21.5.14

Já fui chamado de louco



Ingênuo
Sonhador
Ridículo
E tantos outros pejorativos
Que até me acostumei com isso

É que eu simplesmente não consigo
Manter um vínculo duradouro
Com aquilo que não acredito

Estou só com meus conflitos
Indisfarçavelmente nu
Expondo minhas entranhas
Ao apetite dos urubus

E quem me vê assim
Não compreende
Rejeita
Estranha
Olha de lado
Sente-se ameaçado

Num primeiro momento
Teme
Mas em seguida
Se defende
Cravando as garras em meu pescoço
Como quem combate um demônio

As rugas em meu rosto
Mostram o crescente desconforto
E no ápice do atrito
Grito
Até que o desespero me esgote a voz
E meus olhos não tenham mais lágrimas
Mas apenas transpirem ofegantes
Pelo esforço excessivo

E assim sigo em meu caminho
Cansado
Roçando no chão
Os bicos dos sapatos
Com o olhar vendado
Fechando os ouvidos
Ao canto adocicado das feiticeiras
Libidinosamente oferecidas em altares dourados
Fundamentados em falsas certezas

E se é a luxúria vazia
O orgulho míope ou a soberba
Que orientam a travessia
Percebendo a força da gravidade
Mantenho ativas as defesas
Resisto ao calor
Tangencio a órbita da realidade
Me aproveito do impulso
Ganho velocidade
E de volta ao cosmos
Retorno sem carregar saudades

Me distancio aliviado
Projetando minhas vontades
Na direção de outros arranjos intergalácticos
Sítios mais afinados com minhas escolhas
Buscando encontrar um ambiente adequado
Atmosfera morna e confortável
Mítica Cirene contemporânea
Onde o amor seja único idioma praticado
E como uma joia de infinita importância
Para a eternidade possa ser preservado

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