Segundos e minutos de nada valem
Me induzem ao erro e ao imperfeito
A insuportável urgência da modernidade
Pretensão dos jovens e da tecnologia
As horas não mais me importam
Eu as vejo inexoravelmente perdidas
Seguindo vazias pelo ralo
Como água da bica
Dias são só uma infantil referência
Que me alivia da angústia
Vestindo uma fantasia
E fazendo a vida me parecer menos finita
Meses são roseiras plantadas à beira da
estrada
Fecham a trilha e ficam com um pouco do meu sangue
A cada tentativa em mudar de rumo
Cada ousadia
Os anos se acumulam em pilhas
Incutem transformações mais lentas
Me mostram a exata dimensão de
minha impotência
Insistem em me importunar com prazos
estourados, promessas não cumpridas
As décadas, essas sim me convencem de que há um
fim de linha
Me fazem inventariar o passado
Alguns projetos concluídos, outros arquivados para
não causar mágoas ou alterar desígnios
Pura malandragem ou sabedoria
Conquistas suficientes para aquietar o espírito,
perdas progressivas
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