13.6.19

Assim que amanhece


Em baixo do viaduto
Recuados do meio-fio
Eles são acordados
De forma pouco gentil

As polícia os expulsa
Não podem ficar ali parados
A cidade deve parecer limpa
É preciso liberar o espaço

O lixo está espalhado
E na distância, quem passa repara
O odor de sujeira, urina e fezes
É indisfarçável

Precisam ser mantidos
Invisíveis e dispersos
Sempre andando
Em direção ao nada

Ao menos durante o dia
Para que a máquina possa funcionar
E produzir
Sem ser importunada

Na cena seguinte entram os pombos
Refastelam-se no café da manhã
Com as sobras dos prostituídos
Viciados, vagabundos e loucos

Na sequência entra
O uniformizado esquadrão da faxina
Seguido de um caminhão-pipa
Com sua implacável mangueira higienista

Aí, mais tarde
Bem mais tarde
Quando a maior parte dos olhares
Já está imerso no merecido descanso

Os exilados iniciam seu retorno
Como uma legião de autômatos
Um a um, voltando a se reunir
Todos no mesmo ponto

Ficarão ali aninhados
Com seus objetos, cães e trapos
São doentes
Bêbados, famintos e drogados

Apenas tentando enfrentar
E vencer juntos em torno do fogo
Mais uma noite fria
Sem nenhuma outra expectativa

Como um filme
Que sempre se repeti
Nas minhas muitas idas e vindas
Já presenciei todas as etapas desta sina

O problema é crescente e difícil de ser solucionado
Nossa única esperança
É estimular e ampliar o que já foi feito de bom
Recusar qualquer retrocesso cego ou mau intencionado

Exigir de políticos políticas pautadas
Nestas questões e sua abordagem
Vigilância e cobrança contínuas
De toda a sociedade

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