21.12.18
Na maior parte das vezes
Ninguém gosta de abandonar o seu lugar
O sujeito sai contra a vontade
Por exemplo do campo para a cidade
Não para enxergar outra realidade
Mas porque lá onde nasceu
E se reconhece
Esgotaram-se as possibilidades
Vencido pela fome
Pela guerra
Pela ganância
É convencido a migrar
Este drama
Disseminado pelo mundo
Fere fundo
Destrói vidas
Arruína culturas
Fratura comunidades
Compromete identidades
Não é recente
É vivido desde sempre
Desde que que existe a humanidade
20.12.18
19.12.18
Onde um dia
Existiu o amor
E nada mais pode ser encontrado
Alguns seres de sensibilidade rara
E instintos apurados
Conseguem perceber notas sutis
Sinais esparsos
Vestígios voláteis
Do que ficou no passado
Verificam que em algum lugar resiste
Ainda que esteja soterrado
Pois quando o sentimento é de verdade
Não tem como morrer sufocado
Sempre deixará saudade
Uma forma de existir é ser lembrado
18.12.18
17.12.18
Hoje
A exceção está se tornando a regra
O anormal virando o normal
O mundo é quase todo virtual
Mas ainda há tempo
De evitar o aprofundamento deste mal
Resgatando um maior contato com o mundo real
Reconectando o homem com a natureza
Para que ele não se aliene de vez
Para que ele não adoeça
Para que ele não enlouqueça
Para salvaguardar a sua essência
Criando limites para a inteligência artificial
Sob o risco de que um dia
A humanidade seja definitivamente escravizada
Ou desapareça
14.12.18
In relation to our love
It is difficult to define
If we are
At the end
From the beginning
Or at the beginning
Of the end
13.12.18
Não tem jeito
Passa o tempo
Passo por tantas outras, mais jovens
Com promessas de novos horizontes
Outros encantamentos
Mas retorno sempre pra ti, mala querida
Minha boa e velha amiga
Companheira fiel de longas jornadas
Resistente impávidas às chuvas e trovoadas
A última encerrou ontem
Sua curta empreitada
Quebrou-lhe a alça
Deixou-me na mão
Perdeu a função
Quedou-se em casa
Reduzida a uma caixa vazia
Triste e desamparada
Não deixará saudades
Não tivemos tempo de criar intimidades
Mas maleta frágil, esteja tranquila
Não ficarás oca assim por toda a vida
Já pensei para ti uma outra serventia
Abrigarás nossas fotos antigas
Servirás como o fiel guardiã
De nossas memórias mais queridas
12.12.18
Se foi pra valer
Tudo o que aconteceu
Independente do tempo ou lugar
E se alguma coisa ficou
Que ainda valha a pena cultivar
Então desce e abra a porta
Para que eu possa entrar
11.12.18
O que sinto por ti
É diferente do que sentes
É maior
É mais intenso
E temo que seja assim para sempre
E como não o sentes
Em igual medida
Sei que não me entendes
Pois só ama quem sente
Aceito até que não me entendas
E não há como ser diferente
Mas se ao menos me acreditas
Isto me deixaria bem menos descontente
10.12.18
Hoje no castelo
Quem da as cartas
É o obscurantismo e o retrocesso
O berço esplêndido está repleto
De parasitas, oportunistas e mascarados
O templo foi devassado e recebe
Toda a sorte de mercadores e vendilhões
E sem que ninguém os expulse à chotadas
Saqueiam livremente o que não lhes pertence
Nos domínios do reino
A porção do povo que não foi enfeitiçada
Sente-se perdida
E está paralisada pelo medo
O demiurgo tosco e descontrolado
Sem estatura para portar cetro e coroa
Não consegue perceber
A dimensão do embaraço que um rei precisa resolver
7.12.18
Me desprezas
Como se eu não mais existisse em tua vida
Não quero chamar tua atenção
Mas se quisesse
Facilmente conseguiria
Me bastaria
Publicar tuas fotos
Te denunciar pros amigos
Te ofender de forma cruel e fria
Abrir nossos e-mails
Espalhar nossos segredos
Gritar embaixo da tua janela
Rasgar a roupa e ficar nu na portaria
Atravessar fora da faixa
No exato instante
Em que aceleras e passas
Quando pela manhã vais à padaria
Mas loucura nenhuma me adiantaria
Mesmo que entendesses o meu desespero
Me perdoasses e me aceitasses de volta
Prometendo devolver a minha alegria
Eu não conseguiria retornar
Pois não teria como viver e sofrer
Um novo aborto amoroso
Isto definitivamente eu não aguentaria
6.12.18
Nous étion ce que nous étions
Nous sommes ce que nous sommes
Ou ce que nous pourrions être
Après tout, vivre
Est d'avoir à choisir
Mais ce que nous sommes
Nous sommes pour de vrai
Et ce que nous étions
Nous ne reviendrons jamais
5.12.18
4.12.18
Mesmo na manhã mais cinzenta e fria
É possível encontrar uma corzinha
Deixar-se iluminar pelos olhos
E esforçar-se para aquecer um pouco o dia
3.12.18
Cicatrizes são inúteis
Quando a mão
Que empunha a lâmina
De um dado sentimento
Ainda não foi amputada
Porque súbito
A qualquer momento
Pode vir
Uma outra navalhada
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