Ou qualquer outro instrumento
Meus cabelos estão curtos e raros
O colorido deu lugar ao prateado
E não balançam mais ao vento
O furo de minha orelha esquerda
Por falta de uso
Quando se fechou?
Já nem me lembro
A visão ofuscada e embaçada
Exige uma acomodação forçada
E o braço já curto para me
clarear um texto
Precisa de um sem número de lentes
como complemento
Mas não é assim que me vejo
Me sinto ainda um garoto por dentro
Capaz de ganhar o mundo voando sem asas
Apenas com a força do pensamento
Só acredito nos efeitos do tempo
Ao sentir as dores que pela manhã
Na cama me invadem o corpo inteiro
E logo em seguida ao encarar a
realidade do espelho
Mas quem mais sofre é o discernimento
Em saber que a vida transcorre
E inexorável não dará meia volta
Para refazer o que ficou mal feito
Que não terá outra chance
De ler tudo o que guardou na estante
Esperando por décadas
Para atacar o livro certo no melhor
momento
E ao abrir a gaveta
Ser invadido por uma infinita tristeza
Por não mais reconhecer o que julgava
intacto
Fotos comidas por traças e em franco
amarelecimento
Nenhum comentário:
Postar um comentário