismo

Deverá se arriscar de uma vez
Mergulhando
Tentando alcançar o fundo
E arrancar a rolha
Que impede o escoamento do fluido

Ou precisará suplicar aos céus
Para que surja uma mão milagrosa
Vinda de cima e o tire daí
Mesmo que seja às custas
De uma subserviência eterna e dolorosa

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