20.2.14

Depois de muito navegar



E incontáveis tormentas enfrentar
Escrevi um longo lamento
Coloquei-o numa garrafa e atire-a ao mar
Pois terras novas não descobri
Fui obrigado a desistir
E de onde parti
Cabisbaixo tive que retornar

As correntes fizeram-na viajar
Por caminhos que minha imaginação
Jamais conseguirá alcançar
E foi o próprio oceano
Por maldade ou engano
Que a trouxe em minhas mãos
Anos depois já em meu antigo lar

A rolha não tinha sido violada
Nem lida a carta
E mesmo após tanta água
O interior do frasco ainda seco
Mantinha o papel dobrado e intacto
Como no exato momento
Em que ali foi colocado

Lembrei-me do desespero
Que explodia em meu peito
Antes do arrolhamento
Não tive coragem de reviver os fatos
E sentir novamente as dores
Daquela história de amor
Que acabou em fracasso

Foi então que subi numa pedra
No alto de um penhasco
E na arrebentação furiosa
Lancei longe aquela lembrança pesarosa
Pedindo ao elemento que por tanto tempo
Abrigou-a em seu seio
Que a recebesse de volta

Que a levasse outra vez planeta afora
Para mais uma viagem
E se um dia por ventura voltasse
A encalhar em minha baia
Eu nesta praia não mais moraria
E após ser lida e contada por outro a história
Poderia finalmente dissipar contidas mágoas de outrora

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